NA MINHA PELE – LÁZARO RAMOS
No prólogo desta obra, o autor Lázaro Ramos propõe: “Se posso fazer alguma sugestão, aconselho que abra este livro, não para encontrar minha biografia, mas para ouvir as vozes que estão ao meu lado”, logo iremos conhecer e nos encantar com várias vozes que se fazem presente em sua vida. Iniciando pelos pais: Célia Maria Sacramento e Ivan Sacramento, Dindinha (tia avó do pai), Zebrinha ( mestre artístico e de vida), Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo entre muitos...até chegar em Taís Araújo (sua companheira ) e seus filhos: João e Maria.
Falar sobre o
livro “Na minha pele” nos faz refletir sobre a questão do racismo ainda muito
contundente no Brasil, embora observemos um racismo muitas vezes velado. Discorrer
sobre este tema parece um mimimi ou bobagem, pois muitos discordam de que
exista tanto preconceito assim ou.. Às vezes
é incômodo ouvir falar da dor do outro sem ser empático e também não ter uma
consciência sobre o que de fato ocorre no nosso país, daí o autor traz a reflexão
da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz que diz: “ se houve uma teoria de
fato criada no Brasil, foi a teoria do branqueamento, que acredita que, quanto
mais clara fosse a cor da pele do brasileiro, mais progresso e desenvolvimento
conquistaríamos para o país. Lilia diz que basta olhar para os nossos censos
para verificar como a raça ainda é uma questão delicada: as populações negras
morrem mais cedo, têm menos chance de conseguir trabalho, são alvos preferenciais
da polícia e da Justiça.”
Muitos, infelizmente, ignoram todas essas informações.
Transcreverei aqui um comentário de uma internauta após uma entrevista de Lázaro:
“Muito mimimi. Agora quer faturar uma grana em cima disso
vendendo livro. Nos estádios tem placas de SOMOS todos IGUAIS. E isto não é
verdade. Teria que colocar É PRECISO SEMPRE RESPEITARMOS AS PESSOAS CRIADAS
CONFORME A VONTADE DE DEUS. Mas o racismo mesmo são as cotas, que privilegia
apenas uma raça e disto não falam nada.”
O que comentar sobre esta fala? Ela representa
a fala de muitos... As pessoas que têm este tipo de discurso não percebem que
são racistas e acabam achando normal algumas posições, como expulsar uma
criança negra de uma loja, achando ser um pedinte ou marginal, um goleiro ser
chamado de macaco, mulher que recusa ser atendida por uma manicure negra, entre
vários fatos diários que ficam ocultos por medo e vergonha.
Desconstruir
esse discurso, até em expressões simples e que aparentemente não parecem ser
ofensivas, mas no fundo são, é necessário e urgente. A luta
contra este tipo de preconceito é dever de todos nós, pois enquanto
identificarmos uma pessoa pela cor, não teremos superado este problema.
Destaco
duas palavras que perpassam o tempo todo no livro: EMPODERAMENTO E
RESSIGNIFICAÇÃO.
A ARTE abriu caminhos
para que Lázaro construísse toda essa identidade , força e maturidade que nos
encanta, partindo da literatura como ele mesmo comenta quando entrevistou o
professor Muniz Sodré, segundo este: “A literatura sempre disse mais sobre o
homem no Brasil que a sociologia – até hoje muito preocupada apenas com lutas
de classes. O cinema e a novela, com a força que têm hoje em nosso país, pode
trazer um ataque forte aos preconceitos.”; as palavras do professor reforçam a
sua busca pela expressão artística. Para o autor “ O espetáculo do Bando de
Teatro Olodum estabelecia uma relação direta entre uma favela e os quilombos, e
eu fazia um garoto com poucas falas, o que me deu mais tempo para assimilar as
informações da pesquisa: a importância de Zumbi dos Palmares, que a história negra
é repleta de lutas e que eu não devia chamar meus ancestrais de escravos, e sim
de africanos escravizados; que a liberdade não veio de uma canetada da princesa
imperial, mas após muita luta. Esse foi mais um salto na compreensão sobre de
onde vim e para onde podia ir.”
É importante percebermos que os brancos, sabem
identificar sua origem, seu sobrenome, porém em relação aos negros, sabemos que
muitos vieram da África, mas não sabem de que lugar vieram e nem sua História,
porque nas escolas, a história do negro é negada, o que existe é uma
etnografia, porém não queremos que isto continue acontecendo. Nossa luta continua.. Que avancemos historicamente e fraternalmente. Afinal, o que nos constrói como humano é ser humano.
Parabéns Lázaro, pela sua militância!!! E termino com sua fala :
" Não podem roubar sua humanidade. Você é um ser mais complexo, que não é descrito apenas pela cor de sua pele".
" Não podem roubar sua humanidade. Você é um ser mais complexo, que não é descrito apenas pela cor de sua pele".
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