Era uma vez uma menina que, segundo os olhos dos demais, havia nascido com um defeito. Algo em sua maneira de ser, cabelo, dedão do pé, desagradava e isso, pelo jeito, era suficiente justificativa - já que ela não era como o esperado – para que o outros se sentissem no direito de maltratá-la.
Porém, como a natureza tem seus mistérios a favor da vida, coisas que ninguém consegue entender, mesmo cercada de impossibilidades, cheia de razões opostas ao existir, a menina, fazendo tijolo e cimento das palavras ruins e dos malquereres dirigidos a ela, cresceu, e eles eram tantos, que ela ficou grande demais.
E sem querer querendo, ao se movimentar com aquele preenchimento duvidoso, começou a destruir os muros e telhados ao seu redor. As pessoas rapidamente chamaram-na de monstro, de cruel, e com razão, pois ela agora além de tudo, passava por cima daquilo e daqueles que encontrava pelo caminho.
Não demorou muito para que a situação ficasse insustentável a tal ponto que, para não morrer, ela teve que fugir, causando imenso alívio e felicidade àqueles que já não mais suportavam a presença incômoda que ela trouxe ao nascer.
A menina, desapareceu. Levando com ela seu grande segredo.
A questão é que havia algo realmente diferente nela, não estavam errados - muito pelo contrário, estavam corretíssimos - aqueles que esticavam dedos em sua direção pontuando de maneira certeira características com as quais não queriam conviver.
Mas o que ninguém sabia, e talvez nunca venha a saber, é que o problema da menina era ter nascido com um espelho por dentro e que quando olhávamos para ela, o que deixávamos transparecer, eram partes de nós.
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