“No final do séc. IV d.C, o
Império Romano estava à beira de um colapso, mas Alexandria na província do
Egito, ainda mantinha muito do seu esplendor. Ali ficava uma das 7 maravilhas
do mundo: um lendário farol, assim como a maior biblioteca da terra. A
biblioteca não era apenas um símbolo cultural, mas também religioso. O lugar
onde os pagãos adoravam seus deuses ancestrais. Os cultos pagãos há muito
estabelecidos na cidade, eram agora desafiados pela fé judaica e por uma
religião até recentemente banida que se espalhava rapidamente: O CRISTIANISMO.”
O filme tem início com
Hipátia, filha de Theon um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de
diversas obras e professor em Alexandria. Criada em um ambiente de ideias e
filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de
conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido.
Ela cursou a Faculdade de
Alexandria e acabou dominando mais assuntos do que o pai esperava, como:
filosofia, matemática e astronomia. Adulta,
foi para Atenas (Grécia), estudar na Academia neo-platônica, mas voltou para
terra natal. Na Ágora, questiona seus discípulos:
“Quantos tolos vocês acham que
indagaram a si mesmos? Por que as estrelas não caem do céu? Mas vocês que
ouviram os ensinamentos dos sábios, vocês sabem que as estrelas não se movem
para cima ou pra baixo. Elas meramente transitam de leste para oeste seguindo o curso mais perfeito já
concebido: o círculo. Porque os círculos predominam nos céus. As estrelas
jamais caíram e jamais cairão. Mas... e enquanto aqui na Terra? Aqui seus
corpos caem, mas seus movimentos não são circular, mas linear...Então, que
mistério maravilhoso vocês acham que pode estar espreitando sobre a Terra que
permite a cada pessoa: animal ou objeto permanecer aqui? O que poderia ser?
Algum de vocês já imaginaram
em algum momento que seus pés estão pisando no próprio centro do Cosmos? Que
mantém todas as coisas coesas ? Se não houvesse o Centro, então o Universo
seria disforme, infinito, sem forma, caótico...Bem, faria pouca diferença onde
estivéssemos e seria bem melhor que não estivéssemos nascido.”
Foram através destes e de
outros questionamentos que Hipátia perdeu a vida; embora tenha perdido a vida, mas
não perdeu seus princípios.
Segundo Hipátia: “Governar
acorrentando a mente através do medo de punição em outro mundo é tão baixo
quanto usar a força. Compreender as coisas que nos rodeiam é a melhor
preparação para compreender o que há mais além.”
Ela batia de frente contra a religiosidade
daquele tempo que dizia ser pecado entender a Natureza, o homem...Compreender
as coisas desse mundo é uma via de percepção da inteligência divina. É uma via
segura até Deus. A compreensão não afasta você de Deus, pois é um atributo
dele. Ter uma relação com Deus por medo ou desejo, não funciona. Nós nos
aproximamos de Deus através dos seus atributos. A compreensão é uma via de
ascensão porque é um atributo divino. Por que nos aproximamos de alguém? Pelos
seus atributos: jeito de ser, de agir...Se por um acaso você disser: “Eu gosto
de Myriam mas não gosto do jeito como ela fala, anda, vive”...Bem, percebe-se
que você não gosta de mim. Com Deus é a mesma coisa: se eu o amo, amo seus
atributos, e através destes, eu me aproximo de Deus.
Infelizmente, Hipátia foi
vítima do patriarca Cirilo (cristão fanático) que ao chegar ao poder defende à
igreja através das escrituras. Acusa-a de bruxa e ateísmo.
“Leitura da primeira Carta de
Paulo a Timóteo. Quero pois, que todos os homens levantem mão santa em oração. Sem
ira, nem disputas. Do mesmo modo, quero que as mulheres vistam-se com decoro,
com modéstia e sobriedade. Não com cabelos trançados, ouro ou pérolas, vestidos
caros. Que a mulher aprenda em silêncio e com toda submissão. Eu não permito
que as mulheres ensinem nem tenha autoridade sobre o homem, mas que esteja em
silêncio. Esta é a palavra de Deus. O
próprio Jesus sabia disso quando ele confiou o seu legado sagrado a 12 homens.
HOMENS. Nenhuma mulher entre eles. Ainda assim, sei de pessoas em Alexandria
que admiram e até confiam nas palavras de uma mulher: A filósofa Hipátia. Uma
mulher que declarou em público não crer em Deus. Uma bruxa. Dignatários, já é
hora de vocês todos reconciliarem com Cristo. Esta é a palavra de Deus.
Ajoelhem e aceitem sua verdade.”
Este é o clímax do filme, pois
a partir daí, dois dos seus discípulos que já haviam ascendido na sociedade: Cirilo, torna-se integrante da
hierarquia cristã e Orestes – este, que sempre teve grande afeição pela
protagonista, mais tarde, para manter uma boa política com o clero se rende e
cai de joelhos aos prantos, pois sabe que o grande amor de sua vida, se não se
converter ao cristianismo será morta.. Existe um personagem, seu ex-escravo, no
momento em que Hipátia está indo ser executada, ele a acompanha, pois ele
também sempre a admirou e desejou como mulher. Ela
não compreende a origem de tanta raiva entre os homens , logo, tenta canalizar
as suas energias para algo de bem.
Existe um momento do filme em
que ela faz o seguinte questionamento:
“Qual o primeiro
axioma de Euclides?
-Se duas coisas são iguais a uma terceira coisa, então elas são todas iguais entre si.
-Se duas coisas são iguais a uma terceira coisa, então elas são todas iguais entre si.
-Agora, vocês dois não são iguais a mim?
-Sim.
-E você, Orestes?
-Sim.
Agora eu vou dizer uma coisa aqui neste recinto: mais coisas
nos une do que nos divide. E apesar do
que está acontecendo nas ruas, nós somos irmãos.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário