sábado, 30 de maio de 2020

LIVRO: PROFETA DA LIBERDADE - WALT WHITMAN



Procurando algo leve para ler encontrei o livro de Whitman. Existem alguns livros que sempre me reporto a eles em determinados momentos. Por que me  lembrei deste livro? Porque este poeta/profeta representa uma permanente denúncia contra as restrições feitas à liberdade humana pelos adeptos da antidemocracia.
Estava o menino Walt com seus doze anos de idade e tinha aversão ao trabalho, preferindo o lazer às atividades do ganha-pão. Chegou por isso a ser chamado de “menino vadio”. Certa ocasião, perguntaram-lhe o que pretendia ser quando quando fosse grande, e o menino sentiu-se indeciso, embaraçado mesmo, sem ter diante de si uma profissão para agarrar. Nada de construtor de casas, como acontecia com seu pai. Nada que exigisse grandes esforços, estudos e conhecimentos, nem mesmo aquilo que o colocasse na faixa dos negociantes da época. Parece que não tinha vocação para essas coisas. Não pretendia ser advogado nem médico. Seu temperamento calmo afastava-o da advocacia, seu corpo saudável e o desejo de uma vida não controlada por deveres que lhe tirassem a liberdade de fazer o que bem entendesse, impunham-lhe um outro rumo. Menino ainda, parece que já visualizava um mundo diferente no seu amanhã adolescente e no homem maduro.
Jeff, o pai, era um operário e sofredor. E Whitman sentia as lutas domésticas, especialmente de seu pai, em busca de recursos para a sobrevivência. Por ocasião conseguiu arranjar um emprego no escritório de um advogado chamado Clark, em Fulton, Long Island.
O advogado Clark era pessoa dócil e chegou a compreender o menino, que gostava muito de leitura. Arranjou-lhe um cartão de sócio de uma biblioteca circulante local. Depois de ler os poemas de Walter Scott, sentia dentro de si o fervilhar da inspiração, querendo escrever alguma coisa. Era o impulso interno de sua real vocação. Surgiram, então, seus primeiros versos cheios de sentimentalismo, vaidade, amor e morte. Queria, agora, publicar alguma coisa, vendo o seu nome em letras de forma. Como consegui-lo? Era um rapazinho inexperiente, sem nenhum apoio da parte de nenhum intelectual. Como vencer os seus anseios poéticos sozinho? Via sempre nas mãos do seu pai um jornal: The long Island Patriot. Brotou-le na mente uma ideia: enviar poesias a esse jornal. Isso deu certo, realizando-se o seu sonho. Quanta vaidade no coração, ao ver o seu nome impresso! Que maravilha, pensou ele, andar assim pelas páginas deum jornal! E, logo mais, estava também nas páginas do Mirror, de New York.
Completara catorze anos, quando invadiu sua vida a emoção de poeta nascente, que iria continuar até a idade avançada...até o momento em que ele ”escorregasse definitivamente”, isto é, chegasse ao término de sua jornada terrestre, na linguagem do artista, sempre ativada pelo humor sadio.
Havia pedido demissão a Clark e começara nova vida como “office-boy” de um médico.Em seguida, procurou S. E. Clements, editor do jornal The long Island Patriot,que lhe abriu as portas de uma nova oportunidade: a de aprendiz no “Pat”. Davam-se bem, o aprendiz e o editor, e assim, caminhava ele para uma carreira profissional de maior segurança: a de tipógrafo, seguida da de jornalista.
O mundo em redor de Whitman era transformado em poemas. Tudo quanto vibrava em sua imaginação encontrava nele a exata expressão estética. Todas as suas reações psicológicas, os contatos com os seres humanos (ele não distinguia este ou aquele tipo humano, todos eram um só, sem discriminação racial e social), a vida em sua multiplicidade de manifestações, as zonas rurais e urbanas, vias terrestres, fluviais e marítimas, os veículos puxados por burros e cavalos, tudo era motivo para a sua criatividade.
Conhecia a alma das coisas, a intimidade delas e, por assim dizer, o impulso volitivo de todos os seres. Nada lhe escapava à intuição aguçada. Era um artista incontestavelmente inato, vocacionado para as intensas manifestações  de sua expressão e comunicação revolucionárias. Animais, vegetais, minerais, rios, lagos, mares, montanhas, céus, estrelas, planetas, enfim, a imensidade universal e todas as maravilhas visíveis e invisíveis recebiam o trato cordial, as boas-vindas do gênio.

Sua poética é a exaltação da vida, da humanidade, da liberdade. Uma expressão criada em ritmos de eternidade, que invade o Universo de todas as almas sensíveis ao BEM e ao Belo.
Adolescente ainda, Whitman era uma alma inquieta, um verdadeiro itinerante: não parava por muito tempo em um lugar. Deslocava-se sempre. E, a propósito desse apego à itinerância, dizia: “EU SÓ QUERIA VIVER”.
Robert Ingersoll, amigo pessoal de Whitman, devotava um delicado respeito ao poeta. Procurava não magoá-lo. Já na última fase da vida do criador de Leaves of Grass, Irgersoll partiu de New York rumo a Camden, New Jersey, para render-lhe homenagem. Realizava-se festa de aniversário no restaurante Reisser, e Whitman sentia-se feliz diante da cativante simpatia e do amor que recebia na ocasião. Quando se levantou para falar o famoso conferencista, voltou o seu rosto para Whitman e, após cada pausa oratória, insistia nesta frase: “Agradeço-lhe por isso”. E Whitman vibrava de entusiasmo. Ingersoll, no entanto, por ser materialista e ateu declarado, deixou de se referir a um fato importante: a fé que saturava o livro de Whitman. Então, surgindo o assunto sobre a imortalidade da alma, Whitman declarou ao amigo:- Bem, Robert, não posso falar senão por mim mesmo. E quanto a mim, estou convicto disso quanto estou convicto de que estamos todos aqui reunidos!
Eis aqui alguns pensamentos de Whitman:
               
                 Sei que sou imortal.
                 Sei que esta minha órbita não pode ser tocada por
                 um compasso de carpinteiro,
                 Sei que não passarei como o rabisco de uma criança
                 feito à noite com um graveto queimado.
                 Sei que sou augusto,
                 Que não perturbou o meu espírito a fim de que se
                 vindique ou seja compreendido,
                 Vejo que as leis elementares nunca se desculpam,
                 Reconheço que, afinal, não procedo com
                 arrogância  maior do que o nível a que elevo a minha casa.
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              Aqui o teste da sabedoria,
              A sabedoria não é finalmente posta à prova nas escolas,
              A sabedoria não se transmite de alguém que possui para alguém que não possui,
              A sabedoria pertence à alma, não se sujeita a provas, ela é a sua própria prova...
              É a certeza da realidade e imortalidade das coisas, da excelência das coisas...

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              Sou poeta do Corpo e sou poeta da Alma,
              Os prazeres celestiais estão comigo
              E as paixões infernais estão comigo,
              Enxerto os primeiros e os amplio sobre mim mesmo,
              E os últimos, traduzo-os em nova linguagem.
              Sou o poeta da mulher tanto quanto o do homem,
              E digo que ser mulher é tão grande
              como ser homem,
              E digo ainda não haver nada maior
  do que a mãe dos homens.

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A propósito da maldade existente entre os homens, assim filosofou: “ É bem provável que a maldade seja ausência de liberdade e falta de saúde na alma.”. E tal reflexão acompanhou-o pelos dias futuros, até o final de suas lutas.

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                             Manter os homens unidos através de pape,
                             de selo ou pela compulsão não se justifica;
                             Somente os mantém unidos aquilo que os congrega
                             por um princípio vital,
                             assim como acontece com os membros do corpo
                             ou as fibras das plantas.
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GRATIDÃO – Whitman possuía sentimento de gratidão a quem lhe proporcionou acesso ao mundo literário. Sempre admitiu que, se não houvesse encontrado a si mesmo, não poderia ter sido poeta, escrevendo sua obra-prima Folhas de Erva. Precisava no entanto, de um impulso, o qual foi dado por Ralph Waldo Emerson. Explicando o que ocorrera em sua vida interior, disse: “Eu estava fervendo, fervendo, fervendo em fogo brando... Emerson me fez entrar em ebulição”.
Desse contato com o amigo, realmente amigo, brotou em sua vida a convicção de que as “qualidades pessoais” e a “solidariedade humana” devem ser respeitadas.

É um livro leve, que traz um pouco da vida do poeta/profeta e que se faz necessário lembrar nesses momentos tão tensos do poder da  LIBERDADE.

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