Como estamos no mês
de combate ao suicídio, resolvi reler “Os sofrimentos do jovem Werther” de
Goethe, por tratar do tema. Seu lançamento foi em 1774 e subitamente, aos 25 anos Goethe fica
conhecido na Europa inteira, nos meios
cultos do Novo Mundo e até no Oriente, graças ao “caso Werther”, hoje comparado
com a série da Netflix “13 reasons why”, a qual gera vários questionamentos: Estimula ou
conscientiza o suicídio? Mas, apesar da fama, restou-lhe uma lembrança amarga
do livro, condenado por todos aqueles que entendiam a vida como luta e
conquista e não como renúncia e fuga, e pela Igreja, que o colocou no Índice
dos Livros Proibidos. “Onde eu me sentia liberto e aliviado, porque havia
transformado a realidade em poesia, meus amigos se enganaram, acreditando que
se devia transformar a poesia em realidade.”
Dois anos antes da publicação do
livro, Goethe encontrara Charlotte Buff. “era uma dessas mulheres que, sem
inspirar paixão violenta, exercia invencível encanto sobre cada um dos que a
rodeavam.” Goethe não escapou à atração dessa mulher, que, sendo casada, não
correspondia aos seus sentimentos. Enquanto escrevia o Werther, foi Charlotte
que lhe serviu de modelo para a personagem feminina do romance. Mas a obra
também traz outro fato: a surpresa e o espanto causados pela morte de um colega
da Universidade de Leipzig, que se suicidou para escapar a uma paixão sem
esperança. O Werther é, portanto, o fruto de uma experiência real e dolorosa,
transfigurada através da imaginação. Essa é a razão por que o autor se refere
ao romance que lhe trouxe popularidade como a uma “confissão geral”. Afirmação
verdadeira para toda sua obra, tão interligadas estão, nela, vida e ficção.
“Quando alguém olha o meu livro, tenho
sempre a impressão de que me cortam em dois.”
Johann Wolfgang Goethe pensa na repercussão do
trágico fim de Werther, que havia provocado uma comoção geral, entre os jovens.
Logo se multiplicaram suicídios idênticos. O gesto havia-se tornado, em pouco tempo,
sedutor, e a moda, alarmante, a ponto de ficar conhecida como o mal do século.
Goethe observa o que está acontecendo e sente-se profundamente amargurado.
Afinal, Werther não tinha existido verdadeiramente: era apenas uma criatura da
sua fantasia, uma personagem de ficção.
O livro é dividido
em 2 partes:
Na primeira parte encontramos as
cartas de Werther para o seu amigo Wilhelm, sua narrativa é unilateral, um
monólogo, visto que o leitor não tem acesso às respostas de Wilhelm, embora
esteja implícito que o mesmo se correspondia com Werther
com frequência , o que nos causa um pouco de estranhamento. Em suas cartas ele
conta à ida dele à uma cidade do interior da Alemanha a fim de cuidar dos
negócios da família. Encantado com a natureza do lugar, suas primeiras cartas
resumem-se ao vislumbre de sua nova moradia, as pessoas e ao clima amistoso e
jovial da cidade.
Nesta cidade conhece
uma moça chamada Charlotte e apaixona-se por ela (amor à primeira vista), só
que esta é comprometida com Albert. O que era admiração virou paixão; o que era
paixão tornou-se obsessão. Nosso protagonista não consegue pensar em mais nada,
em mais ninguém. Tudo se resume a Charlotte. Em suas
cartas, outrora repleta de esperanças, alegrias e descobertas; Werther destila para seu amigo Whilhelm toda sua
angústia, tristeza e desilusão por não poder possuí-la. O que antes era
primavera e verão, tornou-se outono e inverno. Não suportando ver sua amada nos
braços de outro, Werther
decide mudar-se temporariamente de cidade, mas, ao retornar, Charlotte e Albert já estão casados, fato que agrava mais ainda sua já
fragilizada alma perdida. Numa
noite, Werther promete não mais visitá-la e no último encontro com a moça, lê
em voz alta, os Cantos de Ossain. Ambos se comovem, choram, se abraçam e se beijam;
mas em seguida Charlotte repele-o, dizendo que nunca mais quer vê-lo. O jovem
Werther parte, acreditando que é amado, mas ciente de que é um amor impossível.
Resolve então suicidar-se, mandando pedir as pistolas de Albert. Charlotte com
o coração despedaçado,envia-lhe as armas. Werther dispara um tiro em sua
própria cabeça e morre.
“Pela manhã, às 6 horas, o criado entrou no quarto com a luz. Encontrou o seu senhor no chão, viu a pistola e o sangue. Chamou-o, mexeu nele; nenhuma resposta, ele ainda agonizava. Correu em busca dos médicos e de Albert. Lotte ouviu alguém tocar a campanhia e um tremor convulsionou-lhe todos os membros (…). Tinha atirado na cabeça, logo acima do olho direito, fazendo saltar os miolos. Pelo sangue espalhado no espaldar da cadeira, concluiu-se que ele realizara seu intento sentado à escrivaninha, caíra em seguida, rolando convulsivamente em volta da cadeira. Estava estendido de costas perto da janela, inerte, todo vestido e calçado, de casaca azul e colete amarelo. (…) Do vinho, bebera somente um copo.”
(Wilhelm, amigo de
Werther, escreve após a morte do companheiro)
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