Oração vem da palavra oratium = falar daquilo que te vai a alma; tender para aquilo que é divino. Quando eu tendo para aquilo que é divino, eu é quem estou indo para esta direção. Não estou puxando nada de lá para cá. Não estou tomando, estou dando!
Então
é interessante que , quando temos problemas lembramos de Deus e quando não
temos, lembramos de nós; ou seja, nas dádivas EU ! Nas necessidades alguém tem
de me ajudar. Isto reflete uma postura muito esvaziada da oração e da própria
noção de sagrado que temos nos nossos dias.
E uma
sacerdotisa disse:
Fala-nos da
prece.
Quem
pergunta é uma sacerdotisa. A ideia do sacerdote, do pontífice foi utilizado
muitas vezes pelo filósofo na história; não como uma pessoa que se dedica
exclusivamente a uma doutrina religiosa, mas como aquele que faz ponte entre o
céu e a terra. Filósofos, como Platão, consideravam o artista, o
legislador...como um verdadeiro pontífice porque trazem coisas do plano das
ideias pra terra e traz na íntegra; sem contaminá-las no meio do caminho.
Isso
pra eles é uma ponte.
Na
verdade, todo aquele que constrói algo para humanidade está fazendo uma ponte
entre o céu e a terra.
Kant,
que é um filósofo moderno do grande racionalismo clássico, falava algo muito
interessante sobre a palavra respeito. “ È o mais nobre sentimento. Respeito
vem de respício – olhar mais uma vez, saber ver.” Ele dizia: Você não respeita
um ser humano. Sabe o que você respeita: A humildade e sabedoria do ser humano
de subordinar as estruturas pessoais para que a lei passe através dele e a
humildade e a sabedoria deste ser humano de canalizar isto; - que nunca o faz
apenas por si. Então, você sabe ver o que passa através dessa pessoa – um pontífice-
faz uma ponte entre o céu e a terra, logo, este conceito não fica restrito
apenas a um sacerdote de uma religião.
Vós rezais
nas vossas aflições e necessidades;
Pudésseis rezar
também na plenitude de
Vossa alegria
e nos dias de abundância.
Não
tem muito sentido que nós só oremos no momento em que nos sentimos vazios
porque isso é como se fosse um eterno doente; e nunca um médico; um eterno
egoísta e nunca um generoso sempre querendo absorver.
Você
vai perceber que a oração, ou espírito do sagrado é o momento onde o homem
transborda e não quando ele vive a vazante, quando vive a enchente, quando ele
se aproxima da unidade.
Segundo
o antropólogo Mircea Eliade- o sagrado é a função de dar sentido. Cada coisa
quando está no seu lugar se sacraliza.
Imaginem
o Sol nascendo ou se pondo. Ele faz exatamente o que se espera do SOL. É
sagrado.
Uma
flor quando desabrocha na primavera, não é maravilhosa? Não faz exatamente o
que se espera de uma flor? É sagrado.
E
quando um homem desabrocha em valores, virtudes e sabedoria, não é lindo
também? E não é exatamente o que se espera do homem? È sagrado também.
As
coisas se justificam, se embelezam, se
realizam quando aquilo que se espera delas no esquema da Natureza.
Quando
um homem se desabrocha em valores, virtudes e sabedoria, ele desabrocha em
identidade, em realização. Não é mau que se procure o sagrado quando não
encontramos respostas, mas é mau que vivamos sempre fazendo um acordo de
cavalheiros em relação a isso. Porque é como se fosse dois mundos: eu tenho os
meus objetivos – egoístas e voltados meramente para sobrevivência e só recuo
com o TUDO, quando me falta subsídios para viver o meu mundinho. Eu não participo de um grande mundo, eu
coloco esse grande mundo como patrocinador do meu pequeno mundo para preencher
as necessidades que eu tenho eventualmente.
Chega
um determinado momento, porque é curioso quando se passa por uma decadência materialista.
Muitas
vezes tratamos o Sagrado como utilitário para os meus interesses pessoais. Existe
uma conjugação, um acordo de cavalheiros entre mim e o sagrado para que as
minhas necessidades sejam preenchidas, mas eu não vou até lá; ele que vem até
mim.
Existe
uma passagem das Mil e uma Noites: Aladim e a lâmpada Maravilhosa. Aladim está andando
por um deserto e acha a lâmpada, o que ele faz: Esfrega ela três vezes e sai de
dentro da lâmpada um gênio. O gênio não está em todos os lugares, só está na
lâmpada. E quando Aladim executa aquele procedimento, o gênio sai para quê?
Para atender os desejos de Aladim, única e exclusivamente. É a utilidade do gênio.
Temos uma relação com o Sagrado através de um determinado procedimento padrão e
este sagrado surge diante de nós, para quê? Para atender os meus desejos. E
qual é a grande sacada de Aladim que faz esta história especial? Ele abre mão
dos seus desejos e liberta o gênio da lâmpada que passa a não estar mais só
dentro da lâmpada, mas em todos os lugares. Ele sacraliza a vida. Ele abre mão
dos seus desejos e liberta o gênio da lâmpada
que passa a não estar mais só dentro da lâmpada, mas em todos os lugares.
Ele sacraliza a vida. Ele abre mão dos seus desejos, do seu egoísmo, do seu
mundinho particular e com isto ele liberta o gênio que passa a estar em todos
os lugares e toda a vida se torna sagrada.
Pois o que a
oração,
Senão a expansão
do vosso ser
No Éter
vivente?
Ou
seja, é a tua expansão, não é a tua coerência. É o teu transbordar; não é
vazante. É a tua busca da unidade.
No
livro “A voz do silêncio” diz: que o maior mal do homem é a heresia da
separatividade. É eu achar que estou separado de você. Ou seja, você é um ser,
eu sou outro totalmente independente. Porque a partir desta ideia falsa, vão
surgir na minha cabeça, todas as demais. Se você é uma pessoa e eu outra
completamente diferente... o teu mal pode me beneficiar. Tomar alguma coisa de
você pode ser mal para você e bom pra mim. Percebe? Porque nós somos duas. E se
eu percebo que somos um?
O
teu mal é o meu mal. O teu bem é o meu bem. Você percebe que cairia por terra
todo o edifício de egoísmo que a gente construiu?
A
ideia da expansão do homem, do crescimento do homem, que é o destino de todos
os seres humanos, é superar a separatividade. É expandir. É rumo à unidade.
Esses
momentos que ele conquista um pouco dessa visão vai além do pequeno eu. Esses
são os momentos mais sagrados da sua vida. E este é o momento da oração. Esse é
o momento de consagração da vida. Por que só na carência?
Não
tem problemas que de vez em quando busquemos uma explicação, um sentido sagrado
na carência, mas que isto seja atônica de o pedido ter se tornado sinônimo de
oração...significa que somos carentes demais ou só queremos as coisas pra nós
ou temos pouca plenitude. Temos buscado muito pouco a unidade. Alguma coisa
está faltando....Porque é estranho que a oração c tivesse transformado na
linguagem comercial, só em compras. E a venda, cadê?
Está
faltando um pedaço da história. Se estamos fazendo a coisa pela metade, somos
meios homens e vivemos meia vida.
E, se vos dá conforto
exalar vossas trevas no espaço,
maior conforto serieis
quando exalardes
a aurora do vosso coração.
Muito
maior conforto se tem o homem quando ele faz aquilo que lhe corresponde no
esquema da Natureza que é transbordar como ser humano, ter plenitude. Se traz
algum conforto exalar as angústias, está bem; isto ameniza suas angústias, mas
compartilha a sua plenitude também, que você vai ver que te traz um conforto
muito maior.
Há
dores e dores porque não distinguirmos as coisas, as tratamos de maneira
inadequada e perdemos oportunidade de crescer. Uma coisa é a dor do egoísmo, de
querer algo só para mim: uma coisa é a dor do materialismo de não ter todo
reconhecimento pessoal que eu gostaria; ...você percebe que é uma dor mórbida;
é uma dor que não faz bem; é uma dor que alimenta aquilo que temos de mesquinho.
Outra coisa é a dor de eu perceber que deixei para trás algo que me prendia; deixei
para trás um estado de consciência que eu superei.
Entreguei
algo que traz felicidade a quem recebe. Você percebe que às vezes dói também.,
mas é uma dor construtiva. Nem sempre a dor destrói, às vezes é uma dor de
crescer. Crescer dói. É uma dor de renovação.
Então,
de uma certa maneira a gente tem de aprender a ter dois tipos de dores da personalidade que se sente carente.
Porque excesso de carência significa que você está pensando demais em si
próprio.
Essa
dor de expandir, essa dor de crescer limites não é negativa.
Imagine
o por do Sol subindo no Horizonte. E o corpo do Sol sumindo e os raios
vermelhos que parece rastro de sangue. Esta imagem faz uma analogia ao
crescimento humano, pois todo aquele que sempre ocupa em trazer luz para o
mundo parece que deixa um pouco de
sangue pelo caminho. Tem uma certa dor nisto. Deixa coisas para trás, pois tem
o esforço de crescer; o esforço de se renovar e de abandonar posições que o
limitavam, de abandonar egoísmo que o travavam. Fica um pouquinho de
sangue pra trás. Mas a cada dia que
surge, fica mais glorioso por isso!
Essa
dor de nunca ter as coisas, ela é nociva.
A
dor de entregar as coisas é construtiva, significa: estou expandindo,
crescendo. É quando a criança quando nasce o dentinho, dói.
Expandir
também provoca uma certa dose de dor. Então deveríamos ter essa dore ao mesmo
tempo esse prazer da plenitude. Não só dor e o prazer do egoísmo. E também
deveríamos compartilhá-la através da oração. Inclusive, se o compartilhamos
temos mais estímulos para viver.
Quando você dar, você faz mais esforço para ter.
E, se não
podeis
reter as
lágrimas
quando vossa
alma
vos chama
para orar,
ela vos
deveria esporear
repetidamente,
embora
chorando,
até que
aprendésseis
a orar com
alegria.
Observe:
Só no momento em que você tem dor, você se preocupa em buscar o Sagrado.
E
o que é que a vida vai fazer com você? Vai te dar mais dor. É a única forma. Só
quando você sofre, lembra-se de procurar
algo maior do que você mesmo, a vida vai te fazer sofrer mais. Não necessitaria
ser assim... mas é conforme o gosto do freguês, então pode ser uma dor
construtiva, uma dor mórbida, mas se é a dor, vai ser a dor. Se é a alegria,
então virá também a alegria. O importante é que o homem vá ao ponto certo.
Quando
rezais, vos ele vais
até encontrardes,
nas alturas,
aqueles que
estão orando
à mesma hora,
e que,
fora da
oração,
talvez nunca
encontrásseis...
A
tradição egípcia em relação à pirâmide, existe uma representação gráfica muito
interessante: Perceba que quando nós estamos subindo a pirâmide, nós estamos
subindo a pirâmide,. Nós estamos mais próximos entrenós até que nos fundimos
num ponto;
quando
descemos a pirâmide, nós nos afastamos. Não é natural isto? Uma consequência
geométrica da forma da pirâmide. Então você tem um bom sintoma, se você está
subindo ou descendo. Isto significa que as pessoas te aceitarão, mas que você
entenderá melhor com aquilo que elas são. Terá um maior grau de compaixão; uma
possibilidade de achar o lugar certo de cada ser, de cada coisa...
Uma
melhor possibilidade de convivência, uma maior harmonia consigo mesmo e
consequentemente com o meio, pois a harmonia não pode depender do meio.
A
harmonia tem que depender de nós. A harmonia é multifacetada para que você
consiga mudar todas as coisas de si mesmo, de tal maneira que você encaixa com
todas ela se acha uma relação de tempo; espaço/ ritmo onde todas as coisas se
harmonizam.
Um
sintoma de que você está subindo, é esta harmonia. Esta capacidade de
compreensão. Diz-se que todos esses que vão na mesma direção tem um determinado
momento, em que se encontra num ponto de tal maneira que pode ser que um ser
humano que você conheça que está vivendo esse mesmo estado de espírito e vive
do outro lado do mundo te pareça mais conhecido do que o teu vizinho de porta.
Se
tem este mesmo espírito e está buscando esse mesmo ponto, de alguma maneira um
reconhece no olho do outro que já se encontraram; que buscam alguma coisa em
comum.
É
interessante que esta ideia do Sagrado é muito requintada e é difícil a gente
entender porque ela não se prende a formas.
Pode
ser que um indígena, numa tribo primitiva esteja colocando uma pedra em cima do
outro e aquilo representa o sagrado; e esteja mais próximo de você do que
alguém que esteja sentado ao seu lado num templo suntuoso. Depende do espírito
que está por trás disso! Para onde se dirige a consciência, porque se ela
ascende em direção a um ponto, essa pessoa está do teu lado e as distâncias não
são meramente física.
A
pirâmide tem o significado de que a medida que o homem se unifica, se
harmoniza, ele está mais próximo de Deus, que é o exemplo do uno. Deus é o
único atributo que nós podemos encontrar, porque qualquer outra coisa o limita.
A busca da unidade é um ponto muito importante.
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