segunda-feira, 16 de julho de 2018

LIVRO: O QUE É O LUGAR DE FALA?



“O O que é Lugar de Fala? pertence a coleção Feminismos Plurais que tem como objetivo trazer para o grande público questões importantes referentes aos mais diversos feminismos.
O livro inicia com uma citação de Lélia Gonzales: “E o risco que assumimos aqui é o do ato de falar com todas as implicações. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos) que neste trabalho assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa”É como a própria Djamila comenta: “ quando a gente não conhece um assunto, se faz importante se informar. Então leiam!!! Super indico.
O importante do livro é a contextualização histórica de várias figuras que antecederam esta busca pelo lugar de fala, além de ser um livro didático, necessário e acessível. Compreender o que é o lugar de fala exige no mínimo “descolonizar a mente.” Pensando nesse lugar, é interessante observar a História do Brasil e como ela é contada do ponto de vista do colonizador, uma visão eurocêntrica, judaico-cristã.
Logo no primeiro capítulo, Djamila afirma: “Antes de chegarmos ao que se entende sobre o conceito de lugar de fala propriamente dito, é importante falarmos dos percursos intelectual e de luta de mulheres negras durante a história.” Então inicia com Sojouner Truth – abolicionista afro-americana, escritora e ativista dos direitos da mulher; Bell hooks e Audre Lorde também são citadas, assim como a nossa mineira Lélia Gonzales que chamou  a atenção para as especificidades das mulheres negras duplamente oprimidas: pelo sexo e pela cor.
  “(...) Então aquele homenzinho vestido de preto diz que as mulheres não podem ter tantos direitos quanto os homens porque Cristo não era mulher! Mas de onde é que vem seu Cristo? De onde foi que Cristo veio? De Deus e de uma mulher! O homem não tem nada a ver com Ele.
Se a primeira mulher que Deus criou foi suficientemente forte para, sozinha, virar o mundo de cabeça para baixo, então todas as mulheres, juntas, conseguirão mudar a situação e pôr novamente o mundo de cabeça para cima! E agora elas estão pedindo para fazer isto. É melhor que os homens não se matam.
Obrigada por me ouvir e agora a velha Sojourner não tem muito o que dizer.” Sojouner Truth
 “Estudar foi uma lenha. Coisa da pobreza. Nos mudamos pro Rio de Janeiro nos anos quarenta. Tive de dar muito duro para poder estudar, mas consegui. Me graduei em História e Filosofia, fiz mestrado em Comunicação e doutorado em Antropologia. Nada mal para uma ex-babá.” Lélia Gonzales

“Sabe qual é o negro mais bonito do mundo? É aquele que tem consciência de suas raízes, de suas origens culturais. É aquele que tem a atitude de quem sabe que é ele mesmo, e não um outro determinado pelo poder branco. Olha só o que os blocos afro de Salvador conseguiram.”  Lélia Gonzales

Ainda como exemplo, a autora apresenta nomes importantes na construção do feminismo negro, como Grada Kilomba, Sueli Carneiro, Patrícia Hill Collins entre outras, fornecendo a nós, leitores, uma gama de referências teóricas que fortalece o debate. Assim, entendemos que todas as pessoas possuem lugar de fala, e, a partir disso, é possível debater e refletir criticamente sobre os mais variados temas presentes na sociedade.


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