quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

LIVRO INFANTIL -ROSEANA MURRAY - MANUAL DA DELICADEZA




Conheci o trabalho de Roseana Murray no ano de 2000 e fiquei encantada com a sensibilidade de suas produções, especificamente as infantis.

O livro: “Manual da Delicadeza” são poemas com uma linguagem cheia de símbolos e imagens. A autora focaliza a delicadeza nas relações, os encontros e desencontros nas coisas do mundo. Neste mundo tão carente de delicadezas e boas maneiras é muito agradável ler poesias que enfoquem esse tema.

Convivo com algumas pessoas que  considero delicadas(os) e as admiro e respeito, pois este sentimento de afeto pelo próximo exige muita  sinceridade consigo mesmo.

Toda crítica ou chamada de atenção, se esta  for feita com delicadeza, a reação será bem diferente. Será, com certeza, bem recebida.

Hoje recebi 2 mensagens que me deixaram chocadas: a primeira foi de uma amiga que uma colega de trabalho fez uma piada com ela. A colega bateu na porta do banheiro e ela respondeu: “tem gente”. Quando esta saiu, ela disse: lembrei de uma piada antiga que dizia: “negro só é gente quando tá cagando”!!! Sem comentários!!!  Que indelicadeza...

Comentando com uma amiga ela disse: “Este é o Brasil REAL, sem máscaras. Essas pessoas sempre existiram, mas existia uma cortina do POLITICAMENTE CORRETO e  estas mesmas pessoas estavam escondidas.”

Em outro grupo recebi uma mensagem enaltecendo a Major Karla Lessa que realizou uma manobra complicadíssima no helicóptero para salvar uma vida. Até aí tudo bem...e eu também darei os meus parabéns a Major. Agora, vem o pior, colocaram o seguinte: “ Já se passaram dois dias e até agora você não viu o movimento feminista parabenizar essa mulher. Você não viu a foto dela circular na boca e nas redes sociais das rainhas da hipocrisia, que dizem lutar pelo empoderamento feminino. Acontece que Karla não urinou na rua. Karla não defecou em uma igreja. Karla não fez sexo em local público. Karla não mostrou os seios em uma passeata.(...) Karla é uma mulher inteligentíssima , que estudou muito, que lutou para chegar onde queria...” jesusuuuusssss... o que é isto? Que país é este? Onde estou? Estou me sentindo perdidona diante de tanta barbárie. FEMINISMO para algumas pessoas não é mais a luta pelos direito das mulheres, e sim, um estereótipo. 
Sem empatia a antipatia, a grosseria, a discriminação e tudo que se relaciona com isso vêm à tona.... Muito triste...

Mas para me deixar leve, estou buscando a literatura porque conviver com algumas pessoas hoje está difícil. Mesmo tentando ser delicada.

Reli este livro de Roseana para acalmar os meus ânimos. É um livro leve. Os poemas giram em torno do universo infantil e apresenta olhar atento, peculiar e absolutamente criativo. O tema DELICADEZA deve ser trabalhado diariamente para podermos suportar a mediocridade de alguns.




Destacarei apenas dois  poemas :

FONTE                                                                                OLHAR

Como trapezista                                                    O olhar feito cântaro                                       

alcançar o outro                                                    cheio até a borda

num salto:                                                              de puro mel

mergulhar em seus olhos,

navegar até o fundo.                                            O olhar como favo

                                                                                  ou quem sabe

Alcançar o outro                                                    uma teia de ternura     

No que ele tem                                                      abraçando o mundo.

de mais belo,

de luz e mel,                                                          O olhar feito barco

delicadeza e mistério.                                         de carregar o outro

                                                                                até a outra margem,

E, então, beber a água                                        até um porto seguro.

Limpa

Dessa fonte.                                                          O olhar feito carruagem macia

                                                                                de conduzir o outro

                                                                                com delicadeza,

                                                                                pelos labirintos da vida

                                                                                até seu próprio coração.

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