Segunda-feira, fui à médica (rotina) e ao pegar o ônibus sentei perto de um grupo que estava conversando sobre os acontecimentos do final de semana: assalto, estupro, homicídio... Era um grupo de mulheres e mal uma terminava de contar uma história, lá vinha a outra, com outra história pior. Eu fiquei questionando: “ Por que as pessoas adoram conversar sobre coisas deprimentes? Por que começar o dia falando só de coisas desagradáveis?
Estou tentando
fugir dessas notícias. Claro que não vou me alienar, mas se eu puder evitar, eu
evito.
Segundo São Tomás
de Aquino “tudo o que fazemos, mesmo quando estamos praticando o mal, estamos
fazendo em busca da própria felicidade.”
Tudo certo que
ninguém faça nada em busca da sua infelicidade,
mas até quando os falsos valores, como : beleza, poder, riqueza e fama,
que a sociedade imprime na vida, irão mover as gerações?
E quando você se
depara com um jornal que declara este tipo de notícia abaixo:
“A presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, mostrou otimismo com
o combate à corrupção no Brasil em palestra na Universidade de Brasília (UnB)
nesta terça-feira (22). “Hoje temos melhores condições de investigar até por
causa da tecnologia. O Ministério Público tem dado atenção necessária ao
combate à corrupção e o Poder Judiciário tem priorizado a questão”
Como pode a Presidente Carmem Lúcia falar de corrupção? Ela
que protegeu os juízes e desembargadores que ganham acima do teto; garantiu a
impunidade dos Ministros do STJ envolvidos na Lava Jato e permitiu a corrupção
dos princípios constitucionais ao apoiar o golpe com o STF e que levou uma
quadrilha de ladrões ao poder.
Resolvi compartilhar esta crônica de Rubem
Braga, para abrandar um pouco as questões sociais. Afinal, diante de tudo que está acontecendo no meu
país, prefiro e necessito de notícias
sobre a brevidade da vida!!!
A pergunta que faço é: "Até que
ponto a satisfação psicológica compensará a fome real e a necessidade do povo?"
Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que
está lendo e diz:
_ Chega! Houve um desastre de trem na França, um
acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso
que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem
unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do
mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o
traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe
os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenha
conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime "Durante os três
primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O
jornal nunca publica uma nota assim:
"Anteotem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda,
no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda
Brito Ramos, 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte
erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe
beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em
vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o
longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao
que ele retorquiu: "Deolinda". Na manhã seguinte Augusto Ramos foi
visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde
do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a
gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal".
A impressão que a gente tem, lendo os jornais -
continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado
principalmente, à pratica de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala.
Imagine isto: "Ontem, certa de 10 horas da
noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua
Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à
rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amância de Araújo,
residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e
já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência
ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente
alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se
à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo
servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas,
Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando
que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto insistiu, seguindo-se uma
disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido
empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o
troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo
acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando
sambas. Reina a maior paz no subúrbio Encantado, e a noite bastante fresca,
tendo dona Maria, sogra do comerciante Adalberto Ferreira, residente à rua
Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o
cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de
goiabada".
E meu amigo:
_
Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação,
será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos, uma coisa
tão banal de que ninguém se lembra: a vida...
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