Tudo nos influencia no ponto de vista de consciência e gera para
nós elementos que nos ajudam ou atrapalham, porque tudo é simbólico e ninguém é
tão influenciado pelos símbolos que nós emanamos, como nós mesmos. Digamos que
uma pessoa encontre você três vezes por dia, ela irá receber três vezes o
impacto da sua imagem. Quantas vezes você se vê no espelho?
É lógico que ninguém vai sofrer o impacto simbólico que você
transmite, mais do que você. O que Gibran tem a intenção de demonstrar neste
capítulo é muito deste simbolismo que a gente exala inconscientemente: a imagem
que transmitimos e que não é impune.
A consciência humana tem um critério que é como um radar, aonde ela
detecta incoerência, é uma porta fechada que ela não entra. Então se eu sinto
incoerência entre o que você fala e o que você demonstra no teu olhar, na tua
gesticulação, na tua vestimenta: eu não confio. O processo pedagógico é
altamente requintado neste sentido.
Quando você se impõe na frente de algo, você impõe tudo o que você
é e não simplesmente o que você fala. Quando você convive com as pessoas, você
também as influencia, desta mesma maneira; em detalhes.
A consciência humana é muito requintada , e ela capta elementos que
a gente às vezes não sabe muito bem.
Ele vai falar do cuidado de cobrir o nosso corpo por medo da
desonra, do despudor. Gibran irá comentar como isto é engraçado porque na
verdade, é como se você considerasse que está cheio de ladrões nas ruas e ao
invés de você trancar os ladrões, você tranca as riquezas. Você faz das
riquezas prisioneiros. Nosso corpo necessita de algum contato. A natureza
humana, falando do ponto de vista físico, energético e até mesmo do
psicológico, necessita de contato com a natureza como um todo.
Se nós obedecêssemos a lei da necessidade, necessitaríamos de
roupas, mas não tão da maneira como usamos porque elas não obedecem àquilo que
necessitamos, mas aquilo que tememos. Ou seja, não cuidamos dos nossos
instintos. Não tentamos prender o “eu” animal; tentamos prender àquilo que ele
almeja. Nós invertemos as coisas e nisto perdemos muito, porque geramos uma
barreira entre a nossa Natureza como um todo. Um espaço que impossibilita a
comunicação aonde a vida vai se tornando cada vez mais artificial. Isto em
todos os planos, inclusive no psicológico.
Houve um tempo que o ideal era morar num belo apartamento dentro
das grandes cidades; hoje, as próprias pessoas que tinham este tipo de valor,
começaram a perceber que não há nada melhor que procurar casas o mais afastadas
possível do centro da cidade.
A nossa forma de vida desconsiderou muitas necessidades humanas que
no passado foram conhecidas.
Em Roma, os pater-família sabiam o que era necessário quando alguém
adoece; está passando por uma fase de tristeza, que é cíclica pra todo mundo.
Eles sabiam como ajudar, o que os familiares deviam fazer... todos
os elementos da vida, que nós que nos
consideramos tão tecnológicos, já não sabemos tanto assim sobre o homem, sobre
as coisas práticas da vida humana. Criamos uma forma muito artificial de vida,
que vai da maneira como acordamos, como dormimos, como vivemos, como morremos,
como vestimos, como habitamos.
De uma certa maneira, esta coisa nos ferem. E depois como
consideramos como na humanidade atual anda estressada, amedrontada...nós não
sabemos o que nos feriu. Vimos as consequências, mas não vimos as causas.
Perdemos a noção do que fere a Natureza humana.
Se perguntarmos: Por que o homem moderno é estressado? Iremos elencar
mil razões, mas não vai falar da casa dele nem da roupa dele.
Por que o homem não é tão conhecido? Porque o homem não é
importante. Ele não é o final do processo. O final do processo é gerar coisas e
não construir seres humanos. Tudo o que fazemos hoje está na função de gerar
produtos e não seres humanos.
Construção de um ser humano melhor não é o produto ad sociedade.
Somos uma sociedade capitalista, que viemos aqui construir coisas e não para
construir homens.
E um tecelão disse:
-Fala-nos das
vestes...
O tecelão quer saber se àquilo que ele teceu de vestimenta para o
homem e para si mesmo. Foi apropriado, adequado...se valeu à pena.
Vossos tarjes
ocultam muito de vossa beleza;
porém não escondem o
que não é belo.
Vossos trajes
ocultam muito do seu corpo que é belo, mas os vossos trajes não ocultam a sua
hipocrisia, a sua ironia, a sua mentira, a sua debilidade. Não existem trajes
para ocultar isto. Sabe por quê? A gente não se envergonha disso. Isto a gente
expõe despudoradamente. Se havia alguma coisa que a gente deveria esconder por
pudor, seriam essas coisas. Deveríamos vestir a nossa debilidade, a nossa
falsidade, a nossa incoerência, a nossa desonestidade.
Nós não temos
nenhuma preocupação de ocultar isto. Isto é exposto e socialmente aceito. Uma
vez cheguei a uma conclusão curiosa e interessante.
Se você tem uma
experiência bonita, que fez algo adequado, foi honesto, foi íntegro, fraterno..percebemos
que dentro de um círculo social-convencional, quando você vai falar sobre isto,
não é bem aceito. As pessoas falam que: está querendo se exibir, parecer o bom,
acha que é santo..é tido de uma forma antipática você falar de suas virtudes,
porém se você chega e faz uma fofoca, uma crítica mórbida, uma coisa grosseira,
vulgar...isto é muito bem aceito. Está previsto dentro daquele grupo. Faz parte
da ordem do dia.
Nós somos
implacáveis em relação às virtudes, mas temos muito boa aceitação em relação
aos vícios.
É como se a gente
ocultasse àquilo que a gente tem de mais belo e expulse despudoradamente o que
a gente tem de mais feio. Isto a gente não tem preocupação de cobrir, ou seja,
as nossas vestes não atendem uma lei da necessidade que cubra àquilo que a
gente se envergonhe, ou que precisa ser coberto. Cobre aquilo que você tem de
mais belo. Se você faz uma boa ação, você não conta pra ninguém, mas se você
tem um defeito, vai ser muito bem aceito.
Se você tem uma
virtude, cuidado, vão te criticar. Mas se você tem um mau hábito, isto é
socialmente normal. Você vai ser tomado, inclusive, com mais apreço por isto;
porque vão sentir afinidade com você. Vão te tomar como um deles.
O escritor moderno:
Existe um acordo tácito em prol da mediocridade, onde a virtude é imperdoável
porque expõe todos os demais. Se você demonstra uma virtude, você expõe que
todos deveriam tê-la também; não tem por inércia, logo, você acaba expondo a
inércia de todo mundo.
As nossas vestes não
encobre aquilo que a gente mais deveria se preocupar em esconder. Platão faz
uma diferenciação entre vergonha e pudor. Ele dizia que o pudor é bom, a
vergonha é péssima. Exatamente por ocultar o bem e o mal.
Por exemplo: se eu
pedir para uma pessoa ajudar outrem e esta responde: “ eu não vou, eu não tenho
coragem.” Você está tendo vergonha, e isto é uma coisa negativa. Porque seria
uma coisa honrosa você ajudar alguém. Não tem nada para se envergonhar desta
ação.
Agora, se eu tenho
um defeito, estou lutando contra ele, mas eu não consegui vencer e não quero
mostrar. Isto não quer dizer que eu seja falsa, e sim é uma questão de
cortesia. Eu quero mostrar o que tenho de melhor. Isto é pudor. Não é que eu
estou dizendo que sou perfeita, mas eu quero dar o que tenho de melhor.
Se eu convidar vocês
para minha casa, na sala de estar aonde eu vou recebê-los eu irei colocar um
vaso de dlores e não uma lata de lixo. Não é que eu esteja negando para vocês
que eu tenho lixo, mas irei coloca-lo no lugar que não ofenda. Eu não tenho
como viver sem ele, porque aquilo que eu faço gera detritos e eu não estou
escondendo isto de ninguém. Mas eu não irei colocar isto na vitrine. Percebe
que temos uma sociedade em que o lixo é colocado na vitrine? Em vários aspectos
da vida é assim: o lixo está na vitrine.
Embora procureis nos trajes
A proteção libertadora de vossa intimidade,
Neles podeis encontrar arreios e cadeias.
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