quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
BIOGRAFIA DE PAULO LINS
Paulo Lins (1958) nasceu no Rio de
Janeiro, no dia 11 de junho de 1958. Morador da comunidade carioca de Cidade de
Deus, no Rio de Janeiro, desde jovem mostrava interesse pela poesia e pela
música, especialmente o samba. Fez parte do grupo Cooperativa de Poetas.
Ingressou no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e nessa
época começou a escrever poesias.
Durante a graduação, trabalhou como
assistente da antropóloga Alba Zaluar, cujo doutorado se baseia na
criminalidade da Cidade de Deus. Com o incentivo da pesquisadora, em 1986
iniciou um longo trabalho documental para a elaboração do romance Cidade de
Deus. Em 1986 publicou seu primeiro livro de poesias “Sobre o Sol”. Em 1995
recebeu uma Bolsa Vitae de Literatura.
Em 1997, Paulo Lins publicou o livro
“Cidade de Deus”, onde retrata o cotidiano de sua comunidade e o crescimento
desordenado em meio à luta pelo poder envolvendo a violência e o tráfico de
drogas. Em 2002, o livro foi levado para o cinema pelo diretor Fernando
Meirelles e Kátia Lund, com roteiro de Bráulio Montovani. O filme elogiado pela
crítica foi sucesso de público, recebeu vários prêmios e teve grande
repercussão no exterior, sendo destaque no Festival de Cinema de Londres.
Recebeu quatro indicações para o Oscar em 2004. Seu livro foi um sucesso
nacional e internacional.
Depois do lançamento de Cidade de
Deus, Paulo Lins escreveu diversos roteiros para o cinema e a televisão, quando
atuou também como diretor. Fez o roteiro para alguns episódios da série Cidade
dos Homens, da Rede Globo de Televisão. Fez também o roteiro do filme Quase
Dois Irmãos (2004), de Lúcia Murat, que recebeu o “Prêmio de Melhor Roteiro” da
Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2005.
Em 2012, Paulo Lins lançou seu
segundo romance “Desde que o Samba é Samba”. O autor que começou corrigindo
letras de samba-enredo para os sambistas, acabou fazendo os próprios sambas, e
procurou resgatar momentos da formação cultural brasileira através do samba e
da umbanda. O cenário do romance é o bairro do Estácio de Sá, local do
nascimento do samba carnavalesco.
O mais recente livro de Paulo Lins é
“Era Uma Vez... Eu!” (2014), trabalho feito com a colaboração do ilustrador
Maurício Carneiro, da atriz circense e cantora Beo da Silva e do designer
gráfico Eduardo Lima, reúne poesia e ilustração em uma trama dramática que
convida o leitor a refletir sobre a analogia entre o lixo que produzimos e
aquele que acumulamos no nosso íntimo.
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
TED - EU QUERO PODER SER FRACA
Destaco
dois elementos que me chamaram atenção na história de Stephanie Ribeiro.
Primeiro, o poder da escrita como uma ferramenta
libertária para seus medos, dores e angústias. Essa escrita-testemunha que traz
a história de grandes mulheres como: sua mãe, que ao lidar com a dor da
separação escreveu uma carta para a mesma, quando esta tinha apenas três anos ;
logo após, vem a história de sua avó, com a morte do seu companheiro, compartilha todos os dias através de um diário tudo o que acontece com
ela. Por último, ela descobriu o livro “Quarto de despejo” de Carolina Maria de
Jesus. Carolina era uma mulher negra,
favelada e mãe solteira. Começou a escrever nos papelões que encontrava no
lixo.
Em seguida, ela se questiona: ” Se todas as mulheres
que são importantes na minha vida escrevem, por que eu não posso escrever?”
A partir daquele momento, começa a compreender que a
escrita é um meio de extravasar todos os seus sentimentos..
Em uma matéria à Marie Claire, agora como colunista, comenta: ” Escrever
me ajudou a colocar para fora tudo o que me magoava e que há anos eu acumulei
aqui dentro de mim, achando que superaria sozinha, que o tempo me curaria, que
o silêncio me faria esquecer. Nos dizem que o silêncio cura, pois nos querem
silenciadas. Se expor é reviver os traumas, reencontrar as dores e desafiar os
obstáculos da vida uma segunda vez, é fazer uma profunda revisão das próprias
atitudes e mais importante que tudo isso, se perdoar por ser o que somos. A paz
advém do perdão dado a si mesmo, do entendimento que fizemos o que podíamos e
que o tempo não volta. Escrever me libertou das amarras do sexismo e racismo,
pois me possibilitou expor o que não é um problema meu, só meu: é nosso! O
racismo e o sexismo é um problema dessa sociedade, então ela que lide com o que
eu e tantas mulheres negras dizem e acham.”
Segundo, a fraqueza como um sentimento que te faz crescer, te faz humano. Por que temos
o tempo todo de sermos fortes? Quantas vezes gostaríamos apenas de um colo? A verdadeira
força é saber que você é um seu humano cheio de incompletude e tentar ser feliz
apesar de...
Parabéns, Sthephenie pelo seu trabalho!!!
domingo, 25 de fevereiro de 2018
CLÁSSICO - A COR PÚRPURA
Esta
história se passa na 1ª metade do séc XX, no Sul dos EUA. É um livro epistolar
em que a protagonista Celie, para aliviar sua dor começa a escrever cartas para
Deus. Afinal, mãe havia pedido: “É melhor você nunca contar pra ninguém, só pra
Deus. ”
Mas, qual a finalidade dela fazer esta súplica? Primeiro,o padrasto de Celie a estupra e os dois filhos que ela vem a ter dele, são arrancados de seus braços ainda bebês.Na realidade, ela fica durante muitos anos sem saber o que ele havia feito com as crianças; se havia matado,doado...
“Meu
Deus. Tenho catorze anos. Eu
sempre fui uma boa menina. Quem sabe o senhor possa dar um sinal para eu saber
o que está acontecendo comigo(...) Primeiro ele colocou a coisa dele na minha
coxa e começou a mexer, depois agarrou meus peitinhos..”
Celie começa a partir deste momento ter todo
tipo de humilhação e a única pessoa que alivia um pouco este peso, é a sua irmã
Nettie, mas esta convivência é por pouco tempo. Antes de Celie completar seus
20 anos, o padrasto a entrega para um viúvo que pretendia casar-se com Nettie.
“ Eu não posso deixar o Sr..levar a
Nettie, - disse ele falando muito devagar. – Ela é nova demais.(...) Mas pode
levar a Celie. Já não está virgem, espero que saiba isso. Já a mancharam. Duas
vezes. Mas você também já não precisa de uma mulher ainda virgem. - É feia, -
dizia ele, - mas sabe trabalhar. E é limpa. Além disso Deus fez dela uma mulher
mansa. Pode fazer-lhe o que quiser e não tem que a vestir nem que lhe dar de
comer.”
Com esta argumentação, Albert, que é um homem
violento, frio e calculista, leva Celie e casa-se com ela; trata-a como escrava e a finalidade desta
união é para que a mesma cuide dos seus filhos e faça as tarefas domésticas.
Ele a humilha e não está
preocupado com nenhum tipo de sentimento que ela possa ter. É uma relação de
poder e submissão.
Nettie
foge de sua casa e vai para casa de Celie. Neste momento, Celie percebe que o
Sr. ainda tem desejos pela irmã quando esboça palavras de admiração para a mesma: “Tens um vestido muito bonito. Os
sapatos também são bonitos. E essa pele. E esse cabelo. Esses dentes.” Quando ele percebe que não há reciprocidade, ele a manda
embora, mas antes ela implora para Celie: “Não os deixe mandar em ti, - diz a Nettie.
- Tens que fazer com que percebam quem é que manda. Tens que lutar. Tens que
lutar.” A única coisa que Celie sabia dizer : “Mas
eu não sei
lutar. Apenas sei manter-me viva.” Isto por tudo que ela
vem passando na vida. Neste momento, ela apela para Deus: “enquanto puder
soletrar o nome de D-e-u-s, hei de ter alguém ao pé
de mim.” Esta
é a maneira que ela consegue sobreviver e manter a sua sanidade, contando para
Deus os maus tratos que ela vem sofrendo. Esta lei do silêncio e da resignação
vai marcar por muito tempo a personalidade de Celie, que não se queixa, não se
impõe; naturalizando assim, tudo o que vem passando.
A vida da protagonista começa a mudar com a
chegada da amante do Sr. Albert que se encontrava doente. No início, percebemos
uma certa desconfiança de Shug Avery, porém como Cilie já sentia uma certa
admiração pela mesma antes de conhecê-la, este laço começa a se estreitar. Neste
momento, começa haver uma relação de amor e amizade entre as duas. Shug, aos
poucos, incentiva Celie a se impor diante do marido e a não aceitar os maus
tratos. Faz com que ela se reconheça como mulher, que tem um corpo que gera prazer e não apenas dor. Quantas mulheres
até hoje em dia nunca tiveram um orgasmo? Não sabem aonde fica o clítoris.. “Deito-me de costas na cama e levanto o
vestido. Baixo os meus culotes. Seguro o espelho entre as pernas. Uí! Tanto pêlo!
Depois uns lábios que parecem negros. E na parte de dentro uma rosa úmida.”
É
uma amizade em que ambas se constroem e se ajudam. Celie se encanta com a
liberdade e independência da amiga, já Shug fica impressionada com a
ingenuidade, pureza e força de Celie; falam sobre algumas questões de gênero, como a utilização da calça
comprida:” - Vamos fazer umas calças para ti. (...)É um escândalo a maneira como andas a lavrar com um vestido. Não
sei como não cais ou como o arado não se prende no vestido.
Não consigo perceber."
Há
um momento de reflexão sobre Deus quando as duas estão conversando. Celie,
questiona: “Que
fez Deus por mim? E Shug, responde:- Celie! - diz ela, como se estivesse
horrorizada. - Deu-te a vida, a saúde e uma mulher
boa que há de gostar de ti até à morte. -
Sim, - digo eu, - e deu-me um pai linchado, uma mãe louca, um padrasto que é um
estupor desonesto e uma irmã que se calhar nunca mais vejo. Mesmo assim, o Deus
a quem eu rezava e escrevia é um homem. E faz tudo o que fazem os outros homens
que eu conheço. Engana, faz-se esquecido e não é honesto.” Shug apresenta um
novo Deus a Celie. Um Deus que jamais ela havia pensado, refletido. Um Deus que
lembra o de um escritor espiritualista mexicano, Francisco Javier, que se
revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe. “Aí
é que está, - diz a Shug. - Nisso acredito. Deus está dentro de ti e de toda a
gente.Vimos a este mundo com ele. Mas só aqueles que o procuram dentro de si é
que o encontram.E por vezes revela-se quando não se está a olhar, ou não se
sabe de que é que se anda à procura.”
Paralelo a tudo isto,temos a história de
Nettie que se tornou missionária e vive
na África. Nettie aborda temas
importantes como: a identidade negra, choque cultural, pois as mulheres na
comunidade Olinka em que ela se encontrava, não estudavam. A exploração das
terras africanas por grandes indústrias europeias..
É uma obra que nos emociona do início ao fim. Falando de mulheres fortes,cada uma com suas características específicas, que juntas, conseguem construir novas identidades para si mesmas.
Alice Walker, nascida em 1944, conheceu a
pobreza e o racismo de perto. Durante a faculdade iniciou sua participação como
ativista pelos direitos civis afro-americanos. Chegou a ser presa, mas logo solta, por protestar contra a
atuação estadunidense na Faixa de Gaza, em 2003.
“Nada, entre prêmios e fama, é mais importante do que o que sinto e quero dizer em defesa das minorias em todo o mundo”, explicou à Revista Cult.
“Nada, entre prêmios e fama, é mais importante do que o que sinto e quero dizer em defesa das minorias em todo o mundo”, explicou à Revista Cult.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
MÚSICA - TOCANDO EM FRENTE
Hoje resolvi
postar uma música que me afeta e que é bastante significativa para mim como estímulo
de amor a vida. Para começar a semana inspirada e felizzzz...
Esta música é
um hino a VIDA!!! Na realidade, ela parece mais uma oração. Deus inspirou Almir
e Renato na hora de compor este ideal de vida. Na simplicidade dos versos, eles nos dão uma lição de como
devemos observar e sentir a vida, para
isto, é preciso amar...sempre...
Como tudo é
cíclico, a vida também é. Tudo muda na vida e quando nos sentimos fortalecidos,
cicatrizados, nossas perspectivas são outras: andar devagar e levar sempre um
sorriso no rosto.
Mais uma vez o
velho e famoso ditado de Sócrates é lembrado: “só sei que nada sei”. Por mais
experiências que tenhamos, a vida está aí para nos ensinar algo, todos os dias.
Procurar o
prazer da vida nas pequenas coisas e também procurar compreendê-las, pois
muitos sabem o que é certo ou errado, bom ou ruim.., mas são poucos os que realmente
compreendem. Compreender significa saber usar aquilo que você aprendeu da
melhor maneira, com leveza e consciência.
Somos o
caminho que fazemos do nosso caminhar.
Em um dos programas,
perguntaram a Almir Sater em que ele se inspirou quando fez esta música.
Então Almir
respondeu: “Esta música foi um grande presente que tanto eu, como Renato
Teixeira recebemos. Eu fui jantar na casa do Renato, sem nenhum instrumento,
sem nada. Tinha um violão do filho dele olhando pra gente, acho que até
faltando uma corda. O menino era uma criança, o Chico. Aí eu peguei o violão e
comecei a dedilhar e logo veio uma melodia muito rápida. O Renato estatelou o
olho e saiu escrevendo muito rápido.”
“Naquele
intervalo, a esposa dele falava: Vem jantar, tá na mesa...Já vamos. Fizemoa
aquela música e fomos jantar. Quando cheguei em casa disse: Fiz uma música com
Renato Teixeira, aí, às pressas. Então o povo pediu: Toca a música. Lembro que
falaram para mim: “foi uma das melhores músicas que você fez ultimamente. Mas
ela veio tão rápido, tão sem pensar..que às vezes as coisas que vem muito fácil
na vida da gente, a gente não dá muito valor. Eu não havia percebido a mensagem
da música, e a todos que eu mostrava, falavam que era lindaaa.”
“De repente, o
telefone toca, e liga uma grande cantora brasileira , que eu não conhecia, só
conhecia o trabalho dela: Maria Bethânia. Parece que tem uma luz que protege
esta menina também. Ela falou: Oi, Almir! Você não tem nenhuma música para eu
gravar? Então fiquei meio sem jeito e falei que não tinha. Embora tinha acabado
de fazer uma música, mas o Renato Teixeira irá gravá-la. Então ela pediu: canta
no telefone para mim. Quando acabei de cantar, ela falou: Esta música é minha.”
“Foram muitas
coincidências, pois acho que esta música veio como um presente para a gente
poder cantar esta mensagem tão bonita, tão otimista. Acho que não tenho talento
para fazer uma música em 1 minuto, 2 minutos assim..: letra e música pronta.
Acho que esta aí foi psicografada mesmooo.”
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
CONTO: QUANDO ELA SE FOI
Estava eu no Pilates, quando chega uma colega e
comenta que perdera o pai. Bem, neste momento, ficamos muitas vezes sem
palavras, até porque, quem já perdeu seus familiares sabem a tamanha dor..então
como sabia que ela ama gatos, comentei:
-Li um conto que me lembrei de você!!! Na verdade,
era uma forma de dizer ’eu posso acalentar tua dor através de algumas palavras
que não são minhas, mas que as contemplo e que tenho certeza que te confortarão’. Logo que cheguei em casa enviei para
ela o texto.
Gosto da maneira como este conto nos mostra as
perdas, a nossa dor e suas soluções. Afinal, quem vem para este
Planetinha e não tem suas horas de dores e tristezas? Parece que hoje temos de estar eternamente
felizes e de bem com a vida.
Não gostaria que a minha colega se libertasse da
dor, gostaria apenas que ela observasse que existem possibilidades, caminhos
para amenizá-la. A dor é um elemento para instigar a nossa consciência para
novos valores, ela nos convida a crescer, não obriga. Então, o que é bom, não é
o que nos agrada, mas o que nos faz crescer e liberta.
Tudo parece um pouco sem sentido quando falo isto,
mas quero dizer que conheço muitas pessoas que vivem analisando seus problemas
em fatos do passado. Fechar ciclos é fundamental para nossa existência. Vontade
de crescer está mais baseada em síntese voltada para o futuro. Eu quero, eu
posso e .. vida que segue...
Não esquecendo nunca de que estamos numa escada e os
obstáculos surgem para irmos para um outro
patamar e não, permanecermos no
mesmo...alguns preferem regredir..sentem-se cansados..exaustos.
Temos sempre de nos perguntar: “o que a vida está
querendo me ensinar com isto?” Depois, da situação passada, quando conseguimos
atravessar os obstáculos e estamos num outro nível de consciência, quando olhamos
para trás, respiramos aliviados e dizemos para nós mesmos: “Gratidão!!! O que
passei me permitiu ver melhor, ser melhor e consegui sobreviver.
É difícil? Sim, dificílimo, mas não é impossível. É
um aprendizado diário.E não sou uma excelência no assunto, mas tento não me
vitimar com as adversidades da vida. Tento ser otimista e esperançosa. Segue o
conto abaixo
Quando ela se foi
Ela era
uma linda gatinha, de apenas seis meses. Brincávamos muito, e ela me fazia
sentir mais criança que ela mesma. Quando a levei para castrar, pensei:
“-Ficará enjoadinha e eu a mimarei por alguns dias.” O telefonema dizendo
que ela não tinha resistido e faleceu me feriu como um golpe, aquele das coisas
duras da vida, quando não esperamos por elas, e se tornam ainda mais duras pelo
fator da surpresa.
Ela chegou
num momento muito especial para mim; era mais que um animal de estimação: era
encanto, era alegria, era pureza. Era o focinho mais molhado do universo, ao
encostar no meu nariz, ato mágico que levava embora todas as tristezas. Dois
olhos enormes, azuis, quase grudados aos meus, indagavam, desafiadores:
travessuras! Topa? E a vida inteira se convertia numa gigante possibilidade de
travessuras.
Mas ela se
foi, e eu cheguei em casa, desolada e sozinha, com uma caixa de gatos vazia na
mão. Agora, assimilar no coração o amor a ela, agradecer e continuar vivendo.
Usei o meu velho truque de sempre, ensinado por um mestre maravilhoso, um dos
presentes mais eficazes já recebidos: trabalho. A bicicleta se equilibra no
movimento.
Havia
grandes queijos curados, em cima da geladeira, esperando pelo conserto do
processador ou por um ralador bem disposto. Neste momento, o pesado e
repetitivo trabalho me apareceu como a melhor oportunidade que já existiu..
Alinhei ralador, bandeja, queijos, e comecei, com ritmo e determinação. Cuidava
para as lagrimas não se misturarem com o queijo. Quando o braço doía, jogava as
dores do coração todas nele. Braço dói pouco, e a gente leva bem.
Como um
carrossel, foram passando pela minha mente , as coisas que quis conquistar, e
as que conquistei e pensei ter perdido. Ralei-as todas. Ralei mágoas e orgulhos
feridos, Aliás, as mágoas, ralei-as ainda com maior determinação. As ilusões,
as mentiras da minha mente... pensar que a vida se vai, pensar que se perde a
beleza e as coisas sagradas da vida? Ralo nelas!
Agora, o
bendito queijo ralado, que cresceu como uma montanha à minha frente,se
converteu numa montanha de esperanças e de fé. As lágrimas também foram
raladas, e eu, forte e renovada, prossigo. Vi a noite nascer, por meio das
frestas do ralador, e vi estrelas surgirem. Estou de pé, e eu sou esperança, fé
e gratidão. Renasci.
Agradecer
é necessário, pois meu coração, que era dor, agora, transborda só em graça.
Agradeço aos mestres, ao trabalho, à vida, À pureza dos gatos e à resistência
dos queijos curados, capazes de despertar tanta resistência em nós. E ao Ser
que há em mim, que é um grande processador, capaz de transformar em luz a morte
e a vida, a alegria e a dor. E aqui estou, dedos ralados, alma inteira e
agradecida, pronta, de novo, para outra jornada. Compartilho essa pequena
experiência com a esperança de que meu segredo, tão preciosamente presenteado,
possa ser passado para frente e possa ser, talvez, útil para você. Não demanda
muita coisa: só um bom ralador, e uma vontade grande, enorme, de apostar na
vida e de integrar a dor. Lúcia Helena Galvão (Prof. de Filosofia da Nova Acrópole)
terça-feira, 13 de fevereiro de 2018
FILME : QUASE DEUSES
Este é mais um
filme que me impactou. Primeiro por ser uma história verídica de superação e
segundo por tratar de um tema que até hoje nos inquieta: a questão da
desigualdade social, especificamente, por causa da cor.
A
história passa-se na cidade de Nashville nos EUA em 1930 do século XX.
O protagonista,
um jovem carpinteiro, chamado Vivien Thomas, tem um grande sonho: ser médico.
Nesta época os
EUA estavam passando por uma Grande Depressão. Vivían foi atingido de duas
maneiras:
1-
Fica desempregado, pois priorizavam quem tivesse
família para sustentar.
2-
Toda economia que ele havia guardado no Banco
para o seu ingresso numa Unversidade , sumiu. O Banco faliu.
A partir de
agora, Vivian começa uma nova jornada, consegue um emprego de zelador no Laboratório de Cirurgia Experimentais Vanterbilt e tem
contado com um dos maiores médicos na época ( Dr. Alfred Blalock- cirurgião
cardíaco e pesquisador). O médico utilizava
pesquisas neste laboratório tendo como cobaias, filhotes de cachorro.
Para Vívian, aquele local era tudo o que
ele mais desejou, pois encontrou ali, uma verdadeira escola para todos os seus
anseios e expectativas.
No início,
o Dr. Alfred foi bastante rígido e arrogante, mas aos poucos começou a mudar o
comportamento, quando percebeu que Vivían era muito inteligente, estava disponível
para aprender e ajudá-lo.
Neste ínterim,
o Dr. Alfred está tentando encontrar uma solução para uma doença conhecida como
o caso do Bebê Azul, manifestada por um problema cardíaco.
Ambos se debruçam às pesquisas e terminam encontrando a solução
para o caso do Bebê Azul. O procedimento cirúrgico foi um grande sucesso!!! Mas,
na época, quem recebeu todo mérito foi o Dr. Alfred, que saiu na capa da
revista “Life” e em vários jornais. Vivian neste momento fica muito triste,
pois o próprio Dr. Alfred não destacou em nenhum momento a sua importância
nesta descoberta.
Após este
fato, Vívian deixa o Laboratório, passa por algumas dificuldades, mas não
consegue esquecer o local no qual entregou toda sua vida em prol de outras vidas e que
fora sua escola de Medicina; então, pede para retornar.
Apenas no
final do filme é que Alfred assume não ter sido apenas ele o responsável pelo trabalho desenvolvido com
o bebê azul,logo, Vivían recebe o título de Dr. Honoris Causa, assim também
como colocam o seu retrato junto ao do Dr. Alfred, consagrando-o como mais um
médico talentoso e inovador. O reconhecimento superou todos os preconceitos....
Vale ressaltar
que o filme abrange vários temas políticos, sociais e raciais. Percebemos uma
sociedade racista e preconceituosa, onde os negros ao andar nas ruas tinham de
abrir caminhos para os brancos passarem; os negros só podiam sentar na parte
detrás dos ônibus. Vívian não tinha livre acesso no hospital onde trabalhava,
pois tem uma cena em que ele está indo de encontro ao Dr. Alfred e o guarda o
repreende, pedindo para que ele bata o ponto no terceiro setor ( setor em que todos
os negros batiam ponto).
É um filme que
supera todas as nossas expectativas. O diretor Joseph Sargent conseguiu juntar
realidade, ficção e emoção. Muitooo bommmm!!!
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
CURTA METRAGEM- PIPER: DESCOBRINDO O MUNDO
Fiquei encantada com o curta “Piper”
do diretor Allan Barillaro. O projeto de seis minutos levou 3 anos para ser
concluído, mas são seis minutos que nos fazem repensar toda uma existência,
pois a animação é uma metáfora da VIDA!!
Conta a história de um filhotinho
de maçarico (uma espécie de ave marítima) que se aventura em busca de alimento,
porém com toda motivação da mãe, o passarinho enfrenta seu primeiro desafio:
lutar contra as assustadoras ondas.
Como diz o nosso Lulu Santos: “A vida vem em ondas,
como mar, num indo e vindo infinito”, logo, “ tudo muda o tempo todo”.
E foi com este
enfrentamento que filhotinho lindo e fofo conseguiu vencer os seus medos; estes se não curados têm conseqüências e implicações
desastrosas em nossas vidas. Primeiro ele observou os caranguejos, que o ajudou a
encarar sua insegurança , depois busca
soluções, saindo da sua zona de conforto. Assim somos nós..temos de enfrentar os
monstros que nos rodeiam.
Piper nos
ensina a necessidade de metodologias e mecanismos que incentivem o cultivo da
amizade e fraternidade. Observamos que
mesmo tendo como protagonistas animais diferentes: crustáceos e aves, eles se
interagem e se complementam. A mensagem velada no texto que aborda a maneira como as pessoas enfrentam os seus
desafios diferem uma das outras. Cada ser é singular. O importante é que cada
um busque o autoconhecimento para perceber
o seu valor, melhorar suas atitudes e
limitações.
Ameiiiii!!! Showww!!!
domingo, 11 de fevereiro de 2018
LIVRO INFANTIL : MINHA MÃE É NEGRA SIM!
Se na música,
na dança, no meio artístico, os negros conseguiram conquistar um espaço representativo
na sociedade brasileira, em outras expressões artísticas, como na literatura infantil, este caminho, podemos
dizer que ainda está em construção.
A literatura
infantojuvenil hoje, tem um papel
fundamental de tirar do silenciamento as histórias do negro no Brasil. Monteiro
Lobato, um dos maiores escritores desta literatura no início do século XX, sempre
representou o negro caricato, subjugado. Basta
lembrar que seu nome está sempre associado ao racismo. Em
2014, foi levado ao Supremo Tribunal Federal um mandado de segurança no qual se
discutia a retirada do livro Caçadas de Pedrinho da lista de leitura obrigatória em escolas públicas.
Publicada em 1933, a obra faz parte do Programa Nacional Biblioteca da Escola,
do Ministério da Educação, e foi distribuída em escolas de todo o país. O
ministro Luiz Fux, do STF, julgou improcedente o pedido.
Fico feliz em observar
hoje, vários textos escritos para crianças como protagonistas negros. Este
livro auxilia na construção da autoestima
necessária para a resistência e o enfrentamento do preconceito. Com estes temas
sendo levado para sala de aula muitos conflitos serão resolvidos, havendo um
espaço mais humanizado de respeito e esperança.
O livro “MINHA
MÃE É NEGRA, SIM de Patrícia Santana conta a história de uma criança, chamada Eno, que fica
muito triste e reflexivo a partir do dia em que sua professora de Artes fala
com tom de dureza e exigência para que ele pinte sua mãe de amarelo. A criança
percebeu que havia algo que não era natural. Por que pintaria a mãe de amarelo,
já que ela era negra?
Ao
chegar em casa, permaneceu em silêncio e sem emoção. O pai não compreendeu a
reação do filho, pois este foi direto
para o seu esconderijo; não querendo saber de ninguém, nem mesmo de Simba,seu
cachorro.Não quis comer..estava de banzo, também não queria ir à escola.
Depois
de uns dias, pediu ao pai para ir à biblioteca a fim de procurar o significado
da palavra “ preto”.Lá não viu muita coisa boa e achou de novo, tudo muito
esquisito. Só a partir do encontro com o avô foi que desabafou e o mesmo compreendendo
seu comportamento, resolveu dar uma aula sobre racismo e tudo o que naquele
momento ele necessitava ouvir para massagear o seu coração.
O
encontro com o avô fez com que ele retornasse à aula, agora com mais autoestima,
pois seu desenho não passaria mais pela invisibilidade e sim, pelo resgate de
sua identidade. Chegando à escola, fala para professora: “ Professora, meu desenho de mãe,
não pintei de amarelo, pintei de preto em negro como é a jabuticaba, o ébano, a
beleza da noite escura. Pintei com a cor de mim mesma.”
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele,
ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e
se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais
naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma
chama que pode ser oculta, jamais extinta.” Nelson Mandela
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
DIA DO FREVO
Como
autêntica Pernambucana, não poderia deixar de homenagear o dia do FREVO : 09 de
fevereiro. Esta data é contada a partir
do aparecimento na imprensa da primeira vez em que foi utilizada o nome FREVO, num jornal vespertino de Recife,
Jornal Pequeno, na edição de 09 de fevereiro de 1907
Este
ritmo faz parte da minha história, da minha identidade, pois não tem quem não
se inquiete com o som dos instrumentos que nos faz balançar o corpo, numa
sensação de leveza e liberdade. Algumas
pessoas dizem que não sabem dançar o frevo, porém quando ouvem a música, todos
dançam do seu jeito, com muita improvisação e malabarismo: livre, leve e solto.
Os
mais ousados bailam e flutuam no ar. Muitos regem com maestria uma sombrinha que
tem as cores da bandeira de Pernambuco para ajudar em suas acrobacias, pois dá
mais equilíbrio.
Existem
três tipos de frevo: frevo- canção, frevo de bloco e frevo de rua.
O Frevo Canção, instrumentalmente
muito parecido com o Frevo de Rua, a grande diferença é que o Frevo Canção tem
letra, dá pra cair no passo e cantar. As letras possuem temas variados não
ficam presas apenas ao carnaval, são canções de amor, exaltação à cidade e por
aí vai, um dos principais compositores desse gênero de Frevo foi Lourenço da
Fonseca Barbosa, o popular Capiba.
O Frevo Bloco, popularizado nos anos 50
quando o compositor e arranjador Nelson Ferreira reuniu várias composições
antigas, resolveu fazer novos arranjos e gravá-las com orquestra de pau e corda
e coral feminino. A orquestra de pau e corda junto com o coral feminino é o que
diferencia o Frevo de Bloco dos outros tipos de frevo As letras falam de amor,
falam dos blocos líricos, dos antigos carnavais.
O Frevo
de Rua, é aquele totalmente
instrumental com metais e percussão, onde é possível cair no passo apenas
sentindo a melodia, porque não tem letra. O mais conhecido é o Vassourinhas.
Desde
2012 o FREVO passou a ser considerado um Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Segundo
Jota Michiles, um dos expoentes da Cultura Pernambucana, descreve o que
significa para os Pernambucanos, o FREVO,
através destes versos:
“
O frevo é o ritmo mais eletrizante da MPB.Que faz do corpo da gente
parafuso,dobradiça no passo que atiça e bota pra mexer. Nasceu e cresceu nas
ruas do Recife, no dobrado do pife, no passo da capoeira. Moleque assanhado,
filho da metaleira. Trompete e trombone, pandeiro e saxofone. Ganhou o seu nome
no fervor da chaleira. “
LIVRO : NA MINHA PELE
NA MINHA PELE – LÁZARO RAMOS
No prólogo desta obra, o autor Lázaro Ramos propõe: “Se posso fazer alguma sugestão, aconselho que abra este livro, não para encontrar minha biografia, mas para ouvir as vozes que estão ao meu lado”, logo iremos conhecer e nos encantar com várias vozes que se fazem presente em sua vida. Iniciando pelos pais: Célia Maria Sacramento e Ivan Sacramento, Dindinha (tia avó do pai), Zebrinha ( mestre artístico e de vida), Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo entre muitos...até chegar em Taís Araújo (sua companheira ) e seus filhos: João e Maria.
Falar sobre o
livro “Na minha pele” nos faz refletir sobre a questão do racismo ainda muito
contundente no Brasil, embora observemos um racismo muitas vezes velado. Discorrer
sobre este tema parece um mimimi ou bobagem, pois muitos discordam de que
exista tanto preconceito assim ou.. Às vezes
é incômodo ouvir falar da dor do outro sem ser empático e também não ter uma
consciência sobre o que de fato ocorre no nosso país, daí o autor traz a reflexão
da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz que diz: “ se houve uma teoria de
fato criada no Brasil, foi a teoria do branqueamento, que acredita que, quanto
mais clara fosse a cor da pele do brasileiro, mais progresso e desenvolvimento
conquistaríamos para o país. Lilia diz que basta olhar para os nossos censos
para verificar como a raça ainda é uma questão delicada: as populações negras
morrem mais cedo, têm menos chance de conseguir trabalho, são alvos preferenciais
da polícia e da Justiça.”
Muitos, infelizmente, ignoram todas essas informações.
Transcreverei aqui um comentário de uma internauta após uma entrevista de Lázaro:
“Muito mimimi. Agora quer faturar uma grana em cima disso
vendendo livro. Nos estádios tem placas de SOMOS todos IGUAIS. E isto não é
verdade. Teria que colocar É PRECISO SEMPRE RESPEITARMOS AS PESSOAS CRIADAS
CONFORME A VONTADE DE DEUS. Mas o racismo mesmo são as cotas, que privilegia
apenas uma raça e disto não falam nada.”
O que comentar sobre esta fala? Ela representa
a fala de muitos... As pessoas que têm este tipo de discurso não percebem que
são racistas e acabam achando normal algumas posições, como expulsar uma
criança negra de uma loja, achando ser um pedinte ou marginal, um goleiro ser
chamado de macaco, mulher que recusa ser atendida por uma manicure negra, entre
vários fatos diários que ficam ocultos por medo e vergonha.
Desconstruir
esse discurso, até em expressões simples e que aparentemente não parecem ser
ofensivas, mas no fundo são, é necessário e urgente. A luta
contra este tipo de preconceito é dever de todos nós, pois enquanto
identificarmos uma pessoa pela cor, não teremos superado este problema.
Destaco
duas palavras que perpassam o tempo todo no livro: EMPODERAMENTO E
RESSIGNIFICAÇÃO.
A ARTE abriu caminhos
para que Lázaro construísse toda essa identidade , força e maturidade que nos
encanta, partindo da literatura como ele mesmo comenta quando entrevistou o
professor Muniz Sodré, segundo este: “A literatura sempre disse mais sobre o
homem no Brasil que a sociologia – até hoje muito preocupada apenas com lutas
de classes. O cinema e a novela, com a força que têm hoje em nosso país, pode
trazer um ataque forte aos preconceitos.”; as palavras do professor reforçam a
sua busca pela expressão artística. Para o autor “ O espetáculo do Bando de
Teatro Olodum estabelecia uma relação direta entre uma favela e os quilombos, e
eu fazia um garoto com poucas falas, o que me deu mais tempo para assimilar as
informações da pesquisa: a importância de Zumbi dos Palmares, que a história negra
é repleta de lutas e que eu não devia chamar meus ancestrais de escravos, e sim
de africanos escravizados; que a liberdade não veio de uma canetada da princesa
imperial, mas após muita luta. Esse foi mais um salto na compreensão sobre de
onde vim e para onde podia ir.”
É importante percebermos que os brancos, sabem
identificar sua origem, seu sobrenome, porém em relação aos negros, sabemos que
muitos vieram da África, mas não sabem de que lugar vieram e nem sua História,
porque nas escolas, a história do negro é negada, o que existe é uma
etnografia, porém não queremos que isto continue acontecendo. Nossa luta continua.. Que avancemos historicamente e fraternalmente. Afinal, o que nos constrói como humano é ser humano.
Parabéns Lázaro, pela sua militância!!! E termino com sua fala :
" Não podem roubar sua humanidade. Você é um ser mais complexo, que não é descrito apenas pela cor de sua pele".
" Não podem roubar sua humanidade. Você é um ser mais complexo, que não é descrito apenas pela cor de sua pele".
domingo, 4 de fevereiro de 2018
AL MARGEN - ILUSTRADOR ARGENTINO
Artista argentino nos convida a refletir sobre a sociedade moderna com ilustrações incríveis e super criativas.Os desenhos de Al Margen faz uma crítica social para refletirmos a nossa atual sociedade. As figuras falam por si mesmas. Segundo o autor:
“Eles [os desenhos]
são filhos do tédio, inconformidade ou raiva. São a representação de ideias
descartadas. Eles são o lixo do subconsciente. Mas eles são mais viscerais e
sinceros do que outros desenhos porque não têm obrigação de agradar. Porque
eles nasceram apenas por um impulso e nada mais. Porque eles nasceram para
irritar, porque mostram o imperfeito.”
REFÉM DOS MERCADOS
Se analisarmos cada etapa do progresso da civilização
humana, vamos notar que cada época foi marcada por uma série de problemas — e a
fase que estamos vivendo não é diferente. Isso porque, embora tenhamos
conquistado inúmeros avanços e hoje tenhamos muitas comodidades, a nossa
sociedade está longe de ser perfeita.
AINDA NÃO ESTOU MAGRA O SUFICIENTE
Al Margen apresenta em suas ilustrações, o
reflexo de nós mesmos: o consumismo desenfreado, a idealização do corpo, a
mídia televisiva como formadora de opinião, as máscaras que criamos no nosso
dia a dia, o pior de tudo é que a humanidade se acostuma tanto às máscaras que
depois não sabemos qual a nossa verdadeira face.
É um
trabalho digno de muitas reflexões e questionamentos.
PRIVACIDADE
"Vivemos em plena cultura da aparência: o contrato de
casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais
do que o corpo e a missa mais do que Deus.”
(Eduardo Galeano)
(Eduardo Galeano)
LIVRO: O ESCAFANDRO E A BORBOLETA
O livro conta a história do editor-chefe da revista Elle:
JEAN DOMINIQUE BAUBY.
Jean-Dominique vivia uma vida de ostentação: viagens, bons pratos, mulheres... como ele mesmo comenta antes de saber da gravidade do problema: “meu espírito mundeiro até fazia mil projetos: um romance, viagens, uma peça de teatro e a comercialização de um coquetel de frutas de minha invenção”, mas até então não estava consciente da gravidade da sua doença.
O que nos deixa impactados é como ele escreveu este livro, pois no dia 8 de dezembro de 1995, aos 43 anos ele sofre um AVC quando passeava com o seu filho mais velho desencadeando uma síndrome chamada locked-in ou síndrome do encarceramento, a qual transformou completamente a sua vida .
Mas o que significa isto? “É um transtorno neurológico raro, em que ocorre uma paralisia completa dos músculos de todo o corpo, a exceção de músculos que controlam alguns movimentos dos olhos – movimentação vertical e elevação da pálpebra.”
Então, nos perguntamos, mas como pode uma pessoa paralisada dos pés à cabeça produzir um livro? Acredito que tenha sido esta uma das grandes motivações de sua vida durante os dias em que passou no Hospital de Berk.
Afinal, o escafandro é justamente uma metáfora do seu novo estado de espírito. Dominique se sente enclausurado no seu próprio eu e logo surge uma solução, pois a ortofonista Sandrine, cria um código de comunicação com o único órgão que funciona em Dominique – o seu olho esquerdo! Então, Claude Mendibil, uma ex-tradudora de sinais, conseguiu durante 3 horas por dia, e nos sete dias da semana, no período de 2 meses uma relação de desafio, tanto para Jean Dominique, como para ela; produzir a obra prima: o escafandro e a borboleta através do movimento do olho! Parece impossível! E logo ele percebe “ o escafandro já não me oprime tanto, e o espírito pode vaguear como borboleta. Há tanta coisa para fazer; pode-se voar pelo espaço ou pelo tempo...”
É incrível como uma pessoa com todos esses problemas nos passa através do texto uma leveza e um humor n’ alma. A vida? Tenta fazê-la menos oprimente.
O olhar agora tem uma nova função, não apenas de ver o óbvio, mas de transmitir e mediar essa nova experiência em sua vida; já que o olho é a janela da alma. Embora, acredito que nunca se chega verdadeiramente a ela. Cada experiência de Dominique percebemos uma mistura de angústia, tristeza, dor, esperança e fé.
Pensando bem, mesmo sendo um escafandro, desabrocha o Bauby que faz ressurgir o amor e a reconstrução na relação familiar, pois se antes isto fazia pouco sentido, agora tem bastante significado.
As borboletas estão presentes o tempo todo em sua alma, pois ele mesmo fala que através do silêncio pode ouvi-las voando pela sua cabeça e acrescenta que sua audição não melhora, mas ele as ouve cada vez mais. E com o seu bom humor, retifica que as borboletas devem dar–lhes ouvidos.
Esta é uma maneira nobre de alimentar a alma e diminuir sua dor, através da imaginação! O que seria de nós se não pudéssemos usar a nossa imaginação? E no final ele reflete:
“Esse espetáculo me deixa desamparado e pensativo. Haverá neste Cosmo alguma chave para destrancar meu escafandro? Alguma linha de metrô sem ponto final? Alguma moeda suficientemente forte para resgatar minha liberdade? É preciso procurar em outro lugar. É para lá que vou.”
Só que ele não havia percebido que ele próprio já havia descoberto a chave do seu escafandro.
O livro é belíssimo! Vale à pena ler e refletir sobre o que nos torna escafandro e borboleta!
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