quinta-feira, 31 de maio de 2018
PELO DIREITO DOS MENINOS
Sei que muitas pessoas não compreendem a diferença entre FEMINISMO X MACHISMO.Machismo não é o contrário de feminismo; machismo é a suposição de que os homens são superiores; feminismo não é a suposição de que as mulheres são superiores. Feminismo é a crença de que homens e mulheres somos iguais, por isso o feminismo não é coisa só de mulheres. Segundo o filósofo,Sérgio Cortella, o contrário de machismo é inteligência.
Embora eu não seja uma feminista radical,pois sei que existem vários tipos de feminismos, o respeito às mulheres e a busca pela igualdade de gêneros e pelo fim do machismo são assuntos que abordo com grande frequência, justamente porque acho que ainda temos um longo caminho pela frente e sempre há o que se dizer.
Embora eu não seja uma feminista radical,pois sei que existem vários tipos de feminismos, o respeito às mulheres e a busca pela igualdade de gêneros e pelo fim do machismo são assuntos que abordo com grande frequência, justamente porque acho que ainda temos um longo caminho pela frente e sempre há o que se dizer.
Sou fruto de uma família rodeada por homens.
Apesar de meu pai não ser machista e minha mãe também não ser considerada uma
feminista radical, mas lembro-me de uma fase em nossa família que minha mãe
assumiu a frente de tudo, já que o meu pai havia ficado doente, porém existiam
detalhes que eu, como mulher, eu era a única que teria de organizar casa, ir
para cozinha...se alguns dos meus irmãos queriam fazer isto, era hobby, não uma
obrigação.
É preciso ensinar o respeito às mulheres quando
os meninos são pequenos. "É muito tarde se deixarmos para educar os homens
sobre o respeito às mulheres quando eles já são adolescentes ou jovens. Tarde
demais. Você educa quando eles têm 4, 5, 6 anos. Ensina que meninos e meninas
são iguais, que ambos precisam de respeito. Que em sociedade todos devemos nos
respeitar e ajudar."
Observo, muitas vezes, falas
e atos machistas de minha parte, depois a consciência retorna e faço uma análise
sobre o que fiz ou disse. Um
homem não nasce estuprador e nem machista. Ele aprende por imitação,
principalmente em casa, em contato com a família.
O que deveríamos criar eram homens que no futuro
pudessem compreender que o papel deles não é simplesmente ajudar, mas ser igualmente
responsável; aí está o desafio, a beleza, de buscar o feminismo dentro de casa. Este é apenas um dos detalhes porque temos muitos outros para serem ressaltados.
Aproveito, então, para reproduzir aqui um texto que recebi pelo whatsapp cuja autoria é de Sílvia Amélia de Araujo. Compartilho pois é nisso que acredito.
Aproveito, então, para reproduzir aqui um texto que recebi pelo whatsapp cuja autoria é de Sílvia Amélia de Araujo. Compartilho pois é nisso que acredito.
Pelo Direito dos Meninos
por Sílvia Amélia de Araujo
Que nenhum menino seja coagido pelo pai a ter a primeira relação
sexual da vida dele com uma prostituta (isso ainda acontece muito nos
interiores do Brasil!).
Que nenhum menino seja exposto à pornografia precocemente para estimular sua
“macheza” quando o que ele quer ver é só desenho animado infantil (isso
acontece em todo lugar!).
Que ele possa aprender a dançar livremente, sem que lhe digam
que isso é coisa de menina.
Que ele possa chorar quando se sentir emocionado, e que não lhe
digam que isso é coisa de menina.
Que não lhe ensinem a ser cavalheiro, mas educado e solidário,
com meninas e com os outros meninos também.
Que ele aprenda a não se sentir inferior quando uma menina for
melhor que ele em alguma habilidade específica – já que ele entende que homens
e mulheres são igualmente capazes intelectualmente e não é vergonha nenhuma
perder para uma menina em alguma coisa.
Que ele aprenda a cozinhar, lavar prato, limpar o chão para
quando tiver sua casa poder dividir as tarefas com sua mulher – e também
ensinar isso aos seus filhos e filhas.
Na adolescência, que não lhe estimulem a ser agressivo na
paquera, a puxar as meninas pelo braço ou cabelos nas boates, ou a falar
obscenidades no ouvido de uma garota só porque ela está de minisaia.
Que ele não tenha que transar com qualquer mulher que queira
transar com ele, que se sinta livre para negar quando não estiver a fim – sem
pressão dos amigos.
Que ele possa sonhar com casar e ser pai, sem ser criticado por
isso. E, quando adulto, que possa decidir com sua mulher quem é que vai ficar
mais tempo em casa – sem a prerrogativa de que ele é obrigado a prover o
sustento e ela é que tem que cuidar da cria.
Que, ao longo do seu crescimento, se ele perceber que ama
meninos e não meninas, que ele sinta confiança na mãe – e também no pai! – para
falar com eles sobre isso e ser compreendido.
Que todo menino seja educado para ser um cara legal, um ser
humano livre e com profundo respeito pelos outros. E não um machão insensível!
Acredito que se todos os meninos forem criados assim eles se tornarão homens
mais felizes. E as mulheres também serão mais felizes ao lado de homens assim.
E o mundo inteiro será mais feliz.
O machismo não faz mal só às mulheres, mas aos homens também, à
humanidade toda.
Meu
ativismo político é a favor da alegria. Só isso.quarta-feira, 30 de maio de 2018
CHARGE
"Do bem e do mal
Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?"
Mario Quintana
Todos tem seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa na vida inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?"
PROFESSOR DIRIGINDO UMA NAÇÃO
Somos professores. Não
dirigimos um caminhão. Somos aqueles que dirigem a nação para novos caminhos,
para novos rumos. Quando paralisamos nossas atividades, ninguém percebe que o
país segue desgovernado, correndo o risco de despencar no abismo da ignorância.
Poucos notam que, sem os professores, falta na mesa do brasileiro o pão do
conhecimento. E quase ninguém se dá conta de que nós, os professores,
transportamos todos os dias toneladas de saberes que abastecem e nutrem a
cidadania. É bom ver o apoio dado pela população aos caminhoneiros do nosso
país. Quiçá, um dia, nós, professores, recebamos o mesmo apoio. E, melhor, quem
sabe, um dia, sejamos uma classe tão unida quanto a deles. O certo é que,
enquanto a preocupação for apenas o alimento do corpo, o país ficará anêmico na
intelectualidade, tornando-se alvo fácil das "doenças" sociais.
Jucilene Vieira
Jucilene Vieira
BIOGRAFIA : JORGE AMADO
Aos 14 anos, começou a participar da vida literária de Salvador, sendo
um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, grupo de jovens que (juntamente com
os do Arco & Flecha e do Samba) desempenhou importante papel na renovação
das letras baianas. Entre 1927 e 1929, foi repórter no "Diário da
Bahia", época em que também escreveu na revista literária "A
Luva".
Estreou na literatura em 1930, com a publicação (por uma editora
carioca) da novela "Lenita", escrita em colaboração com Dias da Costa
e Édison Carneiro. Seus primeiros romances foram "O País do Carnaval"
(1931), "Cacau" (1933) e "Suor" (1934).
Jorge Amado bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na Faculdade
de Direito no Rio de Janeiro (1935), mas nunca exerceu a profissão de advogado.
Em 1939, foi redator-chefe da revista "Dom Casmurro". De 1935 a 1944,
escreveu os romances "Jubiabá", "Mar Morto", "Capitães
de Areia", "Terras do Sem-Fim" e "São Jorge dos
Ilhéus".
Em parte devido ao exílio no regime getulista, Jorge Amado viajou pelo
mundo e viveu na Argentina e no Uruguai (1941-2) e, depois, em Paris (1948-50)
e em Praga (1951-2).
Voltando para o Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, redigiu a seção
"Hora da Guerra", no jornal "O Imparcial" (1943-4).
Mudando-se para São Paulo, dirigiu o diário "Hoje" (1945). Anos
depois, no Rio, participou da direção do semanário "Para Todos"
(1956-8).
Suas obras foram traduzidas para 48 idiomas. Muitas se viram adaptados
para o cinema, o teatro, o rádio, a televisão e até as histórias em quadrinhos,
não só no Brasil, mas também em Portugal, França, Argentina, Suécia, Alemanha,
Polônia, Tchecoslováquia (atual República Tcheca), Itália e EUA.
Seus últimos livros foram "Tocaia Grande" (1984), "O
Sumiço da Santa" (1988) e "A Descoberta da América pelos Turcos"
(1994).
Além de romances, escreveu contos, poesias, biografias, peças de teatro, histórias infantis e até um guia de viagem. Sua esposa, Zélia Gattai, é autora de "Anarquistas, Graças a Deus" (1979), "Um Chapéu Para Viagem" (1982), "Senhora Dona do Baile" (1984), "Jardim de Inverno" (1988), "Pipistrelo das Mil Cores" (1989). O casal teve dois filhos: João Jorge, sociólogo e autor de peças infantis e Paloma, psicóloga.
DEZ CURIOSIDADES SOBRE JORGE AMADO:
1. É um dos escritores brasileiros mais traduzidos e conhecidos no exterior, perde apenas para Paulo Coelho. Suas obras já foram traduzidas em mais de 50 idiomas e dialetos, editados em 55 países
2. É advogado por formação, mas nunca exerceu a
profissão.
3. Foi preso em 1940, no governo Getúlio Vargas,
acusado de participar de uma revolta comunista contra o presidente. Neste
episódio, dividiu cela com Caio Prado Jr.
4. Para escrever Tieta do Agreste, Jorge Amado passou
um ano trancado em uma casa, em Londres.
5. Colecionava sapos e espalhava-os pela casa. Uma das
atrações de suas visitas eram encontra-los nos aposentos.
6. Em seu exílio voluntário em Paris, Jorge Amado faz
amizade com Jean-Paul Sartre, Picasso e outros escritores e artistas.
7. Aos 12 anos, fugiu do internato para percorrer o
sertão baiano, viajou de Ilhéus até Itaporanga, em Sergipe, onde morava seu avô
paterno.
8. Jorge Amado aprendeu a ler com a mãe que o
alfabetizou com jornais.
9. O romance Jubiabá foi elogiado pelo escritor Albert
Camus em artigo de 1939.
10. O livro Mar morto inspirou Dorival Caymmi a compor
a música É doce morrer no mar.
segunda-feira, 28 de maio de 2018
REIVENÇÂO DE MIM MESMA
Acredito
que temos todos os dias de produzirmos uma versão melhorada de nós mesmos ; não
para agradar aos outros, mas para sermos uma boa companhia para nós , então
hoje, para me sentir mais leve, resolvi me reinventar.
Claro que
não serei outra Myriam, apenas quero rememorar algumas boas lembranças. Isto não quer dizer que nos dias atuais eu não tenha boas lembranças, muito pelo contrário!!! Apenas quero registrar retratos de minhas vivências.
Quero
lembrar um pouco da casa em que morei na infância, que estava sempre de braços abertos para a acolhida. Os vizinhos abriam o portão e ao adentrar em nossa casa, eram sempre recepcionados com uma boa conversa, bom humor e uma culinária com cheiro e sabores específicos.
A abundância do amor dos meus pais matava a fome de quem sentia sede de afeto .
Nossos
encontros tinham o cheiro de ternura e alegria. Os meus amigos, eram pessoas da família.
Hoje, nós
preferimos fomentar conhecidos a amigos. Vejo as relações muito superficiais. Temos
medo de dividir os nossos segredos e é preferível não estabelecer nenhuma
intimidade com as pessoas com as quais convivemos. A convivência maior é através da internet que promove a cada dia mais o
enclausuramento humano, deixando que as relações cara a cara, corpo a corpo, se
limitem aos posts eventuais, e que as pessoas se “escondam” atrás de suas
máquinas.
Como já falei, a cada dia uso menos o face e o zap.
Ainda hoje conservo os amigos de infância, por isso iniciei o texto falando da minha casa, dos vizinhos que não eram apenas vizinhos, mas grandes amigos.
Existem os
amigos de fase e os verdadeiros. Os de fase são aqueles que estiveram conosco
num determinado momento de nossas vidas: na escola, num curso; os verdadeiros
perpassam todos os momentos.
O verdadeiro amigo, nunca nos incomoda, pois sempre é bem-vindo.
Não tem
data nem horário para aparecer ou telefonar.
Não precisa
de cerimônias para dizer o que quer.
Não desiste
de nós mesmos, mesmo sabendo das nossas incompletudes e imperfeições.
Não só ouve
o que é necessário mas também, o desnecessário.
Nos aceita como somos,
ainda que sejamos muito diferente dos seus valores.
Os amigos
são para toda a vida, embora não estejam conosco em todas as horas.
Somos um
pouco de cada um.
Como eu
conseguiria me avaliar, me criticar se eu não tivesse estas pessoas ao meu
lado? São eles que me reconstroem , me reinventam e me salvam.
sábado, 26 de maio de 2018
LIVRO : FELICIDADE CLANDESTINA
Lançado inicialmente em 1971, “ Felicidade Clandestina”
reúne 25 textos de Clarice
Lispector
que podem ser classificados em crônicas ou contos.
Muitos
desses textos foram publicados como crônicas no Jornal do Brasil, para onde
Clarice
escrevia semanalmente de 1967 a 1972.
Destacarei
aqui, três contos que constam no curta-metragem “ Clandestina
Felicidade”.
1. Felicidade Clandestina - O conto que dá
nome ao livro, Felicidade Clandestina, tem como narradora uma
menina que vivia em Recife – segundo estudiosos, seria uma própria referência à
autora – que relembra um episódio de sua infância.
Uma colega, cujo
pai era dono de livraria, comentou certa ocasião que possuía o livro Reinações
de Narizinho, de Monteiro Lobato. Tratava-se de um dos objetos de desejo da
protagonista e ela o pediu emprestado. A dona se comprometeu a fazê-lo, mas,
por dias seguidos, transferia a entrega para o dia seguinte sob as mais
diversas justificativas, exercendo sobre a mesma uma tortura chinesa.
Nisto, a
protagonista enchia-se sempre de esperança : “ Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria:
eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam
.”
Até que, certa ocasião, a mãe da dona do livro
descobriu tudo e fez a filha emprestar o livro. A protagonista, ao receber o
livro, percebe o verdadeiro sentido da palavra “felicidade”. O ponto
central desse texto é o conceito de “felicidade”. Nele, a escritora parece se
questionar “afinal, o que é felicidade?”. A menina presente na crônica parece
conhecer bem o dito popular “felicidade é bom, mas dura pouco”, uma vez que ela
se utiliza de todas as formas para prolongar seu sentimento de felicidade. Uma
vez que ela ganhou permissão para ficar com o livro pelo tempo que desejasse,
ela o deixa no quarto e finge esquecer que o possui, só para se redescobrir
possuidora dele. Dessa forma, sua felicidade aparece como um sentimento
“clandestino”, como veremos no fragmento abaixo:
“Como contar o que se seguiu? Eu estava
estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o
livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que
segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto
tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente,
meu coração pensativo.
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que
não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li
algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei
ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardava o
livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas
dificuldades para aquela coisa
clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para
mim. Parece que eu pressentia.”
Quem
de nós, não tem este tipo de sentimento? Quem de nós não gostaria que muitos de
nossos desejos se eternizassem? Porém, com a maturidade, vemos que a felicidade
vai tendo novos sentidos . Lembro-me de quando criança, muitas vezes que
ganhava algo que gostava muito, eu ia me deliciando desse desejo aos poucos:
como um chocolate, um livro..depois, queria que isto também se estendesse para
as pessoas; mas comecei a perceber que
não era bem assim..com coisas, isto eu
poderia fazer, mas com pessoas, existiria muitos elementos que estariam
envolvidos, como: afetividade, afinidade...e que o importante quando elevamos
estes atos para as pessoas é que a cada encontro ele seja pleno, inteiro, cheio
de descobertas e aprendizagens. Que os nossos sentimentos sejam os mais
sublimes. Vimos neste conto os sentimentos diversos: tanto os sublimes como os pequenos:
entre os quais destaco a perversidade da garota, a frustração da personagem
principal, no primeiro momento, decepção da mãe da garota.
Através deste
conto redescobrimos nossas sensações e incompletude.
2 . Restos do Carnaval
- também trabalha com a perspectiva da lembrança de uma narradora ainda menina.Conta
a história de um Carnaval que viveu em Recife, aos oito anos. (Por
volta dos oito anos, Clarice perdeu sua mãe. Três anos depois, a família
muda-se para o Rio de Janeiro.) Marcada pela debilidade física da mãe, a
narradora passava horas em frente à casa que morava com uma sacola cheia de
confete, bem como um lança perfume nas mãos.
“E
quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me
tomava? Como se enfim explicassem para
que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de
prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.”(...) “Duas coisas preciosas eu ganhava então e
economizava-as com avareza para durante os três dias: um lança-perfume e um
saco de confete.”
Mas
houve um Carnaval diferente dos outros: “É
que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia
era no figurino Rosa.Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom
cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor.
(...) Naquele carnaval, pois pela primeira vez na vida eu teria o que sempre
quisera: ia ser outra que não eu mesma.”
No
entanto, no momento de festejar, a saúde da mãe piorou, a família se agitou e
ela foi convocada para ir até à farmácia comprar remédios. “Muitas coisas que me aconteceram tão piores que
estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso entender agora: o jogo de dados
de um destino é irracional? É impiedoso. Quando estava vestida de papel crepom
todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha mãe
de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e
mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia.”
Quando
tudo se acalmou, ela pôde ir até a frente do sobrado.
“Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E,
como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam
pessoas, eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples
menina. (...) Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre
mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.“
Só
depois é que veio a salvação. Um menino de doze anos passou e cobriu seus
cabelos de confete, como se jogasse água sobre uma rosa.” E eu, então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que
enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.”
Quem nunca teve em sua vida estes
momentos epifânicos? No conto, que é
um dos muito raros explicitamente
autobiográficos que ela contou, ela lembra este momento de dor e de alegria,
que perpassa todas as suas lembranças da cidade onde se criou, e onde a sua mãe
morreu quando tinha 9 anos. sempre em Clarice a gente vê as
possibilidades de transformação da vida que pensamos ter, ou da coisa que
pensamos ver. A ideia de que há muito mais no universo do que aquele que
pensamos enxergar é uma das grandes marca da Clarice.
3- Uma história de tanto amor- Esse conto
retrata a história de uma menina mineira que tinha duas galinhas: a Pedrina e a
Petronilha. A menina cuidava delas como se fossem pessoas e de tanto
observá-las conhecia a alma e os anseios íntimos das mesmas. “Quando a menina achava que uma delas estava
doente do fígado, ela cheirava embaixo das asas delas,, com uma simplicidade de
uma enfermeira, o que considerava ser o sintoma máximo de doenças, pois o
cheiro de galinha viva não é de se brincar.Então pedia um remédio a uma tia. E
a tia: “Você não tem coisa nenhuma no fígado”. Então, com a intimidade que tinha
com essa tia eleita, explicou-lhe para quem era o remédio.”
Certa vez, a menina foi passar o dia
fora e, quando voltou, a Petronilha tinha sido comida pela família. A menina
então ficou bastante contrariada.
“A
menina era criatura de grande capacidade de amar: uma galinha não corresponde
ao amor que se lhe dá e no entanto a menina continuava a amá-la sem esperar
reciprocidade. Quando soube o que acontecera com Petronilha passou a odiar todo
mundo da casa, menos sua mãe que não gostava de comer galinha e os empregados
que comeram carne de vaca ou de boi. O seu pai, então, ela mal conseguia olhar:
era ele quem mais gostava de comer galinha.”
No entanto, a mãe apenas disse a pobre
menina que lamentara não ter comido algum pedaço da Petronilha, argumentando
que quando comesse os bichos, eles tendem a ficar parecidos com os humanos. A
outra galinha, a Pedrina, morreu "naturalmente". Na realidade, teve
uma morte apressada pela menina que, ao vê-la doente, colocou-a embrulhada num
pano escuro, em cima dos tijolos quentes, acabando por apressar sua morte.
Já um pouco maiorzinha, a menina teve
outra galinha, a Eponina.
“ O
amor por Eponina: dessa vez era um amor mais realista e não romântico; era o
amor de quem já sofreu por amor. E quando chegou a vez de Eponina ser comida, a
menina não apenas soube como achou que era o destino fatal de quem nascia
galinha. As galinhas pareciam ter uma presciência do próprio destino e não
aprendiam a amar os donos nem o galo. Uma galinha é sozinha no mundo.”
Esta foi comida ao molho pardo por toda a
família, inclusive pela menina que, embora sem fome, quis que Eponina se
incorporasse nela. Certa da posse daquela galinha, a menina demonstrava durante
a refeição que tinha ciúmes de quem também comia a pobre da Eponina.
“ A
menina era um ser feito para amar até que se tornou moça e havia os homens.” .
Este sentimento de amor incondicional
que a personagem tem por suas galinhas, ao se tornar moça é transmutado, pois a
partir de agora, tem consciência das
perdas e superações.
.
quarta-feira, 23 de maio de 2018
CRÔNICA : OS JORNAIS
Segunda-feira, fui à médica (rotina) e ao pegar o ônibus sentei perto de um grupo que estava conversando sobre os acontecimentos do final de semana: assalto, estupro, homicídio... Era um grupo de mulheres e mal uma terminava de contar uma história, lá vinha a outra, com outra história pior. Eu fiquei questionando: “ Por que as pessoas adoram conversar sobre coisas deprimentes? Por que começar o dia falando só de coisas desagradáveis?
Estou tentando
fugir dessas notícias. Claro que não vou me alienar, mas se eu puder evitar, eu
evito.
Segundo São Tomás
de Aquino “tudo o que fazemos, mesmo quando estamos praticando o mal, estamos
fazendo em busca da própria felicidade.”
Tudo certo que
ninguém faça nada em busca da sua infelicidade,
mas até quando os falsos valores, como : beleza, poder, riqueza e fama,
que a sociedade imprime na vida, irão mover as gerações?
E quando você se
depara com um jornal que declara este tipo de notícia abaixo:
“A presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, mostrou otimismo com
o combate à corrupção no Brasil em palestra na Universidade de Brasília (UnB)
nesta terça-feira (22). “Hoje temos melhores condições de investigar até por
causa da tecnologia. O Ministério Público tem dado atenção necessária ao
combate à corrupção e o Poder Judiciário tem priorizado a questão”
Como pode a Presidente Carmem Lúcia falar de corrupção? Ela
que protegeu os juízes e desembargadores que ganham acima do teto; garantiu a
impunidade dos Ministros do STJ envolvidos na Lava Jato e permitiu a corrupção
dos princípios constitucionais ao apoiar o golpe com o STF e que levou uma
quadrilha de ladrões ao poder.
Resolvi compartilhar esta crônica de Rubem
Braga, para abrandar um pouco as questões sociais. Afinal, diante de tudo que está acontecendo no meu
país, prefiro e necessito de notícias
sobre a brevidade da vida!!!
A pergunta que faço é: "Até que
ponto a satisfação psicológica compensará a fome real e a necessidade do povo?"
Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que
está lendo e diz:
_ Chega! Houve um desastre de trem na França, um
acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso
que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem
unicamente desastres e desgraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do
mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o
traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe
os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenha
conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime "Durante os três
primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O
jornal nunca publica uma nota assim:
"Anteotem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda,
no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda
Brito Ramos, 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte
erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe
beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em
vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o
longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao
que ele retorquiu: "Deolinda". Na manhã seguinte Augusto Ramos foi
visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde
do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a
gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal".
A impressão que a gente tem, lendo os jornais -
continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado
principalmente, à pratica de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala.
Imagine isto: "Ontem, certa de 10 horas da
noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua
Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à
rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amância de Araújo,
residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e
já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência
ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente
alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se
à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo
servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas,
Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando
que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto insistiu, seguindo-se uma
disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido
empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o
troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo
acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando
sambas. Reina a maior paz no subúrbio Encantado, e a noite bastante fresca,
tendo dona Maria, sogra do comerciante Adalberto Ferreira, residente à rua
Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o
cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de
goiabada".
E meu amigo:
_
Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação,
será chamado de louco. Porque os jornais noticiam tudo, tudo, menos, uma coisa
tão banal de que ninguém se lembra: a vida...
sexta-feira, 18 de maio de 2018
LITERATURA INFANTIL : BISA BIA, BISA BEL
Lembro-me de que li este livro há muitos anos atrás e esta
semana, reli : BISA, BIA, BISA BEL, um clássico da literatura infantil, de Ana
Maria Machado.
Trata-se de uma obra publicada em
1981. É uma história que se desenvolve entre três gerações e que tem como
narradora-protagonista, a menina, Isabel, de 10 anos. Uma criança extremamente
inteligente, inquieta e curiosa, que está vivendo o seu momento de puberdade e
encontra num determinado dia, a fotografia de sua bisavó.
A partir deste encontro, ela
começa a fazer várias descobertas. Leva sua Bisa Bia para a escola, para
brincar no pátio, até o dia em que perde a fotografia então resolve dizer que ele virou uma tatuagem e,
por isso, havia sumido. Através da sua imaginação fértil ela começa a
escutar a bisavó como se ela realmente estivesse lhe ajudando e dando
conselhos.
“Eu guardei ela grudada na minha pele, junto
do meu coração, muito bem guardada, no melhor lugar que tinha. E ela gostou
tanto – sabe, mãe? – que vai ficar aí para sempre, só que pelo lado de dentro,
já imaginou?(...) Morando comigo para sempre. “
Quem não sente saudades de suas
avós? Quantas coisas elas nos ensinaram...Só conheci minha avó materna e as
bisas nunca as vi nem por fotografia. Gostaria muito de ter tido este
privilégio, pois se as avós já são especiais, imagine as bisas?
Nesta história, a bisa de Isabel
vira personagem do seu cotidiano. “Como você já deve estar percebendo, Bisa Bia
e eu somos capazes de ficar horas assim, batendo papo explicativo - como ela
gosta de chamar. Ela explica as coisas do tempo dela, eu tenho de dar
explicações do nosso tempo. “
Através dos diálogos surge uma
amizade que exercita a troca de múltiplas vozes interiores,; logo, surgem os
medos, as alegrias, as esperanças. Isabel
redimensiona o futuro e busca aprender a conviver consigo mesma.
No momento em que Bel, aceitando conselho de Bisa Bia, se põe a aprender
a bordar as letras em lenços, vê-se diante dela sua bisneta Beta que encontrou sua fotografia
um século depois.
Três tempos e três vivências que se cruzam e se completam numa só pessoa, a menina Isabel. O diálogo de Isabel - ou
melhor, de Bel - com sua avó - Bisa Bia - e, depois, com sua futura bisneta é
uma mistura encantadora do real e do imaginário, levando o leitor a perceber
as mudanças no papel da mulher na sociedade.
O diálogo fica ainda mais divertido quando surge uma
terceira "voz": a Neta Beta, uma menina do futuro, que fala de
muitas mudanças que ainda estão por vir. São três personagens numa só: Bisa Bia,
Bel e Neta Beta, vivendo três gerações e um único sonho: a liberdade.
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