Gibran Khalil Gibran nasceu em 6 de janeiro de 1883, em uma católica família maronita da histórica cidade de Bsharri, no norte do Líbano. Nesta época, o Líbano era uma província turca, pertencente ao domínio otomano. Porém, Bsharri, pátria dos maronitas, fazia parte do Monte Líbano, uma região autônoma e independente, desde 1861, em virtude dos constantes conflitos entre drusos e maronitas, que levaram a diplomacia europeia a pressionar o sultão Abdulmecid I a dividir o país, por religiões.
Sua mãe, Kamileh Rahmeh, era filha de um prestigiado sacerdote maronita de Bsharri, chamado Istiphan Rahmeh. Ela era descrita como uma mulher graciosa, fina com uma ligeira palidez nas bochechas, e uma sombra de tristeza em seus olhos. Kamileh tinha uma bela voz para cantar, e era uma pessoa religiosa e muito devota. Quando ela atingiu a idade núbil, ela foi casada com um primo de seu próprio clã, chamado Hanna Abd Al-Salaam Rahmeh.
No entanto, como muitos libaneses de seu tempo, ele emigrou para o Brasil, em busca de fortuna, mas enquanto estava lá, ele morreu, deixando Kamileh e o filho pequeno, Boutros (Pedro), sozinhos. Algum tempo depois da morte de Hanna Rahmeh, Kamileh já com 30 anos, casou-se com Khalil Gibran, e com ele, Kamileh teve Gibran, e duas filhas: Marianna em 1885, e Sultanah, em 1887. Devido à pobreza de sua família, Gibran não recebeu educação formal, os sacerdotes locais o visitavam, e o ensinavam religião, árabe e língua siríaca.
Gibran foi uma criança solitária e pensativa, que apreciava a paisagem natural da cidade, as montanhas, a cascata, o vale do Qadisha, os vilarejos vizinhos, e os cedros, cuja beleza influenciou dramaticamente, seus desenhos e escritos. Aos dez anos, Gibran caiu de um penhasco, e feriu o ombro esquerdo, que permaneceu fraco para o resto de sua vida. Sua família amarrou uma cruz em torno do ombro durante 40 dias, o que fez com que Gibran se lembrasse das peregrinações de Cristo no deserto. Desde pequeno, Gibran foi apaixonado por desenho, no inverno, se não havia papel na casa para desenhar, ele passava horas desenhando formas e figuras na neve fresca.
Aos quatro anos, ele cavou alguns buracos no chão, e cuidadosamente plantou minúsculos pedaços de papel, esperando que a safra do verão lhe fornecesse uma oferta abundante de papel. Quando ele tinha cinco anos, ele recebeu um canto em sua pequena casa, que ele rapidamente preencheu com uma loja de sucata perfeita, com pedras, anéis, plantas, e uma coleção de lápis de cor. Se ele ultrapassava o papel quando estava desenhando, ele improvisava, e continuava seus desenhos nas paredes. Um de seus maiores prazeres era criar imagens em chumbo, usando velhas latas de sardinha. Ele costumava colocar o chumbo no fogo para derreter, e em seguida, preenchia as duas metades da lata com areia fina, e úmida. Em seguida, pressionando a imagem entre os dois, ele raspava a areia espremida, colocando as duas metades juntas novamente, e despejando o chumbo no molde, até que a imagem esfriasse.
Inovador e curioso, Gibran sempre inventava, e criava coisas. Aos seis anos, ele ficou fascinado por uma imagem de Leonardo da Vinci, que lhe foi dada por sua mãe. Ele nunca se esqueceu desse dia, e da paixão que ele sentiu naquele instante, com a descoberta daquele “homem incrível”, que agiu em Gibran “como uma bússola em um navio perdido nas brumas do mar”, despertando nele, o desejo de se tornar um artista. Durante toda a sua vida, ele foi fascinado tanto pela personalidade, quanto pela arte de Da Vinci.
Apesar das discussões que muitas vezes irrompiam em sua casa, Gibran lembrava-se dos dias mais felizes, quando ele acompanhava seus pais em seus passeios pelo norte do Líbano. Quando ele tinha oito anos, seus pais o levaram para ver o mar pela primeira vez. Ele lembrava-se, já na idade adulta, das impressões que ele teve, vividamente: "O mar estava diante de nós. O mar e o céu eram de uma só cor. Não havia horizonte, e a água estava cheia de grandes navios à vela do Leste, com tudo pronto. Enquanto passávamos atrás das montanhas, de repente eu vi o que parecia um céu imensurável, e os navios de vela nele". Em outra ocasião, seus pais o levaram às ruínas de Baalbek, a Cidade do Sol, na cidade de Baal. Em uma floresta perto das ruínas imponentes, e em meio ao silêncio assustador do santuário, a família acampou por quatro dias.
Certa manhã, no pórtico de um antigo templo, Gibran encontrou um homem solitário, sentado no cilindro de uma coluna caída, olhando para o leste. Ele ousado o suficiente para lidar com o estranho, perguntou o que ele estava fazendo. - "Eu estou olhando para a vida", foi o que o homem lhe respondeu. - "E isso é tudo?", perguntou Gibran. - "E não é o suficiente?" perguntou-lhe o homem. Memórias como esta, ficaram com Gibran por toda a sua vida, e a "Cidade do Sol", foi citada em muitos de seus primeiros escritos.
O pai de Gibran, um homem forte, robusto, com pele clara e olhos azuis, que havia recebido apenas o ensino fundamental, era um homem de considerável encanto físico, e um dos homens fortes da cidade, muito temido pela família, e nada amoroso. Ele trabalhava numa farmácia, mas o álcool e o vicio por jogos de azar, fizeram-no contrair dívidas, o que acabou levando-o a trabalhar num cargo administrativo para os otomanos. Porém, em 1891, após diversas reclamações, ele foi removido do cargo e investigado, e na sequência, preso por peculato. A propriedade da família foi confiscada pelas autoridades e Gibran, juntamente com sua família, foi morar com familiares.
Kamileh tinha um temperamento forte, e mesmo após a libertação do marido, em 1894, estava decidida a seguir o irmão, e mudar-se para o EUA. O pai de Gibran não quis acompanhá-los, e Kamileh partiu sozinha com os filhos para os EUA, em Junho de 1895. Já em território americano, a família estabeleceu-se no extremo sul de Boston, onde Kamileh começou a trabalhar como vendedora ambulante de rendas, roupas de cama, e também como costureira. Crescendo em outro período empobrecido de sua vida, Gibran se lembrava do sofrimento dos primeiros anos, que deixou uma marca indelével em sua vida, e então ele passou a reinventar suas memórias de infância, dissipando a sujeira, a pobreza e os insultos.
O trabalho das instituições de caridade, nas áreas de imigrantes pobres, permitia que os filhos de imigrantes frequentassem as escolas públicas. Gibran foi o único membro de sua família a frequentar a escola, em Setembro de 1895, ao contrário de suas irmãs que, devido às tradições do Oriente Médio, e dificuldades financeiras ficaram em casa. Gibran foi matriculado numa classe especial para imigrantes, para aprender inglês, e erroneamente ele foi registrado como “Kahlil Gibran”, um fato que se manteve inalterado por toda sua vida, mesmo após inúmeras tentativas de restaurar seu nome completo.
Com o trabalho árduo de Kamileh, e o apoio emocional que ela oferecia aos filhos, uniu a pequena família, que superou as dificuldades financeiras, e permitiu inclusive, que Pedro abrisse uma loja de artigos onde as irmãs podiam trabalhar com ele. O introvertido e pensativo Gibran, pôde se misturar à vida social de Boston e explorar o mundo da arte e da literatura, e sua curiosidade o expôs ao rico mundo do teatro, da ópera e de galerias artísticas. Incitado pelas cenas culturais em torno dele, e através de seus desenhos, um hobby que ele tinha desde a infância no Líbano, Gibran chamou a atenção de seus professores, que viram um futuro artístico para o menino.
Em 1896, entraram em contato com Fred Holland Day, um artista, editor, e fotógrafo, que passou a incentivar e apoiar Gibran, abrindo assim, seu mundo cultural e o colocando-o no caminho para a fama artística. Fred Holland Day introduziu Gibran na mitologia grega, na literatura mundial, nos escritos contemporâneos e na fotografia, sempre cutucando o curioso libanês, a buscar a autoexpressão. A educação liberal, e a exploração artística não convencional de Day, influenciou Gibran, e levantou sua autoestima, que havia sido machucada pelo tratamento que ele havia recebido por ser um imigrante, além da pobreza pela qual ele havia passado.
Gibran era um rápido aprendiz e devorava tudo o que Day lhe dava para ler, mesmo tendo dificuldades no inglês, sua primeira crença religiosa proferida, após uma leitura oferecida por Day foi: “Eu não sou um católico, eu sou um pagão”. Gibran, sempre incentivado por Day, passou a aprimorar seus desenhos, e a desenvolver sua própria técnica e estilo, e alguns de seus desenhos acabaram se tornando capas de alguns livros publicados na editora de Day, em 1898, o que trouxe a Gibran, uma fama em idade precoce.
Todavia, Kamileh e Pedro, queriam que ele absorvesse mais de sua própria herança, e não apenas a cultura estética ocidental da qual ele estava tão atraído, além da preocupação com o sucesso precoce que ele vinha ganhando, e que poderia lhe causar problemas futuros.
Decidiram então que Gibran deveria voltar para o Líbano, para terminar seus estudos e aprender o árabe. Então, aos 15 anos, Gibran voltou à sua terra natal para estudar numa escola maronita de preparação ao ensino superior em Beirute, chamada “Madrasat Al-Hikma” (A Sabedoria).
Gibran se recusou a cumprir o currículo paroquial, exigindo que fosse feita uma restauração na sua grade individual, de acordo com suas necessidades educacionais, um gesto indicativo da natureza rebelde e individualista de Gibran. No entanto, a escola concordou com seu pedido, editando o material do curso ao agrado dele, que decidiu mergulhar na língua árabe bíblica, intrigado com seu estilo e escrita.
Como estudante, Gibran deixou uma ótima impressão em seus professores e colegas, que ficaram impressionados com o seu comportamento estranho e individualista, sua autoconfiança, e seu cabelo longo, não convencional. Seu professor de árabe viu nele "um coração amoroso, mas controlado, uma alma impetuosa, uma mente rebelde, um olho zombando de tudo o que via". O ambiente rigoroso e disciplinado da escola não agradava Gibran, que violava os deveres religiosos, ignorava as aulas, e desenhava nos livros. Na escola Gibran conheceu Joseph Hawaik, e juntos criaram uma revista estudantil intitulada “Al-Manarah”, onde Gibran fazia a parte de ilustração.
Enquanto isso, Josephine Peabody, uma jovem de 24 anos, que chamou a atenção de Gibran durante uma das exposições de Day, ainda em Boston, ficou intrigada com o jovem artista que dedicou um desenho para ela, e começou a se corresponder com Gibran no Líbano. Eles ficaram envolvidos romanticamente, através de correspondências, por muitos anos. Gibran terminou a faculdade em 1902, fluente em árabe e francês, e com um excelente currículo, especialmente em poesia. Sua relação com o pai se deteriorou, e ele foi morar com um primo pobre, situação que remexeu nas suas piores lembranças, que ele tanto detestava, e sentia vergonha. Sua segunda fase de pobreza no Líbano se agravou com a notícia da doença de sua família em Boston; cerca de duas semanas antes de voltar para Boston, sua irmã Sultanah de 14 anos, morreu de tuberculose, e no ano seguinte, Pedro e sua mãe morreram de câncer.
Cronologia resumida da obra e trajetória artística de Gibran:
1903-1908 - De novo em Boston, Gibran escreve poemas e meditações para o 'Al-Muhajer' (O Emigrante), jornal árabe publicado em Boston. Seu estilo novo, cheio de música, imagens e símbolos, atraiu a atenção do mundo árabe, nessa época, ele desenhava e pintava numa arte mística, que lhe era própria. Uma exposição de seus primeiros quadros despertou o interesse de uma diretora de escola americana, chamada Mary Haskell, que lhe ofereceu custear seus estudos artísticos em Paris.
1908-1910 - Em Paris, ele estudou na Académie Julien, e trabalhou freneticamente, além de ter frequentado museus, exposições e bibliotecas. Conheceu Auguste Rodin. Uma de suas telas foi escolhida para a Exposição das Belas-Artes de 1910. Neste ínterim, morreu seu pai. Voltou a Boston e, no mesmo ano, mudou-se para Nova York, onde permaneceu até o fim de sua vida. Morava só, num apartamento sóbrio, que ele e seus amigos chamam de 'As-Saumaa' (O Eremitério). Mariana, sua irmã, permaneceu em Boston. Em Nova York, Gibran reuniu em torno de si, uma plêiade de escritores libaneses e sírios, que embora estabelecidos nos EUA, escreviam em árabe com idênticos anseios de renovação. O grupo formou uma academia literária que se intitulava 'Ar-Rabita Al-Kalamia' (A Liga Literária), e que muito contribuiu para o renascimento das letras árabes. Seus porta-vozes foram, sucessivamente, duas revistas árabes editadas em Nova York: 'Al-Funun' (As Artes) e 'As-Saieh' (O Errante).
1905-1920: Gibran escreveu quase que exclusivamente em árabe, e publicou sete livros nessa língua: em 1905, “A Música”; em 1906, “As Ninfas do Vale”; em 1908, “As Almas Rebeldes”; em 1912, “Asas Partidas”; em 1914, “Uma Lágrima e um Sorriso”; em 1919, “As Procissões”; e em 1920, “Temporais”. Após sua morte, foi publicado um oitavo livro, sob o título de “Curiosidades e Belezas”, composto de artigos e histórias já publicadas em outros livros, e de algumas páginas inéditas.
1918 – 1931: Gibran, nesta época, havia parado de escrever em árabe, e dedicou-se ao inglês, no qual produziu também oito livros: em 1918, “O Louco”; em 1920, “O Precursor”; em 1923, “O Profeta”; em 1927, “Areia e Espuma”; em 1928, “Jesus, o Filho do Homem”; e em 1931, “Os Deuses da Terra”. Após sua morte, foram publicados mais dois: em 1932, “O Errante”; em 1933, “O Jardim do Profeta”. Todos os livros de Gibran foram lançados por Alfred A. Knopf, um dinâmico escritor americano, com inclinação para descobrir e lançar novos talentos. Ao mesmo tempo em que escreveu, Gibran se dedicou a desenhar e pintar. Sua arte, inspirada no mesmo idealismo que lhe inspirou os livros, distinguiu-se pela beleza e a pureza de suas formas. Todos os seus livros em inglês foram por ele ilustrados, com desenhos evocativos e místicos, de interpretação às vezes difícil, mas de profunda inspiração. Seus quadros foram expostos várias vezes, com êxito, em Boston e Nova York. Seus desenhos de personalidades históricas são também célebres.
Estilo e temas recorrentes:
Gibran era um grande admirador do poeta e escritor, Francis Marrash, cujas obras ele tinha estudado em Al-Hikma, escola em Beirute. De acordo com o orientalista, Shmuel Moré, as próprias obras de Gibran ecoavam o estilo de Marrash, muitas de suas ideias, e às vezes, até mesmo a estrutura de algumas de suas obras. Muitos dos escritos de Gibran lidavam com o cristianismo, especialmente sobre o tema do amor espiritual. Mas o misticismo foi uma convergência de várias influências diferentes: o cristianismo, o islamismo, o sufismo, o hinduísmo e a teosofia. Ele escreveu: "Você é meu irmão, e eu te amo, eu te amo quando você prostra-se em sua mesquita, e ajoelha-se em sua igreja e reza em sua sinagoga. Você e eu somos filhos de uma só fé, o Espírito".
Recepção e influência:
A mais conhecida obra de Gibran é “O Profeta”, um livro composto por vinte e seis ensaios poéticos. Sua popularidade cresceu durante os anos 60, porém ele foi publicado pela primeira vez em 1923. O livro “O Profeta”, nunca esteve fora dos catálogos, e foi traduzido em mais de quarenta idiomas, é um dos livros mais vendidos do século XX, nos Estados Unidos.
Concepções Religiosas:
Embora criado como um cristão maronita, Gibran, como um árabe, foi influenciado não só pela sua própria religião, mas também pelo Islã e, especialmente, pela mística dos sufis. Seu conhecimento da história sangrenta do Líbano, com suas lutas entre facções destrutivas, reforçou sua crença na unidade fundamental das religiões.
Pensamento Político:
Gibran não era um político, e costumava dizer: "Eu não sou um político, nem desejo de se tornar um, poupe-me dos acontecimentos políticos e lutas de poder, como toda a terra é minha pátria e todos os homens são meus compatriotas". Porém, o nacionalismo viveu em sua mente, mesmo na fase tardia, lado a lado com o internacionalismo.
A partir de 1923, Gibran desenvolveu um estreito relacionamento de correspondências com uma poetiza libanesa, chamada May Ziade. De fato as correspondências começaram por volta de 1912, quando ela lhe escreveu para falar como ela havia sido tocada pela história de Selma Karameh, no livro “The Broken Wings”. May era uma escritora intelectual, e defensora ativa da emancipação feminina, nascida na Palestina, onde recebeu educação clássica num colégio de freiras, ela mudou-se para o Cairo, onde seu pai iniciou um jornal. Semelhante a Gibran, ela era fluente em árabe, inglês e francês, e desde 1911 ela começou a publicar seus poemas sob o pseudônimo de “Isis Copia”. Ela achou “The Broken Wings” muito liberal até para seus próprios gostos, mas a questão das mulheres movia sua vida, a paixão entre ela e Gibran era comum.
May passou a substituir Haskell, como editora nos anos seguintes, e em 1921, Gibran recebeu uma foto dela, eles se corresponderam até os últimos dias de vida de Gibran. O papel de Haskell na carreira literária de Gibran foi diminuindo lentamente, mas ela o socorreu quando ele fez alguns maus investimentos, ela sempre lidou com assuntos financeiros, e sempre esteve presente para livrar Gibran de sua péssima administração financeira. Mesmo quando ela se mudou para o sul, para se casar com um fazendeiro, ele ainda continuou a confiar nela, inclusive sobre a pretensão de dar continuidade ao livro “O Profeta”, cuja segunda parte deveria se chamar “O Jardim do Profeta”, e a terceira parte, “A Morte do Profeta”. Devido ao seu estado de saúde, que foi começou a se deteriorar, e de sua preocupação com a escrita de seu maior livro em inglês, “Jesus, o Filho do Homem” a continuação de “O Profeta” foi colocada de lado.
Gibran contratou uma nova assistente, para substituir Haskell, chamada Henrietta Breckenridge, que desempenhou um papel importante após a sua morte. Ela organizou suas obras, ajudou a editar seus escritos, e conseguiu seu estúdio para ele. Em 1926, Gibran tornou-se uma figura de renome internacional, uma posição que era do seu agrado. Na época, ele tinha começado a trabalhar em um novo livro em inglês, “Lázaro e Sua Amada”, que foi baseado em um trabalho árabe anterior, e se tratava de uma coleção dramática de quatro poemas contando a história bíblica de Lázaro, sua busca por sua alma, e seu eventual encontro de sua alma gêmea.
Em 1928, o livro foi lançado, e foi um sucesso, com ótimas críticas, mas a saúde de Gibran começou a se deteriorar ainda mais, e a dor em seu corpo, devido ao seu estado nervoso, aumentava, e isso levou Gibran a procurar alívio no álcool. Logo, beber em excesso, transformou-o em um alcoólatra, no auge do período de proibição de álcool nos EUA. Nesse mesmo ano, Gibran começou a perguntar sobre a compra de um mosteiro em Bsharri, que pertencia a Carmelitas cristãs.
A saúde mental de Gibran, e seu vício no álcool, o fez desatar a chorar, durante uma noite de homenagem em 1929, onde lamentando a fraqueza de suas obras maduras, ele afirmou que havia perdido o seu poder criativo original. Nessa época, os médicos detectaram que a doença física de Gibran, havia se estendido para os fígados. Evitando o problema, e ignorando os cuidados médicos, ele continuou contando apenas com a bebedeira, e para se distrair ele escreveu “Três Deuses da Terra”, em 1930, e comentou com Haskell de sua intenção em abrir uma biblioteca em Bsharri, enquanto ainda planejava escrever a continuação de “O Profeta”. Ele escreve para May Ziade e revelou o seu medo da morte: “Eu sou, May, um pequeno vulcão, cuja abertura foi fechada".
Em 10 de abril de 1931, Gibran morreu aos 48 anos, no Hospital São Vicente, em Nova York, o câncer se espalhou em seu fígado, e deixou-o inconsciente. Antes de morrer, ele expressou o desejo de ser enterrado em Bsharri, e deixou uma grande quantia em dinheiro para que fosse enviada ao seu país, para que seus conterrâneos permanecessem no país ao invés de imigrar.
As ruas de Nova York fizeram uma vigília de dois dias para a honra de Gibran, cuja morte foi lamentada nos EUA e no Líbano. Haskell, Mariana e Henrietta organizaram o estúdio de Gibran e suas obras, separaram livros, ilustrações, e desenhos, para realizar o sonho de Gibran. Marianna e Haskell viajaram em julho de 1931 ao Líbano, para enterrar Gibran em sua cidade natal.
Os cidadãos do Líbano receberam o caixão com festa, em vez de luto, regozijavam-se pelo seu retorno à sua terra natal, pois a morte de Gibran aumentou sua popularidade. Após o retorno de Gibran, o Ministro libanês de Artes abriu o caixão e honrou o seu corpo, com uma decoração de Belas Artes. Enquanto isso, Marianna e Haskell começaram a negociar a compra do mosteiro carmelita que Gibran pretendia obter.
Em janeiro de 1932, o mosteiro de Mar Sarkis foi comprado, e Gibran mudou-se para sua última morada. Após sugestão de Haskell, seus pertences, os livros que ele leu, e algumas de suas obras e ilustrações, foram posteriormente, enviados para fornecer uma coleção local no mosteiro, que se transformou em um Museu de Gibran.
Museu Gibran:
O antigo Mosteiro de Mar Sarkis, é um museu biográfico em Bsharri, norte do país, há 120 km de Beirute, e dedicado ao artista, escritor e filósofo libanês, Gibran Khalil Gibran. Fundado em 1935, o museu possui 440 pinturas e desenhos originais de Gibran, e guarda o seu túmulo. Também inclui os móveis e pertences de seu estúdio, quando ele morava em Nova York, e seus manuscritos privados. O prédio que abriga o museu e seu túmulo, a pedido de Gibran, tinha para ele um significado espiritual, por ter sido um mosteiro do século VII, do tempo do eremita Mar Sarkis (São Serge). Em 1975, o Comitê Nacional Gibran restaurou e ampliou o mosteiro, para abrigar mais exposições, e em 1995, foi novamente expandido.
Próximo ao túmulo de Gibran está escrito:
"Eu estou vivo como você, e de pé ao seu lado... Feche os olhos e ao olhar ao redor me verá na sua frente".
Retirado do blog. Gazeta de Beirute
Parabéns por esta bela, e tão completa Biografia, desta Alma maravilhosa. Obrigada!
ResponderExcluirExcelente. Riquíssimo conteúdo, parabéns. Acredito que citar a colaboração local nas traduções de Mansour Challita seria interessante. Abs e obrigado.
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