As memórias de Imacullée Ilibagiza toca nossa alma! Em alguns momentos senti suas palavras desnudando o meu espírito e mostrando-me quão belo é o poder da fé. Eu sei que os obstáculos existem para ver até que ponto vai a nossafé. A história de Imacullée poderia ser apenas mais uma sobre o genocídio que houve em Ruanda, especificamente em Mataba, mas o que li foi uma experiência transcendental. Uma história de profunda fé e de milagres. Filha de um respeitável casal de professores, líderes da aldeia, sempre foi muito amada por ambos e pelos seus 3 irmãos, sendo dois mais velhos. Durante sua infância não tinha consciência de que as pessoas pertenciam a tribos e raças diferentes, até quando entrou para escola e o seu professor Buhoro ao fazer chamada, questiona sobre sua etnia (tutsi ou hutu).Ela, então, fica sem saber responder, de modo que o professor pede que se retire e só retorne às aulas quando souber quem ela é.
Com o tempo, Imaculleé vai compreendendo o verdadeiro sentido desta divisão étnica, pois no início de sua vida escolar, apesar de suas excelentes notas foi preterida por ser uma tútsi; mais tarde, com seu desempenho e determinação,conquistou uma bolsa de estudos para a Universidade Nacional em Butare. Todos os irmãos de Imacullée estavam estudando fora da cidade dos seus pais e na páscoa de 1994, os pais pedem para que estejam presentes em Mataba. A família consegue reuni-los, menos Aimable, o mais velho, que estava estudando no Senegal. Damasceno veio de Kigale e Vianney (o caçula) estava em férias do internato.
Já havia um clima tenso no país, até que um dia, após o domingo pascoal, ésabida a notícia acerca do ataque ao avião em que o presidente Habyarimana se encontrava e que este havia falecido.
Naquele ano, em apenas 100 dias, a maioria dos tútsis foram exterminados e é neste contexto que destacamos a lição de vida, de esperança e de fé desta moça de apenas 22 anos, que viu sua família ser eliminada pelas pessoas que antes se
diziam amigas.
O pai, antes de morrer, pede para Immaculleé se asilar na casa de um pastor hutú onde poderia ficar mais segura. Sua saga começa a partir deste dia. São 91 dias que ela passa num banheiro do tamanho de um armário com mais 5 pessoas; depois chegaram mais duas. Segundo Imaculleé: “Minhas horas de vigília – de 15 a 20 horas diárias – passavam-se todas em comunicação com Deus, em oração e meditação. E durante as poucas horas de sono, sonhava com Jesus e a Virgem Maria.” Pesava inicialmente 52 quilos e saiu com 29; adoeceu duas vezes – uma febre de 41 graus e a outra, uma infecção urinária. Aprendeu inglês no banheiro, pois sonhou que um dia seria funcionária da ONU. Há momentos de muita tensão, angústia; sentimos as mesmas dores de Imaculleé, principalmente no momento em que os extremistas hútus do movimento juvenil Interahamwe (aqueles que atacam em conjunto) revistaram a casa do religioso e tinham certeza de que ela se encontrava lá. Neste momento, o nosso coração aperta e ela com toda sua fé, recebe uma mensagem: “Confie em mim, saiba que jamais a abandonarei. Confie e não sinta mais medo. Confie, e eu a salvarei. Colocarei minha cruz sobre esta porta, e eles não chegarão até você.Confie em mim e viverá.” A fé de Imaculleé ajudou-a a manter o equilíbrio e a esperança de dias melhores em sua vida, mesmo sendo vítima de tanta violência física e psicológica.Salva pelas forças da ONU com a ajuda de soldados tútsi da FPR (Força Patriótica de Ruanda), Immaculée emigrou para os Estados Unidos, onde passou a trabalhar para as Nações Unidas, em Nova York, casou-se e reconstruiu a vida. Atualmente, direciona seus esforços à organização que criou para amparar sobreviventes de guerras e genocídios
Criou a Fundação Ilibagiza e constituiu um Fundo de Caridade “Left to Tell Charitas Fund” . (LTTCF), que se destina a ajudar outros sobreviventes a se recuperarem dos efeitos do genocídio e da guerra. Financiada pelos recursos obtidos com a venda de seus livros e pelas palestras que dá no mundo inteiro, este sonho se tornou realidade, oferecendo ajuda para minimizar as dores do passado e abrigar os órfãos de Ruanda.
É um livro que renova a nossa fé e nos torna seres melhores através de suas experiências, pois o maior o lição de amor foi a autora ter perdoado àqueles que fizeram o mal aos seus familiares. Em sua dedicatória aos pais e irmãos falecidos, fala do amor desinteressado que eles a ofertaram; e ao irmão que sobreviveu fala das dores silenciadas que possam ser curadas.
Este também é o meu desejo para todos que sobreviveram ao genocídio. Às vezes fico indignada como podem existir ainda hoje pessoas tão cruéis?!! Até quando continuaremos pobres e infelizes espiritualmente?
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