sexta-feira, 20 de abril de 2018

ELE



Uma coisa é o que se fala; outra, é o que se sente! Conteúdos e afetos são dois pilares da nossa subjetividade.
Antes dele chegar, já sentia suas lembranças.
Estava em casa, de repente, ele chega. Chega com o seu jeito manso, másculo e meio malandro; jeito que encanta e ao mesmo tempo  inquieta minha  alma que estava meio  adormecida em relação à determinado tipo de  sensação e sentimento. Falou-me de sua contusão na coxa..
Fui à cozinha, concluir o nosso almoço, quando sinto seus carinhos em meu pescoço. Neste instante, meus lábios procuram logo os seus. A faca que estava utilizando para cortar verduras, começou a ter um novo significado: cortou o meu orgulho e eliminou o meu amor-próprio .
Mas...como assim? Haverá de novo uma via crucis do corpo? 
Percebi que ali tinha uma verdade. A verdade não necessariamente significa aprazível, ela é muito mais profunda, pois quando olhei para ele e vi nele um espelho que me  revelava, que provocava no meu ser a quebra do desconhecido, fazendo com que a capa protetora do desejo fosse rompida...compreendi a sacralização da vida, sacralização do tempo.
Vi  no meu corpo a narrativa de um texto vivo, libertando-se para o "prazer" de ser mulher.
Neste instante, tínhamos como testemunhas as paredes do apartamento e o céu que não parava de nos observar. Por fim, até Djavan silenciou.
O que não calou foi a minha consciência. Expandiu-se como uma semente que rasga a terra para brotar, querendo ganhar espaço; quebrando a resistência e procurando a luz.


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