domingo, 23 de dezembro de 2018

FILME: ÁGORA





No final do séc. IV d.C, o Império Romano estava à beira de um colapso, mas Alexandria na província do Egito, ainda mantinha muito do seu esplendor. Ali ficava uma das 7 maravilhas do mundo: um lendário farol, assim como a maior biblioteca da terra. A biblioteca não era apenas um símbolo cultural, mas também religioso. O lugar onde os pagãos adoravam seus deuses ancestrais. Os cultos pagãos há muito estabelecidos na cidade, eram agora desafiados pela fé judaica e por uma religião até recentemente banida que se espalhava rapidamente: O CRISTIANISMO.”

O filme tem início com Hipátia, filha de Theon um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria. Criada em um ambiente de ideias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido.

Ela cursou a Faculdade de Alexandria e acabou dominando mais assuntos do que o pai esperava, como: filosofia, matemática e astronomia.  Adulta, foi para Atenas (Grécia), estudar na Academia neo-platônica, mas voltou para terra natal. Na Ágora, questiona seus discípulos:

“Quantos tolos vocês acham que indagaram a si mesmos? Por que as estrelas não caem do céu? Mas vocês que ouviram os ensinamentos dos sábios, vocês sabem que as estrelas não se movem para cima ou pra baixo. Elas meramente transitam de leste para oeste     seguindo o curso mais perfeito já concebido: o círculo. Porque os círculos predominam nos céus. As estrelas jamais caíram e jamais cairão. Mas... e enquanto aqui na Terra? Aqui seus corpos caem, mas seus movimentos não são circular, mas linear...Então, que mistério maravilhoso vocês acham que pode estar espreitando sobre a Terra que permite a cada pessoa: animal ou objeto permanecer aqui? O que poderia ser?

Algum de vocês já imaginaram em algum momento que seus pés estão pisando no próprio centro do Cosmos? Que mantém todas as coisas coesas ? Se não houvesse o Centro, então o Universo seria disforme, infinito, sem forma, caótico...Bem, faria pouca diferença onde estivéssemos e seria bem melhor que não estivéssemos nascido.”

Foram através destes e de outros questionamentos que Hipátia perdeu a vida; embora tenha perdido a vida, mas não perdeu seus princípios.

Segundo Hipátia: “Governar acorrentando a mente através do medo de punição em outro mundo é tão baixo quanto usar a força. Compreender as coisas que nos rodeiam é a melhor preparação para compreender o que há mais além.”

Ela batia de frente contra a religiosidade daquele tempo que dizia ser pecado entender a Natureza, o homem...Compreender as coisas desse mundo é uma via de percepção da inteligência divina. É uma via segura até Deus. A compreensão não afasta você de Deus, pois é um atributo dele. Ter uma relação com Deus por medo ou desejo, não funciona. Nós nos aproximamos de Deus através dos seus atributos. A compreensão é uma via de ascensão porque é um atributo divino. Por que nos aproximamos de alguém? Pelos seus atributos: jeito de ser, de agir...Se por um acaso você disser: “Eu gosto de Myriam mas não gosto do jeito como ela fala, anda, vive”...Bem, percebe-se que você não gosta de mim. Com Deus é a mesma coisa: se eu o amo, amo seus atributos, e através destes, eu me aproximo de Deus.

Infelizmente, Hipátia foi vítima do patriarca Cirilo (cristão fanático) que ao chegar ao poder defende à igreja através das escrituras. Acusa-a de bruxa e ateísmo.

“Leitura da primeira Carta de Paulo a Timóteo. Quero pois, que todos os homens levantem mão santa em oração. Sem ira, nem disputas. Do mesmo modo, quero que as mulheres vistam-se com decoro, com modéstia e sobriedade. Não com cabelos trançados, ouro ou pérolas, vestidos caros. Que a mulher aprenda em silêncio e com toda submissão. Eu não permito que as mulheres ensinem nem tenha autoridade sobre o homem, mas que esteja em silêncio. Esta é a palavra de Deus.  O próprio Jesus sabia disso quando ele confiou o seu legado sagrado a 12 homens. HOMENS. Nenhuma mulher entre eles. Ainda assim, sei de pessoas em Alexandria que admiram e até confiam nas palavras de uma mulher: A filósofa Hipátia. Uma mulher que declarou em público não crer em Deus. Uma bruxa. Dignatários, já é hora de vocês todos reconciliarem com Cristo. Esta é a palavra de Deus. Ajoelhem e aceitem sua verdade.”

Este é o clímax do filme, pois a partir daí, dois dos seus discípulos que já haviam ascendido  na sociedade: Cirilo, torna-se integrante da hierarquia cristã e Orestes – este, que sempre teve grande afeição pela protagonista, mais tarde, para manter uma boa política com o clero se rende e cai de joelhos aos prantos, pois sabe que o grande amor de sua vida, se não se converter ao cristianismo será morta.. Existe um personagem, seu ex-escravo, no momento em que Hipátia está indo ser executada, ele a acompanha, pois ele também sempre a admirou e desejou como mulher. Ela não compreende a origem de tanta raiva entre os homens , logo, tenta canalizar as suas energias para algo de bem.

Existe um momento do filme em que ela faz o seguinte questionamento:

“Qual  o primeiro axioma de Euclides?
-Se duas coisas são iguais a uma terceira coisa, então elas são todas iguais entre si.

-Agora, vocês dois não são iguais a mim?

-Sim.

-E você, Orestes?

-Sim.

Agora eu vou dizer uma coisa aqui neste recinto: mais coisas nos  une do que nos divide. E apesar do que está acontecendo nas ruas, nós somos irmãos.”

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