Esta
história se passa na 1ª metade do séc XX, no Sul dos EUA. É um livro epistolar
em que a protagonista Celie, para aliviar sua dor começa a escrever cartas para
Deus. Afinal, mãe havia pedido: “É melhor você nunca contar pra ninguém, só pra
Deus. ”
Mas, qual a finalidade dela fazer esta súplica? Primeiro,o padrasto de Celie a estupra e os dois filhos que ela vem a ter dele, são arrancados de seus braços ainda bebês.Na realidade, ela fica durante muitos anos sem saber o que ele havia feito com as crianças; se havia matado,doado...
“Meu
Deus. Tenho catorze anos. Eu
sempre fui uma boa menina. Quem sabe o senhor possa dar um sinal para eu saber
o que está acontecendo comigo(...) Primeiro ele colocou a coisa dele na minha
coxa e começou a mexer, depois agarrou meus peitinhos..”
Celie começa a partir deste momento ter todo
tipo de humilhação e a única pessoa que alivia um pouco este peso, é a sua irmã
Nettie, mas esta convivência é por pouco tempo. Antes de Celie completar seus
20 anos, o padrasto a entrega para um viúvo que pretendia casar-se com Nettie.
“ Eu não posso deixar o Sr..levar a
Nettie, - disse ele falando muito devagar. – Ela é nova demais.(...) Mas pode
levar a Celie. Já não está virgem, espero que saiba isso. Já a mancharam. Duas
vezes. Mas você também já não precisa de uma mulher ainda virgem. - É feia, -
dizia ele, - mas sabe trabalhar. E é limpa. Além disso Deus fez dela uma mulher
mansa. Pode fazer-lhe o que quiser e não tem que a vestir nem que lhe dar de
comer.”
Com esta argumentação, Albert, que é um homem
violento, frio e calculista, leva Celie e casa-se com ela; trata-a como escrava e a finalidade desta
união é para que a mesma cuide dos seus filhos e faça as tarefas domésticas.
Ele a humilha e não está
preocupado com nenhum tipo de sentimento que ela possa ter. É uma relação de
poder e submissão.
Nettie
foge de sua casa e vai para casa de Celie. Neste momento, Celie percebe que o
Sr. ainda tem desejos pela irmã quando esboça palavras de admiração para a mesma: “Tens um vestido muito bonito. Os
sapatos também são bonitos. E essa pele. E esse cabelo. Esses dentes.” Quando ele percebe que não há reciprocidade, ele a manda
embora, mas antes ela implora para Celie: “Não os deixe mandar em ti, - diz a Nettie.
- Tens que fazer com que percebam quem é que manda. Tens que lutar. Tens que
lutar.” A única coisa que Celie sabia dizer : “Mas
eu não sei
lutar. Apenas sei manter-me viva.” Isto por tudo que ela
vem passando na vida. Neste momento, ela apela para Deus: “enquanto puder
soletrar o nome de D-e-u-s, hei de ter alguém ao pé
de mim.” Esta
é a maneira que ela consegue sobreviver e manter a sua sanidade, contando para
Deus os maus tratos que ela vem sofrendo. Esta lei do silêncio e da resignação
vai marcar por muito tempo a personalidade de Celie, que não se queixa, não se
impõe; naturalizando assim, tudo o que vem passando.
A vida da protagonista começa a mudar com a
chegada da amante do Sr. Albert que se encontrava doente. No início, percebemos
uma certa desconfiança de Shug Avery, porém como Cilie já sentia uma certa
admiração pela mesma antes de conhecê-la, este laço começa a se estreitar. Neste
momento, começa haver uma relação de amor e amizade entre as duas. Shug, aos
poucos, incentiva Celie a se impor diante do marido e a não aceitar os maus
tratos. Faz com que ela se reconheça como mulher, que tem um corpo que gera prazer e não apenas dor. Quantas mulheres
até hoje em dia nunca tiveram um orgasmo? Não sabem aonde fica o clítoris.. “Deito-me de costas na cama e levanto o
vestido. Baixo os meus culotes. Seguro o espelho entre as pernas. Uí! Tanto pêlo!
Depois uns lábios que parecem negros. E na parte de dentro uma rosa úmida.”
É
uma amizade em que ambas se constroem e se ajudam. Celie se encanta com a
liberdade e independência da amiga, já Shug fica impressionada com a
ingenuidade, pureza e força de Celie; falam sobre algumas questões de gênero, como a utilização da calça
comprida:” - Vamos fazer umas calças para ti. (...)É um escândalo a maneira como andas a lavrar com um vestido. Não
sei como não cais ou como o arado não se prende no vestido.
Não consigo perceber."
Há
um momento de reflexão sobre Deus quando as duas estão conversando. Celie,
questiona: “Que
fez Deus por mim? E Shug, responde:- Celie! - diz ela, como se estivesse
horrorizada. - Deu-te a vida, a saúde e uma mulher
boa que há de gostar de ti até à morte. -
Sim, - digo eu, - e deu-me um pai linchado, uma mãe louca, um padrasto que é um
estupor desonesto e uma irmã que se calhar nunca mais vejo. Mesmo assim, o Deus
a quem eu rezava e escrevia é um homem. E faz tudo o que fazem os outros homens
que eu conheço. Engana, faz-se esquecido e não é honesto.” Shug apresenta um
novo Deus a Celie. Um Deus que jamais ela havia pensado, refletido. Um Deus que
lembra o de um escritor espiritualista mexicano, Francisco Javier, que se
revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe. “Aí
é que está, - diz a Shug. - Nisso acredito. Deus está dentro de ti e de toda a
gente.Vimos a este mundo com ele. Mas só aqueles que o procuram dentro de si é
que o encontram.E por vezes revela-se quando não se está a olhar, ou não se
sabe de que é que se anda à procura.”
Paralelo a tudo isto,temos a história de
Nettie que se tornou missionária e vive
na África. Nettie aborda temas
importantes como: a identidade negra, choque cultural, pois as mulheres na
comunidade Olinka em que ela se encontrava, não estudavam. A exploração das
terras africanas por grandes indústrias europeias..
É uma obra que nos emociona do início ao fim. Falando de mulheres fortes,cada uma com suas características específicas, que juntas, conseguem construir novas identidades para si mesmas.
Alice Walker, nascida em 1944, conheceu a
pobreza e o racismo de perto. Durante a faculdade iniciou sua participação como
ativista pelos direitos civis afro-americanos. Chegou a ser presa, mas logo solta, por protestar contra a
atuação estadunidense na Faixa de Gaza, em 2003.
“Nada, entre prêmios e fama, é mais importante do que o que sinto e quero dizer em defesa das minorias em todo o mundo”, explicou à Revista Cult.
“Nada, entre prêmios e fama, é mais importante do que o que sinto e quero dizer em defesa das minorias em todo o mundo”, explicou à Revista Cult.
Nenhum comentário:
Postar um comentário