Um dos maiores pedagogos do mundo. Ele acreditava que a educação passa leitura do mundo, com o objetivo de conscientizar alunos para que eles
mesmos possam mudá-lo. É o patrono da Educação Brasileira.
Quem foi Paulo Freire?
Paulo Freire foi um educador brasileiro. Nasceu em Pernambuco, em 19 de setembro de 1921. E faleceu em 1997. Seu pai era da Polícia Militar, e se chamava Joaquim Temístocles Freire. Sua mãe se chamava Edeltrudes Neves Freire.
Ele morou em Recife até o ano de 1931. Depois, se mudou para Jaboatão dos Guararapes, que era um município vizinho de onde morava antes. No novo endereço, permaneceu por 10 anos.
Biografia resumida
O curso ginasial no Colégio 14 de Julho, situado no centro de Recife. Seu pai faleceu quando ele tinha apenas 13 anos. A partir daí, a responsabilidade de sustentar os 4 filhos ficou sob sua mãe. Como não tinha mais condições de continuar pagando o colégio, a mãe de Paulo Freire resolveu pedir ajuda para o diretor do Colégio Oswaldo Cruz. Ele concedeu matrícula grátis e ainda deu a Paulo Freire a oportunidade de ser auxiliar de disciplina. Mais tarde, ele se tornou professor de língua portuguesa.
Qual era o método de ensino de Paulo Freire?
O método de ensino usado por Paulo Freire estimula a alfabetização de pessoas adultas através de uma discussão sobre as experiências de vida que tiveram por meio de palavras geradoras.
Principais teorias de Paulo Freire
Veja abaixo duas teorias de Paulo Freire:
- “Não existe tal coisa como um processo de educação neutra. Educação ou funciona como um instrumento que é usado para facilitar a integração das gerações na lógica do atual sistema e trazer conformidade com ele, ou ela se torna a “prática da liberdade”, o meio pelo qual homens e mulheres lidam de forma crítica com a realidade e descobrem como participar na transformação do seu mundo.”
- “Nenhuma pedagogia que seja verdadeiramente libertadora pode permanecer distante do oprimido, tratando-os como infelizes e apresentando-os aos seus modelos de emulação entre os opressores. Os oprimidos devem ser o seu próprio exemplo na luta pela sua redenção.
Por que os críticos dizem que Paulo Freire é doutrinador OPINIÃO: falta ler – de verdade – o que ele escreveu POR: Rodrigo Ratie
Quando algum curioso me pede indicação de algum livro sobre Educação, trago a resposta na ponta da língua: Pedagogia da Autonomia, a última obra lançada em vida por Paulo Freire, em 1996. Foi o livro que me mostrou que a Educação podia ser algo diferente. Para ser mais preciso: podia ser algo incrível.
O ano era 1999 e eu tinha começado a dar aulas num cursinho comunitário que ajudei a fundar. Primeira experiência em sala, eu falava mais que a boca – hoje me pergunto o que tanto dizia – e puxava lousa numa sala enfileirada. Ensinava como tinha aprendido, e com Freire aprendi que isso tinha um nome: Educação bancária, em que a gente se ilude achando que pode “depositar” o saber na cabeça dos alunos...
Pedagogia da Autonomia apresentava uma outra Educação. Em lugar do ensino transmissivo, o aprendizado construído pelos educandos com auxílio do professor.
Freire me mostrou que a Educação podia ser mais potente. Me aproximei dos alunos, mudei minha prática -- e algumas coisas deram tão certo que me apaixonei pela docência a ponto de largar o jornalismo por um breve período só para dar aulas. Depois me reconciliei com a comunicação e há quase duas décadas levo junto as duas profissões.
Freire, o culpado pelos males do mundo
Divago, mas por uma razão. Toda vez que publicamos qualquer coisa sobre Paulo Freire há elogios, mas também aparece um bom punhado de comentários enfurecidos. Com esses últimos me espanto. Atribuem a Freire a culpa por tudo. Dizem – e aqui cito literalmente o que leio – que ele é o grande responsável pela má qualidade da Educação brasileira. Justo o Freire, nosso intelectual mais reconhecido no mundo...
Volto à Pedagogia da Autonomia e tento descobrir indícios dessa “culpa”. Não a encontro – e penso: um julgamento tão disparatado em relação a tudo que ele fez e escreveu só é possível em tempos estranhos como o que vivemos. Tempos em que a perigosa mistura de ignorância com sede de justiçamento guia o debate.
Talvez o aniversário de 96 anos de nascimento do patrono da Educação brasileira seja uma boa ocasião para vermos se param de pé os argumentos condenatórios. As acusações mais frequentes: Freire teria desmoralizado a profissão docente; seria o responsável pela perda de autoridade do professor; era doutrinador; e estava preocupado em criar um exército de militantes.
Por partes.
A defesa do professor como um profissional
A alegação de que ele teria destruído a autoridade do professor é, para mim, talvez a mais difícil de entender. Freire nunca disse que professores e alunos são iguais. Aliás, em Pedagogia da Esperança, ele afirma justamente o contrário:
“Os professores não são iguais aos alunos”.
A principal diferença, ele diz, é o conhecimento didático do educador. Ele precisa saber o que ensinar, como ensinar e ensinar a pensar. São essas – novamente suas palavras – as especificidades da tarefa de educar. É um equívoco dizer que Freire defende que o professor seja um militante (volto no final do texto). Ele defende que o professor seja... um professor!
Freire afirma que o educador deve ser um intelectual, pesquisando sobre seu ofício e, principalmente, refletindo sobre sua prática para melhorá-la. A atividade de ensinar é algo sério e que deve ser tratado com todo o rigor, como ele diz em Pedagogia da Autonomia:
“O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa, não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe.”
A autoridade não vem do medo, mas do conhecimento
Para Freire, o investimento do professor em aprimorar seu conhecimento é central. Além de ser a razão da profissão, é do conhecimento que emana seu respeito e autoridade. Freire combate o medo e a ameaça como estratégias docentes. Isso é autoritarismo, o sufocamento do pensar do educando.
Para ele, deve-se buscar o diálogo como forma de construir conhecimento, respeitando o “saber de experiências feito” – ou seja, os conhecimentos que qualquer pessoa traz para a sala de aula. Isso não significa envergar a vara para o polo oposto e instaurar um clima de “liberou geral”. Freire é claro ao dizer que tanto autoritarismo (exagero de autoridade) quanto a licenciosidade (ausência de regras) são rupturas do equilíbrio entre autoridade e liberdade. A disciplina, ele diz, só surge quando ambas estão presentes. É o que o professor deve buscar:
“Resultando da harmonia ou do equilíbrio entre autoridade e liberdade, a disciplina implica necessariamente no respeito de uma pela outra, expresso na assunção de que ambas fazem parte de limites que não podem ser transgredidos.”
Nesse sentido, erram tanto os professores que esmagam os alunos quanto os que não estabelecem normas:
“O professor que desrespeita a curiosidade do educando, (...) que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ‘ele se ponha em seu lugar’ ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, (...) transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência.”
Em vez de doutrinação, curiosidade e questionamento constante
“Doutrinador” é o oposto do que Freire sempre foi. Pedagogia da Autonomia expressa com clareza a importância que ele confere à curiosidade e ao questionamento. São os motores da Educação. É por meio deles que os educandos constroem conhecimento. Aliás, é pondo em xeque o que sabemos que todos nós aprendemos. Inclusive o próprio Freire, que se definia como um “ser inacabado”, condicionado histórica e socialmente, capaz de mudar justamente por reconhecer esse condicionamento:
“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.”
Freire defende a mudança. Para que ela ocorra, ele diz, é necessário, inicialmente, estar aberto a pontos de vista opostos. E a constantemente criticar – palavra sempre usada por Freire no sentido de questionar – diferentes opiniões. Especialmente a sua própria:
“Uma das condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiadamente certo de nossas certezas.”
Situar a militância no contexto histórico
Por fim, a questão da militância, e de sua preocupação em formar – aspas necessárias – “exércitos de seguidores”. O que está em jogo, aqui, é a acusação de Freire ter defendido governos comunistas e de pregar a favor da revolução.
Não se trata, nem de longe, do cerne de sua obra. Esta baseia-se como dissemos, no diálogo como teoria e prática da Educação, em que a função do professor – vale repetir – é saber o que ensinar, como ensinar e ensinar a pensar. Freire não pratica nem defende o proselitismo. Desconsidera-se, também, o contexto em que muitas dessas colocações foram feitas – nas décadas de 1960 e 1970, durante o auge da Guerra Fria, com Freire exilado pela ditadura militar brasileira. Ainda, congela no tempo o que ele escreveu, como se fosse sua opinião definitiva e escrita em pedra, e não a de um ser inacabado, em constante autocrítica.
Penso que a chave de leitura sobretudo dos escritos mais antigos de Freire precisa considerar os aspectos acima. E também aplicar a metodologia freireana do diálogo, exercitando o pensamento crítico e a empatia com alguém que, afinal de contas, é de carne e osso. Freire não é um oráculo. Não é Deus.
Exercitando o pensamento crítico que ele tanto estimulou, posso não concordar – e não concordo – com essas opiniões específicas. Mas posso compreender as razões que levaram Freire a defender, num determinado momento histórico, regimes que cedo ou tarde se tornaram ditaduras. O fato é que ele sempre se posicionou, fez escolhas – e, em alguns casos, pagou o preço por elas.
Nunca teve medo de enunciá-las. Leu Marx, trabalhou com o conceito de classe, mas não se limitou a ele: definia-se como um progressista, encarava a realidade como injusta e lutava para fosse outra. Como tantas vezes repetiu, não enxergava a Educação como coisa neutra. A que ele propunha, evidentemente, também não era. Entre enquadrar os alunos ou ajudá-los a serem autônomos, ele opta pela emancipação. Entre a Educação que reproduz desigualdades e a que as transforma, ele opta pela transformação. Utopicamente, Freire defende uma transformação radical. Numa palavra, revolucionária – é nesse sentido, que não tem a ver com tomada violenta do poder, que ele emprega o termo em Pedagogia da Autonomia.
Você pode concordar ou discordar. Para mim, os pontos centrais das ideias de Freire fazem muito sentido. Seguem atuais e me ajudaram em minha atuação como professor. São um sopro de esperança nessa época dura em que vivemos. Você pode pensar diferente. Acho que ele, como homem do diálogo, o chamaria para uma conversa. Como a ocorrida com o pesquisador americano Chester Bowers, em 1987, que ele relata em Pedagogia da Esperança:
“Discordamos quase totalmente durante uma hora e meia sem que, porém, precisássemos nos ofender, nos destratar. Simplesmente defendíamos nossas posições que se contradiziam, mas não tínhamos por que distorcer um ao pensamento do outro.”
* As opiniões do autor deste artigo não refletem necessariamente o ponto de vista de NOVA ESCOLA
Nenhum comentário:
Postar um comentário