quinta-feira, 19 de março de 2020

UM CURSO DE SER HUMANO

 
Crisóstomo! Este era o seu nome!

   Conhecera na minha juventude, numa praia deserta. O Sol brilhava em seu rosto e o mar violento fazia com que ele parasse algumas horas para ver o espetáculo das ondas enormes  sobre os rochedos, que logo após avançavam e lavavam seus pés.

                Percebera que ele amava o mar mais do que qualquer coisa; embora Netuno (o rei do Mar) muitas vezes o desorientasse.

                Houve um dia em que o céu começou a escurecer e densas nuvens provocaram uma terrível tempestade em alto-mar, fazendo com que os seus pais perdessem o leme e desaparecessem; logo, ficara órfão muito cedo.

                Depois deste e de outros fatos, comentava sempre que, seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade. Via-se metade espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios.

                Quando soube de suas histórias, tive curiosidade em conhecê-lo. Sabia que morava sozinho e que há pouco comprara um boneco a fim de fazer-lhe companhia. A companhia do filho que não tivera.

              Neste dia, caminhei ao seu encontro e pude desfrutar de sua BELEZA: seus olhos eram como janelas abrindo a consciência da nossa identidade e a sua voz, revelava através de suas poucas palavras àquilo que temos de melhor.

                Por alguns segundos, a minha alma foi tocada, parecia que existia um acorde de tons e ritmos em nosso diálogo!

                  Notei que tínhamos algo em comum, mesmo sendo muito mais jovem do que ele, lembrei-me um tempo lá longe em que sentia sensações de estar num barco sem leme, sem bússola, em noite nublada, numa desorientação mental total, embora fosse cheia de silêncios também.

                Hoje, ao nos aproximarmos um do outro, nossos silêncios foram exaltados! Confiávamos reciprocamente nas nossas palavras. Tínhamos como testemunha, o mar, que levaria nossas tristezas para ouvir a voz da esperança.

                A esperança era uma coisa muda e feita para sérum pouco secreta.

        Ri bastante quando ele me dissera: “Quem tem menos medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz”.

                Identificamos que aquele momento nos fazia felizes e precisávamos de tão pouco!

Sentimo-nos como uma gota do Oceano, que também é Oceano porém que existe um Sagrado dentro de nós.

Ele sempre com suas reflexões, argumentou:

“A felicidade é  a aceitação do que se é e se pode ser.”

Lembrei-me de que hoje, procurando conhecer a mim mesma, estou compreendendo melhor a capacidade de SER HUMANO!
Myriam Araújo

Baseado no livro de Valter Hugo Mãe " O filho de mil homens".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...