Procurando
algo leve para ler encontrei o livro de Whitman. Existem alguns livros que
sempre me reporto a eles em determinados momentos. Por que me lembrei deste livro? Porque este poeta/profeta
representa uma permanente denúncia contra as restrições feitas à liberdade
humana pelos adeptos da antidemocracia.
Estava o
menino Walt com seus doze anos de idade e tinha aversão ao trabalho, preferindo
o lazer às atividades do ganha-pão. Chegou por isso a ser chamado de “menino vadio”.
Certa ocasião, perguntaram-lhe o que pretendia ser quando quando fosse grande,
e o menino sentiu-se indeciso, embaraçado mesmo, sem ter diante de si uma
profissão para agarrar. Nada de construtor de casas, como acontecia com seu
pai. Nada que exigisse grandes esforços, estudos e conhecimentos, nem mesmo
aquilo que o colocasse na faixa dos negociantes da época. Parece que não tinha
vocação para essas coisas. Não pretendia ser advogado nem médico. Seu
temperamento calmo afastava-o da advocacia, seu corpo saudável e o desejo de
uma vida não controlada por deveres que lhe tirassem a liberdade de fazer o que
bem entendesse, impunham-lhe um outro rumo. Menino ainda, parece que já
visualizava um mundo diferente no seu amanhã adolescente e no homem maduro.
Jeff, o pai,
era um operário e sofredor. E Whitman sentia as lutas domésticas, especialmente
de seu pai, em busca de recursos para a sobrevivência. Por ocasião conseguiu
arranjar um emprego no escritório de um advogado chamado Clark, em Fulton, Long
Island.
O advogado
Clark era pessoa dócil e chegou a compreender o menino, que gostava muito de
leitura. Arranjou-lhe um cartão de sócio de uma biblioteca circulante local.
Depois de ler os poemas de Walter Scott, sentia dentro de si o fervilhar da
inspiração, querendo escrever alguma coisa. Era o impulso interno de sua real
vocação. Surgiram, então, seus primeiros versos cheios de sentimentalismo,
vaidade, amor e morte. Queria, agora, publicar alguma coisa, vendo o seu nome
em letras de forma. Como consegui-lo? Era um rapazinho inexperiente, sem nenhum
apoio da parte de nenhum intelectual. Como vencer os seus anseios poéticos
sozinho? Via sempre nas mãos do seu pai um jornal: The long Island Patriot. Brotou-le na mente uma ideia: enviar
poesias a esse jornal. Isso deu certo, realizando-se o seu sonho. Quanta
vaidade no coração, ao ver o seu nome impresso! Que maravilha, pensou ele,
andar assim pelas páginas deum jornal! E, logo mais, estava também nas páginas
do Mirror, de New York.
Completara catorze
anos, quando invadiu sua vida a emoção de poeta nascente, que iria continuar até
a idade avançada...até o momento em que ele ”escorregasse definitivamente”,
isto é, chegasse ao término de sua jornada terrestre, na linguagem do artista,
sempre ativada pelo humor sadio.
Havia pedido
demissão a Clark e começara nova vida como “office-boy” de um médico.Em
seguida, procurou S. E. Clements, editor do jornal The long Island Patriot,que lhe abriu as portas de uma nova
oportunidade: a de aprendiz no “Pat”. Davam-se bem, o aprendiz e o editor, e
assim, caminhava ele para uma carreira profissional de maior segurança: a de
tipógrafo, seguida da de jornalista.
O mundo em
redor de Whitman era transformado em poemas. Tudo quanto vibrava em sua
imaginação encontrava nele a exata expressão estética. Todas as suas reações
psicológicas, os contatos com os seres humanos (ele não distinguia este ou
aquele tipo humano, todos eram um só, sem discriminação racial e social), a
vida em sua multiplicidade de manifestações, as zonas rurais e urbanas, vias
terrestres, fluviais e marítimas, os veículos puxados por burros e cavalos,
tudo era motivo para a sua criatividade.
Conhecia a
alma das coisas, a intimidade delas e, por assim dizer, o impulso volitivo de
todos os seres. Nada lhe escapava à intuição aguçada. Era um artista
incontestavelmente inato, vocacionado para as intensas manifestações de sua expressão e comunicação revolucionárias.
Animais, vegetais, minerais, rios, lagos, mares, montanhas, céus, estrelas,
planetas, enfim, a imensidade universal e todas as maravilhas visíveis e
invisíveis recebiam o trato cordial, as boas-vindas do gênio.
Sua poética é
a exaltação da vida, da humanidade, da liberdade. Uma expressão criada em
ritmos de eternidade, que invade o Universo de todas as almas sensíveis ao BEM e
ao Belo.
Adolescente
ainda, Whitman era uma alma inquieta, um verdadeiro itinerante: não parava por
muito tempo em um lugar. Deslocava-se sempre. E, a propósito desse apego à
itinerância, dizia: “EU SÓ QUERIA VIVER”.
Robert
Ingersoll, amigo pessoal de Whitman, devotava um delicado respeito ao poeta.
Procurava não magoá-lo. Já na última fase da vida do criador de Leaves of Grass, Irgersoll partiu de New
York rumo a Camden, New Jersey, para render-lhe homenagem. Realizava-se festa
de aniversário no restaurante Reisser, e Whitman sentia-se feliz diante da
cativante simpatia e do amor que recebia na ocasião. Quando se levantou para
falar o famoso conferencista, voltou o seu rosto para Whitman e, após cada
pausa oratória, insistia nesta frase: “Agradeço-lhe por isso”. E Whitman
vibrava de entusiasmo. Ingersoll, no entanto, por ser materialista e ateu declarado,
deixou de se referir a um fato importante: a
fé que saturava o livro de Whitman. Então, surgindo o assunto sobre a imortalidade
da alma, Whitman declarou ao amigo:- Bem, Robert, não posso falar senão por mim
mesmo. E quanto a mim, estou convicto disso quanto estou convicto de que
estamos todos aqui reunidos!
Eis aqui
alguns pensamentos de Whitman:
Sei
que sou imortal.
Sei
que esta minha órbita não pode ser tocada por
um
compasso de carpinteiro,
Sei
que não passarei como o rabisco de uma criança
feito
à noite com um graveto queimado.
Sei
que sou augusto,
Que
não perturbou o meu espírito a fim de que se
vindique
ou seja compreendido,
Vejo que as leis elementares nunca se desculpam,
Reconheço
que, afinal, não procedo com
arrogância
maior do que o nível a que elevo a minha
casa.
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Aqui o teste da sabedoria,
A
sabedoria não é finalmente posta à prova nas escolas,
A
sabedoria não se transmite de alguém que possui para alguém que não possui,
A
sabedoria pertence à alma, não se sujeita a provas, ela é a sua própria
prova...
É a
certeza da realidade e imortalidade das coisas, da excelência das coisas...
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Sou
poeta do Corpo e sou poeta da Alma,
Os
prazeres celestiais estão comigo
E as
paixões infernais estão comigo,
Enxerto os primeiros e os amplio sobre mim mesmo,
E os
últimos, traduzo-os em nova linguagem.
Sou o
poeta da mulher tanto quanto o do homem,
E
digo que ser mulher é tão grande
como
ser homem,
E
digo ainda não haver nada maior
do que a mãe
dos homens.
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A propósito da
maldade existente entre os homens, assim filosofou: “ É bem provável que a
maldade seja ausência de liberdade e falta de saúde na alma.”. E tal reflexão
acompanhou-o pelos dias futuros, até o final de suas lutas.
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Manter os homens
unidos através de pape,
de selo ou pela
compulsão não se justifica;
Somente os mantém
unidos aquilo que os congrega
por um princípio
vital,
assim como
acontece com os membros do corpo
ou as fibras das
plantas.
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GRATIDÃO – Whitman possuía
sentimento de gratidão a quem lhe proporcionou acesso ao mundo literário.
Sempre admitiu que, se não houvesse encontrado a si mesmo, não poderia ter sido
poeta, escrevendo sua obra-prima Folhas
de Erva. Precisava no entanto, de um impulso, o qual foi dado por Ralph
Waldo Emerson. Explicando o que ocorrera em sua vida interior, disse: “Eu
estava fervendo, fervendo, fervendo em fogo brando... Emerson me fez entrar em
ebulição”.
Desse contato com o amigo, realmente amigo, brotou em sua
vida a convicção de que as “qualidades pessoais” e a “solidariedade humana”
devem ser respeitadas.
É um livro leve, que traz um pouco da vida do poeta/profeta e que se faz necessário lembrar nesses momentos tão tensos do poder da LIBERDADE.
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