O livro conta a história do editor-chefe da revista Elle:
JEAN DOMINIQUE BAUBY.
Jean-Dominique vivia uma vida de ostentação: viagens, bons pratos, mulheres... como ele mesmo comenta antes de saber da gravidade do problema: “meu espírito mundeiro até fazia mil projetos: um romance, viagens, uma peça de teatro e a comercialização de um coquetel de frutas de minha invenção”, mas até então não estava consciente da gravidade da sua doença.
O que nos deixa impactados é como ele escreveu este livro, pois no dia 8 de dezembro de 1995, aos 43 anos ele sofre um AVC quando passeava com o seu filho mais velho desencadeando uma síndrome chamada locked-in ou síndrome do encarceramento, a qual transformou completamente a sua vida .
Mas o que significa isto? “É um transtorno neurológico raro, em que ocorre uma paralisia completa dos músculos de todo o corpo, a exceção de músculos que controlam alguns movimentos dos olhos – movimentação vertical e elevação da pálpebra.”
Então, nos perguntamos, mas como pode uma pessoa paralisada dos pés à cabeça produzir um livro? Acredito que tenha sido esta uma das grandes motivações de sua vida durante os dias em que passou no Hospital de Berk.
Afinal, o escafandro é justamente uma metáfora do seu novo estado de espírito. Dominique se sente enclausurado no seu próprio eu e logo surge uma solução, pois a ortofonista Sandrine, cria um código de comunicação com o único órgão que funciona em Dominique – o seu olho esquerdo! Então, Claude Mendibil, uma ex-tradudora de sinais, conseguiu durante 3 horas por dia, e nos sete dias da semana, no período de 2 meses uma relação de desafio, tanto para Jean Dominique, como para ela; produzir a obra prima: o escafandro e a borboleta através do movimento do olho! Parece impossível! E logo ele percebe “ o escafandro já não me oprime tanto, e o espírito pode vaguear como borboleta. Há tanta coisa para fazer; pode-se voar pelo espaço ou pelo tempo...”
É incrível como uma pessoa com todos esses problemas nos passa através do texto uma leveza e um humor n’ alma. A vida? Tenta fazê-la menos oprimente.
O olhar agora tem uma nova função, não apenas de ver o óbvio, mas de transmitir e mediar essa nova experiência em sua vida; já que o olho é a janela da alma. Embora, acredito que nunca se chega verdadeiramente a ela. Cada experiência de Dominique percebemos uma mistura de angústia, tristeza, dor, esperança e fé.
Pensando bem, mesmo sendo um escafandro, desabrocha o Bauby que faz ressurgir o amor e a reconstrução na relação familiar, pois se antes isto fazia pouco sentido, agora tem bastante significado.
As borboletas estão presentes o tempo todo em sua alma, pois ele mesmo fala que através do silêncio pode ouvi-las voando pela sua cabeça e acrescenta que sua audição não melhora, mas ele as ouve cada vez mais. E com o seu bom humor, retifica que as borboletas devem dar–lhes ouvidos.
Esta é uma maneira nobre de alimentar a alma e diminuir sua dor, através da imaginação! O que seria de nós se não pudéssemos usar a nossa imaginação? E no final ele reflete:
“Esse espetáculo me deixa desamparado e pensativo. Haverá neste Cosmo alguma chave para destrancar meu escafandro? Alguma linha de metrô sem ponto final? Alguma moeda suficientemente forte para resgatar minha liberdade? É preciso procurar em outro lugar. É para lá que vou.”
Só que ele não havia percebido que ele próprio já havia descoberto a chave do seu escafandro.
O livro é belíssimo! Vale à pena ler e refletir sobre o que nos torna escafandro e borboleta!
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