A coisa mais importante que Gibran quer expressar neste capítulo é sobre a imortalidade da alma; ele vai reunindo argumentos para mostrar que a morte é uma ilusão, pois aquilo que realmente somos, não vamos deixar de ser.
Existe uma teoria de Platão que ele diz que a alma é uma prisioneira deste cárcere ( que é o nosso corpo). O corpo foi feito para expressá-la, mas ao invés do corpo expressá-la, ele a bloqueia. Adquire um monte de limitações, um monte de vícios...expressa o seu instinto, suas paixões!
Imaginem: Um prisioneiro e um carcereiro.
A educação dá voz ao prisioneiro e cala o carcereiro.
O professor Michel Echenique falava o seguinte: Vocês já devem ter observado quando as pessoas estão presa, alguns marcam na parede cada dia que estão encarcerados. Isto é muito importante, porque quando ele marca cada dia que esteve encarcerado, não esquece que um dia ele não esteve ali. Ele não perde a esperança de um dia não estar de novo.
Se ele não fizer isto, corre o risco de um determinado momento esquecer e achar que o mundo é só aquilo e que não houve antes e que não haverá depois. Isto é terrível porque ele perde a esperança e a memória de quem ele é e do que ele pode recuperar.
Então Almitra falou, dizendo:
" Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte"
E ele disse:
Almitra era a sacerdotisa da cidade; a única que a princípio reconheceu que ele era um sábio, então era a pessoa que ele mais admirava e amava. Almitra faz duas perguntas nesta obra; a primeira que foi sobre o AMOR e a segunda sobre a MORTE.
Na mitologia grega Afrodite (que é adeusa do amor) se une a Ares ( que é o deus da guerra e da morte). Como se o AMOR para poder se elevar e se tornar mais puro, tivesse que ir cortando os lastros.Alguma coisa tem de morrer para que o AMOR se purifique. Alguma coisa de debilidade, de materialismo. Alguma coisa que prende tua consciência no chão, tem de morrer para que o AMOR nasça. Algo tem de dar lugar para que o AMOR possa se expandir. É muito comum que nas tradições, a deusa do amor ( ou o deus) esteja associado à morte.
E ele disse:
"Quereis conhecer o segredo da morte.
Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes nocoração da vida?"
Estas duas coisas estão estreitamente enlaçadas. Se você não entende um, não vai compreender o outro. Só se aprende a morrer, vivendo! E não no momento da morte que aprendemos a morrer.
Parmênides dizia que tudo que vive é composto de espírito, de matéria e de forma. Matéria e forma são duas coisas diferentes. Se eu disser: "Eu tenho VIDRO em casa." Será que você entenderia o que tenho em casa? Vidro pode ser um copo, um jarro, uma janela... eu só disse a substância, não falei a forma.
Agora se eu disser: Eu tenho vidro na forma de copo, logo você tem duas coisas: vidro (substância) e copo( forma).
O corpo é uma substânciaorgânica na forma de Myriam e além disso, existe um espírito.
Todos os seres é uma mistura dessas três coisas. Então, Parmênides perguntou aos seus discípulos: Qual dessas três coisas morre?
O espírito por definição, não morre; a matéria, como dizia Laivosier, ela se transforma e a forma é uma ideia, ela volta para o plano das ideias. Como vou matar um triângulo, um círculo..são ideias, logo, volta para o plano das ideias e depois encarna em outra substância.
Quando Parmênides diz que essas três coisas não morrem, os seus discípulos ficamdesesperados. Então ele explica: Existe um casamento entre um punhado de substância numa forma X. O meu corpo é isto: um punhado de substância orgânica, naformaMyriam.
É um casamento meio moderno, sujeito a divórcio, então de vez em quando essas substâncias diz: "Vou-me embora!" e esta forma volta para o plano das ideias, se desintegrando. Acontece que a consciência se identifica com este casamento.
E a consciência diz: Myriam é matéria e quando a consciência se desfaz, ela diz: MORRI.
Existe alguma coisa que permanece lá em cima, que é o ESPÍRITO, mas se ela (a consciência) não consegue se identificar com ele, toda vez que essa conjugação de substância e forma se desfaz, ela se perde, ela cai no vazio.
Logo, o homem não deixa de existir, ele cai no vazio da inconsciência porque ele está identificado com o casamento temporário entre substância e forma.
Morte é sinônimo de inconsciência porque não nos identificamos com aquilo que é; aquilo que somos.
Se você se identifica com o espírito, a matéria se casa com a forma, separa e você olha de cima este fenômeno e não perde a consciência.
O fato é, se você quer vencer a morte e a morte é sinônimo de inconsciência, evidentemente, vencer a morte é vencer a inconsciência.
Como é que você quer vencer a inconsciência depois da vida se você não vence ela dentro da vida:
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