segunda-feira, 27 de agosto de 2018

MÚSICA : MINHA ALMA






Minha alma 
a minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo)

às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz

as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo

Minha alma tem uma letra que nos faz refletir o que estamos fazendo com a nossa alma! A letra é uma obra de arte, fala sobre a influência do medo na vida das pessoas. Com quase seis minutos e todo filmado em preto e branco, o clipe da canção é considerado hoje um dos melhores e mais importantes já feitos no país, não só por sua mensagem social, que ajudaram a estabelecer seu autor Marcelo Yuka como um letrista de alto nível, como pelas imagens, consideradas quase um curta-metragem.

Letra de Marcelo Yuka, ex-baterista da banda Rappa. A música consta no CD  “ lado B lado A” de 1999 (terceiro CD). Originalmente a música iria ser chamada “As grades do condomínio são para te dar proteção”. Teve seu nome alterado por pressão do diretor executivo da Warner. .

a minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo)

Vivemos numa comodidade absurda!! Hoje está na nossa cara que deram um golpe no nosso país e parece que não está acontecendo nada; os brasileiros (principalmente àqueles que bateram panela) não se expressam sobre os problemas sociais e para piorar alimentam o poder midiático; parece que desconhecem o papel desta  no campo político, social e econômico de toda sociedade. Através desse mecanismo,  essa instituição incute na população uma consciência, uma cultura.  Apontar uma arma é um gesto de autoridade para quem aponta e de  submissão para quem é apontado. No caso, ele quer sair da zona de conforto do sossego, pois se para ter paz, é preciso calar a boca em relação às coisas que precisam ser protestadas, você não está em paz, pois como diz a música : Paz sem voz, não é paz, é MEDO.

às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz

Está muito claro que esta paz que ele está tendo não é a que o faz feliz. Ele tem plena consciência disto.

as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão


Sempre ouvimos que não existe segurança no Brasil. Vivemos num país violento, que para ter proteção só em condomínios fechados, cheios de segurança e com câmaras, mas as pessoas  não percebem que são elas que estão realmente aprisionadas, sem liberdade. Estão presas.

me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo

Yuka retrata o cotidiano de muitas pessoas. Cotidiano que aliena e vai transformando os brasileiros em robôs. Muitos trocam um passeio, um almoço em família por um programa de TV. Muitos ainda vivem assistindo programas ridículos aos domingos.  Marcelo faz um apelo na canção, “não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo!”. Esse verso mostra que ele quer se alienar.

procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo

Neste verso há uma metáfora entre as drogas físicas e  a TV e seus programas. Uma droga praticamente coagida. Um veículo de mídia que ao invés de usar drogas psicotrópicas, usam drogas visuais, como por exemplo aquele reality show de putaria que muitos não perdem por nada.

Se Marcelo Yuka já tinha uma sensibilidade sobre os problemas sociais, depois do seu acidente, pois o mesmo levou nove tiros em 2000 e hoje se encontra paraplégico, sua sensibilidade tomou uma dimensão incomensurável. Em uma de suas últimas entrevistas fala sobre o seu machismo.

O músico afirmou que sempre teve uma atitude machista em relação ao sexo,  e ter se tornado cadeirante mudou essa realidade. “Eu percebi que eu tinha uma coisa machista antes da cadeira de rodas, era meio machista mesmo. Antes, sempre que uma namorada dizia pra gente fazer amor, eu não entendia. Eu achava que era uma coisa pra aquecer mais o sexo, que era ela tentando falar de uma maneira fofa sobre 'trepar'. Depois da carreira de rodas, até eu voltar a sentir alguma coisa, demorou. Aí fiquei naquela de trepar ou fazer amor. As mulheres foram muito generosas comigo, e eu acho que fiquei um pouco mais feminino. O homem ele é direto no corpo, mas a gente goza é na cabeça. Agora passei a fazer amor", explicou ele..

Seria ótimo que os homens deixassem o machismo antes mesmo de ter de passar por algo tão dolorido.

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