Mais uma vez Gibran nos
surpreende, porque nós sempre esperamos da DOR uma associação necessária com
algo negativo e ele já começa negando
categoricamente isso. Ele coloca a dor como uma das coisas mais positivas que
temos na vida. A gente só vai entender isso se trocarmos a nossa lógica de
vida, o nosso sentido de vida.
No nosso sentido de vida Moderno,
felicidade está associada ao prazer. Para pensadores clássicos, e Gibran se
inscreve nessa linha de pensamento; o sentido da vida está no crescimento,
então o que é bom, não é o que é agradável para você, mas o que te faz crescer.
Se algo te faz crescer, isto é tremendamente positivo, ainda que não tivesse
sido agradável. Essa associação que fazemos do bom com o agradável, é terrível!
Sempre se definiu à formação de
caráter como ensinar o homem a gostar dp bem e rejeitar o mal. Como nós não
recebemos essa formação de caráter, nós gostamos de muitas coisas que são
péssimas para o nosso crescimento, então o nosso bem não tem nada a ver com o
que é agradável para nós. Então é curiosos como a gente percebe isto nas palavras.
A maneira como nós nos cumprimentamos hoje em dia, é um exemplo. Se você for
observar ao longo da história, quando você é apresentado a uma nova pessoa, em
geral, a civilização reserva uma palavra muito especial para este momento.
É um desejo que você está
expressando para aquela pessoa, os melhores desejos por ela, que para aquela pessoa, os melhores desejos por
ela, que no momento entra na sua vida. Você percebe em civilizações como a
India -Namastê ao divino( o Deus que
há em mim saúda o Deus que há em ti); em Roma - Ave- ao Sagrado; entre os árabes –as salom alaykon – que a paz esteja com você; entre os Incas –ama sua, ama llulla, ama quella- não
sejas mentirosos, não sejas ladrão, não sejas ocioso... Imagina, toda vez que
você conhece alguém dizer isto? É uma autodisciplina por repetição. Porque a partir do momento que você pensar em
ser mentiroso, vai ter um choque de tanto que se repete isto. Este momento de
cumprimentar, é um momento muito especial dentro da linguagem em todas as civilizações do mundo. Hoje
quando você é apresentado a uma pessoa nova, você diz: “ muito prazer em
conhecer”, ou seja, o que eu tenho mais sagrado, nobre e divino, eu desejo a
você. E o que é isto? “O Prazer”.
Então, a felicidade é o
prazer; a dor é o diabo. Não poderia ser outra coisa. Percebem que tem um
ditado popular que diz: “a necessidade é quem ensina o sapo a pular”, ou seja,
as necessidades estão associadas a algo pedagógico: em duas gerações perdemos
isto.
Hoje as dificuldades é algo que você tem de se poupar
dela a qualquer preço, porque a felicidade está diretamente associada ao
prazer.
Então, dentro de uma sociedade
onde a tônica não é crescer, mas ficar confortável, não é incomum quando você
tenha qualquer tipo de dor e procure ajuda, essas pessoas querem te ajudar a se
libertar da dor e não a crescer através dela.
Se seu percebo que você tem
uma dor psicológica dentro de umas certas abordagens de certas terapias, eu
quero libertar você dessa dor e não ajudar a você a passar através dessa dor.
Muitas vezes você transfere a
responsabilidade da dor para um fator externo, que pode causar um certo alívio,
mas tira qualquer possibilidade de ação.
Se eu acho um culpado para
minha dor, quem tem de mudar é ele, não eu. Imaginem que alguém colocou a mão
na parede e fez uma sujeira, aí eu pergunto: “quem foi” busco procurar as
causas. Então descubro e não faço nada para limpar. Deixa essa sujeira aí,
enquanto alguns dizem: “nossa, como está feio.” Então falamos: “Foi Fulano”.
Achamos o culpado e nos acomodamos, ou seja, nem sempre crescer está associado
exclusivamente à análise voltada para o passado. Quando você descobre as causas
de um problema e não está imbuído de vontade de crescer, você pode tomar nesta
causa um comodismo, já achei um culpado e me acomodo.
Vontade de crescer está mais
baseada em síntese voltada para o futuro , do que em análise voltada passado.
Se não há esta síntese voltada para o futuro, não há reação. Não importa como
eu entrei neste problema, o que importa é que irei sair...chegar lá... por
quê? Porque quero. E se necessito das
causa para sair, a Natureza se encarrega de trazê-las à tona no meu consciente.
Porque a Natureza trabalha isto.
É um conceito yunguiano que é
a sincronicidade, quando você alavanca na direção do crescimento como ser
humano, a natureza se movimenta para te trazer as ferramentas que você precisa.
Os contos de fada retratam bem isto. O príncipe diz: “Vou salvar a princesa do
dragão, da bruxa” é um obstáculo descomunal e ele é só um rapazinho, mas a
determinação dele é tão nobre que ele no caminho vai encontrando as armas
mágicas: uma capa que o torna invisível, uma espada que tem poderes, um escudo,
ou seja, vão aflorando seus poderes latentes. Vão aflorando os elementos que
ele necessita saber para chegar lá e ter vitória.
Por quê? Porque ele se
movimentou. A projeção da vontade humana traz à tona as ferramentas que
necessitamos. E se não há esta vontade...
Tem um provérbio muito antigo
que diz: “ O homem entra no problema por diversas vias e você só sai por uma,
que é a vontade. (Determinação, vontade e garra, é o que vai te tirar de um
problema).
A dor é um veículo de
consciência, segundo a filosofia budista.
Ficar detido pela dor é
morbidez.
Imagine que o prof. De
Matemática dá ao seu filho uma operação-problema, logo, ele tem de resolvê-la.
Ele não tem de ficar detido pela operação; aí começa a vitimização e todos os
vícios que se tem na sociedade...
Já percebeu uma coisa
interessante: Se a dor, se você permanecesse dentro dela, você crescesse...
Todas as pessoas que sofrem no mundo seriam sábias. Não é a dor em si, mas a
maneira como você lida com ela; é a disposição de entrar nela e sair do outro
lado maior.
A preocupação do Buda era que
a dor tivesse uma solução, um novo sentido, levasse o homem a algo mais
permanente. O paradoxo dele perder todas as coisas dos quais ele estava
apegado, gerasse nele um ato de consciência para buscar aquilo que ele não pode
perder. Se não gera, é um masoquismo.
Cada ano da sua vida você está
mais próximo de perder tudo, e não tem nenhuma compensação? Não tem nada?
Cada dia estou mais próximo de
perder tudo. E o que ganho? Nada? É desesperador.
A dor é um elemento para
incentivar o salto da consciência (permanecer dentro dela não é sadio).
Nós podemos perceber isto,
pois nem todo mundo que sofre fica mais sábio por isso. Ela convida a crescer,
não obriga. Ninguém obrigou o homem a crescer.
Alguns que permanecem dentro
dela ficam revoltados, cheio de ódio, piores do que eram antes. E transferem a
responsabilidade para Deus. Então Gibran vai começar um fato curioso. Observe a
relação que existe entre quem pergunta e aquilo
que é perguntado.
Uma
mulher disse: - Fala-nos da dor.
Existe uma associação clássica
da mulher com este elemento de suportar a dor, porque é fato.
O homem tem uma energia de
impulso, de explosão; enquanto a mulher tem uma energia de permanência. Ela tem
uma capacidade de suportabilidade de dor por um período muito mais longo, que a
própria medicina fala sobre isto. A mulher suporta situações psicológicas às
vezes por uma vida inteira que seriam insuportáveis para o homem. Esta
capacidade de dor/ Fé sempre foi um arquétipo ligado ao feminino. Esse campo
energético; ela tem uma energia de resistência.
E
ele respondeu:
-A vossa dor é o quebrar da concha
que envolve
a vossa compreensão.
Evoluímos em geral no sistema
de escada, se não houver dentro de nós um obstáculo, a nossa tendência é
permanecer no mesmo patamar eternamente.
Às vezes a dor se torna insuportável,
e aí começamos a bater, bater...até observarmos que há uma solução acima.
Nós sabemos que necessitamos
dos obstáculos, pois os obstáculos vão fortalecendo a nossa resistência tanto física quanto
psicológica. A dor entra como elemento para quebrar este patamar de experiência
e te proporcionar outro patamar.
Mas o homem tem de se
perguntar: O que a vida está querendo me dizer com isto?
A partir do momento que você
admite (Platão fala sobre isto) que uma situação não tem nada para te ensinar,
e que é injusta, você vai começar um processo de sofrimento.
Ele dizia: “Todas as leis
devem ter um longo preâmbulo explicativo. Os homens têm de compreender que as leis não existem para
puni-los. Se o homem coloca na sua cabeça: “Isto é injustiça”, não vai aprender
com isto. Ele entra no processo de sofrimento onde não cresce nada.
A dor não é casual, não foi
provocada por terceiro, ela foi provocada pela tua necessidade de crescer. Como
se cada um de nós viéssemos ao mundo com um cartão cifrado, com uma necessidade
de experiência para viver aquilo.
A necessidade de experiência
vai trazer obstáculos que vão te fazer superar aqueles elementos que você
precisa superar. Você atraiu, por quê? Pelo teu poder pessoal. Pela tua
necessidade de experiência.
Cuidado, uma pessoa que tem
uma vida muito cômoda e sem obstáculos, isto do ponto de vista clássico, não
seria digna de inveja. É talvez uma pessoa tão frágil, que a vida não vai
tentar testá-la porque não irá ter respostas. E as leis da vida não são
sádicas. Elas não querem torturar ninguém, mas querem dar uma oportunidade de
crescer.
Como
a semente da fruta deve se quebrar
para
que seu coração apareça ante o Sol,
assim também deveis conhecer a dor.
Tentem imaginar uma semente
dentro de uma casca, dentro de uma camada de terra e a vida querendo
expandir...rompendo...expandindo...quebrando esta casca, quebrando a
resistência da terra...
Vocês já viram plantas que
nascem numa brecha doa asfalto? Quebrando a resistência e procurando a luz...
Agora tentem imaginar um ninho
de Galáxias, a mesma força vital, expandindo...quebrando resistência, quebrando
a atração da lei da gravidade, expandindo...procurando ganhar cada vez mais
espaço... Vocês percebem que esta mesma força existe dentro de nós?
Uma necessidade da vida,
expandir!!! Uma necessidade de buscar mais luz, de se ampliar. Não ampliar
fisicamente, mas de se ampliar humanamente. Sermos mais humanos. Expandirmos a
fronteira da nossa consciência. O mesmo impulso da semente, do ninho de
Galáxias existe dentro de nós. É a vida sufocada, a alma prisioneira querendo
ganhar espaço, quebrar os seus limites, então isto pode aparecer doloroso,
porque quando estamos apegados a um limite, perde-lo é como se perdêssemos um
pedaço de nós.
Estou tão apegado a esta
preguiça, se eu perdê-la é como se fosse um braço que eu perdi. Tenho uma
afinidade psicológica com as minhas limitações e sofro quando as perco, como se
eu tivesse sendo mutilada. Aquele clássico Indu, que é o Bhagavadgita, fala exatamente
disso: é a luta entre os vossos defeitos e as nossas virtudes; e Juna que é o
herói chorando pelos defeitos que ele está derrotando. Por quê? Pela
familiaridade que desenvolvemos com isto.
Chegamos ao ponto de quando
uma pessoa pergunta: Como você é? Você fala dos seus defeitos. Você não é os
seus defeitos; você está. É um verniz no qual você tem de se livrar. Não se defina pelos seus
defeitos. Os defeitos não fazem parte da nossa essência. Não existe essência
defeituosa, foi um elemento que se agregou. Se você define isto como parte de
você é muito difícil se libertar, porque
aí vem a dor.
Se vossos corações pudessem se manter sempre maravilhados
com o milagre
diário de vossas vidas,
vossa dor não vos
pareceria menos maravilhosa que vossa alegria.
Imaginem vocês passando por
uma situação dolorosa, difícil, mas você consegue atravessar isto e chegar num
outro patamar de consciência, quando você olha para trás e ver que aquilo te permitiu crescer como ser
humano, que permitiu servir melhor a
humanidade, que não está aqui para viver em vão.
No momento em que você
sintetizou e integrou bem esta experiência, é o momento em que você olha para
trás e diz: “pelo que cresci, não foi caro, foi um bom preço, valeu!!!”
Endentem? Pelo que me permitiu crescer e ser bem melhor como ser humano, não
foi caro. Observamos a Natureza, a semente morre debaixo da terra para que a
planta nasça. E depois que a planta dá os seus frutos, seca e ela perde
totalmente suas folhas e volta a nascer. Isto é o ciclo da Natureza. O problema
é que nós não nos consideramos como ciclo da Natureza; Também com ciclos, com
necessidade de deixar folhas para trás para que renasçam; porque tudo é um
processo de renascimento. Mas neste processo, alguma coisa morre para outra
renascer.
Assim são as leis da Física,
dois seres ocupam o mesmo lugar no espaço, e algo veio à luz e algo morreu.
Sabemos que àquilo que é
realmente nosso, não pode ser tirado de nós, então se compreendêssemos isto,
tiraríamos o medo. Se foi, era porque não era meu. Se as coisas se vão, vai me
deixar mais puro. Eu estarei mais perto de saber e ver o que realmente sou.
Quais são os elementos
temporários e o que é aquilo que realmente sou.
Por isso que a obra de Platão e vários outros clássicos falam: “ que a
nossa identidade deveria ser definida em cima das virtudes que queremos ter.
Ainda que não vejamos quem somos nós . Somos justiça, somos fraternidade, somos
bem. Teu nome interno está no horizonte,
ou seja, o teu ideal está mais próximo de ser você do que as tuas
características da tua personalidade no dia de hoje. Se você se identifica com
o teu rosto no espelho, vai sofrer, porque muita coisa vai ser deixada pelo
caminho, e é bom que seja deixado. É bom deixar fluir à vida, é bom deixar que
as folhas caiam. Elas não fazem parte da nossa essência, da nossa identidade.
Às vezes eu falo para uma
pessoa: “você precisa depurar o seu rosto”; este hábito de gostar de certos
padrões mentais, não é bom para você.” Então a pessoa questiona: “Como assim? Se eu deixar de gostar disso,
vou deixar de ser eu, isso é minha identidade.”
Que definição de identidade
superficial você tem. Às vezes, hábitos sociais, circunstanciais..e acham que a
sua identidade está associada com a comida, os locais que frequentam. Se você
tivesse nascido do outro lado do mundo, gostaria de outras coisas e não
deixaria de ser você.
Nós hoje estamos tão
superficiais na nossa identificação que chega a ser curioso. Então, se eu
deixar de comer algo, não sou eu, me mutilei. Que identidade superficial!
Aquilo que podemos perder
significa que nunca foi nosso. Porque
muitas vezes não fomos nós que escolhemos. Fomos moldados pelas circunstâncias.
Quantos de nós fomos escolhidos por nós? Dos nossos hábitos, gostos... Quantos
dos nossos gostos foram determinados pelo meio?
Então perder o medo e saber
que àquilo que você é não pode ser tirado. É fundamental para chegar do outro
lado da dor sem medo. Que ela te mutile. Como vai te mutilar?
Aquilo que eu sou não vai
deixar de ser.
Percebam que tem muitos
elementos de cultura, elementos estranhos de valores que fazem com que a gente
tenha as posturas que tem diante da dor.
Para você ter uma postura
diferente, precisaria de ter um ideal de vida diferente: não fundamentada no
prazer, mas no ser: precisaria de uma identidade mais profunda. Muitas coisas,
muitos elementos teriam de ser reconstruídos.
A tradição grega dizia que
você só entenderia os deuses do Olimpo
se entendesse os cânones sagrados; se você não entende as leis, você não
entende os deuses; ou seja, perdemos os cânones da vida, parâmetros humanos de
vida, aí os valores ficam todos atrapalhados. Por exemplo, a avaliação da dor é
um desastre.
E
aceitaríeis as estações de vosso coração,
como
sempre aceitastes as estações
que passam
sobre os vossos campos.
E
esperaríeis com serenidade
os invernos de vossa aflição.
Ou seja, no momento em que a
vida se recolhe, eu também me recolheria. Na tradição budista e outras, quando
vinha o inverno, era o momento em que eles se recolhiam para redigir os textos
sagrados. É um momento para isto: para a vida interior já que a vida exterior
se reduziu. É um momento de encontro com a sua alma para você semear algo
quando vir a primavera/ verão ter o que oferecer ao mundo.
Se eu não semeio nada, eu saio
para a primavera/ verão de mãos vazias. Se você não tem este momento, você não
tem nada para dar a ninguém, está vazio.
Então é um momento de
reflexão, porque a vida física se reduz ao mínimo, e a metafísica, ao máximo.
Veja que os grandes mestres
nascem aí, é o Natal. Porque é um momento de nascer algo muito espiritual
também dentro do homem.
O homem tem de saber andar junto
com a Natureza, aproveitando a energia que ela lhe dá.
Em relação à administração do
tempo é uma briga para convencer as pessoas porque eles têm de respeitar a sua
Natureza para trabalhar, para estudar. Se você tem de ler um livro muito delicado,
não ponha esta leitura depois do almoço, porque você não vai conseguir. As
pessoas não entendem as coisas básicas hoje em dia. Não dá para brigar com a
Natureza. Temso de respeitar o ciclo dela e caminhar de mãos dadas. A Natureza
tem uma lógica: tem um momento ideal para estudar, tem um momento ideal para
parar de refletir.
Têm os ciclos do dia, e os
ciclos da semana e os ciclos do mês. Não briguem contra isto, caminhem com
eles. Com a Natureza temos muita força, contra ela, nada; porque também somos
parte da Natureza. Estar contra ela é estar contra nós mesmos.
Não brigue com os invernos,
quando a vida se recolhe, quando aparece que as oportunidades se fecharam,
talvez seja o momento de você entrar e fazer um balanço de tudo isto e ver o
que será a partir de agora: renovar, renascer.
Como a Natureza faz:
RENASCE!!!!
Os ciclos são: recolhimento e
expansão. Faça isto também: aprenda a recolher-se e aprenda a expandir. A gente
briga com a Natureza em tudo, até mesmo as idades da vida. A gente acha que a única idade que tem sentido
é a juventude. A infância é um compasso de espera monótono e chato, então
invadem a infância com uma adolescência prematura.
A maturidade e a velhice não
servem para nada, aí querem estender indefinidamente a juventude. Todas as
estações da vida têm algo e nós devemos
aprender a conviver com todas, sabendo que a Natureza não é a causa, é cosmos.
Ela tem um propósito em tudo que faz. Não vamos brigar contra ela. Em tudo
fazemos isto.
Muitas de vossas dores
vós mesmos as escolhestes.
É o remédio mais amargo com o qual
vosso médico interior cura o vosso Eu doente.
Chega um determinado limite
que você necessita desse medicamento para extirpar um determinado patamar de
consciência que se você continuar nele, talvez caísse num abismo; chegasse a um
nível de contradição que a vida não pudesse fluir mais.
É o que no oriente se chama
lei do karma. Às vezes como somos mais conscientes e temos uma reflexão
cotidiana sobre a nossa vida, podemos chegar a lembrar o momento onde
geramos a necessidade de estar vivendo
essa situação. Esse padrão mental que eu tive, essa resposta da vida aqui,
gerou a necessidade de viver isto. Faz sentido. Você junta as duas pontas da
vida. Newton em relação à Natureza física, já falava sobre causa e efeito. Você
acha que a metafísica não faz parte dessas lei? A vida humana também faz parte
dessa lei. A necessidade de experiência vai fazer com que a Natureza me traga
as provas para que eu viva essa experiência. A Natureza trama para a evolução
do homem. Se você estiver muito atento, você vai perceber claramente aonde foi
que você gerou essa necessidade de experiência, para agora a Natureza te trazer
conforme o que você pediu, de maneira justa. E não para te punir, mas para te
corrigir.
O karma, segundo a tradição
oriental, não é vingativo, ele é pedagógico. Aliás, a vingança é considerada
imoral em todos os temas filosóficos. Nós vamos ver que a medicina chinesa já
falava sobre as doenças psicossomáticas.
Um médico ocidental falou
recentemente sobre a incidência de problemas cardíacos no nosso momento
histórico, logo ele falava: “Olhe, se a
medicina oriental estiver razão, o coração é um órgão de impacto de sentimentos
negativos, como o ódio. Câncer é um impacto de
posturas negativas, como o egoísmo. Porque uma célula cancerosa é o quê?
Uma célula que pensa apenas em si, não no corpo como um todo”. Então, se houver
fundamento, isto são impacto de padrões de comportamento mesquinho, que vêm de
valores diante da vida. Porque o egoísmo é a ausência de visão de unidade, de
um todo. O ódio também é um resultado de valor, em que a existência do outro
apaga os meus interesses. Enfim, têm valores por trás desses padrões
emocionais. Visões de mundo. Tem toda uma cultura sustentando este tipo de
padrão mental, e que vai descendo...tanto que você vai ver quando se falava no
passado que havia certas pessoas que sabiam ver o futuro. Não é que elas vissem
o futuro, elas viam as coisas indo em planos mais sutis. Ela era capaz de ver o
plano emocional de alguém, então ela vai observando em planos mais sutis. É
como se em plano mais sutil fosse presente aquilo que o físico vai ser no
futuro, entende? É como visse no psíquico, aquilo que no futuro será somático.
E já pode ter uma previsão: em
qualquer momento isto vai se precipitar num fato. Não tem jeito: causa e feito.
Então, se você considerar dessa forma, a dor é sua aliada. Imaginem se eu não
sinto dor em um dente, ele vai apodrecer e eu vou perdê-lo. Não vou ter chance
de reagir. É a dor que me avisa: “corrija antes que você perca.”
Portanto, confiai no médico e bebei seu
remédio
em
silêncio e tranquilidade,
porque sua mão embora pesada e dura,
é
guiada pela suave mão do invisível.
Confiai no médico. Confiai na
lei da vida. É uma coisa básica. Acreditar que a vida é cosmos e não caos.
As experiências não te pegaram
por acaso, te pegaram porque você chamou por elas, por necessidade de
experiência.
Quando você quer crescer, você
precisa da Natureza para trazer provas. É assim em qualquer sistema pedagógico
humano. O filho que está no colégio e quer passar de uma série para outra, ele
está chamando as provas. Eles vão ter de ser bem sucedidos nelas. E as provas
não são suas inimigas. As provas irão promove-lo a um outro patamar de experiência.
Se a nossa pedagogia é assim, por que que a da Natureza seja assim?
Se acreditamos que a vida é um
processo pedagógico, acontecimentos não são caóticos e por trás dele existe um
sentido. Como dizia o Imperador Marco Aurélio: “Nada acontece ao homem que não
seja próprio do homem.” A dor vem porque chamamos por ela, porque sentimos
necessidade de pular deste patamar para um outro um pouco mais amplo. Então
vieram as provas de acesso que nós mesmas chamamos. O homem que não quer
crescer, a experiência da dor seria uma tortura. A Natureza irá tentar tencioná-lo
até quando ele não aguente mais.
Estava viajando e de repente
vejo o Sol se por e estava cheio de raios cravados no horizonte. E era
interessante porque aqueles raios vermelhos pareciam rastros de sangue e por um
momento me veio um pensamento um pouco poético: todo ser que quer trazer algo
de luz ao mundo, parece que fica um pouco de sangue em sua trajetória. Se você
quer trazer luz para sua vida, vai ter um custo de dor. Quantas coisas você não
deixará para trás? Coisas vão ter de morrer para que outras nasçam e encarar
isto de maneira natural é saber distinguir os dois tipos de dor. A dor que você
sofre quando não se conforma com as provas da vida, que vai te mutilando... e a
dor quando você está deixando coisas para trás e parece que te torna leve.
Sofre, mas ao mesmo tempo você percebe que se purifica. A dor mórbida e a dor
construtiva. A dor também tem seus
requintes. Há tipo de dor que você fica girando ao redor do mesmo ponto e não
sai dali, vai se destruir. E há dores que você percebe que está levantando
voos. Algo ficou para trás Ela perdeu um
lastro, um fardo e agora vai ficar mais leve.
E a taça que ele vos dá, embora queime vossos lábios
foi fabricada
com a barra que o Oleiro umedeceu
com
suas lágrimas sagradas.
Esse médico divino te dá uma
taça para esse fel, e essa taça foi construída com o barro umedecido com as
lágrimas do Oleiro sagrado, ou seja, a lei da necessidade do Universo. Aquilo
que os orientais chamam de darma, que é o braço de Deus estendido sobre o colo. O sentido do Universo
que está tramando para que todos os seres cresçam e se aproximem da luz. É um
pouco dessa oportunidade de te levar adiante.
A dor existe quando existe
transmutação. Deve ser desesperador para a lagarta saber o que vai acontecer
dentro do casulo. Imagine se nós colocássemos uma consciência humana, nenhuma
lagarta viraria borboleta. É desesperador você entrar dentro do casulo, ficar
isolado e não saber o que vai acontecer depois. Quantos homens se fossem
lagartas virariam borboletas? O medo da transformação. O medo do que virá
depois. No fundo se diz que isto é uma falta de confiança na lei da vida, que
sempre leva todos aqueles seres que trabalham para ela na direção de criarem
asas. Se confiássemos na lei da vida não sofreríamos tanto.
Santo Agostinho quando fala da
sua cidade de Deus, ele diz que: “ a
vingança é um tipo de ateísmo inconsciente.”
Toda vez que alguém nos
provoca alguma dor, e isto nos provoca ódio ou um sentimento de vingança no
fundo nós acreditamos, se nós não fizermos alguma coisa, nada acontecerá porque
não existe uma lei no Universo.
De uma certa maneira, ele está
falando exatamente o que nós estamos falando. Não existe lei no Universo se eu
não atuar, se eu não arregaçar as mangas e não fizer algo. Isto vai ficar
impune. Então é um Universo caótico e num Universo caótico, a dor é horrível: “Eu
estou sofrendo em vão, eu não vou chegar a lugar nenhum.” Aí causa revolta,
injustiça como dizia Platão: “Quando surge esse sentimento, a gente não aprende
mais nada.”
Então existem premissas
culturais para que o homem se coloque
diante da dor de maneira sadia, que infelizmente hoje são muito raras, mas que
estava presente em Gibran e em todos filósofos do passado e por isso
consideravam a dor, de uma maneira tão diferente.
Ele a coloca como uma dádiva,
como um privilégio, como um ato de confiança na Natureza em relação àquele
homem, como se dissesse: “Você pode”. Estou te dando uma oportunidade porque
você pode.
É como um professor que não dá
ao seu aluno uma prova se não acha que ele tem condições de se sair bem nela e
condições de se superar.
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