sexta-feira, 28 de setembro de 2018

DOCUMENTÁRIO MENINO 23


Este documentário revela um episódio triste e assustador  da história do Brasil. Cinquenta meninos negros e órfãos, na faixa etária dos 10 anos, são retirados do Orfanato Educandário Romão de Mattos Duarte no Rio de Janeiro para trabalhar na lavoura na Fazenda Cruzeiro do Sul, no interior de São Paulo. Foram transferidos em 1933 e permaneceram até 1942.

            Sidney Aguilar comenta, em uma de suas entrevistas, que todo este movimento de retirada de 50 crianças para trabalhar/”estudar” nas lavouras em outros estados eram medidas completamente aceita pelo governo Vargas, visto como uma benfeitoria. Isto chocou tanto o professor, que ele procurou na época, outras fundamentações históricas, como: mídia, literatura e conforme foi pesquisando, encontrou uma década profundamente racista em que isto estava espalhado por quase todos os cantos, pelo menos no núcleo analisado – as elites e a classe média da capital federal daquele momento.

            Percebe-se também pensamentos eugenistas muito fortes. As teorias eugenistas eram inerentes à sociedade, e chegaram a fazer parte do texto da constituição brasileira de 1934, na qual definia como responsabilidade do Estado fomentar a educação eugênica, acreditava-se serem conhecimentos úteis e indispensáveis para a reprodução, conservação e melhoria da raça. 

A Fazenda pertencia a um dos integrantes da família Rocha Miranda, família essa importantíssima para AIB (ação integralista brasileira) que era um movimento político fascista. Os quatro irmãos : Octavio, Osvaldo, Sérgio e Renato Rocha Miranda, que eram netos do Barão do Bananal, um importante agropecuarista e político na época.

Lembrando que, um dos membros da Ação Integralista Brasileira foi Miguel Reale, presidente da Comissão Redatora do atual Código Civil. Seu filho, Miguel Reale Júnior, é um dos autores do pedido de Impeachment contra a presidente Dilma.

O documentário impressiona por relatar uma história encontrada “ao acaso”, em uma aula de história do professor Sidney Aguilar sobre Nazismo  em que uma estudante do ensino médio revela que na Fazenda Cruzeiro do Sul encontraram tijolos com as marcas do símbolo da suástica.

            Segundo o próprio professor, no primeiro momento depois que soube da existência de elementos Nazistas,  sentiu um mal-estar, pois o tema não chamava atenção, mas a informação sobre a transferência de 50 meninos negros retirados  do Orfanato para ir para uma outra cidade do interior, isto sim, o instigou a saber mais informações.

            Em decorrência dos estudos do historiador foi descoberto que havia uma das crianças ainda viva : Senhor Aloísio Nunes. Através de sua fala revela a dor contida, o desejo de esquecer algo impossível de ser deixado para trás. Com mais de 90 anos, ainda lúcido, Aloísio Silva – o menino 23 – a princípio se mostra relutante ao tratar do assunto. Após ouvir uma série de detalhes dos acontecimentos, porém, as lembranças traumáticas de sua infância e juventude passam a emergir, ainda pulsantes, repletas de rancor. A certa altura, ele constata, resgatando o passado: “Infância? Não sei o que é isso. Ela foi roubada de mim”.

As crianças tinham trabalhos forçados, sem remuneração, sujeitos a castigos físicos, pressão psicológica, sem liberdade de ir e vir. Em plena república, todas aquelas crianças  se tornaram escravos – numa época, é bom lembrar, que a abolição havia sido assinada há décadas.

O filme vem ocupar um espaço para reflexão, pois a maioria da população brasileira é pobre e as vítimas da violência tem: idade, cor de pele, classe social e gênero.


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