sábado, 28 de setembro de 2019

MÚSICA : DESCONSTRUÇÃO- TIAGO IORC

Após alguns meses de reclusão, quando não se fazia ideia de onde poderia estar, Tiago Iorc chega de surpresa com um álbum inteiramente inédito. Este ano, “Reconstrução”, seu quinto álbum.
Para cada canção presente, foi feito um videoclipe contando sua história. Então a análise se torna muito mais profunda e é possível compreender um pouco mais da interpretação do próprio cantor, que foi também o responsável pela direção dos videoclipes.
Acredito que Tiago sabe perceber e extrair o sentimento de muitos jovens.  Este sentimento de ter de ser aceito nas redes  e perdurar um  vazio faz com que muitas pessoas se percam de si mesmas. Mesmo que você alimente o corpo mas a sua alma sente fome. Enquanto cada um não buscar dentro de si e souber o que sua alma necessita, acredito que  esta angústia existencial vai permanecer.    
O título da primeira faixa, “Descontrução“, faz alusão ao nome do disco. Contando a história de uma menina, o cantor aborda a solidão e a insegurança, causada pela complicada relação com as redes sociais.

A música  nos fornece uma reflexão sobre a  desconstrução de personalidade que as pessoas têm sofrido ao se conectarem na internet. Ao retratar como eu-lírico da canção a vida de uma menina, o mesmo manifesta como esta  se descaracterizou em busca de atenção e quando conseguiu os tão requisitados views, descobriu que aquela atenção construída era frágil, não verdadeira. Mais do que isso, Tiago Iorc tenta retratar a solidão presente em uma adolescente. O quanto as pessoas têm buscado se sentirem amadas, satisfazerem sua necessidade de estar perto de outro alguém a todo custo. A canção mostra a faceta que a internet traz, onde pessoas se escondem, manipulam e mentem até mesmo para si. Mostra o lado obscuro, de ter ao lado, ser visto por milhões de pessoas, mas ao mesmo tempo estar só. O sentimentalismo da canção, denota ainda os caminhos que podem ser traçados por uma pessoa quando se depara com fragilidade dos laços que construiu. 



Desconstrução

Quando se viu pela primeira vez
Na tela escura do seu celular
Saiu de cena pra poder entrar
E aliviar sua timidez
Vestiu um ego que não satisfez
Dramatizou o vil da rotina
Como se fosse dádiva divina
Queria só um pouco de atenção
Mas encontrou a própria solidão
Ela era só uma menina

Abrir os olhos não lhe satisfez
Entrou no escuro do seu celular
Correu pro espelho pra se maquiar
Pintou de dor a sua palidez
E confiou a sua primeira vez
No rastro de um pai que não via
Nem a própria mãe compreendia
No passatempo dos prazeres vãos
Viu toda graça escapar das mãos
E voltou pra casa tão vazia.

Amanheceu tão logo se desfez
Se abriu nos olhos de um celular
Aliviou a tela ao entrar
Tirou de cena toda timidez
Alimentou as redes de nudez
Fantasiou o brilho da rotina
Fez de sua pele sua sina
Se estilhaçou em cacos virtuais
Nas aparências todos tão iguais
Singularidades em ruína

Entrou no escuro de sua palidez
Estilhaçou seu corpo celular
Saiu de cena pra se aliviar
Vestiu o drama uma última vez
Se liquidou em sua liquidez
Viralizou no cio da ruína
Ela era só uma menina
Ninguém notou sua depressão
Seguiu o bando a deslizar a mão
Para assegurar uma curtida.

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