domingo, 27 de janeiro de 2019

CLÁSSICO BRASILEIRO : DOM CASMURRO


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BENTINHO E SUAS NEUROSES






O narrador – Bento Santiago, o Bentinho (Dom Casmurro - que em 1ª pessoa, inicia a narrativa explicando o título da obra. Ele conta, que vindo da cidade para o Engenho Novo onde ele mora, encontrou no trem da central um rapaz de seu bairro que o conhecia apenas de vista. O rapaz o cumprimentou, falou da lua e acabou citando versos para Bentinho. Como Bentinho estava cansado, fechou os olhos algumas vezes, o que fez com que o poeta interrompesse a leitura e colocasse o seu livro no bolso, irritado. .No dia seguinte, o poeta alcunhou Bento de Dom Casmurro. Os vizinhos que também não gostavam muito do jeito recluso de Bento, começaram a chamar-lhe de ” Casmurro “ também.

O narrador, que é o próprio Bentinho explica o significado deste apelido: homem calado e metido consigo e que Dom veio por ironia para denominar fidalguia, importância.

Explicado o título, o narrador passa a escrever o livro. Eis os motivos que o levaram a escrever:

 O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice e adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui.(...)”

 “Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios(...) ”

“Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. (...)“

“Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo (...)

Percebam que esses nomes: Nero, Augusto, Massinissa e César sugerem TRAIÇÃO. Ele irá se inspirar nestes personagens para construir a sua obra, porém sabemos que, Dom Casmurro foi inspirada no livro “Otelo” de Shakespeare. Temos aí um imitatácio, ou seja, uma obra inspirada em outra que busca ficar melhor que a original.

Bento mora só, vive com o criado e reproduziu no Engenho Novo, a casa em que viveu na Mata-Cavalos.

Numa tarde, na casa da rua de  Mata Cavalos – novembro de 1857 ao entrar na sala de visitas, criança ainda, Bentinho ouviu seu nome e escondeu-se atrás da porta. José Dias, que era um agregado  na casa de Dona Glória, mãe de Bentinho, lembrou a ela que já era tempo de enviá-lo para o Seminário, pois se assim não fizesse, ficaria mais difícil no futuro. Explicou que a dificuldade se consistia em Bentinho já está com 15 anos e Capitu, tinha 14; (embora ela  em termos de maturidade, estava bem à frente  deste) havia percebido que ambos estavam se encontrando, estavam sempre juntos e em segredinhos . Dona Glória, por sua vez, nunca desconfiara de nada entre o seu filho e a vizinha.

Dona Glória fizera uma promessa de colocar o filho no Seminário e adiou o cumprimento da promessa para Bentinho ficar a maior parte do tempo perto de si. Tio Cosme pergunta para Dona Glória se havia realmente necessidade de torna-lo padre. Tia Justina não opina e a mãe de Bentinho sai da sala chorando.

Bentinho ficou estarrecido ao ouvir a revelação de José Dias. De fato, ele estava sentindo algo por Capitu, mas não se dera conta disto.

José Dias é um agregado da casa, tem 55 anos quando começa a narrativa, é bastante antiquado no vestir e amava o superlativo. Vive com a família de Bentinho desde que ele acabara de nascer. Pedro de Albuquerque Santiago era casado com Dona Maria da Glória Santiago que possuem uma fazenda em Itaguaí. Um dia apareceu um homem chamado José Dias dizendo-se médico homeopata. Um mentiroso. José Dias, se passando por médico, curou um feitor e uma escrava da fazenda e logo ganhou a simpatia do pai de Bentinho que lhe propôs ficar na fazenda por um pequeno ordenado. Interesseiro, aceitou  asa e comida sem remuneração, salvo se quisessem lhe dar algum reconhecimento.

Um dia, pesou-lhe a consciência e confessou que não era médico, mas não foi demitido, pelo contrário, passou a ter muito prestígio na casa.

Vamos a um flash back. Quando Bentinho tinha 4 anos, seu pai faleceu. Dona Glória tomou a direção da casa e levou para morar consigo, dois parentes viúvos: o seu irmão Cosme
( advogado gordo e bonachão) e a prima Justina ( uma mulher magra e maledicente). Era conhecida como: a casa dos três viúvos.

Dona Glória, quando perdeu o primeiro filho fez uma promessa: se o segundo filho viesse ao mundo, ele iria para o seminário. Logo, Bentinho nasceu sobre promessa, daí o nome: BENTO – o abençoado.

Dona Glória, muito religiosa e temente a Deus, divulgou aos parentes e familiares, a promessa de entregar o filho à igreja. Desde muito cedo acostumou o filho para uma futura vida eclesiástica e o levava sempre a missa que era para ele aprender as habilidades de um sacerdote. Convidou até o padre Cabral, que jogava gamão com tio Cosme, para prepará-lo para o futuro religioso.

Bentinho após ouvir a denúncia de José Dias ficou bastante assustado, correu até a varanda da casa, meio atordoado, pernas bambas, coração querendo sair pela boca. Faltava-lhe coragem para ir a casa do vizinho.  Onde moravam Capitu e seus pais (João e Fortunata).

Bentinho andava de um lado para outro. Ouvia as vozes confusas se repetirem,  no discurso de José Dias a Dona Glória: “ Sempre juntos e de segredinhos. Se eles pegam de namoro, Dona Glória...”

As pernas de Bentinho pareciam prendê-lo ao chão. No final fez um esforço e entrou. Quem ele viu? Capitu.

Ela estava em frente ao muro de sua casa, riscando com um prego. Caminhou em direção a ela que também vinha ao seu encontro, inquieta, perguntando-lhe: “O que é que você tem? Ele respondeu: “EU?”

Bentinho queria insistir que não tinha nada, mas não conseguiu falar. Era todo olhos e coração, um coração com certeza, iria sair pela boca afora. Não podia tirar os olhos daquela criatura de 14 anos: alva, forte e cheia; apertada em um vestido de chita meio desabotoado. Capitu voltou a perguntar o que ele tinha. Bentinho pensou em dizer que iria para o Seminário. Olhou para o muro e viu que Capitulina havia riscado umas palavras nele. Ela tentou apagar, mas depois ele viu que havia dois nomes:  Bento e Capitolina. Eles não falaram nada. O muro falara por eles.

Os pais de Capitu eram pobres e foram protegidos de uma enchente por Dona Gloria, que passou ter uma enorme ascendência moral sobre eles. Chegou mesmo, mais tarde, a impedir que o pai de Capitu cometesse suicídio. Bentinho conta finalmente a Capitu a promessa que sua mãe, Dona Glória fizera de manda-lo para o seminário. Capitu perdeu o equilíbrio e acabou xingando Dona Glória. Mas depois, pensou um pouco e traçou um plano para evitar a separação do amigo Bentinho. Ela sugere que Bentinho conquiste José Dias para que ele o defenda diante de Dona Glória, no sentido de convencê-la a não cumprir a promessa, para tanto Bentinho devia fazer ver a José Dias quem seria o futuro dono da casa. A partir daí, o agregado deveria tomar o partido de Bentinho, se quisesse continuar como agregado. Mas, em vez de padre, Bentinho estudaria direito em São Paulo.

O Bentinho prometeu rezar mil padre nossos e mil ave marias se o José Dias arranjasse para que ele não fosse para o Seminário.

Bentinho comunicou o pano a José Dias conforme quando eles estavam no passeio público.

O agregado achou excelente a ideia de Bentinho, estudar leis, pois viu nela a hipótese de acompanha-lo à Europa. José Dias prometeu interceder em seu favor junto à mãe, mas nesta mesma conversa tentou rebaixar o vizinho Pádua dizendo que os olhos de sua filha eram obras do diabo. Em seguida, criou a seguinte imagem para classificar os mesmos olhos: “são assim, os olhos de cigana oblíqua e dissimulada.”

Passados alguns dias, Bentinho quis olhar bem dentro dos olhos de Capitu para ver se a imagem que Dias tinha descrito, conferira com o real. O que encontrou nos olhos de Capitu foi um fluido misterioso e enérgico. Uma força que arrastara para dentro como uma vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Quando se livrou do encanto dos olhos da amiga, preferiu classifica-los como olhos de ressaca, contudo jamais esquecera a imagem que fizera José Dias. Em seguida, Bentinho vê-la sentar-se de costas para si e de frente para o espelho, queria pentear os longos cabelos escuros e depois que ele os penteou, Capitu jogou bruscamente a cabeça para trás e permaneceu nesta posição até que Bentinho a beijasse na boca. Ele a beija sem reação nenhuma. Neste momento, chega Dona Fortunata e Capitu recompõe-se depressa e dissimula mais uma vez. B

Bentinho ficou calado, encostado na parede sem conseguir disfarçar sua emoção. Despediu-se das duas e vai para sua lição de latim com padre Cabral. No quarto, sem querer, acaba dizendo com orgulho: “sou um homem”. Repetiu mais uma vez.

Bentinho voltou para casa de Capitu num dia que não teve aula e tentou roubar outro beijo dela. Desta vez ela recusou. Quando Bentinho desistiu da intenção, depois de muita insistência, Capitu beijou-o rapidamente. Chega o pai de Capitu.

À noite, Bentinho conversa com sua mãe, confessou que não tinha vocação para padre e pediu-lhe que desfizesse a promessa. Embora Dona Glória desejasse o mesmo para o filho não atendeu ao pedido e fixou o prazo que ele entraria no Seminário, que seria entre dois a três meses.

Bentinho no dia seguinte, encontra-se com Capitu e diz a conversa que teve com a mãe. Capitu ficou irritada com o prazo estipulado por Dona Glória. Ao perceber que Bentinho não se oporia ao prazo da mãe, lançou-lhe na cara que ele haveria de batizar o seu primeiro filho com outro homem. Essa briga aconteceu na beira do poço, no quintal da casa de Capitu.

Bentinho desesperado do que ouviu da boca de Capitu, fê-la jurar que ela só se casaria com ele. E ambos juram que só se casarão um com o outro. Bentinho aceita a ideia de que poderá ir para o Seminário, mas que não será ordenado padre. Capitu garantiu que só se casará com ele, então...

Meses depois, entra para o Seminário São José com uma condição de abandoná-lo  no fim de um ano, caso não se revelasse a vocação espontânea.

Bentinho agora no Seminário, passa a visitar a família todo final de semana. Durante sua ausência, Capitu ficou íntima de Dona Glória que começou a tratá-la por filha, dando-lhes uns presentes e muita afeição.

Bentinho conheceu no Seminário, outro jovem também sem nenhuma vocação religiosa como ele, mas com grande paixão pelo comércio. Este rapaz veio de Curitiba e se chama Ezequiel de Souza Escobar. Tornaram-se amigos e confidentes.

Passado algum tempo, Dona Glória ficou doente e depois de cinco dias pediu para José Dias ir buscar o seu filho para vir visitá-la. O agregado foi lá e disse a Bentinho que o estado da mãe era gravíssimo. Bentinho então, visita a mãe e depois de vê-la entra no quarto e promete rezar dois mil padre nosso se Deus salvasse a vida dela. Logo, arrependeu-se da promessa pois sabia que suas promessas não tem valor e não são cumpridas.

A mãe se recupera e após seu restabelecimento, não retornou ao Seminário e foi à missa agradecer pela melhora da mãe. Esteve com Sancha, que era amiga e companheira de colégio de Capitu, cujo pai era viúvo e se chamava Gurgel. Voltou para casa e Bentinho teve a surpresa da visita de Escobar, que mais tarde, ficaria impressionado com a beleza de Dona Glória e com o seu dinheiro. Escobar, graças a sua fineza, fez-se querido de todos. Dona Glória, com o passar do tempo foi apreciando a união de Bentinho e Capitu.

Bentinho revela novamente os seus ciúmes quando conversa com Capitu, pois passou um cavaleiro certo dia, num cavalo em frente a sua casa  e este ia para casa de sua namorada. Ele olhou para Capitu e Capitu correspondeu. Bentinho viu esta cena e ficou desesperado. Saiu da rua apressado e se recolheu na sala de visitas emburrado, jurando não ir ver Capitu nunca mais que irá fazer-se padre.

Bentinho não saiu do quarto, não quer jantar e dorme muito mal. No dia seguinte, alegou dor de cabeça para não ir ao Seminário e foi procurar Capitu. Ela achou uma injúria, uma ofensa o que Bentinho pensou dela.

Bentinho frágil e inseguro, pega as suas mãos e as beija.

Bentinho retorna ao Seminário. José Dias, ensinou para Bentinho que ele deveria simular sintomas de tuberculose e buscasse melhores ares na Europa. Dona Glória já não esconde o desejo de tirar Bentinho do Seminário, só não sabia como liquidar a promessa. Quem irá dar a solução de Bentinho versus Seminário? Escobar.

Escobar sugere que se financiasse a ordenação de um moço pobre, no lugar de Bentinho, cumprindo-se então a promessa. E foi o que aconteceu. Escobar e Bentinho deixam juntos o Seminário. Escobar entra para o comércio, depois de tomar dinheiro emprestado de Dona Glória e se casou com Sancha.

Bentinho, aos 22 anos, bacharelou-se em Direito por São Paulo. Regressou ao Rio e casou-se com Capitu.

|Numa tarde chuvosa de março de 1865, passam a residir no bairro da Glória. Depois de casadas, Sancha e Capitu continuaram amigas. Escobar, ajuda Bentinho na sua estreia profissional, fazendo-o um advogado famoso. Admite-o em sua Banca.

Nasce a filha de Escobar e Sancha, deram-lhe o nome de Capitu em homenagem a esposa do Bentinho. Os casais ficam cada vez mais íntimos. Ambos, os maridos, revelavam ciúmes das esposas.

Bentinho e Capitu viviam felizes, embora lamentassem a falta de um filho. A filhinha de Escobar já  tagarelava e brincava quando nasceu o filho de Bentinho. Foi batizado com o nome de Ezequiel para retribuir a homenagem.

Cinco anos depois, Ezequiel se tornou um homem bonito, de olhos claros, gostava de imitar os gestos e as atitude das pessoas. Zombava de todo mundo. Todo mundo ria. Imitava bem o José Dias e Irmã Justina e todos que frequentavam sua casa.

Bentinho começa a sentir ciúmes de Capitu. Sente-se aflito com qualquer gesto ou palavra dela. Até mesmo com sua indiferença. Escobar mudou-se do Andaraí para o Flamengo e ficou mais próximo do casal de amigos. Gostariam que os filhos crescessem juntos, como Bento e Capitulina cresceram. Os casais visitam-se agora com mais frequência.

Bentinho e Capitu vão jantar na casa de Escobar para tratar de um projeto de família para os quatros. Bentinho pergunta se Escobar entrará no mar no dia seguinte. Escobar afirma que sim, apesar do mar estar bravio. Na hora da despedida, Bentinho volta a falar com os olhos a Sancha e a mão dela aperta muito a dele, demorando-se mais do que de costume. Bentinho acha que ela o deseja sexualmente. Na manhã seguinte, Escobar vai mergulhar nas águas de ressaca do mar e morre afogado.

No velório, Bentinho notou que muitos homens e mulheres choravam, menos Capitu que amparava a viúva Sancha e parece vencer-se a si mesma. Na despedida do corpo, supôs que Capitu chorara e mirara o defunto:

“Enfim chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam, também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas  lágrimas poucas e caladas...

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.”

Bentinho concluiu daí que ela fora amante do amigo e que Ezequiel é definitivamente, filho do outro e não seu. Numa sexta-feira, ele pensou em suicídio e não consegue dormir por causa da ideia que teve. Janta fora, vai ao teatro assistir a peça Otelo de Shakespeare. O último ato faz Bentinho pensar que Capitu deveria morrer, não ele. De volta a casa, Bentinho volta a pensar em suicídio. Resolve esperar Capitu e o filho saírem para missa a fim de dar seguimento ao plano. Colocará droga no café do menino. Ouve a voz de Ezequiel no corredor. O menino entra e o chama de papai. Bentinho recua. O primeiro ímpeto de Bentinho é correr para o café e bebê-lo, mas outro impulso o conduz a perguntar ao menino se ele já havia tomado café. Observe:

“Chamem-me embora assassino; não serei eu que os desdiga ou contradiga; o meu segundo impulso foi criminoso. Inclinei-me e perguntei a Ezequiel se já tomara café.
— Já, papai; vou à missa com mamãe.
— Toma outra xícara, meia xícara só.
— E papai?
— Eu mando vir mais; anda, bebe!
Ezequiel abriu a boca. Cheguei-lhe a xícara, tão trêmulo que quase a entornei, mas disposto a fazê-la cair pela goela abaixo, caso o sabor lhe repugnasse, ou a temperatura, porque o café estava frio... Mas não sei que senti que me fez recuar. Pus a xícara em cima da mesa, e dei por mim a beijar doidamente a cabeça do menino.
— Papai! papai! exclamava Ezequiel.
— Não, não, eu não sou teu pai! “

Ao levantar a cabeça Bentinho deu de cara com Capitu que lhe pede explicações. Bentinho disse que havia coisas que não podiam ser explicadas. Insiste para que ele conte sobre pena de pedir a separação. Capitu vai a missa, na volta disse que a separação era indispensável e que estava aos olhos de Bentinho.

Bentinho encontrara uma solução melhor: a ideia era levar esposa e filho para Europa. Deixou-os na Suiça e voltou sozinho para o Brasil. Neste espaço de tempo, Capitu escreve cartas que são respondidas breve e secamente por Bentinho. Um ano depois, Bentinho embarcou, mas não foi ao encontro da mulher e do filho.

Na volta, inventou notícias da mulher para aqueles que perguntavam sobre Capitu. Morreu Dona Glória. Bentinho manda escrever em sua sepultura apenas uma palavra: santa.

José Dias vai morar com Bentinho. Já na casa nova, um dia Bentinho recebe a visita de Ezequiel que voltava para o Rio de Janeiro. Ezequiel,é o filho, fez com que ele esperasse uns 10 a 15 minutos na sala. Depois pensa que deve abraça-lo. Falar-lhe  da mãe que morrera e que estava enterrada  na Suiça.



Ao entrar na sala, dei com um rapaz, de costas, mirando o busto de Massinissa, pintado na parede. Vim cauteloso, e não fiz rumor. Não obstante, ouviu-me os passos, e voltou-se depressa. Conhece-me pelos retratos e correu para mim. Não me mexi; era nem mais nem menos o meu antigo e jovem companheiro do seminário de São José, um pouco mais baixo, menos cheio de corpo e, salvo as cores, que eram vivas, o mesmo rosto do meu amigo. Trajava à moderna, naturalmente, e as maneiras eram diferentes, mas o aspecto geral reproduzia a pessoa morta. Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. Era o meu comborço; era o filho de seu pai. Vestia de luto pela mãe; eu também estava de preto. Sentamo-nos.”

Bentinho domina a emoção. Estiveram juntos durante seis meses. Ezequiel, era arqueólogo, comentou um belo dia sobre uma viagem científica à Grécia, ao Egito e a Palestina que combinara com dois colegas. Bentinho prometeu arrumar o dinheiro para realização da viagem, mas o que ele deseja é que Ezequiel contraia lepra.

Ezequiel fez a viagem. Não morreu de lepra, mas de uma febre tifoide e foi enterrado nas imediações de Jerusalém.
Bentinho habituou-se à solidão. Quanto aos amores? Limitou-se depois de viúvo à relações superficiais com prostitutas e nenhuma delas, diz ele,  fez com que ele esquecesse sua primeira amada, a sua Capitu.

“Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro.
O resto é saber se a Capitu da Praia da Glória já estava dentro da de Mata-cavalos, ou se esta foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti. Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca.E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.”

CONCLUSÃO:
"Meu Senhor, afastai-me do ciúme! Esse monstro de olhos verdes, que escarnece do próprio pasto que o alimenta. Quão felizardo é aquele enganado que consciente, não ama a sua infiel! Mas que torturas infernais padece o homem que, amando, desconfia, e, desconfiado, adora". Shakespeare em Otelo.
A transformação da personalidade de Bentinho/Dom Casmurro e suas personalidades paranóicas. O enigma é Bentinho, não Capitu, e as linhas tortuosas de suas memórias e de seu caráter compõem uma charada de difícil decifração. Mas há várias pistas: a metáfora dos “olhos de ressaca”, dos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”; o paralelo com o drama shakespeariano de Otelo e Desdêmona; a aproximação com a ópera do velho tenor Marcolini (o duo, o trio e o quatuor); as “semelhanças esquisitas”; as relações “suspeitas” com Escobar no seminário; a lucidez de Capitu e o obscurantismo de Bentinho; a imaginação delirante e perversa do ex-seminarista e o preceito bíblico de Jesus, filho de Sirach, que bem poderia servir de epígrafe: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti”.

“O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos”
como quer o narrador, também o memorialista casmurro, esquisitão, quase homicida e suicida, e, sim, se já estava dentro do menino mimado, filhinho-da-mamãe, inseguro e possessivo, o Dom Casmurro.

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