quarta-feira, 19 de setembro de 2018

CLÁSSICO: OS SOFRIMENTOS DO JOVEM WERTHER



Como estamos no mês de combate ao suicídio, resolvi reler “Os sofrimentos do jovem Werther” de Goethe, por tratar do tema. Seu lançamento foi em  1774 e subitamente, aos 25 anos Goethe fica conhecido na  Europa inteira, nos meios cultos do Novo Mundo e até no Oriente, graças ao “caso Werther”, hoje comparado com a série da Netflix “13 reasons why”, a qual  gera vários questionamentos: Estimula ou conscientiza o suicídio? Mas, apesar da fama, restou-lhe uma lembrança amarga do livro, condenado por todos aqueles que entendiam a vida como luta e conquista e não como renúncia e fuga, e pela Igreja, que o colocou no Índice dos Livros Proibidos. “Onde eu me sentia liberto e aliviado, porque havia transformado a realidade em poesia, meus amigos se enganaram, acreditando que se devia transformar a poesia em realidade.”

          Dois anos antes da publicação do livro, Goethe encontrara Charlotte Buff. “era uma dessas mulheres que, sem inspirar paixão violenta, exercia invencível encanto sobre cada um dos que a rodeavam.” Goethe não escapou à atração dessa mulher, que, sendo casada, não correspondia aos seus sentimentos. Enquanto escrevia o Werther, foi Charlotte que lhe serviu de modelo para a personagem feminina do romance. Mas a obra também traz outro fato: a surpresa e o espanto causados pela morte de um colega da Universidade de Leipzig, que se suicidou para escapar a uma paixão sem esperança. O Werther é, portanto, o fruto de uma experiência real e dolorosa, transfigurada através da imaginação. Essa é a razão por que o autor se refere ao romance que lhe trouxe popularidade como a uma “confissão geral”. Afirmação verdadeira para toda sua obra, tão interligadas estão, nela, vida e ficção.

Quando alguém olha o meu livro, tenho sempre a impressão de que me cortam em dois.”



Johann Wolfgang Goethe pensa na repercussão do trágico fim de Werther, que havia provocado uma comoção geral, entre os jovens. Logo se multiplicaram suicídios idênticos. O gesto havia-se tornado, em pouco tempo, sedutor, e a moda, alarmante, a ponto de ficar conhecida como o mal do século. Goethe observa o que está acontecendo e sente-se profundamente amargurado. Afinal, Werther não tinha existido verdadeiramente: era apenas uma criatura da sua fantasia, uma personagem de ficção.

O livro é dividido em 2 partes:

            Na primeira parte encontramos as cartas de Werther para o seu amigo Wilhelm, sua narrativa é unilateral, um monólogo, visto que o leitor não tem acesso às respostas de Wilhelm, embora esteja implícito que o mesmo se correspondia com Werther com frequência , o que nos causa um pouco de estranhamento. Em suas cartas ele conta à ida dele à uma cidade do interior da Alemanha a fim de cuidar dos negócios da família. Encantado com a natureza do lugar, suas primeiras cartas resumem-se ao vislumbre de sua nova moradia, as pessoas e ao clima amistoso e jovial da cidade.

Nesta cidade conhece uma moça chamada Charlotte e apaixona-se por ela (amor à primeira vista), só que esta é comprometida com Albert. O que era admiração virou paixão; o que era paixão tornou-se obsessão. Nosso protagonista não consegue pensar em mais nada, em mais ninguém. Tudo se resume a Charlotte. Em suas cartas, outrora repleta de esperanças, alegrias e descobertas; Werther destila para seu amigo Whilhelm toda sua angústia, tristeza e desilusão por não poder possuí-la. O que antes era primavera e verão, tornou-se outono e inverno. Não suportando ver sua amada nos braços de outro, Werther decide mudar-se temporariamente de cidade, mas, ao retornar, Charlotte e Albert já estão casados, fato que agrava mais ainda sua já fragilizada alma perdida.  Numa noite, Werther promete não mais visitá-la e no último encontro com a moça, lê em voz alta, os Cantos de Ossain. Ambos se comovem, choram, se abraçam e se beijam; mas em seguida Charlotte repele-o, dizendo que nunca mais quer vê-lo. O jovem Werther parte, acreditando que é amado, mas ciente de que é um amor impossível. Resolve então suicidar-se, mandando pedir as pistolas de Albert. Charlotte com o coração despedaçado,envia-lhe as armas. Werther dispara um tiro em sua própria cabeça e morre.





“Pela manhã, às 6 horas, o criado entrou no quarto com a luz. Encontrou o seu senhor no chão, viu a pistola e o sangue. Chamou-o, mexeu nele; nenhuma resposta, ele ainda agonizava. Correu em busca dos médicos e de Albert. Lotte ouviu alguém tocar a campanhia e um tremor convulsionou-lhe todos os membros (…). Tinha atirado na cabeça, logo acima do olho direito, fazendo saltar os miolos. Pelo sangue espalhado no espaldar da cadeira, concluiu-se que ele realizara seu intento sentado à escrivaninha, caíra em seguida, rolando convulsivamente em volta da cadeira. Estava estendido de costas perto da janela, inerte, todo vestido e calçado, de casaca azul e colete amarelo. (…) Do vinho, bebera somente um copo.”


(Wilhelm, amigo de Werther, escreve após a morte do companheiro)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...