Resgatando um pouco da
nossa história através da música. Não tinha quem não gostasse desta banda. Eu
mesma tive 2 LP´S do grupo.
O maior fenômeno
da música brasileira na década de 70 tendo como grande destaque a voz inconfundível
de Ney Matogrosso, além de suas famosas performances de palco que nunca iremos
esquecer!!!! Adorava!!!
O álbum de estréia da banda em 1973, Sangue Latino. É esta música que iremos comentar . Fala sobre o caminho dos povos latinos americanos, mesmo sofrendo com sistemas políticos opressivos, não desiste de lutar por sua liberdade, vindo de encontro com o momento histórico dos anos 70, a resistência contra os regimes militares que assolavam a América Latina.
O álbum de estréia da banda em 1973, Sangue Latino. É esta música que iremos comentar . Fala sobre o caminho dos povos latinos americanos, mesmo sofrendo com sistemas políticos opressivos, não desiste de lutar por sua liberdade, vindo de encontro com o momento histórico dos anos 70, a resistência contra os regimes militares que assolavam a América Latina.
SANGUE LATINO:
Primeira música do primeiro álbum, escrita por
João Ricardo e Paulinho Mendonça. O
rebolado de Ney na cara dos militares foi
surreal.
A letra passou pela censura dos
militares que não compreenderam a crítica
que a mesma estava refletindo através de suas metáforas.
Logo após a revolução
cubana, os Estados Unidos passavam por um medo mórbido do avanço comunista no
mundo e por isso apoiaram o golpe militar de 64 no Brasil. Essa repressão se
estendeu por outros países da América Latina com a operação Condor.
Resumindo:
EUA + militares = amigos da ditadura.
Portanto,
a poesia de Sangue Latino dentro desse contexto invoca toda a força do nosso
sangue contra o que nos foi imposto; chama a raiz do povo latino-americano, pede
para que não sejamos vencidos. É um hino de resistência a uma ameaça de nos
calar a voz.
“Uma
análise da belíssima música Sangue Latino. Claro que a arte fala para cada
um e não existem interpretações “oficiais”, mas a letra cai como uma luva
na história da América Latina. O autor da música é João Ricardo.
1) Jurei mentiras e sigo
sozinho
Durante a conquista espanhola e portuguesa da América Latina, tanto os
povos nativos quanto os escravos negros foram obrigados a abandonar suas
identidades culturais. Tinham de se converter a um Deus que lhes era estranho,
contra suas vontades. Um Deus associado ao conquistador e à dominação. Mas,
caso não fingissem conversão, então, morreriam ou seriam torturados. Tiveram
então de jurar mentiras.
2) Assumo os pecados
Os povos dominados do novo mundo foram informados que eram pecadores,
pagãos, hereges. No entanto, devido à sua condição de dominados, não poderiam
afirmar que não era pecadores. Então, foram obrigados a assumir seus
supostos pecados.
3) Os ventos do norte não movem moinhos
Claro, pois quem trabalhava (quem movia os moinhos) eram os escravizados.
Os países dominantes e imperiais da colonização viviam da exploração da mão de
obra escrava. A coroa portuguesa e espanhola apenas recebiam as riquezas dos
enormes saques. Era uma vergonha para um nobre ou aristocrata trabalhar. A
cultura escravocrata era a mola propulsora dos impérios e da nobreza imperial,
todos (até hoje) no hemisfério norte.
4) E o que me resta é só um gemido, minha
vida, meus mortos meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh’alma cativa
Os gemidos, as tristezas da escravidão, o sofrimento de abandonar suas
riquíssimas tradições “pagãs” em nome de uma religião que eles não entendiam e
ninguém estava disposto a explicar, uma vez que o interesse da dominação
religiosa sempre foi puramente econômico (como hoje). Nem o conquistador
cristão sabia o que era cristianismo, como ele poderia explicar? Em várias
pontos o “paganismo” dos povos nativos e dos negros era superior ao
cristianismo institucionalizado da nação dominante. Mas só restou a dor, a
violência e o gemido. Os povos escravizados tiveram de seguir caminhos tortos,
ver os seus serem mortos. algumas décadas depois, os filhos dos filhos desse
povo, com seu sangue latino, já estavam mentalmente colonizados e
cristianizados, sua história estava apagada e suas almas estavam cativas.
Apesar da resistência da cultura dos povos dominados, ainda prevalece até hoje
a mentalidade do dominante.
5) Rompi tratados, traí os ritos. Quebrei a
lança, lancei no espaço. Um grito, um desabafo.
Os povos nativos romperam seus tratados, traíram, por força, sua cultura,
seus ritos. Conquistadores espanhóis como Hernán Cortés seguiram dizimando os
astecas e derrubando seu império com espadas e tiros de arcabuz. Diante disso
os indígenas, com suas armas primitivas, nada podiam fazer a não ser gritar, se
desesperar, jogar sua lança no ar, ver suas mulheres serem violentadas e seus
filhos mortos. A mesma coisa aconteceu na conquista portuguesa. Apesar dos
protestos de alguns raros e verdadeiros cristãos como Bartolomeu de Las Casas,
o cristianismo verdadeiro estava soterrado pela violência do cristianismo
institucional da Igreja, que estava, claro, ao lado dos impérios, como sempre
esteve.
6) E o que me importa é não estar vencido
Não mesmo. A prova disso é nossa riquíssima diversidade cultural e
religiosa da América Latina. As religiões africanas, o folclore indígena, a
mitologia asteca e maia com seu Deus Sol, tudo isso sobreviveu, pois a religião
dominante, devido sua inferioridade moral perante o paganismo, não conseguiu
suplantá-los. E o que importa é não estar vencido.”
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