quarta-feira, 23 de maio de 2018

CRÔNICA : OS JORNAIS




             Segunda-feira, fui à médica (rotina) e ao pegar o ônibus sentei perto de um grupo que estava conversando sobre os acontecimentos do final de semana: assalto, estupro,  homicídio... Era um grupo de mulheres e mal uma terminava de contar uma história, lá vinha  a outra, com outra história pior. Eu fiquei questionando:  “ Por que as pessoas adoram conversar sobre coisas deprimentes? Por que começar o dia  falando só de coisas desagradáveis?
                Estou tentando fugir dessas notícias. Claro que não vou me alienar, mas se eu puder evitar, eu evito.
                Segundo São Tomás de Aquino “tudo o que fazemos, mesmo quando estamos praticando o mal, estamos fazendo em busca da própria felicidade.”
               Tudo certo que ninguém faça nada em busca da sua infelicidade,  mas até quando os falsos valores, como : beleza, poder, riqueza e fama, que a sociedade imprime na vida, irão mover as gerações?
                E quando você se depara com um jornal que declara este tipo de notícia abaixo:
“A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, mostrou otimismo com o combate à corrupção no Brasil em palestra na Universidade de Brasília (UnB) nesta terça-feira (22). “Hoje temos melhores condições de investigar até por causa da tecnologia. O Ministério Público tem dado atenção necessária ao combate à corrupção e o Poder Judiciário tem priorizado a questão”
Como pode a Presidente Carmem Lúcia falar de corrupção? Ela que protegeu os juízes e desembargadores que ganham acima do teto; garantiu a impunidade dos Ministros do STJ envolvidos na Lava Jato e permitiu a corrupção dos princípios constitucionais ao apoiar o golpe com o STF e que levou uma quadrilha de ladrões ao poder.
Resolvi compartilhar esta crônica de Rubem Braga, para abrandar um pouco as questões sociais. Afinal,  diante de tudo que está acontecendo no meu país, prefiro e necessito  de notícias sobre a brevidade da vida!!!
          A pergunta que faço é: "Até que ponto a satisfação psicológica compensará a fome real e a necessidade do povo?"
 OS JORNAIS - Rubem Braga
Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz:
_ Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenha conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime "Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:
"Anteotem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao que ele retorquiu: "Deolinda". Na manhã seguinte Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal".
A impressão que a gente tem, lendo os jornais - continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado principalmente, à pratica de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala.
Imagine isto: "Ontem, certa de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amância de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto insistiu, seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio Encantado, e a noite bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciante Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada".
E meu amigo:
_ Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação, será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos, uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida... 



Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...