terça-feira, 29 de janeiro de 2019

UM POUCO DA MINHA CIDADE: OFICINA FRANCISCO BRENNAND







Hoje, para sair um pouco da sintonia de caos que se encontra o país, resolvi encontrar alguns amigos. Amizade que fizemos no curso de espanhol da Biblioteca Pública do Estado de PE, porém o Núcleo de Línguas que proporcionava a muitos, cursos totalmente gratuitos e com ótimos profissionais foi extinto no ano de 2018. Uma lástima. 



Marcamos para curtir um pouco,  a fim de alimentarmos a nossa alma de BELEZA. A beleza de um homem que se descobriu para a arte. O homem que soube ver o mundo com formas ousadas e criativas, estudou direito, morou por um tempo na Europa, estudou arte e descobriu sua própria arte. Uma arte, que muitas vezes paira pelo erótico-romântico, aflorou com toda sua forma numa antiga usina em ruínas e hoje é um refúgio para arte e o artista Brennand. Um patrimônio nacional da  beleza  contemporânea no alto dos seus 90 e poucos anos.

O artista já comentou em várias de suas  entrevistas como surgiu a ideia de fazer de lá seu ateliê. “Um belo dia, atravessando a ponte que ligava nossa outra propriedade ao lado de cá, eu encontrei essa fábrica em ruínas. Senti que era meu dever recuperá-la”. Enchendo-se de coragem, foi dizer ao pai o que pretendia. “Estava com 45 anos, era imensamente jovem e absolutamente irresponsável”, admite. Com a anuência do pai, cuja única condição foi que Francisco não pedisse ajuda financeira aos irmãos, o artista deu início à obra de sua vida.          Reativou a fábrica e nela passou a produzir uma cerâmica pouco ortodoxa. Ele misturava materiais que, levados à temperatura de 1400ºC, fundiam-se num espécie de rocha, dura e resistente como o quartzo.

Foi essa cerâmica original que garantiu os recursos para Oficina nos primeiros anos. Procurado por um grupo de jovens arquitetos que conheciam seu trabalho, Brennand venceu a concorrência para fornecer o revestimento do edifício-sede da então poderosa Sudene. “Eu não vendi minha alma para o Diabo. Nunca deixei de ser um artista para ser um empresário”, diz ele.


Sua cerâmica faz sucesso em edifícios de todo o País. Com o dinheiro entrando, Brennand viu que era possível manter parte das peças que produzia. Assim, os vazios que resultavam da retirada de equipamentos industriais da Oficina foram preenchidos com esculturas e murais. 



Ainda assim, seu santuário permaneceria secreto por muito tempo. “Onze anos depois de eu ter restaurado a fábrica, um motorista de táxi trouxe quatro turistas de São Paulo. Eles ficaram admirados. Lá fora, o taxista me abordou e disse: ‘Isso aqui parece o Egito’. Eu entendi que ele estava em busca de uma analogia para a palavra mistério. Percebi que deveria seguir trabalhando daquela mesma forma”.



O talento de Francisco  Brennand se evidencia desde os anos de colegial quando fazia caricaturas de professores e colegas. Sua formação, inicialmente acadêmica, realizada com artistas de Pernambuco, especialmente com o mestre do afresco Murilo La Greca, e o paisagista Álvaro Amorim, não o afastaram da liberdade de expressão.
  O espaço é uma mistura de galeria, museu, ateliê e lugar de contemplação. As obras tem um apelo erótico, estão espalhadas pelos jardins projetados por Burle Max.


A Oficina abre as portas diariamente, exceto nos feriados, e a expressão "abrir as portas" carrega aqui um significado muito maior. Instalada nas terras do Engenho Santos Cosme e Damião, toda a área é cercada por remanescentes da Mata Atlântica e mesmo sendo no coração da Zona Oeste do Recife,  ao entrar no mundo de Brennand, você irá se deparar com várias obras de períodos distintos do artista, que irá te transportar para cenários oníricos, te fazendo esquecer da mediocridade do dia a dia, pois a Arte são pássaros em voo. O seu objetivo é fazer com que os nossos pensamentos voem livres. Não é à toa que veem erotismo em suas obras.
Mas para o próprio Brennand em uma de suas entrevistas, comentou: “Elas não são propriamente eróticas, embora carreguem em si uma pesada carga sexual, uma vez que se reportam ao grande enigma do Universo, isto é, a REPRODUÇÃO da imagem. As coisas são eternas porque se reproduzem. As próprias estrelas nascem, vivem e morrem. Todo o Universo é uma história de um imenso desejo. Todavia, reconheço que na minha pintura existem fortes componentes eróticos”.


Brennand vive em constante produção, Perguntamos para um dos seus funcionários quantas obras existia no espaço, ele nos respondeu que mais de 3000 obras.


Em tempos nefastos em que a censura toma conta de tudo e o falso moralismo também, temos de aproveitar bastante este espaço, pois poderemos a qualquer momento ouvirmos: "Demoliram a Oficina de Francisco Brennand". Eu, particularmente, pensei que tudo isto estava superado, Repudio os conservadores e fundamentalistas que estão tomando conta do nosso país. Preciso conviver e estar com pessoas que defendem a liberdade de expressão, liberdade democrática e que são contra o retrocesso. Preciso conviver com pessoas que são sensíveis a dor do próximo e que não tiram proveito e nem se beneficiam dos fracos, oprimidos e sem voz. Muitos já conquistaram o seu lugar de fala, porém outros ainda necessitam construir este instrumento de poder e transformação.


Lembrando agora o meu querido e eterno Rubem Alves, sobre ARTE e IDEOLOGIA;  “Existe uma inimizade natural entre a ideologia e a arte. Ideologias são gaiolas. O seu objetivo é prender o pensamento. A Arte são pássaros em voo. O seu objetivo é fazer o pensamento voar livre. Na revolução cultural da China se queimavam instrumentos musicais do Ocidente em nome de uma ideologia a um tempo comunista e rural. O comunismo sacralizou o chamado “realismo socialista” – um horror total, pintura sem sombras. Maiakóvski se suicidou porque o partido desejava que ele subordinasse a sua poesia à ideologia. A arte moderna foi banida da Alemanha nazista sob a alegação de que se tratava de arte degenerada. Assim se irmanam os ideólogos de direita e de esquerda. O que eles desejam é usar a arte como instrumento de convencimento ideológico. As marchas militares fazem os corpos marchar e entopem o pensamento."

Todo radicalismo é conservador e  intolerante. É bom sempre pensarmos por este caminho: o do bom senso...
                 



                 




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