Crisóstomo! Este era o seu nome!
Conhecera
na minha juventude, numa praia deserta. O Sol brilhava em seu rosto e o mar
violento fazia com que ele parasse algumas horas para ver o espetáculo das
ondas enormes sobre os rochedos, que
logo após avançavam e lavavam seus pés.
Percebera que ele amava o mar mais do que qualquer coisa; embora Netuno (o rei do Mar) muitas vezes o desorientasse.
Houve um dia em que o céu começou a escurecer e
densas nuvens provocaram uma terrível tempestade em alto-mar, fazendo com que
os seus pais perdessem o leme e desaparecessem; logo, ficara órfão muito cedo.
Depois deste e de outros fatos, comentava sempre que,
seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade. Via-se
metade espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de
silêncios.
Quando soube de suas histórias, tive curiosidade em
conhecê-lo. Sabia que morava sozinho e que há pouco comprara um boneco a fim de
fazer-lhe companhia. A companhia do filho que não tivera.
Neste dia, caminhei ao seu encontro e pude desfrutar
de sua BELEZA: seus olhos eram como janelas abrindo a consciência da nossa
identidade e a sua voz, revelava através de suas poucas palavras àquilo que
temos de melhor.
Por alguns segundos, a minha alma foi tocada, parecia
que existia um acorde de tons e ritmos em nosso diálogo!
Notei que tínhamos algo em comum, mesmo sendo muito
mais jovem do que ele, lembrei-me um tempo lá longe em que sentia sensações de
estar num barco sem leme, sem bússola, em noite nublada, numa desorientação
mental total, embora fosse cheia de silêncios também.
Hoje, ao nos aproximarmos um do outro, nossos
silêncios foram exaltados! Confiávamos reciprocamente nas nossas palavras.
Tínhamos como testemunha, o mar, que levaria nossas tristezas para ouvir a voz
da esperança.
A esperança era uma coisa muda e feita para sérum
pouco secreta.
Ri bastante quando ele me dissera: “Quem tem menos
medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz”.
Identificamos que aquele momento nos fazia felizes e
precisávamos de tão pouco!
Sentimo-nos
como uma gota do Oceano, que também é Oceano porém que existe um Sagrado dentro
de nós.
Ele sempre
com suas reflexões, argumentou:
“A
felicidade é a aceitação do que se é e
se pode ser.”
Lembrei-me
de que hoje, procurando conhecer a mim mesma, estou compreendendo melhor a
capacidade de SER HUMANO!
Myriam Araújo
Baseado no livro de Valter Hugo Mãe " O filho de mil homens".
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