segunda-feira, 22 de abril de 2019

RAZÃO E PAIXÃO: GIBRAN



Neste capítulo Gibran irá dar continuidade à ideia do amor. Ele complementará os reflexos do amor e da inteligência no nosso mundo concreto. O autor se inspira na filosofia Oriental como na Ocidental para falar sobre os temas abordados, e em relação à razão e paixão, para ele são duas ferramentas altamente úteis se soubermos usar.

Se soubermos usar a razão, desenvolveremos inteligência; se você souber desenvolver a paixão, desenvolverá AMOR. E esses dois sentimentos serão sintetizados num impulso de realização que é a VONTADE (capacidade do homem de mudar a si próprio e mudar o mundo. Vontade de determinação, transformação interna e externa.

Agora se você usa esses dois sentimentos para baixo, terá a SOMBRA da vontade, que é o impulso cego (sem inteligência e sem amor).

Se o homem não sabe lidar com a razão e a paixão, fica nesse desequilíbrio usando mais uma do que a outra; ele nunca chega a conquistar amor e inteligência.

Na Idade Média o homem foi totalmente passional; chega na Idade moderna, totalmente racional. O homem ainda não encontrou um meio termo, aonde ele equilibre todas as coisas que tem dentro dele e as use como ferramentas: todas com o mesmo valor.

Sempre identificamos como uma parte de nós, às vezes como um trauma, preconceito, e não como centro de sabedoria ( que administra e usa tudo isto).

Gibran vai tratar deste aspecto: o desequilíbrio do homem que descrimina uma parte de si mesmo e portanto deixa de crescer, de atingir o seu ápice de possibilidades, que faz dele um verdadeiro SER HUMANO.



                E a sacerdotisa se adiantou novamente e disse:

                -Fala-nos da Razão e da Paixão!

                E ele respondeu dizendo:



Foi a sacerdotisa quem perguntou sobre o AMOR e agora pergunta sobre a RAZÃO e a PAIXÃO. Sendo ela uma sacerdotisa, tem a preocupação com a sacralização da VIDA, ou seja, ela faz com que todos os elementos que existem dentro do homem faça sentido, possa ser utilizado para fazê-lo crescer e ajudar a humanidade.

Existe um antropólogo do século passado que diz: “ O sagrado é a função de dar sentido”. Uma flor quando desabrocha na primavera é sagrada; o sol quando nasce pelas manhãs é sagrado porque faz exatamente  o que corresponde a ele. O homem quando desperta para virtudes, valores e sabedoria é sagrado porque está fazendo exatamente o que se espera dele como homem.

Se as flores deixarem de desabrochar nas primaveras, perderíamos muito. Se o sol deixasse de nascer, morreríamos todos. Se o homem deixa de realizar-se de valores, virtudes e sabedoria irá se desumanizar. É ingênuo achar o que falta para a humanidade são coisas materiais.

O que falta para humanidade são homens.

A fome existente no mundo é falta de comida ou de fraternidade? É falta de bens materiais ou de honestidade?

Então Almitra, como sacerdotisa, a função dela naquele povoado era a sacralização da vida. Fazer com que o homem aprendesse a lidar consigo mesmo.

Ela esbarra com uma grande dificuldade que esbarramos todos nós: o domínio da razão e paixão / saber usá-la. Temos de ter uma identidade acima das duas. Se eu acho que sou a razão; eu nego a paixão. Se eu acho que sou a paixão; eu nego a razão. Se eu acho que sou um ser que tem uma essência imortal, que presencio essas coisas como uma caixa de ferramentas aberta na minha frente



O homem não sabe controlar a si próprio se ele se identifica com fenômenos passageiros. Ele acha que ele é os seus defeitos, suas paixões.

Nós viemos aqui para saber lidar conosco mesmo, mas isto só é possível quando houver uma desindentificação.

Exemplo: Quando você quer educar uma criança ou um animal, se você se identifica com ele, você não consegue.

Numa relação de pai e filho às vezes vivemos um equívoco de que o pai é amiguinho do filho, quando o filho psicologicamente precisa do amiguinho, mas também precisa do papel do pai. Por que se o pai resolve ser o amiguinho, quem vai ser o pai?  Vai haver um vácuo psicológico na vida desta criança e o pai não tem autoridade. Não tem capacidade de ajudar esta criança a amadurecer e ser formada. Por quê? Porque ele se identifica com ela, ao invés de ser capaz de conduzi-la de fora, ocupando o seu papel. Resumo: Quando você se identifica com algo, você não tem autoridade sobre ele.

O filósofo Sêneca disse: “Certifica-te de ver morrer os teus defeitos, antes de ti. Assiste ao menos ao funeral de um ou dois.”

               

   Vossa alma é frequentemente um campo de batalha

                onde vossa razão e vosso juízo combatem vossa paixão e vosso apetite...



Fica uma guerra. Como todos os dois são você mesmo, seja quais dos dois que vier, você perdeu.

É uma forma de lidar com a realidade que deixou de ter.

No Egito existe um livro: Caibalion ( que são as leis de Hermes Trimegisto no qual explica  em 10 leis o Universo manifestado).

Tem um princípio que é o da neutralização que diz: “você só consegue administrar um conflito quando a tua consciência pula para um patamar superior.”

A partir daí tua consciência vai perceber o que é justo, coerente, sensato ou não...pois não há mais desejos, porque entrou a justiça.

Uma das coisas bonitas entre razão e paixão que culmina em AMOR é a raiz desta palavra que vem de uma língua proto-indo-europeu, que vem provavelmente desta sílaba que o bebê pronuncia quando chama pela mãe: “ma...ma...ma...”

Ele compreende na mãe, não só aquela que vai dar o alimento, o seio... mas aquela que vai protegê-lo, aquela que vai dar amor, algo que o protege e envolve sem interesse porque só quer o bem dele, onde se sente seguro.

O amor é a confiança de que alguém não está querendo algo de você, alguém que quer só  o teu bem e vai alimentar no nível físico, psicológico, mental e se possível até no espiritual porque ela irá dar tudo que ela tem de melhor sem querer nada em troca.

Evidentemente para podermos julgar com amor uma disputa qualquer teríamos que não ter desejos, não termos interesse. A consciência está no patamar mais elevado. E aí podemos julgar quando é hora da razão e quando é hora da paixão e não negar nenhum dos dois. Qualquer potencial humano negado, perdemos nós como seres humanos.



             Pudesse eu ser o pacificador de vossa alma,

transformando  a discórdia e a rivalidade

entre vossos elementos em união e harmonia.



Al Mustafá se coloca: “quem pudera eu harmonizar isto em vocês”. Sabe por quê? Se eu não harmonizar ou vocês mesmos se harmonizarem  e ficarem com este desequilíbrio: passionais demais ou racionais demais você será explorado e manipulado. É uma das coisas mais verdadeiras da história.

Como nasceu o uso dapalavra exploração. É difícil saber como surgiu ...mas sabemos que na Grécia, um grupo de cidadãos (os sofistas) manipulavam as pessoas na Grécia Antiga e usavam duas coisas para manejar e manipular com maior facilidade. Existe uma dualidade no ser humano que é muito conhecida ao longo da história: Quando a paixão se eleva, a razão baixa e vice-versa. O homem não consegue equilibrá-la no mesmo patamar.

Então a pessoa que está muito racional, em geral não está sentindo nada; ou quando ela está muito passional, no geral não está pensando.

Sabe como se faz isto num discurso quando alguém quer manipulá-lo?

Num discurso você vai fundamentando bem o teu argumento racionalmente, cita várias autoridades no assunto, conquista a confiança do público... Quando você conquistou a confiança, ou seja, nos 10 a 15 minutos iniciais, você depois, joga um argumento muito emocional gerando um clímax. Na emoção as pessoas não pensam, você dá uma pequena desviada da lógica: 2 a 3 graus...desvia e desce...continua fundamentando racionalmente : cita Platão, exemplos que todos concordam; conquista um pouco mais de confiança, gerando um outro clímax emocional, ninguém pensa...mais uns 3 ou 4% de desvio. Logo, você é capaz de conduzir as pessoas para 90% de desvio ou mais. Todo bom manipulador,  tem um bom assessor que conhece lógica.

Máxima Universal: Cuida dos teus defeitos para não seres explorados por ele. O desequilíbrio entre razão e paixão abre uma fresta porque quando ficamos passionais não temos controle sobre isto e não raciocinamos. Quando estamos muito racionais, movidos pelo interesse, não sentimos nada e essas coisas são uma fresta de desequilíbrio.



                Mas como poderei fazê-lo,

                a menos que vós mesmos sejais também pacificadores,

                e mais ainda, enamorados de todos os vossos elementos?

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