Este documentário revela um
episódio triste e assustador da história
do Brasil. Cinquenta meninos negros e órfãos, na faixa etária dos 10 anos, são
retirados do Orfanato Educandário Romão de Mattos Duarte no Rio de Janeiro para trabalhar na
lavoura na Fazenda Cruzeiro do Sul, no interior de São Paulo. Foram
transferidos em 1933 e permaneceram até 1942.
Sidney
Aguilar comenta, em uma de suas entrevistas, que todo este movimento de retirada
de 50 crianças para trabalhar/”estudar” nas lavouras em outros estados eram medidas
completamente aceita pelo governo Vargas, visto como uma benfeitoria. Isto
chocou tanto o professor, que ele procurou na época, outras fundamentações
históricas, como: mídia, literatura e conforme foi pesquisando, encontrou uma
década profundamente racista em que isto estava espalhado por quase todos os
cantos, pelo menos no núcleo analisado – as elites e a classe média da capital
federal daquele momento.
Percebe-se também
pensamentos eugenistas muito fortes. As teorias eugenistas eram inerentes à
sociedade, e chegaram a fazer parte do texto da constituição brasileira de
1934, na qual definia como responsabilidade do Estado fomentar a educação
eugênica, acreditava-se serem conhecimentos úteis e indispensáveis para a
reprodução, conservação e melhoria da raça.
A Fazenda pertencia a um dos integrantes
da família Rocha Miranda, família essa importantíssima para AIB (ação
integralista brasileira) que era um movimento político fascista. Os quatro
irmãos : Octavio, Osvaldo, Sérgio e Renato Rocha Miranda, que eram netos do
Barão do Bananal, um importante agropecuarista e político na época.
Lembrando que, um dos
membros da Ação Integralista Brasileira foi Miguel Reale, presidente da
Comissão Redatora do atual Código Civil. Seu filho, Miguel Reale Júnior, é um
dos autores do pedido de Impeachment contra a presidente Dilma.
O documentário impressiona por relatar uma história encontrada “ao acaso”,
em uma aula de história do professor Sidney Aguilar sobre Nazismo em que uma estudante do ensino médio revela
que na Fazenda Cruzeiro do Sul encontraram tijolos com as marcas do símbolo da
suástica.
Segundo o próprio
professor, no primeiro momento depois que soube da existência de elementos
Nazistas, sentiu um mal-estar, pois o
tema não chamava atenção, mas a informação sobre a transferência de 50 meninos
negros retirados do Orfanato para ir
para uma outra cidade do interior, isto sim, o instigou a saber mais informações.
Em decorrência dos
estudos do historiador foi descoberto que havia uma das crianças ainda viva
: Senhor Aloísio Nunes. Através de sua fala revela a dor contida, o desejo de
esquecer algo impossível de ser deixado para trás. Com mais de 90 anos, ainda
lúcido, Aloísio Silva – o menino 23 – a princípio se mostra relutante ao tratar
do assunto. Após ouvir uma série de detalhes dos acontecimentos, porém, as
lembranças traumáticas de sua infância e juventude passam a emergir, ainda
pulsantes, repletas de rancor. A certa altura, ele constata, resgatando o
passado: “Infância? Não sei o que é isso. Ela foi roubada de mim”.
As crianças tinham
trabalhos forçados, sem remuneração, sujeitos a castigos físicos, pressão
psicológica, sem liberdade de ir e vir. Em plena república, todas aquelas
crianças se tornaram escravos – numa época,
é bom lembrar, que a abolição havia sido assinada há décadas.
O filme vem ocupar um espaço
para reflexão, pois a maioria da população brasileira é pobre e as vítimas da
violência tem: idade, cor de pele, classe social e gênero.
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