quarta-feira, 31 de julho de 2019

CURTA METRAGEM: APENAS RESPIRE


A vida não dói só nos adultos. As crianças também se estressam, se irritam ou ficam ressentidas. O curta-metragem ‘Apenas Respire’ dá uma lição sobre isso, pois com frequência o que acontece é que castigamos a expressão e a gestão das emoções negativas desde a mais terna infância.
Não percebemos isto, mas os elementos que colocam o maquinário das nossas vidas para funcionar, os ambientes artificiais, a pressa, o jeito como dormimos, comemos e o ar que respiramos podem chegar a ser verdadeiros punhais emocionais.
Seja como for, é obvio que se aprendermos a administrar todos esses “contratempos” que dificultam o nosso desenvolvimento emocional e que podem nos prejudicar, conseguiremos tolerar melhor as circunstâncias de um entorno desfavorável.
Este curta-metragem promove a consciência emocional como um veículo primário para mudar o nosso jeito de vivenciar as nossas experiências sentimentais. As crianças falam do que as faz se sentirem chateadas, tristes ou culpadas, de como reagem e da forma como precisam transformar suas sensações em coisas positivas.
Para realizar este trabalho de forma completa precisamos também falar do que nos dá alegria, prazer e orgulho, assim como da forma que temos de compreendê-los e controlá-los.
Exercitar o nosso cérebro pensante e saber colocar em palavras e expressar as nossas emoções nos ajuda a nos desenvolvermos e a termos sucesso em nossas vidas.
O vídeo nos mostra que traduzir nossas emoções em palavras é uma parte vital da sua compreensão, já que as palavras se conectam com os sentimentos em si e as respostas psicofisiológicas que provocam.
(Para ativar as legendas em português, basta clicar no ícone de legendas na parte inferior do vídeo, ao lado da opção “Detalhes”.)


terça-feira, 30 de julho de 2019

MÙSICA : NÃO EXISTE AMOR EM SP



A arte é e sempre será a expressão da vidaaaaa!!!!

Que o MUNDO ouça a nossa vozzz através daqueles que podem  levar o nosso pedido de socorro àqueles que buscam por um país mais justo e igualitário. Criolo inspira o público provocando diálogos e reflexões com as suas músicas e parcerias com artistas como Milton Nascimento, Tulipa Ruiz e Mano Brown.

Como cronista e crítico contemporâneo, impressiona com a potência das suas letras. E a intensidade das suas performances sempre são destacadas pelo tom político e atual que o artista traz  para o palco.  No Festival MIMO, durante a execução da música “Não Existe Amor em SP”, ele trouxe uma mensagem muito forte de protestos contra a escalada autoritária que o governo de extrema direita tem promovido no Brasil, citando o genocídio da juventude negra que assola o país, o aumento da destruição da Amazônia e o nome de Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018. Na verdade, não precisamos morrer para ver DEUS!!!! Melhor parte!!!


Não existe amor em SP
Um labirinto místico
Onde os grafites gritam
Não dá pra descrever

Numa linda frase
De um postal tão doce
cuidado com doce
São Paulo é um buquê

Buquês são flores mortas
Num lindo arranjo
Arranjo lindo feito pra você
Não existe amor em SP.

Os bares estão cheios de almas tão vazias
A ganancia vibra, a vaidade excita
Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel
Aqui ninguém vai pro céu.

Não precisa morrer pra ver Deus
Não precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você

Encontro tuas nuvens em cada escombro em cada esquina
Me dê um gole de vida

Não precisa morrer pra ver Deus.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

LEMBRE-SE DE QUE VOCÊ É A FONTE



Alguém insultou você — a raiva irrompe de repente e você fervilha de raiva. A raiva está fluindo na direção da pessoa que o insultou. Agora você projetará toda essa raiva sobre o outro.

Ele não fez nada. Se insultou você, o que ele fez de fato? Só lhe deu uma alfinetada, ajudou a sua raiva a aflorar — mas a raiva é sua.

O outro não é a fonte; a fonte está sempre dentro de você. O outro está atingindo a fonte, mas, se não houvesse raiva dentro de você, ela não poderia aflorar. Se você bater num buda, só provocará compaixão, porque só existe compaixão dentro dele. A raiva não vai aflorar porque não existe raiva.

Se você jogar um balde num poço vazio, ele voltará vazio. Se jogar um balde num poço cheio de água, ele sairá de lá cheio de água, mas a água será do poço. O balde só a ajudou a vir para fora.

Portanto, a pessoa que o insultou só está jogando um balde em você, e ele sairá de lá cheio de raiva, do ódio ou do fogo que existe em você. Você é a fonte, lembre-se.

Para praticar esta técnica, lembre-se de que você é a fonte de tudo o que projeta sobre os outros. E sempre que sentir uma disposição a favor ou contra, no mesmo instante volte-se para si e busque a fonte de onde o ódio está partindo.

Fique centrado ali; não dê atenção ao objeto. Alguém lhe deu a chance de tomar consciência da sua própria raiva; agradeça-o imediatamente e esqueça-o. Feche os olhos, volte-se para dentro e agora olhe a fonte de onde esse amor ou essa raiva está vindo.

De onde ela vem? Vá para dentro de si mesmo, volte-se para dentro. Você descobrirá ali a fonte, pois a raiva está vindo dali.

O ódio, o amor ou seja o que for, tudo vem da sua fonte. E é fácil encontrar a fonte quando você está com raiva, ou sentindo amor, ou cheio de ódio, porque nesse momento você está quente. É fácil voltar-se para dentro nessa hora.

A fiação está quente e você pode senti-la dentro de você e se guiar pelo calor. E, quando atingir um ponto frio interior, descobrirá de repente uma outra dimensão, um mundo diferente abrindo-se para você. Use a raiva, use o ódio, use o amor para mergulhar em si mesmo.

Um dos maiores mestres zen, Lin Chi, costumava dizer: "Quando eu era jovem, adorava andar de barco. Eu tinha um barquinho e remava sozinho num lago. Eu ficava ali durante horas.

"Uma vez, eu estava no meu barco, de olhos fechados, meditando, numa noite esplêndida. Então um outro barco veio flutuando, trazido pela corrente, e bateu no meu. Meus olhos estavam fechados, então eu pensei. 'Alguém bateu o barco no meu'. Enchi-me de raiva.

"Abri os olhos e estava a ponto de vociferar algo para o homem, quando percebi que o barco estava vazio! Então não havia onde descarregar a minha raiva. Em quem eu iria extravasá-la? O barco estava vazio, à deriva no lago e tinha colidido com o meu. Então não havia nada a fazer. Não havia possibilidade de projetar a raiva num barco vazio."

Então Lin Chi continuou: "Eu fechei os olhos. A raiva estava ali. Mas não sabia como extravasar. Eu fechei os olhos simplesmente e flutuei de volta com a raiva. E esse barco vazio tornou-se a minha descoberta. Eu atingi um ponto dentro de mim naquela noite silenciosa. Esse barco vazio foi meu mestre. E, se agora alguém vem me insultar, eu rio e digo: 'Esse barco também está vazio'. Fecho os olhos e mergulho dentro de mim".

Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"

REFLEXÕES SOBRE MEU PAÍS



Como ficar inerte diante de tudo o que está acontecendo?

Hoje gostaria de falar de ALEGRIA, PAZ, AMOR E BEM, porém quando vejo algumas noticias me dão uma dor no coração. E olhe que muito antes deste homem assumir a presidência eu já pressentia algo e isto me  deixava já um pouco angustiada.

As notícias que vi hoje ( e olhem que não estou assistindo TV faz muitooooo  tempooo)!

Ancine libera  meio milhão de  reais  para o filme do ...., porém por outro lado, estamos vendo uma censura absurda na cultura, arte ( especificamente o cinema).

Hoje se  vive na MOREILÂNDIA onde o Rei é absoluto! Ninguém mais manda, o Rei prende, julga, condena e cuida da porta da cela.

        Infelizmente o caos parece que está institucionalizado. O Brasil foi sequestrado. A operação Lava-Jato foi montada nos EUA depois da descoberta do Pré -Sal  com o objetivo de se apoderar das riquezas nacionais e influenciar no processo político.

Vendo que nós éramos a 5ª potência  do mundo, maior potência petroleira, etc...os Americanos disseram: “ Está demais para o Brasil: Petróleo, alimentos, energia...!” Então a força tarefa começa a atuar: derruba a Presidente Dilma; prendem sem provas o ex-presidente Lula e influencia no processo eleitoral ( não deixando Lula participar das eleições e desconstruindo com fake news o Haddad e toda trajetória do PT. Sei que o PT errou... e não sou petista. Mas, não sou tão ignorante assim para não perceber as coisas...

Agora, chega o Glenn e desorganiza o jogo! Se Glenn for deportado, temos de ter cuidado com a nossa liberdade e garantias individuais .

Não gostaria de fazer parte das polaridades.. mas também não posso deixar de fazer as leituras do que está acontecendo. Vamos pensar positivo!!!  

                Bem, mais eu gostaria de falar de beleza, de gente feliz e esta semana me lembrei da história de Renato Sorriso, o gari do RJ. Escalado para trabalhar pela primeira vez na limpeza da  Marquês de Sapucaí durante o Carnaval de 1997, mal sabia ele que esse dia mudaria toda a sua vida. Na hora do desfile, ao invés de varrer a pista por onde passavam as escolas, embalado no calor do momento, ele começou a sambar com a sua vassoura na mão. O inusitado passista caiu nas graças do público, que ficou cativado com tamanha alegria e entusiasmo. Essas mesmas características hoje se tornaram sua marca registrada e explicam o nome pelo qual o gari ficou conhecido.


Renato  se formou em Turismo, tem planos para estudar Gestão Ambiental e aprofundar seus conhecimentos sobre limpeza urbana. Apaixonado pela profissão, o gari continua a exercê-la até hoje e diz que não abre mão dela – nem da sua vassoura – por nada!

             Renato hoje dá palestras motivacionais e percebemos nele o real estado de realização. A nossa felicidade e o nosso bem-estar estão diretamente ligados ao prazer que temos ao fazermos nosso trabalho. Fazer o que gosta, é libertador. Gostar do que faz é felicidade.

Mesmo com a fama, até hoje, ele varre a mesma praça e sabe reconhecer de onde veio: “ É da vassoura que eu varro meu chão, é da vassoura que eu sustento o meu pão”, revelou.

            Diz Renato Sorriso “Virei gari. Para mim, lixeiro é quem joga lixo nas ruas, vive na sujeira e não dá valor ao nosso trabalho".
             Gostaria que todos os brasileiros hoje, pudessem ter no  rosto um sorriso e a esperança  de que o nosso país pode mudar. 

Abaixo, para complementar, Rubem Alves dá o seu parecer sobre o que é uma pessoa feliz.

                De vez em quando um leitor me faz uma pergunta via e-mail. Sobre os assuntos mais variados: religião, psicanálise, casos amorosos... Podendo eu respondo. Um leitor me fez a pergunta "O que é uma pessoa feliz?" Pensei: "Essa é fácil". Ele já me havia enviado duas cabeludas, cujas respostas inevitavelmente iriam fazer algumas pessoas franzir a testa em desaprovação. Mas esta, "o que considero uma pessoa feliz?", é fácil. Afinal de contas sou um psicanalista; devo ter conhecimento especializado sobre o assunto. Mas bastou que eu parasse para pensar, e descobri que ela é, talvez, a pergunta mais difícil que pode ser feita.Posso responder à pergunta de maneira geral e abstrata: uma pessoa é feliz quando faz o que lhe dá prazer e quando vive uma relação de amor-amizade com alguém. Essa definição, que considero verdadeira, nunca se realiza. A gente não está nunca fazendo só o que gosta. A vida nos obriga a fazer muitas coisas desagradáveis, a engolir sapos. Eu mesmo tenho, em meu estômago, vários sapos vivos, não digeridos, que continuam a mexer e a coaxar. Além disso, essa relação de amor-amizade só acontece em momentos ou períodos curtos. Ela é logo interrompida por uma série de fatores indesejáveis que nos tornam intolerantes, irritadiços, rabugentos, distantes. Essa transformação se revela na mudança da música da fala.Descrição: clique aqui

              "Felicidade mesmo, ser feliz como estado permanente, não existe. Acontece em raros momentos de distração" (Guimarães Rosa).Mas eu sei de duas condições sem as quais esses raros "momentos de distração" - são eles que dão sentido à vida - não podem acontecer.Primeiro, é preciso que a gente tenha alegria no que está fazendo. Quando a gente tem alegria no que está fazendo, a gente faria a coisa mesmo que não ganhasse nada. O fazer dá prazer. Rubinstein, pianista maravilhoso, tinha 20 anos de idade quando sua certidão de nascimento indicava 85... Entrevistado, disse brincando ao seu entrevistador: "Não conte ao meu empresário. Eu seria capaz de pagar para tocar piano..." Para ele o seu trabalho era um brinquedo. Babette cozinhava não pelo salário. Cozinhava porque isso lhe dava alegria. Até gastou um prêmio de loteria para dar um banquete...Descrição: clique aqui

              Mas há uns trabalhos que a gente faz não pela alegria que o trabalho dá, mas por causa do produto final. Uma pessoa que trabalhe por causa do dinheiro que vai ganhar é o exemplo típico. Para tal pessoa, o que importa não é o que ela está fazendo, se é marcenaria, construção, ensinar, psicanalisar, vender drogas, advogar, fabricar colchões ou chicletes. Ela trocaria prazerosamente o que está fazendo por outra atividade totalmente diferente, desde que a outra lhe desse mais dinheiro. Melhor seria se ela ganhasse na loto - R$40.000.000,00 - para não precisar mais trabalhar pelo resto da vida. para tais pessoas o trabalho não é brinquedo; é trabalho forçado. Elas não sabem que o preço dessa inatividade rica é o tédio. Estão condenadas à infelicidade. Sobre isso leia os Manuscritos filosóficos de Marx, de 1844. Segundo, é preciso que a gente ame e seja amado. Amar e ser amado é isso: pensar numa pessoa ausente e sorrir. Ficar feliz sabendo que ela vai voltar. Ter alguém que escute e dê colo, sem dar conselhos. Andar de mãos dadas conversando abobrinhas. Olhar nos olhos da pessoa e sentir que eles estão dizendo: "Como é bom que você existe!". Jogar frescobol com ela. Ser, simplesmente, sem pensar que há um par de olhos nos vigiando para nos cobrar algo. Conversar madrugada afora, sem pensar em sexo. Guimarães Rosa disse mais ou menos o seguinte: "A coisa não está nem na partida e nem na chegada. Está na travessia". A felicidade não acontece no final, depois da transa, depois do casamento, depois do filho, depois da formatura, depois de construída a casa, depois da riqueza, depois da viagem. A felicidade acontece no dia-a-dia. Felicidade é fruto na beira do abismo. É preciso colhê-lo e degustá-lo agora. Amanhã, ou ela já caiu, ou você já caiu...Descrição: clique aqui

ENTREVISTA AO NETO DE NELSON MANDELA: ESTE NÃO È O MUNDO PELO QUALO MEU AVÔ LUTOU




Ndaba conheceu o avô Mandela na prisão e aprendeu com ele a ser um líder. Hoje, viaja pelo mundo a falar de Nelson Mandela às novas gerações. Em entrevista ao Observador, compara Trump ao apartheid. O peso de um apelido pode ser esmagador. Ndaba Mandela, um dos 17 netos de Nelson Mandela, sabe-o bem. Nunca se distanciou do nome do avô — pelo contrário, agarrou o testemunho, criou a fundação Africa Rising e dedica-se a manter vivo o legado do homem que derrotou o apartheid. Hoje, viaja pelo mundo para falar aos mais novos sobre ele. Foi, aliás, o próprio Nelson Mandela quem o avisou, desde tenra idade, para que se preparasse para o que aí viria. “Lembro-me de que uma vez ele disse-me mesmo: ‘Ndaba, és meu neto, por isso as pessoas vão olhar para ti como um líder. Por isso, tens de ter as melhores notas da turma'”, diz Ndaba Mandela, 36 anos, numa entrevista ao Observador durante uma passagem por Portugal. A visita a Portugal deveu-se à inauguração do Bosque Madiba, um projeto ambiental desenvolvido pela Associação Patrulheiros na Mata do Buçaco, que alia uma homenagem a Nelson Mandela — são 100 árvores, plantadas por 100 personalidades, para contar 100 episódios da vida do primeiro presidente democraticamente eleito da África do Sul — à sustentabilidade, já que inclui um parque para educar as crianças no uso da bicicleta. Um dos principais objetivos da Associação Patrulheiros, como explicou o líder, José Nuno Amaro, ao Observador, é promover a utilização da bicicleta desde a infância. Em entrevista na redação do Observador, após aterrar em Lisboa e antes de seguir para o concelho da Mealhada para a inauguração, Ndaba Mandela lembrou como conheceu o avô na prisão que não parecia uma prisão, recordou a vida com Nelson Mandela — incluindo quando o avô o mandava arrumar o quarto — e lamentou que o mundo de hoje não seja aquele pelo qual Madiba lutou. O neto de Mandela compara a atuação de Donald Trump na fronteira entre os EUA e o México a um novo apartheid e diz que os líderes europeus têm de reconhecer que estão na origem da crise dos refugiados. E lembra um dos maiores momentos de orgulho da sua vida: aquele em que levou pela primeira vez com gás lacrimogéneo e se sentiu plenamente parte da luta anti-racismomeuip

A maioria das pessoas que são conhecidas por serem o filho ou o neto de alguém importante arriscam sempre que o apelido se sobreponha à sua própria identidade — e nem sempre gostam. O Ndaba, pelo contrário, tem dedicado a sua vida a lutar para manter vivo o legado do seu avô Nelson Mandela. Tenho de lhe perguntar: como é levar consigo o apelido Mandela?
 Ter o apelido Mandela implica uma grande responsabilidade e, claro, as pessoas têm grandes expectativas sobre o tipo de vida que nós devemos levar. Muitas pessoas no meu país querem que nós sigamos as pegadas do nosso avô e nos candidatemos a cargos públicos ou a algum tipo de cargos de liderança no Governo. 

Já pensou nisso? 
Já pensei em assumir cargos públicos e acredito que, se a necessidade surgir, faremos o que é necessário para representar o nosso país da melhor forma que conseguirmos. 

Sente-se maior do que si próprio, maior do que apenas o Ndaba? 
Não. Sou o Ndaba. Sou um produto de Nelson Mandela, fui criado por ele desde os 11 anos de idade, e por isso os valores e os princípios dele tornaram-se os meus. 

Quando o Ndaba nasceu, o seu avô ainda estava na prisão. Quais são as primeiras memórias que tem dele? Na primeira vez que fui conhecer o meu avô, os meus pais disseram-me que nos íamos encontrar com ele na prisão. Com 8 anos de idade, tinha uma imagem típica do que seria uma prisão: barras de cimento, segurança por todo o lado, guardas-prisionais, cães. Mas, quando lá cheguei, não era nada como tinha imaginado. Era, na verdade, uma casa. 

Dentro da prisão.
 Eu não percebia que eles o tinham tirado de Robben Island [prisão onde Nelson Mandela esteve preso 18 anos] e o tinham posto naquela casa [prisão de Victor-Verster] sozinho. Eles estavam a tentar quebrá-lo mentalmente. Para lhe dizerem: ‘Nelson Mandela, agora és um homem velho, vive o resto dos teus dias no meio do luxo, denuncia o movimento do ANC [Congresso Nacional Africano, partido anti-apartheid no poder desde 1994], denuncia a luta contra o apartheid, denuncia os teus próprios camaradas, a quem dedicaste a luta contra o apartheid‘. 

Cinco anos antes de ter sido libertado, ofereceram-lhe a possibilidade de ser libertado e ele recusou, disse que só saía se também saíssem os companheiros. O que é preciso para que alguém que esteve preso mais de 20 anos recuse uma oferta destas? 
É porque Nelson Mandela era muito focado no seu objetivo. Nunca perdeu o foco no objetivo. O objetivo era ter a oportunidade de serem reconhecidos como cidadãos iguais perante a lei. Como pessoas negras, como pessoas brancas, como indígenas, como pessoas de raça mista. Que todos tenham as mesmas oportunidades, independentemente da cor da pele. Ele dedicou a vida dele, sacrificou a sua própria família, pelos direitos da família maior da África do Sul. 
                                     
                            "Foi a primeira vez que senti o gás lacrimogéneo e senti-me tão 
                                 orgulhoso de ter a primeira memória do gás lacrimogéneo. 
                                A partir daquele momento, eu senti que era um camarada 
                                  a marchar  e a tentar fazer ouvir a minha posição contra 
                                                 os racistas, o Governo e a polícia" 

Fale-me da sua infância enquanto criança negra sob o regime do apartheid. 
Ao viver durante o apartheid, experienciei e testemunhei a polícia a prender o nosso povo todos os dias. Prendiam-nos nas casas, nas ruas, e fiquei muito perturbado com isto. Por isso, queria tornar-me um soldado, queria ripostar contra os mesmos criminosos que estavam a atingir o nosso povo, sem qualquer razão para nos estarem a tratar assim. Lembro-me de que quando era criança houve uma marcha na rua, e juntei-me à parte de trás da marcha com os meus amigos. Quando chegámos ao topo da rua, estava lá um enorme carro da polícia, a que costumávamos chamar os “hippos“, e no topo do carro apareceu um polícia e disparou gás lacrimogéneo contra a multidão. A multidão dispersou e, claro, nós voltámos para trás a correr, para a nossa rua. Foi a primeira vez que senti o gás lacrimogéneo e senti-me tão orgulhoso de ter a primeira memória do gás lacrimogéneo. A partir daquele momento, senti que era um camarada a marchar e a tentar fazer ouvir a minha posição contra os racistas, o Governo e a polícia. 

E a sua família estava particularmente exposta por causa do seu avô? 
Sim. O nome do nosso avô era uma fonte de dor e de assédio. Por isso, nunca falávamos do nosso avô. Só ouvi falar do meu avô quando o fomos visitar à prisão, pouco antes de ele sair. 

Era um tabu na sua família? 
Era tabu. Tem de entender que, a dada altura, antes de ir para a prisão, Nelson Mandela era o inimigo público número um. 

Um líder revolucionário
Percebe? E, por isso, a família dele estava em risco. A nossa família sofreu muito com o assédio e a subjugação da polícia. Percebe o que estou a dizer? 

Lembra-se do dia em que ele foi libertado da prisão? 
Foi um dia glorioso. Foi um dia de celebração, um dia de triunfo. Lembro-me de que toda a gente estava nas ruas. Crianças, tias, tios, primos. Até os gatos e os cães estavam aos saltos nas ruas, a celebrar a libertação deste homem. 

Quantos anos tinha? 
Tinha oito anos. 

E o que sentiu? 
Senti-me muito orgulhoso. Também estava no desfile, a fazer assim [agita o punho no ar], porque vi o meu avô a fazê-lo e estava a fazer a mesma coisa, com o punho direito no ar. Foi um momento de muito orgulho para nós e para todo o país. 

Depois disso viveu com ele diariamente? 
Desde o momento em que ele foi libertado, passaram três anos até o ver de novo.meuip


O que aconteceu nesses três anos? 
Voltei à minha vida normal e ele, claro, andou por todo o mundo a angariar dinheiro e a chamar a atenção para a luta contra o apartheid e para eles trabalharem no sentido de se fazerem as primeiras eleições democráticas na África do Sul. 

E a partir daí como foi a vida diária com ele? Nós conhecemos a imagem pública de Nelson Mandela e a sua luta contra o apartheid. Mas como era viver com ele, estar com ele em casa? 
O meu avô era muito rigoroso. Lembro-me de que ele passava pelo meu quarto, olhava e via que as minhas coisas estavam desarrumadas, e chamava-me sempre para garantir que ficava tudo arrumado. O principal objetivo dele era garantir que eu tinha boas notas na escola. Lembro-me de que uma vez ele disse-me mesmo: “Ndaba, és meu neto, por isso as pessoas vão olhar para ti como um líder. Por isso, tens de ter as melhores notas da turma”. E fiquei: “Wow, avô, pressão, pressão, wow, wow! Não estou pronto para fazer isso. Não quero ser um líder”. Mas ele dizia-me, desde uma tenra idade, que tinha de me preparar para ser um líder. “Porque esse é o teu destino, meu filho.” Penso que ele pegou em mim, me criou, para me ensinar estas lições, porque acreditava que o trabalho tinha de ser continuado e que alguém teria de continuar este trabalho. 

Agora, dedica a vida a manter o legado dele vivo. Como é que aprendeu mais sobre o seu avô? Através da interação diária com ele ou pelo que lia sobre ele fora de casa?
 Não. Cresci com o meu avô a partir dos 11 anos. Ao viver com ele, percebi exatamente o tipo de homem que ele era. 

Hoje, o Ndaba anda por todo o mundo a falar às novas gerações sobre o seu avô. O que é que os mais novos sabem sobre Nelson Mandela? Penso que a maioria dos mais jovens apenas sabe que Nelson Mandela foi o primeiro presidente democraticamente eleito na África do Sul, que era negro, que representa o país e que passou 27 anos na prisão. Acho que não sabem muito mais do que isso.

 E como explicaria às novas gerações quem ele foi? 
Diria que Nelson Mandela é um homem que dedicou a sua vida a criar uma sociedade que trata as suas pessoas de forma igual. Diria que Nelson Mandela foi à escola pela primeira vez sem sapatos, a usar as calças do pai, e cresceu para se tornar um dos maiores, mais amados e mais respeitados líderes, porque se dedicou a garantir que todas as pessoas da África do Sul tinham oportunidades iguais. Diria que Nelson Mandela acredita que nos devemos dedicar a garantir que os jovens têm uma voz, que os jovens têm as oportunidades e têm acesso às ferramentas para serem capazes de quebrar o ciclo da pobreza. Em última análise, que os jovens tenham espaço para sonhar e para perseguir os seus sonhos até se tornarem uma realidade. 

Começou por dizer que carregar o apelido Mandela traz uma responsabilidade. Esta responsabilidade é sentida por todos os membros da vossa família? 
Não sei, não posso falar em nome dos membros da minha família. Posso falar em nome de mim próprio. Mas claro que a nossa família tem um maior motivação para fazer o bem, para contribuir para o desenvolvimento da nossa comunidade. 

O que é este projeto do Bosque Madiba, que o traz a Portugal? 
A nossa organização, Africa Rising, fez uma parceria com a associação Patrulheiros, que é uma organização dedicada a garantir que temos um bom ambiente e mobilidade, usam bicicletas de maneira a usarem a energia de uma forma consciente, que não degrade o ambiente, que proteja o ambiente. Sinto que é muito importante fazê-lo, porque não há muitas pessoas conscientes da forma como usamos a energia de forma segura, consciente, que não impacte negativamente a Terra. Também é uma parte do mundo em que ainda não tinha estado, é a minha primeira vez em Portugal, mas tive muita sorte em conhecer o líder da Patrulheiros no Mónaco, há uns anos atrás. Temos trabalhado neste projeto desde essa altura. Estou muito feliz por finalmente acontecer. 

Acha que, se Nelson Mandela fosse vivo hoje, nos seus dias de juventude, as alterações climáticas seriam uma prioridade para ele? 
Não me parece que as alterações climáticas fossem uma prioridade para ele. Porque a nossa prioridade era o bem-estar do nosso povo. Essa é a primeira prioridade. Depois, em segundo lugar, essas pessoas teriam acesso à educação e seriam capazes de desenhar e viver a vida que quiserem. Temos de entender que temos causas diferentes. Eu quero cuidar das pessoas, você quer cuidar do ambiente, ela quer tratar dos animais. Ao trabalharmos juntos, criamos um mundo melhor. É importante que também tenhamos causas diferentes e afinidades diferentes a causas diferentes. 

O que vai acontecer no Bosque Madiba, qual vai ser o objetivo do projeto? 
Bom, cheguei esta manhã e ainda estou a perceber tudo o que vai acontecer no bosque, mas penso que haverá uma pequena cerimónia que envolve as árvores. Como sabe, as árvores representam a vida, são uma grande fonte de recursos para a comunidade, por isso vai ser uma cerimónia simbólica em que usamos árvores para representar a vida de Nelson Mandela, os diferentes momentos da vida dele. 

                                     "Este não é o mundo pelo qual o nosso avô lutou. 
                            O nosso avô lutou contra o preconceito e vemos preconceito, aqui, hoje

Quando alguém com o apelido Mandela olha para o mundo de hoje, parece-lhe que este foi o mundo pelo qual o seu avô lutou? 
Não. Este não é o mundo pelo qual o nosso avô lutou. O nosso avô lutou contra o preconceito e vemos preconceito, aqui, hoje. 

Há novos apartheids no mundo? 
Há apartheids. Quando olhamos para o Brasil, as pessoas negras são marginalizadas. Quando olhamos para um país como o Saara Ocidental, que tem sido dominado por Marrocos. Quando olhamos para a discriminação que acontece na América contra os jovens negros, contra os mexicanos, por um líder muito egoísta que não tem visão. 

Compara Donald Trump ao regime do apartheid na África do Sul? 
Definitivamente. Ele é algo como um Pieter Botha, como um de Klerk, [presidentes sul-africanos do tempo do apartheid] e às vezes até como um Zuma [presidente sul-africano que renunciou em 2018, investigado por crimes relacionados com a compra de armas na década de 1990]. 

E quando olha para a crise dos refugiados na Europa, qual deve ser a solução para acabar com esta crise? 
Os europeus têm de entender que foram eles que criaram este problema. Não foram os africanos que criaram este problema. Foram os europeus que colonizaram África, foram os europeus que roubaram os recursos de África, foram os europeus que usaram os recursos que foram buscar a África para construir os seus próprios países. Não deixaram nada para trás. Por isso, quando estas pessoas procuram melhores oportunidades para os seus filhos, vão para a Europa. Para a Europa ser capaz de matar este problema, tem de investir e garantir que há escolas de alta qualidade em África, que há instituições que construam a economia. Só aí vão ver este problema desaparecer. Mas até a Europa assumir responsabilidade por este assunto, ele não vai desaparecer. 

Por exemplo, quando olha para alguns líderes europeus mais ativos na campanha anti-refugiados… 
Isso é ser anti-humano. Ser anti-refugiados é não reconhecer outros seres humanos. E, por conseguinte, não reconhecer a própria humanidade. Tenho uma responsabilidade, enquanto africano, de lembrar a Europa exatamente de onde é que ela vem. Exatamente o que são. Têm de entender que o Ubuntu é um valor ancestral em que nós, africanos, dizemos: “Eu sou, porque tu és, porque nós somos”. Não há nenhum homem que exista numa ilha, em isolamento. Percebe o que digo? 

Vivemos em relação uns com os outros. 
A sociedade, esta comunidade em que vivemos, em que estamos agora, foi construída por seres humanos a trabalhar em conjunto. 

O trabalho do seu avô na África do Sul pode ser uma inspiração para resolver estes problemas no resto do mundo? 
A 100%. Acredito que a razão pela qual Nelson Mandela é tão amado e admirado por todo o mundo é porque eles vêm o exemplo de liderança, que é uma liderança de serviço. Temos de encontrar uma forma de inspirar os jovens a liderar com os valores e à luz de Nelson Mandela. 

Queria voltar à sua juventude na África do Sul. Quando foi para a universidade, já foi depois do fim do apartheid… 
Sim.
                       
                "Os europeus têm de entender que foram eles que criaram 
                           este problema. Não foram os africanos que criaram este problema. 
                        Foram os europeus que colonizaram África, foram 
                               os europeus que roubaram os recursos de África" 

Quando estava na universidade, como era a sua relação com os seus colegas? Sabiam que era neto de Nelson Mandela? Como reagiam a isso? 
Alguns sabiam, outros não sabiam. Os que sabiam tinham reações diferentes. Uns gravitavam à minha volta, queriam conhecer-me. Os outros tinham simplesmente inveja de mim, viam-me como alguém mimado e que não queria saber de nada. 

Até que idade viveu com o seu avô? 
Fiquei com o meu avô desde os 11 anos até ao fim dos dias dele. 

Qual foi a maior lição que aprendeu com ele a nível pessoal? 
Ele ensinou-me muitas grandes lições. Mas uma das que se destacam é que ninguém nasce a odiar outra pessoa por causa da cor da sua pele. Uma pessoa pode ser ensinada a odiar e pode ser ensinada a amar. O amor aparece muito mais naturalmente na condição humana do que o ódio.

 Depois do fim do apartheid, ainda sentiu preconceito na sociedade sul-africana? Ainda há preconceito, dos sul-africanos brancos contra os sul-africanos negros. Ainda há preconceito em todo o mundo. As chamadas sociedades avançadas, a América, a Europa, ainda mostram muito preconceito. Portanto, na minha opinião, não são assim tão avançadas. 

Diz que temos de nos entender uns aos outros, de entender de onde viemos. Como é que conseguimos fazer isso concretamente? 
O que sugeriria em concreto se tivesse uma reunião com Donald Trump ou com outros líderes? Lembrar-lhes-ia que o país deles foi construído por países de todo o mundo, e que é uma posição vergonhosa aquela em que estão. Construíram este grande país, usando as mãos de imigrantes de todo o mundo, e agora que construíram um grande país, dizem-lhes para voltarem para o país deles. É uma vergonha.meuip

Calculo que devido ao seu trabalho nos dias de hoje já se tenha encontrado com vários líderes mundiais, e tenho a certeza de que muitos dizem que o admiram por ser o neto de Nelson Mandela. Sente uma contradição nos líderes que dizem admirar Nelson Mandela e depois praticam este preconceito? 
Claro que há uma contradição. Eles não admiram verdadeiramente Nelson Mandela, apenas gostam da imagem deles ao lado de Nelson Mandela, porque sabem o quão amado e respeitado ele é. Só o fazem por causa da forma como o mundo se sente em relação a Nelson Mandela. Mas eles não olham para Nelson Mandela da mesma forma. É uma forma de chegar às pessoas.

 É uma forma de chegar às pessoas
Estão a usá-lo como um veículo, como uma ferramenta. Mas não se preocupam sinceramente com as pessoas e não entendem qual é a posição e a responsabilidade de um líder.

 Lembra alguma conversa com um líder mundial em que isto tenha sido um tema?
 Conheci muitos líderes em África e em diferentes partes do mundo. Mas é como digo: os que são sinceros vão seguir os passos de Nelson Mandela cuidando do seu povo. É a melhor coisa de Nelson Mandela. Ele tinha compaixão. Consegue imaginar na minha casa. Fui visitado pelo Michael Jackson. Fidel Castro, conheci-o na minha própria casa. Mike Tyson, o príncipe Alberto… É dizer os nomes. 

Iam a sua casa. 
Iam conhecer o meu avô e eu estava lá para os conhecer também. Nelson Mandela, por causa da grande compaixão que tinha, tratava estas super-estrelas, estes líderes do mundo, da mesma forma que tratava a cozinheira. Nelson Mandela entendia que, independentemente da agenda, da idade, de toda a sociedade e a demografia, todos temos a capacidade de alcançar a grandeza. ------------------- 

Reportagem Por João Francisco Gomes Fonte: https://observador.pt/especiais/entrevista-ao-neto-de-nelson-mandela-este-nao-e-o-mundo-pelo-qual-o-meu-avo-lutou/meuip

POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...