segunda-feira, 27 de agosto de 2018

DOCUMENTÁRIO : EU MAIOR


Eu Maior, é um documentário de 2013 sobre autoconhecimento e busca da felicidade. Agradeço por algumas falas terem despertado um pouco mais a minha consciência.
Destacarei aqui a fala de 5 pessoas que tocaram minha alma embora no dia a dia, algumas que destaquei neste contexto eu não concorde com algumas posições ideológicas.
Segundo Monja Coen “ As emoções nos são muito rápidas, elas são instantâneas; o resto é memória. E aí a gente fica chamando essa memória, principalmente de coisas desagradáveis.”
Então ela conta a história dos dois monges que atravessam o rio; ambos fizeram votos para não tocar em mulheres, porém, no caminho da travessia, há uma mulher que lhes pede ajuda e um deles a ajuda; o outro fica indignado com aquela atitude e braveja: “ Você carregou aquela moça”... Então, o monge que praticou a ação, fala muito tranquilo: “É..mas eu deixei ela lá e você continua carregando.”
Prefiro ser desmemoriada, pois, como todos, já tive muitos momentos prazerosos, mas também muitos tristes; só que não sou uma pessoa de me apegar às lembranças. Procuro não alimentar aquilo que não me fez bem. Só lembro, muitas vezes, quando outros me fazem lembrar.
Agora destaco a fala do psicólogo, Roberto Crema; “Como os orientais se expressam, a prisão é maya, é ilusão. Temos de saber quem somos, de onde viemos e para onde vamos...e a liberdade é você tomar consciência e ser capaz de ser o autor da sua própria existência. Nenhum vento é favorável para aqueles que não sabem aonde quer chegar.”
E, eu sei... eu quero estar bemmm e ser feliz, embora isto seja uma construção diária. Assim, como tenho consciência de que a felicidade é mais um estado de espírito. Acho que me contento com minhas faltas e minhas carências. É uma estratégia. “Estar contente embora tendo mazelas é o caminho certo para delas libertar-se”, segundo Hermógenes. Aceitar como se é, já é um caminho para saber quem sou e o que em mim preciso transformar.
Então, quando Marina Silva comenta: “ Uma qualidade que a gente deve cultivar, é saber-se frágil, saber-se incompleto, saber-se faltoso, dependente deste outro que me sustenta, que me completa, que me acalma e que me inquieta.”
Quando nos percebemos inconclusos, algo nos impulsiona para o crescimento, o amadurecimento. O sentimento da falta se assemelha ao sentimento da perda. No momento que perdemos algo, ganhamos mais força.
Percebemos que muitas de nossas angústias são buscas por algo que está fora de nós. Temos de compreender que existe uma força interna dentro de cada um, que só com o autoconhecimento e exercícios diários de consciência de que o divino existe, mas que também está em nós. Esses exercícios são mais penosos do que os físicos, pois muitas de nossas forças estão escondidas e o ego insiste em permanecer num estado de letargia. Neste sentido, quanto mais nos percebemos, as coisas menores e insignificantes vão deixando de nos incomodar, pois os nossos sentimentos e emoções estão mais equilibrados.
Mário Sérgio Cortella afirma: “ A vida é muito curta para ser pequena”. Vida é algo para engrandecer a mim e quem está a minha volta. Vida pequena é ser banal, superficial, fútil. E aí ele se questiona: o que eu faço da minha vida antes que a morte não aconteça para que ela não seja, banal, superficial, fútil, pequena... No dia que eu for, eu quero fazer falta.  Fazer falta não significa ser famoso, significa ser importante. Importar, quando alguém me leva pra dentro. Eu preciso me transbordar...ir além da minha borda, eu preciso me repartir...”
Acho que um dos grandes ganhos nossos é ser plural, é nos sentirmos útil e necessário para as pessoas e usar a sabedoria. Uma pessoa sábia somente se ocupa. Não se pré-ocupa e não se pós-ocupa. Vive o hoje. “não quer dizer que seja imprudente e irresponsável, mas acha que não é inteligente começar a dançar antes que da música toque nem continuar dançando depois que ela finda. Sabe prever para prover e não para sofrer.”
É difícil agirmos assim, mas tudo é treino, é busca, caminho...
Para Hermógenes “o ser humano não é o corpo, ele possui um corpo, manobra com o corpo, cuida do corpo, mas ele não é o corpo; então yoga é um estilo de vida que cultiva o corpo, mas cultiva também a mente. Trabalha com as energias. Os grandes yogues não trabalharam o corpo. Você viu alguma fotografia do grande yogue, Jesus Cristo, de cabeça para baixo?”
Neste documentário você pode digerir todos esses questionamentos e refletir sobre outros através das experiências de vida dos entrevistados. Algumas falas me chamaram mais atenção, outras nem tanto. Acho que a proposta é esta: o debate, o questionamento, pois trata de assuntos essenciais e universais.

MÚSICA : MINHA ALMA






Minha alma 
a minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo)

às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz

as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão
me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo
procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo

Minha alma tem uma letra que nos faz refletir o que estamos fazendo com a nossa alma! A letra é uma obra de arte, fala sobre a influência do medo na vida das pessoas. Com quase seis minutos e todo filmado em preto e branco, o clipe da canção é considerado hoje um dos melhores e mais importantes já feitos no país, não só por sua mensagem social, que ajudaram a estabelecer seu autor Marcelo Yuka como um letrista de alto nível, como pelas imagens, consideradas quase um curta-metragem.

Letra de Marcelo Yuka, ex-baterista da banda Rappa. A música consta no CD  “ lado B lado A” de 1999 (terceiro CD). Originalmente a música iria ser chamada “As grades do condomínio são para te dar proteção”. Teve seu nome alterado por pressão do diretor executivo da Warner. .

a minha alma está armada
e apontada para a cara
do sossego (sego)
pois paz sem voz
não é paz é medo (medo)

Vivemos numa comodidade absurda!! Hoje está na nossa cara que deram um golpe no nosso país e parece que não está acontecendo nada; os brasileiros (principalmente àqueles que bateram panela) não se expressam sobre os problemas sociais e para piorar alimentam o poder midiático; parece que desconhecem o papel desta  no campo político, social e econômico de toda sociedade. Através desse mecanismo,  essa instituição incute na população uma consciência, uma cultura.  Apontar uma arma é um gesto de autoridade para quem aponta e de  submissão para quem é apontado. No caso, ele quer sair da zona de conforto do sossego, pois se para ter paz, é preciso calar a boca em relação às coisas que precisam ser protestadas, você não está em paz, pois como diz a música : Paz sem voz, não é paz, é MEDO.

às vezes eu falo com a vida
às vezes é ela quem diz
qual a paz que eu não quero
conservar
para tentar ser feliz

Está muito claro que esta paz que ele está tendo não é a que o faz feliz. Ele tem plena consciência disto.

as grades do condomínio
são para trazer proteção
mas também trazem a dúvida
se não é você que está nessa prisão


Sempre ouvimos que não existe segurança no Brasil. Vivemos num país violento, que para ter proteção só em condomínios fechados, cheios de segurança e com câmaras, mas as pessoas  não percebem que são elas que estão realmente aprisionadas, sem liberdade. Estão presas.

me abrace e me dê um beijo
faça um filho comigo
mas não me deixe sentar
na poltrona no dia de domingo

Yuka retrata o cotidiano de muitas pessoas. Cotidiano que aliena e vai transformando os brasileiros em robôs. Muitos trocam um passeio, um almoço em família por um programa de TV. Muitos ainda vivem assistindo programas ridículos aos domingos.  Marcelo faz um apelo na canção, “não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo!”. Esse verso mostra que ele quer se alienar.

procurando novas drogas
de aluguel nesse vídeo
coagido pela paz
que eu não quero
seguir admitindo

Neste verso há uma metáfora entre as drogas físicas e  a TV e seus programas. Uma droga praticamente coagida. Um veículo de mídia que ao invés de usar drogas psicotrópicas, usam drogas visuais, como por exemplo aquele reality show de putaria que muitos não perdem por nada.

Se Marcelo Yuka já tinha uma sensibilidade sobre os problemas sociais, depois do seu acidente, pois o mesmo levou nove tiros em 2000 e hoje se encontra paraplégico, sua sensibilidade tomou uma dimensão incomensurável. Em uma de suas últimas entrevistas fala sobre o seu machismo.

O músico afirmou que sempre teve uma atitude machista em relação ao sexo,  e ter se tornado cadeirante mudou essa realidade. “Eu percebi que eu tinha uma coisa machista antes da cadeira de rodas, era meio machista mesmo. Antes, sempre que uma namorada dizia pra gente fazer amor, eu não entendia. Eu achava que era uma coisa pra aquecer mais o sexo, que era ela tentando falar de uma maneira fofa sobre 'trepar'. Depois da carreira de rodas, até eu voltar a sentir alguma coisa, demorou. Aí fiquei naquela de trepar ou fazer amor. As mulheres foram muito generosas comigo, e eu acho que fiquei um pouco mais feminino. O homem ele é direto no corpo, mas a gente goza é na cabeça. Agora passei a fazer amor", explicou ele..

Seria ótimo que os homens deixassem o machismo antes mesmo de ter de passar por algo tão dolorido.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

GRAFIFEIRO EXALTA O POVO NORDESTINO



São familiares, vizinhos, amigos, trabalhadores e trabalhadoras com os quais Pato sempre conviveu desde sua infância. Presenciou as dificuldades pelas quais passam, mas também a força e a fé que os fazem seguir adiante. “Quero dar voz a quem nunca teve”, diz.
“Comecei a perceber que aqueles que vinham para cá tinham todo esse trabalho, suor e sangue derramado para levantar a cidade, mas são totalmente menosprezados, invisíveis, sem qualquer valor. Cada um com uma história linda. São grandes heróis e heroínas”, argumenta ele. “Eu sinto a necessidade de falar disso, de que o mundo veja isso, a força dessas pessoas. E minha forma de expressar é a pintura, o grafite.


É o caso de seu Bras, vizinho de Pato que faleceu há pouco tempo de câncer, com mais de 80 anos. “Era um nordestino arretado mesmo, um mestre. Eu cresci vendo esse cara tocando todo tipo de instrumento, era só colocar na mão dele. Ele era seresteiro, um gênio, e também cortava meu cabelo”, conta o pintor. Ao falecer, pediu para a filha do homem uma fotografia e, em seguida, pediu para Gilmar, outro vizinho, que cedesse uma parede de sua casa. Misturando a tinta vermelha com a amarela, chegou no laranja, para logo colocar o azul e chegar no marrom.
Com uma mistura de tons fez a pele de um seu Bras mais novo, com cerca de 50 anos e um acordeon pendurado em seu ombro. Sobre seu estilo de pintura, explica: “Eu tento fazer expressionismo, estou buscando isso. É um realismo-expressionismo, uns  traços bem marcados. Não busco deixar a pintura limpinha, tento sujá-la mais”.
Quando não pinta rostos conhecidos a partir de fotografias cedidas, Pato busca no Google as imagens que deseja. “Em cima da temática do povo nordestino, eu pinto o que estou sentindo, o que minha cabeça está falando”, explica. O trabalho, a música, os deslocamentos, e os temas sociais são recorrentes —um de seus grafites retrata uma mulher emocionada, com a mão no rosto, segurando um cartão do Bolsa Família. “Eu fico bolado, porque uma penca de playboy diz que isso tem que acabar, que é coisa de vagabundo. Meu irmão, se ele nunca passou fome ou sede e sempre teve tudo do bom e do melhor, como ele vai opinar sobre quem nunca teve nada?”, questiona.


Um dia, Pato queria falar sobre amor. Decidiu então pintar, num muro que fica embaixo de um viaduto que liga a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, duas das principais vias expressas do Rio, um casal de idosos rindo e se abraçando, de olhos fechados. Havia encontrado a foto na internet. “O pessoal passa por aqui às 4h para ir trabalhar. E pensei que muitas vezes a gente está chateado, com o patrão te esculachando na empresa, e você sem moral, desanimado, mas sem poder largar o trabalho porque tem que colocar comida em casa”, explica. “Então pensei em falar de amor para essas pessoas, acho que essa imagem pode mudar o dia delas”, acrescenta.

Enquanto fala com a reportagem sobre a pintura, uma senhora passa em frente a ela segurando um carrinho de compras. Para em frente ao grafite e começa a falar e gesticular, como se estivesse conversando com as pessoas ali representadas. As pessoas se identificam muito. Às vezes estou pintando e param para conversar, chorar… Muitas se sentem representadas, principalmente os mais velhos, porque é um povo que já lutou muito. Também porque a maioria dos meus retratos são de pessoas mais velhas”, explica.
Pato, como todo artista de rua, pinta onde houver um muro ou uma parede disponíveis. Contudo, seu trabalho pode ser mais apreciado em bairros das periferias como Ramos – onde ele nasceu e cresceu–, Penha, Bonsucesso, Complexo do Alemão, Maré… Ele também pinta quadros com a mesma temática, o povo nordestino, para vender e tirar seu sustento, já que mora de aluguel com a sua esposa. Mas a rua continua sendo seu espaço preferido de trabalho, onde se sente mais à vontade. Colorindo as maltratadas paredes da periferia e transformando-as em um museu a céu aberto, busca oferecer arte para aqueles que nunca tiveram acesso a ela e que possam se sentir representados por seus grafites.
As origens de Pato são parecidas com as de seus personagens. Um avô seu é nordestino, o outro é indígena e sua avó é mineira. Tiravam seu sustento como feirantes ou lavando e passando roupa. Já Pato nasceu no Rio mesmo e começou a desenhar desde cedo. Seu primeiro contato com a cultura urbana ocorreu quando tinha 14 anos. Começou fazendo pichações pela cidade. “A gente novo, adolescente, quer espalhar nosso nome pela cidade”. Em 2010, conheceu o grafite e desde 2013 vem pintando direto. Primeiro com spray, agora com tinta de parede. “Para mim, o grafite é só um pouco mais caprichado que a pichação. Há pessoas que acham o contrário.
Mas a intenção dos dois é a mesma: são os jovens querendo se expressar”, argumenta. “Sei que é complicado, às vezes o cara pinta a casa, gasta uma grana, e vem alguém e picha. Mas isso é um reflexo do que acontece no Rio e no Brasil, das oportunidades que não dão para a gente. A galera quer colocar para fora o que está engasgado. A pessoa que está pichando está colocando algum sentimento ali. Tem que ter respeito”, acrescenta. Sua inspiração é justamente “a galera que está na rua pintando comigo”, mas entre os mais conhecidos cita Os Gêmeos e o espanhol Aryz.
Pato chegou a trabalhar em uma loja de tintas para poder comprar seu material a um preço melhor. Fazia grafites de cartoons quando, em 2015, começou a mudar, a encontrar uma linha de trabalho, uma inspiração: as pessoas ao seu redor. “Foi o momento que eu despertei. Pensei ‘caramba, por que eu estava fazendo isso esse tempo todo e não estava falando disso? Onde minha cabeça estava? Eu deveria estar dormindo. As pessoas precisam ver essas historias'”.
Já perdeu a conta de quantos muros já pintou, mas diz tentar finalizar no mínimo um por semana. Por ora, pretende não só seguir com esse trabalho como também levá-los para as ruas de outras cidades. Também espera ser chamado para cursar pintura neste segundo semestre na Escola de Belas Artes, da UFRJ, para aprender e trocar experiências. Diz que “adoraria ter reconhecimento” para poder se manter com as pinturas que faz na rua, “mas sem abrir mão da mensagem” que passa. “Com a arte, com a pintura, a gente consegue do nada tirar alguma coisa pra passar para os outros. Isso é amor, irmão. É amor ao próximo”.
Fonte: El País


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

BASTA DE XENOFOBIA COM OS NOSSOS IRMÃOS VENEZUELANOS

Como não se sensibilizar com tanta dor, desilusão e falta de perspectiva dos nossos irmãos Venezuelanos!!!
Esta foto acima me chocou: três crianças tirando comidas do lixo para sobreviver...meu Deus!!! Crianças que deveriam estar em seus lares, estudando... mas perderam tudo, até a dignidade de ser humano.
 " Não tenho medo de procurar comida no lixo...Já me acostumei", diz garoto de 9 anos depois de entrar numa lixeira - e ser ajudado por um venezuelano adulto a sair.
Lá e em outras lixeiras que reviraram acharam cenouras estragadas, batatas-doces, um pimentão murcho, e alguns poucos temperos.
"Depois que encontramos levamos para nossa mãe e ela cozinha. Às vezes é sopa e dividimos", diz a irmã que chegou a Pacaraima há poucos dias.
O problema é que tem muitos brasileiros que estão expulsando-os em nome de um tal "LOUCO" candidato a Presidência da República. DEUSNOSLIVREEEEEEE!!!!! Nós não merecemos isto!!!!
Alguns brasileiros estão achando que os Venezuelanos são nossos inimigos!
Devemos ter muito cuidado, pois historicamente já vimos algo parecido há muitos anos atrás.
Hitler não suportava os judeus e estes viveram marcados pelo ódio e o preconceito. Ele acreditava que toda a desgraça que estava acontecendo na Alemanha, como: sofrimento, morte e fome eram ocasionados pelos judeus; só que, estes eram detentores de muitas riquezas, donos de bancos e controladores de finança.
Sei que existem muitos brasileiros desempregados, mas o mínimo que podemos ser, é não ser xenofóbico.
Ajudar é uma questão de cidadania.





CRôNICA - A ALEGRIA DAS PEQUENAS COISAS


A Alegria das Pequenas Coisas


Há alguns dias, resolvi preparar alguns biscoitos para minhas filhas, como contraponto à rotina de trabalho. E aproveitando as facilidades da tecnologia, encontrei rapidamente um vídeo ensinando a fazer cookies de chocolate.

Os ingredientes estavam facilmente à disposição no supermercado próximo de minha casa, e ante a notícia do que iria fazer, consegui logo 3 ajudantes mirins (minhas duas pequenas, e uma visitante que ficou sabendo e veio mais que depressa).
Em pouco tempo, descobri o quão divertido pode ser ir para a cozinha (e mais ainda com a ajuda delas), e logo estávamos os 4 a curtir alegres (e deliciosos) momentos de preparação e, finalmente, de degustação dos ansiados cookies de chocolate.

Enquanto fazia os biscoitos, na confusão de vasilhas e da batedeira sujas, por mais de uma vez tive de afastar o pensamento de que teria sido bem mais fácil levá-las ao shopping e comprar cookies e, qualquer outra coisa, prontos. E por mais de uma vez tive de resgatar a ideia original, de que estava ali por outro motivo, e não simplesmente preparando um lanche.

E depois disso, refleti sobre o motivo de termos poucos desses momentos; momentos de alegria tirados de circunstâncias simples e despretensiosas. E um deles, percebi, é a ânsia de buscar o fácil e o cômodo do pronto, quando poderíamos ter o alegre e divertido do aprender a fazer.

Nós nos acostumamos ao fast food e ao fast tudo. Acreditamos na propaganda massiva que nos convenceu de que para ser felizes precisamos ter aquele apartamento, aquele carro, ir àqueles lugares, comer aquelas comidas e, até mesmo, ser daquele jeito. É tudo vendido pronto, facilmente ao alcance de todos (que tenham o dinheiro suficiente, claro). Mas conquistar essa quantidade de coisas, para a imensa maioria de nós, é simplesmente impossível.

Mas porque acreditamos nisso, corremos a buscar ter as coisas das quais realmente não precisamos, e nos endividamos. Vamos a muitos lugares, e parece tudo igual. Alimentamo-nos com comidas que não nos fazem bem, e adoecemos. Esforçamo-nos por impressionar as pessoas com uma aparência e comportamentos que não convencem nem a nós mesmos, e depois..., ficamos triste

                        É que, convencidos pela enganosa propaganda, passamos a acreditar apenas na força do dinheiro, como fator de felicidade. Perdemos a capacidade de olhar ao redor e ver a força das pequenas coisas que estão aí (mas a cada dia menos). Estão esperando que voltemos a vê-las. Depois descobrimos que a felicidade não é o resultado do acúmulo, pois se fosse, todos os ricos seriam felizes. E a realidade, é que muitos, confessadamente, não o são.

O engano tomou tal proporção, que já não sabemos mesmo do que realmente gostamos. E nosso gosto passa a variar com a moda, tão artificial quanto as comidas coloridas que ingerimos.

Ouvimos músicas (será que podem ser chamadas assim?) porque todo mundo está ouvindo. Mas quem foi que começou a ouvir? Tinham bom gosto essas pessoas? E existe o bom gosto, ou qualquer gosto é válido?

Nós assistimos a programas de TV porque é o que está passando. Mas quem decidiu o que passar? Baseado em que critério? Tinha a intenção de nos fazer aprender boas coisas?

Diziam os antigos filósofos que as ideias, assim como os alimentos, modificam-nos. Se comermos coisas ruins, nossa saúde se degrada. E se assistimos, ouvimos e lemos coisas de má qualidade, o que ocorre?

Compramos telefones inteligentes (smart phones), e nos tornamos aficionados a eles ao ponto de já não olharmos direito ao redor (será que são mais smart do que nós?), de estar presos às telas comO se a vida estivesse lá dentro, e fosse mais importante se manter conectados à vida lá, do que à vida que temos ao nosso redor. E é cada vez mais comum ver um grupo de pessoas mudas, ao redor de uma mesa num café, presos às telas de seus aparelhos, como uma nova forma de vício (e por falar em vícios... melhor deixar para outro dia).

Não é minha pretensão dar alguma receita de felicidade (mas pode me pedir a dos cookies, se quiser), mas apenas chamar a atenção do leitor para algo simples e verdadeiro: É que, se não temos à vista a felicidade, que é algo grande, podemos ter, com facilidade, muitos momentos de alegria, todos os dias, se soubermos apenas apreciar as pequenas coisas e momentos que nos cercam cotidianamente.

Há que deixar de lado as neuroses da pressa, do que nos falta comprar, e a ânsia por estar em outro lugar fazendo outra coisa. Curtir mais o que temos ao nosso redor, as pessoas que convivem conosco, as coisas que já temos e o clima da estação. Fazer, se possível, antes que comprar ou contratar. Ler bons livros, ao invés de assistir a uma programação de gosto duvidoso na TV. Conversar com as pessoas sem segundas intenções, mas com sinceridade, querendo compreender a tudo e a todos.

Enfim, se trata de apreciar a vida de forma natural, com o que ela nos traz. Aprender dela com a curiosidade de uma criança que recém iniciou seus estudos. E gostar do que aprendemos mais do que de coisas. Pois ao final, o que levaremos conosco da vida? Certamente não as coisas que tenhamos acumulado.

E não poderia ser essa uma forma da felicidade? (porque penso que pode haver outras): uma vida de momentos alegres, unidos por um propósito de vida honesto.

E se tivermos que nos atribular, que seja pelas coisas válidas, pelo que realmente conta e faz falta: pela paz, pelo amor, pela educação, pelo direito a viver de forma digna.

E se tivermos de lutar, que seja pelo Bem e pela Justiça.

Como diziam os antigos romanos, carpe diem (aproveite o dia), e seja feliz.



Jean Cesar Antunes Lima

PARTE II - MAFALDA E A LUTA CONTRA A INJUSTIÇA


Mafalda e a luta contra a Injustiça

Esta segunda parte, consiste numa breve reflexão filosófica da questão da Injustiça em Mafalda. É breve, muito mais haveria a dizer.
Mafalda recusa o mundo, tal como ele é, e diz-nos que se os homens, ou os adultos, quisessem, a vida na Terra poderia ser feliz e fraterna, em toda a parte. Apela-nos à reflexão e ao despertar da consciência.
Astuta, impertinente, contestatária, defensora do Planeta, rebelde, perspicaz e corajosa, representa todo o ser humano, com as suas virtudes e defeitos, mas que busca ser melhor.
E como testemunho da sua coragem, convida-nos a não ignorar a miséria e a injustiça que nos rodeia. Realmente, não podemos ignorar tudo o que se passa na Terra, deve-nos interessar. Somos responsáveis, nós adultos, em deixar um mundo melhor do que encontramos. E não se consegue isso através da evolução tecnológica, mas através do desenvolvimento das virtudes e dos valores, que é o que nos faz humanos. Por isso Mafalda fala tanto de humanidade, alerta-nos que fizemos parte da mesma Família.
Mafalda protesta, sempre. Porque quem nada faz perante uma injustiça, é cúmplice da injustiça.
A obra de Quino pode ser vista como um verdadeiro tratado de apelo à justiça. Ela vai chamar-nos a atenção para ausência de justiça, para que vejamos que é possível realizar o oposto, a justiça. Isto é, a injustiça revela a necessidade de justiça, porque estaria sempre presente. Só a buscamos porque não existe. Num tempo de trevas, é preciso alguém para acender a luz.

A Justiça
O objetivo deste trabalho não é refletir sobre o conceito de justiça, por certo estas breves páginas não bastavam, mas é essencial fazer uma breve abordagem à Justiça.
O que é a Justiça?
É uma pergunta muito difícil de responder, e que confesso que não sei responder. Mas, reflitamos, nada melhor que recorrer aos Clássicos, e entre eles a Platão. Platão diz-nos na República que Justiça é:

"dar a cada um o que lhe corresponde em conformidade com a sua natureza e os seus atos. “

Observemos o seguinte gráfico:

Há três dimensões de Justiça, uma enquanto arquétipo, outra enquanto virtude e a justiça material, que é o nosso direito positivo. Vemos pelo esquema, que o nosso direito atual tem, ou deveria ter, uma raiz espiritual. AS leis da Natureza são a raiz do nosso direito, são o seu espírito.

Vejamos então que se a Justiça é uma virtude da alma, pelo contrário a injustiça será um vício. Aplicando a ideia da figura 1 à figura 2, podemos concluir que, temos de despertar as virtudes da alma para podermos ser justos.

“Se não mudarmos o mundo, ele pode mudar-nos a nós”

Não é o que acontece, na maioria dos casos, na nossa sociedade em que a lei praticada é a lei do mais forte. Por isso Mafalda alerta tanto para a questão dos mais desfavorecidos. Para sermos verdadeiramente justos temos de proteger os mais fracos.
E é assim tão necessário basear-se nas leis para ser justo. Como vimos supra, a Justiça é uma qualidade da Alma, está em todos nós. Todos temos uma “bússola” interna que nos diz o que está certo, e o que não está. Temos de aprender a escutá-la. Mafalda chama a esta “bússola” de inquilino.

A Desigualdade

Um dos temas que é abordado constantemente por Mafalda e os amigos é a questão da desigualdade. Ora, diz o artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem que: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais nos seus direitos.” É um bom Princípio Universal, mas que na prática não é praticado.
Somos, enquanto sociedade, milenarmente, desiguais. A nossa sociedade, atual e evoluída, diz-nos que somos todos iguais, quando não é verdade. Não é verdade, nem do ponto de vista jurídico, o que diz o Princípio da Igualdade, é que se deve tratar como igual o que é igual e desigual o que é desigual. Mais que igualdade, falamos de equidade. Como ensina Aristóteles: “ A justiça não pode ser igual senão entre iguais.”
A desigualdade de que fala Mafalda, é a desigualdade social, é uma questão diferente. Mafalda ilumina muito a questão dos pobres e dos ricos. Ninguém deve ser prejudicado ou beneficiado por ser pobre, ou por ser rico, senão existirão dois mundos.

O mesmo raciocínio se aplica aos países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mafalda nasce num país em vias de desenvolvimento e por isso foca muito essa questão, com uso da ironia. Continua a ser um tema atual, em que os estados cada vez mais estão a perder a sua soberania, em que os ricos dominam os pobres, procurando justificar-se através do liberalismo econômico.
O grande problema é que estamos numa sociedade desumanizada, já não nos choca ver pobres, nem pessoas em sofrimento. Mafalda não perde essa sensibilidade. Ela diz-nos: mesmo que não possamos fazer muito, podemos não perder a sensibilidade, que é o primeiro passo para começar a mudar.




A questão feminina

Nos anos sessenta as mulheres procuravam a igualdade. E foi um período de transição em que as mulheres começaram a trabalhar fora de casa e a ter profissões. Não era uma questão pacífica ,e Quino aproveitou para questionar através das suas personagens femininas. Susaninha, Mafalda e mãe Raquel.
Mafalda representa a mulher que luta pela igualdade, é livre i independente. Que ama a cultura e a educação. Critica e questiona o papel da mãe, que considera rotineiro e sem importância. Por oposição, Susaninha, personifica os velhos padrões, tem como objetivo casar, ter filhos e ser uma senhora. E é fútil, prefere um vestido à cultura.
que diria Mafalda hoje, em que a mulher conquistou o direito de trabalhar fora de casa, em igualdade com o homem, mas que muitas vezes ainda acumula o trabalho doméstico? Mas, apesar de tudo, em cinquenta anos foi uma conquista importante.


Direito das Crianças

Depois de Mafalda se ter retirado da “vida pública” Quino poucas vezes a fez reaparecer. Uma das poucas vezes foi em 1976, para promover a Declaração Universal dos Direitos da Criança, para a UNICEF. Mais uma vez assume o seu papel de lutadora contra a injustiça e de protetora das crianças.

Como lutar contra a injustiça

A luta contra a injustiça é uma missão constante, mas é ganha trabalhando-a interna e externamente. Internamente trabalhando a justiça em nós, de forma a vivê-la. Desenvolvendo as virtudes da alma. Procurando ser “melhor” cada dia que passa. Se imaginarmos a Justiça como uma escada, deveremos pouco a pouco, subir os seus degraus.

Esta busca pela justiça, combatendo a injustiça, é um caminho.

Mafalda não é perfeita, tem as suas tentações e muitas vezes vai contra os seus princípios, tal como nós, está no Caminho da Evolução. Mas tem consciência de suas falhas, mesmo de apesar de não as querer admitir.

Um aspecto muito importante para lutar contra a injustiça é a educação das crianças, que serão a geração futura, para a Justiça. Em termos jurídicos falamos em educação para o direito, um dos princípios basilares do Direito da Criança e do jovem. Para educar, precisamos de ser.

Busca da felicidade

Uma das  missões que temos enquanto Seres Humanos, no meu entender é a busca da felicidade, que não pode ser separada da Justiça. O que é felicidade? Uma pergunta tão difícil como definir o que é justiça. Para “sabermos” o que é felicidade para cada um de nós, temos de nos conhecer, é a chave.
É essencial sermos nós próprios, o que implica uma autodescoberta. Para sermos nós próprios temos de ter um eixo, que pode ser a Filosofia, a Arte, algo que esteja de acordo com a nossa Natureza. Esse eixo vai-nos ajudar a manter o foco e elevar a consciência. Parece-nos que Mafalda tem esse eixo, por isso não se deixa convencer pela televisão, pela rádio, pela mamã ou pelo papá. Ela sabe quem é. Tem as suas opiniões, não se deixa levar pela corrente. Mesmo não sendo ouvida não deixa de dizer o que pensa.
Nas palavras da filósofa Délia Steinberg Guzmán “saberemos que somos felizes quando começarmos a desfrutar das coisas simples, quando o sorriso surgir facilmente dos nossos lábios, quando estivermos atentos para aprender algo de novo todos os dias e avançarmos sem pressa nem pausa para as metas por nós traçadas. Imaginar sem fantasia, sonhar com sentido prático, lançar-se à aventura com riscos calculados, amar sem restrições, são os expoentes de uma felicidade bem assente.” Acredito que quando alcançarmos esta felicidade, vamos encontrar também a justiça.
Acredito que é possível, não  é uma utopia.
Cada um tem a sua chave...
Conclusão
Mafalda, de Quino, continua a ter uma assombrosa atualidade, porque muitos problemas da humanidade ainda não foram resolvidos passados cinquenta anos. Podemos ter evoluído muito tecnicamente, mas em nível de valores humanos, que é o que faz o mundo andar para frente, não. Para alcançar a Justiça temos ainda um longo caminho a percorrer. Temos de lutar contra a injustiça. Podemos neste caminho ouvir os alertas de Mafalda quanto à injustiça, para um dia a Justiça ser soberana. Não devemos esquecer que as grandes verdades são simples, manter a nossa criança interior viva, buscar a fraternidade para juntos fazer um mundo mais justo e feliz para todos.


Um grande risco, se não mudarmos o mundo...ele pode mudar-nos a nós, como alerta Mafalda.
Nas palavras do Filósofo Jorge Ângel Livraga “ A alma é como uma águia presa numa gaiola, observando o mundo distorcido e fragmentado. Mas em sonhos concebe “ as alturas”, que são os ideais da alma e o seu potencial ascendente.” Voemos até Eles...

Ana Margarida – Jurista ( Nova Acrópole)





POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...