Estava eu no Pilates, quando chega uma colega e
comenta que perdera o pai. Bem, neste momento, ficamos muitas vezes sem
palavras, até porque, quem já perdeu seus familiares sabem a tamanha dor..então
como sabia que ela ama gatos, comentei:
-Li um conto que me lembrei de você!!! Na verdade,
era uma forma de dizer ’eu posso acalentar tua dor através de algumas palavras
que não são minhas, mas que as contemplo e que tenho certeza que te confortarão’. Logo que cheguei em casa enviei para
ela o texto.
Gosto da maneira como este conto nos mostra as
perdas, a nossa dor e suas soluções. Afinal, quem vem para este
Planetinha e não tem suas horas de dores e tristezas? Parece que hoje temos de estar eternamente
felizes e de bem com a vida.
Não gostaria que a minha colega se libertasse da
dor, gostaria apenas que ela observasse que existem possibilidades, caminhos
para amenizá-la. A dor é um elemento para instigar a nossa consciência para
novos valores, ela nos convida a crescer, não obriga. Então, o que é bom, não é
o que nos agrada, mas o que nos faz crescer e liberta.
Tudo parece um pouco sem sentido quando falo isto,
mas quero dizer que conheço muitas pessoas que vivem analisando seus problemas
em fatos do passado. Fechar ciclos é fundamental para nossa existência. Vontade
de crescer está mais baseada em síntese voltada para o futuro. Eu quero, eu
posso e .. vida que segue...
Não esquecendo nunca de que estamos numa escada e os
obstáculos surgem para irmos para um outro
patamar e não, permanecermos no
mesmo...alguns preferem regredir..sentem-se cansados..exaustos.
Temos sempre de nos perguntar: “o que a vida está
querendo me ensinar com isto?” Depois, da situação passada, quando conseguimos
atravessar os obstáculos e estamos num outro nível de consciência, quando olhamos
para trás, respiramos aliviados e dizemos para nós mesmos: “Gratidão!!! O que
passei me permitiu ver melhor, ser melhor e consegui sobreviver.
É difícil? Sim, dificílimo, mas não é impossível. É
um aprendizado diário.E não sou uma excelência no assunto, mas tento não me
vitimar com as adversidades da vida. Tento ser otimista e esperançosa. Segue o
conto abaixo
Quando ela se foi
Ela era
uma linda gatinha, de apenas seis meses. Brincávamos muito, e ela me fazia
sentir mais criança que ela mesma. Quando a levei para castrar, pensei:
“-Ficará enjoadinha e eu a mimarei por alguns dias.” O telefonema dizendo
que ela não tinha resistido e faleceu me feriu como um golpe, aquele das coisas
duras da vida, quando não esperamos por elas, e se tornam ainda mais duras pelo
fator da surpresa.
Ela chegou
num momento muito especial para mim; era mais que um animal de estimação: era
encanto, era alegria, era pureza. Era o focinho mais molhado do universo, ao
encostar no meu nariz, ato mágico que levava embora todas as tristezas. Dois
olhos enormes, azuis, quase grudados aos meus, indagavam, desafiadores:
travessuras! Topa? E a vida inteira se convertia numa gigante possibilidade de
travessuras.
Mas ela se
foi, e eu cheguei em casa, desolada e sozinha, com uma caixa de gatos vazia na
mão. Agora, assimilar no coração o amor a ela, agradecer e continuar vivendo.
Usei o meu velho truque de sempre, ensinado por um mestre maravilhoso, um dos
presentes mais eficazes já recebidos: trabalho. A bicicleta se equilibra no
movimento.
Havia
grandes queijos curados, em cima da geladeira, esperando pelo conserto do
processador ou por um ralador bem disposto. Neste momento, o pesado e
repetitivo trabalho me apareceu como a melhor oportunidade que já existiu..
Alinhei ralador, bandeja, queijos, e comecei, com ritmo e determinação. Cuidava
para as lagrimas não se misturarem com o queijo. Quando o braço doía, jogava as
dores do coração todas nele. Braço dói pouco, e a gente leva bem.
Como um
carrossel, foram passando pela minha mente , as coisas que quis conquistar, e
as que conquistei e pensei ter perdido. Ralei-as todas. Ralei mágoas e orgulhos
feridos, Aliás, as mágoas, ralei-as ainda com maior determinação. As ilusões,
as mentiras da minha mente... pensar que a vida se vai, pensar que se perde a
beleza e as coisas sagradas da vida? Ralo nelas!
Agora, o
bendito queijo ralado, que cresceu como uma montanha à minha frente,se
converteu numa montanha de esperanças e de fé. As lágrimas também foram
raladas, e eu, forte e renovada, prossigo. Vi a noite nascer, por meio das
frestas do ralador, e vi estrelas surgirem. Estou de pé, e eu sou esperança, fé
e gratidão. Renasci.
Agradecer
é necessário, pois meu coração, que era dor, agora, transborda só em graça.
Agradeço aos mestres, ao trabalho, à vida, À pureza dos gatos e à resistência
dos queijos curados, capazes de despertar tanta resistência em nós. E ao Ser
que há em mim, que é um grande processador, capaz de transformar em luz a morte
e a vida, a alegria e a dor. E aqui estou, dedos ralados, alma inteira e
agradecida, pronta, de novo, para outra jornada. Compartilho essa pequena
experiência com a esperança de que meu segredo, tão preciosamente presenteado,
possa ser passado para frente e possa ser, talvez, útil para você. Não demanda
muita coisa: só um bom ralador, e uma vontade grande, enorme, de apostar na
vida e de integrar a dor. Lúcia Helena Galvão (Prof. de Filosofia da Nova Acrópole)
Não é fácil. Mas é assim que a gente deve enfrentar essas situações dolorosas da vida e, com certeza sairmos fortalecidos para enfrentar outras situações que, com certeza, aparecerão pelo caminho.
ResponderExcluirExatamente, Eleonora. Em nossas caminhadas
Excluirtemos muitas surpresas..e algumas não são tão agradáveis e nos surpreendem de bastante. Para isto, temos de ter muita fé.
Lúcia Helena, maravilhosa!
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