sábado, 30 de março de 2019

BIOGRAFIA : CÂNDIDO PORTINARI



      

              Candinho, como era apelidado, era filho dos imigrantes italianos Dominga Torquato e Giovan Baptista Portinari, que vieram de Vêneto com a promessa de trabalho oferecida pela política pública do Estado de São Paulo, que buscava novos braços estrangeiros para a lavoura após o fim da escravidão no fim do século XIX. Por isso, ele e seus onze irmãos nasceram em meio à lida, o que marcou muito a memória do “menino de Brodowski”, que começou a pintar aos nove anos de idade.

             Foi na lavoura que conheceu as personagens que viria a retratar com frequência e que quase nunca apareciam em obras de arte: negros fortes que continuaram a trabalhar no cafezal, os retirantes nordestinos que peregrinavam em busca de trabalho, as mães de cor escura com seus filhos que brincavam nos cafezais, entre outros. Como um detalhe importante, exagerava nas formas dos pés, que eram grandes e fincados na terra. Ao mesmo tempo em que exaltava a força única dos negros, denunciava que o trabalho exaustivo deformava as pessoas. Essa técnica é bem marcante na famosa tela “O Lavrador de Café” (1934). O trabalhador sequer encara o observador, pois está focado no trabalho.
“Eram obras de engajamento social, uma forma de criticar quem explora e exaltar quem trabalha”, explica Camila Bechelany, uma das suas curadoras.
              Portinari decidiu retratar o Brasil da cafeicultura, o pilar mais sólido da economia nacional da época, mas não pela riqueza e prosperidade econômica. A cultura era o pano de fundo da crítica social que fazia sobre o trabalho à exaustão. Contava ali a relação de devoção dos trabalhadores à terra da qual nunca seriam donos. Por isso, buscava não atrapalhar a lida.


             “Meu pai sempre foi um observador, pintava suas lembranças de quando era pequeno. Ou passava horas observando os trabalhadores para depois chegar em casa e pintar. Ele tinha vergonha de fixar o cavalete ao lado dos camponeses e atrapalhar o trabalho deles. Ele olhava, guardava de lembrança e pintava em casa. Sentia que ofendia aquelas pessoas que estavam ralando e ele ali pintando”, conta João.

Apesar de achar que seu trabalho pudesse “incomodar” quem estava dando duro no cafezal, era através da arte que Portinari defendia os tipos populares. “Na minha obra só há camponês. Mesmo quando faço outra coisa, sai camponês. Mesmo uma paisagem, a mais imaginária, é sempre camponês. Sou filho de camponês. Meus pais sempre foram camponeses pobres. [...] Assim, não posso nunca esquecer-me deles. São o meu objetivo. Quando fiz os afrescos do Ministério da Educação, queriam que eu fizesse a História do Brasil. Tentei. Mas foi impossível. Não saía nada. Depois de estudos e estudos, nada. Então tive de dizer: a minha pintura é pintura de camponês; se querem os meus camponeses, bem. Se não, chamem outro pintor…”, disse na década de 1950, quando pintou o afresco que decora o Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, na época a capital do país.

               Mas era nos retratos por encomenda de onde tirava o sustento e a verba para continuar pintando o que gostava: o povo. Eram cafeicultores que pagavam bem por uma tela. “Se pegarmos o cronograma das telas de Portinari, há sequências em que ele pinta café e outras culturas, depois uma sequência de retratos por encomenda, e depois retorna a pintar o que gostava. Era uma forma de se abastecer para pintar, comprar os materiais”, explica João Portinari.

             Portinari tentou entrar na vida pública brasileira, ao se candidatar ao Senado pelo PCB, em 1945. Perdeu por um número pequeno de votos, em uma eleição cheia de fraudes como era comum naqueles tempos. O governo do presidente Eurico Dutra passou a persegui-lo, tendo o artista que se exilar no Uruguai. Ao ser convidado, em 1949, para participar da Conferência Cultural e Científica para a Paz Mundial, em Nova York, EUA, teve o visto negado pela embaixada americana. Anos depois, foi impedido de entrar na França. Só poderia entrar no país por um período de 60 dias, desde que não fizesse nenhuma declaração política. Naquela época vivia-se o clímax da Guerra Fria.

             Quando os painéis Guerra e Paz foram inaugurados nos EUA, a embaixada daquele país impôs uma condição para que Candido Portinari estivesse presente e recebesse os prêmios que ganhara: que se declarasse desvinculado do PCB. Mas, embora não mais tivesse ligação com o partido, ele recusou tal imposição.

           No quadro apresentado , produzido no ano de 1944, Portinari expõe o sofrimento dos migrantes, representados por figuras magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos como a fome e a miséria. Na tela é possível identificar nove personagens, todos apresentados de maneira cadavérica, sendo dois homens adultos, duas mulheres adultas e cinco crianças, das quais apenas uma tem o sexo identificado. A obra apresenta um embate entre o sagrado e o profano, sendo o primeiro representado pela família e o segundo pela situação precária e a morte iminente, que se mostra nesse cenário de sofrimento. É possível perceber também a representação do ciclo da vida, que se inicia com a criança na cena e se encerra na figura cadavérica do personagem mais idoso da composição.




         “Criança Morta”, uma obra dessa série é um exemplo desse vigor e da critica contundente que o pintor registrou nas suas telas.Os emigrantes da região Nordeste do Brasil que, assolados pela seca, abandonam suas terras em busca de melhores condições de vida, sem sucesso.Uma família constituída por seis pessoas – pais e irmãos – seguram uma criança morta nos braços.Eles choram. As lágrimas parecem pedrinhas de tão grande que são.Portinari pintou as lágrimas muito maior do são na realidade para mostrar o quanto é grande o sofrimento das pessoas, que estão com fome e cansadas.As mãos do pai que seguram a criança representam o ponto principal da obra.Ao olhar para ela, a primeira coisa que você verá é a criança morta. Isso porque as mãos são exageradamente grandes e desproporcionais, já o restante do corpo é normal. Pelo predomínio dos tons de terra que marcam a parte inferior da tela, pelas lágrimas da menina e, principalmente, pelo aspecto tenebroso das figuras humanas, que oscila do cadavérico ao fantasmagórico.Um quadro comovente de luta entre a vida e a morte.


Movimento Expressionista.

Portinari expressa os dramas do povo brasileiro, e retrata com a sua forma chocante de ver, o que ocasionou forte repercussão na época, visto que a sociedade (1944) não estava preparada para o realismo dos pincéis do pintor.

Um dia perguntaram a Portinari por que ele pintava gente tão feia e miserável e ele respondeu que fazia porque, olhando o mundo, era só o que via: miséria e desolação.Candido Portinari sofreu perseguições por parte do governo, justamente por pintar e chocar a miséria em seus quadros.

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