quarta-feira, 18 de julho de 2018

MÚSICA : SANGUE LATINO


Resgatando um pouco  da nossa história através da música. Não tinha quem não gostasse desta banda. Eu mesma tive 2 LP´S do grupo.
O maior fenômeno da música brasileira na década de 70 tendo como grande destaque a voz inconfundível de Ney Matogrosso, além de suas famosas performances de palco que nunca iremos esquecer!!!! Adorava!!!
 O álbum de estréia da banda em 1973, Sangue Latino. É esta música que iremos comentar . Fala sobre o caminho dos povos latinos americanos, mesmo sofrendo com sistemas políticos opressivos, não desiste de lutar por sua liberdade, vindo de encontro com o momento histórico dos anos 70, a resistência contra os regimes militares que assolavam a América Latina.

SANGUE LATINO:

Primeira música do primeiro álbum, escrita por João Ricardo e Paulinho Mendonça.  O rebolado de Ney  na cara dos militares foi surreal.

 A letra passou pela censura dos militares  que não compreenderam a crítica que a mesma estava refletindo através de suas metáforas. 
Logo após a revolução cubana, os Estados Unidos passavam por um medo mórbido do avanço comunista no mundo e por isso apoiaram o golpe militar de 64 no Brasil. Essa repressão se estendeu por outros países da América Latina com a operação Condor.
Resumindo: EUA + militares = amigos da ditadura.
 Portanto, a poesia de Sangue Latino dentro desse contexto invoca toda a força do nosso sangue contra o que nos foi  imposto; chama a raiz do povo latino-americano, pede para que não sejamos vencidos. É um hino de resistência a uma ameaça de nos calar a voz.


“Uma análise da belíssima música Sangue Latino. Claro que a arte fala para cada um e não existem interpretações “oficiais”, mas a letra cai como uma luva na história da América Latina. O autor da música é João Ricardo.
1) Jurei mentiras e sigo sozinho
Durante a conquista espanhola e portuguesa da América Latina, tanto os povos nativos quanto os escravos negros foram obrigados a abandonar suas identidades culturais. Tinham de se converter a um Deus que lhes era estranho, contra suas vontades. Um Deus associado ao conquistador e à dominação. Mas, caso não fingissem conversão, então, morreriam ou seriam torturados. Tiveram então de jurar mentiras.
2) Assumo os pecados
Os povos dominados do novo mundo foram informados que eram pecadores, pagãos, hereges. No entanto, devido à sua condição de dominados, não poderiam afirmar que não era pecadores. Então, foram obrigados a assumir seus supostos pecados.
3) Os ventos do norte não movem moinhos
Claro, pois quem trabalhava (quem movia os moinhos) eram os escravizados. Os países dominantes e imperiais da colonização viviam da exploração da mão de obra escrava. A coroa portuguesa e espanhola apenas recebiam as riquezas dos enormes saques. Era uma vergonha para um nobre ou aristocrata trabalhar. A cultura escravocrata era a mola propulsora dos impérios e da nobreza imperial, todos (até hoje) no hemisfério norte.
4) E o que me resta é só um gemido, minha vida, meus mortos meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa
Os gemidos, as tristezas da escravidão, o sofrimento de abandonar suas riquíssimas tradições “pagãs” em nome de uma religião que eles não entendiam e ninguém estava disposto a explicar, uma vez que o interesse da dominação religiosa sempre foi puramente econômico (como hoje). Nem o conquistador cristão sabia o que era cristianismo, como ele poderia explicar? Em várias pontos o “paganismo” dos povos nativos e dos negros era superior ao cristianismo institucionalizado da nação dominante. Mas só restou a dor, a violência e o gemido. Os povos escravizados tiveram de seguir caminhos tortos, ver os seus serem mortos. algumas décadas depois, os filhos dos filhos desse povo, com seu sangue latino, já estavam mentalmente colonizados e cristianizados, sua história estava apagada e suas almas estavam cativas. Apesar da resistência da cultura dos povos dominados, ainda prevalece até hoje a mentalidade do dominante.
5) Rompi tratados, traí os ritos. Quebrei a lança, lancei no espaço. Um grito, um desabafo.
Os povos nativos romperam seus tratados, traíram, por força, sua cultura, seus ritos. Conquistadores espanhóis como Hernán Cortés seguiram dizimando os astecas e derrubando seu império com espadas e tiros de arcabuz. Diante disso os indígenas, com suas armas primitivas, nada podiam fazer a não ser gritar, se desesperar, jogar sua lança no ar, ver suas mulheres serem violentadas e seus filhos mortos. A mesma coisa aconteceu na conquista portuguesa. Apesar dos protestos de alguns raros e verdadeiros cristãos como Bartolomeu de Las Casas, o cristianismo verdadeiro estava soterrado pela violência do cristianismo institucional da Igreja, que estava, claro, ao lado dos impérios, como sempre esteve.
6) E o que me importa é não estar vencido
Não mesmo. A prova disso é nossa riquíssima diversidade cultural e religiosa da América Latina. As religiões africanas, o folclore indígena, a mitologia asteca e maia com seu Deus Sol, tudo isso sobreviveu, pois a religião dominante, devido sua inferioridade moral perante o paganismo, não conseguiu suplantá-los. E o que importa é não estar vencido.”

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