sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

LIVRO: O FILHO DE MIL HOMENS




Pense num livro que me deixou bastante reflexiva e muitoo feliz!!! O FILHO DE MIL HOMENS de Valter Hugo Mãe.

            Primeiro,  nunca tinha lido nada deste escritor. Fui apresentada através de uma amiga do Clube do livro e me apaixonei pela sensibilidade que ele descreve às relações humanas. .
            Clube do livro é um espaço no meu apartamento no qual partilhamos  experiências, vivências...e que tem como base a literatura.

            No prefácio da obra, Alberto Manguel nos dá uma luz da beleza que iremos desfrutar: “ Cada personagem carrega o seu próprio destino, não com resignação mas através de um reconhecimento dos seus próprios valores. Segundo conta a lendatalmúdica, no Jardim do Éden, Adão e Eva foram felizes porque sabiam quem verdadeiramente eram aos olhos de Deus, mas depois de morderem o fruto da árvore da Vida tornaram-se infelizes porque tiveram vergonha de perder essa identidade que lhes fora concedida pelos olhos de Outro. As personagens de Mãe são exemplos dessa felicidade edênica que julgávamos perdida”.

                           O filho de mil homens fala sobre ausências, que serão sempre preenchidas pelo afeto e pela presença humana.

                    Crisóstomo é o personagem central da história e todas as outras personagens se interligam a ele. Segundo o autor, ‘Crisóstomo é um indivíduo tão preparado para ser feliz que ele acha, que não há ninguém assim’

            Crisóstomo, o homem que chegou aos quarenta anos e mudou o mundo, poderá ser a imagem que desejamos do homem moderno: todo ele livre, aceitando ser o que é, perseguindo o que lhe pertence, acreditando que a felicidade se constrói – “ O Crisóstomo, fantasiado como sabia, sabia tudo.”

            Este é um livro sobre o AMOR, pois os ensinamentos deste personagem são todos poéticos e faz com que este sentimento se prevaleça sobre qualquer coisa: o ódio, preconceito, rancor, julgamento...

            É importante compreender que todos seríamos muito felizes se buscássemos a Felicidade do jeito que é e buscar amar os outros da forma mais pura e verdadeira possível.

            Alguns trechos são bastante reflexivos:

            “ Quem tem menos medo de sofrer, tem maiores possibilidades de ser feliz” pág. 27

            “A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser.” pág 86

“Todos nascemos filhos de mil pais e de mais mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se os nossos mil pais e mais as nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós”. Págs 204-205. Isto é muito lindo e muito significativo! Temos ao nosso redor pessoas e não precisamos estar sozinhos e muitas vezes acabamos sendo sozinhos no mundo por não estarmos abertos para pertencer às pessoas e não deixando que ela nos pertença também e não aceitando que viemos pro mundo para cuidarmos uns dos outros e que temos de viver nesta partilha com todos que se agregam e passam por nós.. Um dos maiores desafios que nos são colocados em todas as relações , segundo o próprio autor,  “é suportarmos os defeitos dos outros”. E para ele, o melhor amor é exatamente aquele que chega a adorar o defeito do outro. Aquilo que é eventualmente, no senso comum, um defeito, pode ser uma virtude para quem ama’. Nessa procura pela felicidade os personagens enfrentam tudo: a solidão, a morte, o preconceito, a inveja, mas a esperança transborda de forma poética em  cada página.

          Outro trecho muito lindo, é este : ” Hoje é do que mais tenho saudade. Desse sentimento, que na sua plenitude talvez se reserve às crianças, de acreditar que alguém cuida de nós segundo o nosso mérito. Quando se perde essa convicção, fica-se irremediavelmente sozinho. Os pais e os filhos são o único modo de interferir positivamente nessa solidão”. pág 219. Este trecho é muito impactante, pois fala de cuidado. Dizem que o sentimento mais puro e nobre que se tem é este amor incondicional vindo da mãe pelo  bebê. É o sentir-se cuidado.  E nós passamos a vida inteira buscando sentir isto de novo.

        Acredito que muitas coisas seriam resolvidas se nós cuidássemos de nós mesmos em primeiro lugar, depois nos aceitássemos a cuidar e ser cuidado, sem barganha ou troca, afinal, somos filhos de mil homens. Daí, observarmos a unicidade que perpassa pela história através das personagens e  sua complementaridade. 
         Fica a dica!!! Não se atenha ao enredo e sim, as reflexões filosóficas. Existem reflexões que são ensinamentos para o resto da vidaaaaa!!!

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