O
A pessoa que pergunta, obviamente tem a ver com aquilo que é
perguntado. É a pessoa que teria condições de ter curiosidade sobre aquilo.
Como Gibran pretende criar um mito, na estrutura mítica nada é por acaso. Tudo
tem um sentido e tudo tem algo para ensinar. Isto não quer dizer que
conseguiremos decodificar tudo, mas dentro do que é possível, interpreta-se as
entrelinhas de tudo o que ele diz. Normalmente quando ele fala sobre o conceito
de algo, não é de acordo com o que pensávamos ou esperávamos que fosse. Em
geral é melhor do que a gente espera e é sempre surpreendente. Ele redefine
tudo. Ele não irá falar sobre um tempo de relógio, mas sim, sobre um tempo
real. Ele trabalha neste texto com o conceito de tempo muito parecido com o dos
gregos. Os gregos têm uma estrutura de sucessão de deuses do Olimpo, que
primeiro tem Uranus (que é um universo de potencial); depois vem Caos, depois
vem Cronos e depois Zeus( que é o senhor do Olimpo – o senhor da eternidade).
A humanidade em
geral está vivendo no Caos primordial,
em Cronos ou em Zeus que representa a eternidade?
Estaríamos vivendo no Caos porque
Cronos não é tempo de relógio. Cronos é tempo real. E tempo real é medido pelo
deslocamento do ser humano em direção ao ideal humano. Segundo a Filosofia, que
Gibran adota muito bem, todas as coisas
estão em evolução em direção ao ideal humano. Que é a plenitude de valores,
virtudes e sabedoria que se pode ter enquanto ser humano. Assim como existe o
ideal das plantas que é fazer fotossíntese, fazer trocas gasosas com o
meio; existe o ideal dos animais que é o
extinto de sobrevivência e perpetuação da espécie...O ideal do ser humano são
valores, virtudes e sabedoria.
Imagine encontrar um amigo e fizesse
um diagnóstico em que momento ele está. Ele é muito crítico, tem uma tendência
a inércia, é uma pessoa que tem algumas dificuldades, mas tb tem algumas
facilidades...vc faz um quadro: o perfil
psicológico desta pessoa. Depois de 10 anos você o reencontra. Ele está
10anosfisicamentemais velho, mas continua crítico, com tendência à inércia...do
jeitinho que você o encontrou há 10 anos atrás... Existiu um tempo real para
esta pessoa? Do ponto de vista da distância para o ideal humano, ele não saiu
do lugar. O tempo de relógio não é tempo real. Tempo real se mede por
deslocamento em direção ao aperfeiçoamento de consciência. Em direção ao ideal
humano. Se não houve nem um passo, não
houve tempo real. A pessoa nem entrou no tempo, ela está no Caos.
Entrar no tempo significa se
deslocar de um determinado lugar para atingir aquilo que se chama de
eternidade, que é o Olimpo - mundo de Zeus.
Até a etimologia das palavras diz
isto – Olimpo vem de elimbo, aquilo que emergiu do limbo ( aquilo que se
colocou acima do tempo e do espaço)- a eternidade, a sabedoria.
Quando o homem supera o tempo, ele
pode chegar ao Olimpo, mas superar o tempo significa vivê-lo como ser humano.
Atravessá-lo. Cronos dá acesso a Zeus. Ele gera deslocamento da consciência. Se
você não tem deslocamento de consciência, você não está no tempo. Tempo de
relógio. Só a biologia cumpre o seu papel, o resto não.
A psicologia, o espírito estão
estagnados. Só o corpo cumpre o seu papel
,porque não é mérito nosso, ele é tutelado pela vida. Ele trata o tempo
numa outra chave. Ele questiona um pouco essas queixas que o ser humano tem em
relação ao Tempo que passa, mostrando que o homem poderia conquistar um tempo
que não passa. O tempo que fica; o tempo estável. O homem poderia conquistar a
eternidade – que no fundo é a ânsia de todo mundo.
Se pararmos para observar, não
existe um ser humano na face da Terra que não sinta um certo desconforto diante
da morte. É tão paradoxal...que um ser que tem imaginação, vontade de
criatividade, amor... de repente vira em nada...para onde foi tudo isto?
Todo o Universo que vibra dentro de
um ser humano foi para onde? É um paradoxo. É algo estranho. Todo ser humano
desejaria superar a morte.
Mas, o que diz Platão, e Gibran vai também expressar neste texto-
você tem de considerar que dentro daquilo que a gente chama VIDA, nós estamos
mais inconscientes do que conscientes. Maior parte do tempo estamos
desdobrados, dispersos. E do ponto de vista clássico, quando se fala em
eternidade é eternidade de consciência. Se nós não conseguimos nem eternidade
de consciência dentro da vida, como vamos conseguir depois da morte? Nós estamos mais mortos do que vivos.
E um astrônomo falou:
Mestre, o que dizes do Tempo?
E ele respondeu:
Por que tem de ser
um astrônomo perguntando sobre o TEMPO?
Ele tentou pegar uma
pessoa que pensa grande sobreo Tempo, pois a maior parte das pessoas têm uma
expectativa de tempo muito medíocre. Quando pensamos hoje no futuro, é um futuro que teríamos daqui a quanto tempo?
Normalmente é um futuro para daqui a uma
semana, daqui a dois meses, férias...alguém será que pensa no dia de hoje? Sabe
por que nos afogamos no copo d’água? Porque somos do tamanho dele. Pensamos
muito pequeno no Tempo. Como você pode estruturar aonde você quer chegar coma
sua vida, se em nenhum momento pensa na obra final da sua vida. Pensar na obra
final da sua vida significa confrontar a morte. Confrontar que um dia ela vai
cessar. É como uma pessoa que vai construindo uma casa sem nunca fazer uma
planta. Tem medo de fazer a planta, olhar para o futuro. Imagine você construir
uma casa sem ter planta e sem saber aonde vai chegar com isto. Suponhamos que
hoje eu cavo uma fundação para um prédio e amanhã eu abandono porque quero uma
casa térrea...um dia quero que ela seja pro nascente, amanhã para o poente...na
verdade, terei um monte de material espalhado e não vou ter uma casa. Um mestre
de obra todos os dias olha para uma planta, pro futuro, pra casa pronta para
saber o que vai fazer hoje. Nós não pensamos grande em relação ao Tempo e isto
nos torna medíocre, com projetos pequenininhos: do tamanho de uma semana, um
ano...e nunca do tamanho de uma vida. Então Gibran tenta imaginar um homem que
poderia perguntá-lo sobre o tempo de uma maneira mais ampla, que não olha para
as coisas pequenas da sobrevivência. Um homem que olha para as estrelas, que
tenta entender o mistério do tempo. Alguém que pensa grande porque este teria
condições de talvez entendê-lo.
Um astrônomo entenderia
o tempo de uma maneira universal, além da mera sobrevivência.
Gostaríeis de medir o tempo,
O ilimitado e o incomensurável.
Gostaríeis de ajustar
vosso comportamento
e mesmo de reger
o curso de vossas almas
de acordo com as horas e as
estações.
Ou seja, você gostaria de medir aquilo que não tem medida. Porque o
verdadeiro tempo que você está buscando, não é este do dia-a-dia, porque este você
sabe o que é. Este por definição são 24 horas, cada hora com 60 minutos, cada
minutos... todo mundo sabe. Agora, como as coisas podem passar? Como as coisas
podem deixar de ser...como pode deter o tempo...estamos falando de outra
dimensão e este não tem como medir. Não dá pra medir. Este existe. Temos de atingir uma outra forma de avaliar o mundo que
não através de uma régua. Porque ele não é físico, não é mensurável.
Da mesma maneira que o corpo se
adequa as horas e as estações: se está de dia, estamos ativos; se está de noite,
estamos com sono...se está na primavera-verão temos muita energia;
outono-inverno a gente tende a ficar mais sonolento, cansado.. Porque ele não é
físico; não é mensurável.. Logo, da mesma maneira que o corpo se adequa a natureza física da
terra; nós queremos adequar também a nossa alma ( a nossa psique, o nosso eu
espiritual). Porque cada dimensão tem a sua própria adequação de tempo.
Existe uma teoria que diz o
seguinte: Existe em nós uma vida física
que é assim: quanto mais a gente vive, menos energia tem, mais cansado fica, mais
as suas funções corporais vão perdendo a sua eficácia, os sentidos começam a
amortecer, a energia corporal não é a mesma de 30 anos atrás...
Uma explosão de energia quando nasce, no final, essa energia irá
ficando mais fracionada, ou seja, a vida física ou biológica, a medida que ela
avança, ela decai em termos de sua qualidade; porém, existe dentro do homem uma
outra vida, a vida metafísica ou espiritual. Espiritual e psíquica que são
esses planos sutis. Que ela deveria seguir uma trajetória totalmente oposta:
Quanto mais você vive, mais você sabe. Mais terá imaginação, maturidade,
capacidade de resposta à vida, energia
(porque dá energia
também). Sabedoria dá energia, dá motivação, garra...O homem que sabe pelo que
vive; que tem boas ideias, que quer fazer uma grande obra pelo mundo se
transforma em capacidade de criação, de movimento...
Quando a gente vê aqueles filmes
antigos, em que tem aqueles mestres de artes maciais velhinhos e os discípulos
tudo jovem e que não conseguiam bater neles. Então observamos uma tal
capacidade de concentração de ver os detalhes que contrabalançavam com a
energia física dos discípulos abobados (que não sabiam como usar essa energia).
A energia metafísica compensa com
vantagem a física.
Quanto mais você vive e mais sábio
se torna, isto te dá habilidades para lidar com as circunstâncias e compensa as
perdas de energia física.
Agora, se crescemos e não
amadurecemos...crescemos por fora e não
crescemos por dentro; a vida fica sem sentido, porque não tem mais nada que contrabalance,
que compense.
Neste texto Gibran questiona: você
está querendo medir a idade da sua alma pela idade do seu corpo? Então ele
chama atenção: É o contrário. Quanto mais o corpo amadurece mais a lama tem de
estar jovem: vitalizada, cheia de energia, cheia de ideias, profunda, com
capacidade de ação.
Uma coisa curiosa, em Roma, quando
os Bárbaros invadiam, a 1ª preocupação que eles tinham era de tirara os anciãos
(porque era um patrimônio da sociedade e tinha de protegê-los).
O nome SENADO é a expressão política
mais antiga, derivada de senis(senil). Não era um nome pejorativo, e sim, um
elogio. Os idosos são o patrimônio da cultura, da história desta civilização.
Imagine no nosso momento histórico
se alguém iria pensar uma coisa dessas?
As idades avançadas se tornaram
quase que um peso na nossa mentalidade atual. Por quê? Porque não sabemos mais
considerar a vida de maneira correta e não sabemos usar o tempo de maneira
correta.
Então Gibran diz: “Não mede o tempo
do teu corpo pelo tempo da tua alma. O tempo da tua alma pode ser sempre
ascendente. Não usa o mesmo relógio. Embora o teu corpo esteja em pleno
inverno, mas atua alma pode estar em pleno verão (permanentemente ativa, cheia
de ideias). Ela não precisa seguir o ciclo do corpo porque ela não e da mesma
dimensão e você tem de aprender a entrar na dimensão da sua alma.
No Egito, quando morria uma pessoa,
eles colocavam um monte de estátuas pequenas dentro do túmulo( que era para
acelerar a consciência da pessoa para que elas se adaptassem a um outro plano,
a um outro tempo de vibração, um plano mais sutil), o plano da alma.
O tempo em cada plano tem uma
dinâmica própria. O tempo no plano da alma não envelhece, no sentido de tirar
atributos. Pelo contrário, ele dá atributos.
Do tempo, gostaríeis de fazer um rio,
na
margem do qual vos sentaríeis
para
observar correr as águas.
Normalmente gostamos de ver como
passam as modas, como passam os costumes, mas nunca gostamos de ver como
passamos NÓS.
Muitas vezes gostaríamos de estar à
margem desse processo.
O tempo pode passar, mas normalmente
queremos que ele não nos atinja, que ele não chegue a nos tocar.
Como nos colocaríamos à margem do
tempo? Porque tudo o que você ama, está dentro do rio do tempo e ele leva tudo!
A tendência é irmos juntos.
As coisas passam, mudam e são
transitórias. Se tudo o que você ama é transitório; você também é transitório
porque você corre atrás das coisas que ama.
Na tradição Egípcia tem um momento
que ilustra bem o que Gibran fala.
Quando o homem morria, era levado a
um local onde a deusa Maat tem uma balança com dois pratos. Ela colocava o
coração do morto num prato e no outro ela colocava uma pluma que ela tinha na
cabeça. Quando o coração do morto pesava menos do que a pluma de Maat, ele subia
para o além- a terra de Amo; quando pesava mais, ele voltava ao mundo.
Por quê? Por que Maaat era malvada?
Não!!!
Imagine vocês o que é que um homem
pode amar para pesar menos que uma pluma? Se ele ama a fraternidade, a
bondade...essas coisas não tem peso. Ele vai ao mundo onde essas coisas reinam.
Se ele ama coisas, sensações,
prazeres, objetos...isto pesa. Ele vai ficar no mundo onde essas coisas reinam.
O homem sempre vai para onde o seu coração aponta; logo, não adianta você estar
à margem do rio, se tudo o que você ama, o rio leva. Tudo o que você ama é
transitório.
Aonde você está se fixando para
ficar à margem do tempo?
Se você está se fixando nas coisas
que são transitórias, o tempo irá te arrastar junto com elas.
Ou seja, não temos uma qualidade de
consciência para que nos permita estarmos fora do tempo. Isto não é impossível!
Mas é impossível para quem vive como nós vivemos: tão transitórios quanto o
tempo. Nada em nós permanece. Não sabemos quem somos. Não temos uma visão
profunda de vida que vá só se aprofundando; não temos sentimentos profundos que
o tempo seja capaz de levar...ou seja, tudo é transitório e o rio do tempo vai
nos arrastar.
Contudo, o que, em nós,
escapa
ao tempo,
sabe que a
vida também
escapa
ao tempo
E
sabe que ontem é
apenas
a recordação
de hoje,
e
amanhã,
o
sonho de hoje.
Ele quer nos
induzir a pensar: quais foram os momentos de
nossas vidas que mais nos ensinaram, que mais nos permitiu crescer?
Momentos em que a nossa consciência estava mais
lúcida, e aquele fato gerou um crescimento, um amadurecimento...este fato não
está no tempo...Você pode viver mil anos , você não vai perder isto! Ele é
eterno. Ele é um marco na nossa vida. É
como se fosse um novo degrau de
consciência.
O momento que temos mais conscientes de nossas vidas,
o tempo não é capaz de roubar de nós.
Vida é sinônimo de tempo consciente; logo, os tempos
conscientes que tivemos em nossas vidas são momentos de eternidade no meio do
tempo.
Será que existe algo que esteja vivo e não tenha
algum grau de consciência?
A planta tem grau de consciência ( se move com o
vento, gera sementes). Tudo o que está vivo tem algum grau de consciência. O
momento mais conscientes em que temos de nossas vidas, o tempo não é capaz de
roubar de nós.
Há alguns anos atrás fizeram as seguintes experiências: pegaram pessoas na faixa etária
de 30-40 anos e pediram para elas contarem TUDO o que lembravam de suas
vidas... TUDO!!! Essa pesquisa foi feita com um grupo de aproximadamente 30
pessoas. Pessoas de memória excepcional, levavam cerca de 4 a 5 horas para
contar toda sua vida. Imaginem em 30 anos,4 ou 5 horas (com todos os detalhes
que elas lembravam); e o resto do tempo? Caiu no buraco negro da inconsciência.
No piloto automático da mecanicidade.
Quatro ou cinco horas foi o tempo que se eternizou,
que não foi corroído pelo esquecimento. É só isto que é realmente TEU! O resto,
o tempo já levou. Você está lutando para viver sempre, só que o tempo já levou
a maior parte da sua vida!
Agora, estas 4 ou 5 horas foram vividas com tanta
intensidade, que o TEMPO não conseguiu roubar de você! O rio do tempo não
conseguiu arrastar! Isto foi realmente VIDA, o resto foi só SOBREVIVÊNCIA.
Existe uma frase que diz: “ TODOS OS HOMENS MORREM,
MAS NEM TODOS OS HOMENS VIVEM.” Alguns só SOBREVIVEM. A rotina da SOBREVIVÊNCIA
o TEMPO irá levar. Agora, o que você tem de VIDA, isto é eterno.
Dizem os sábios do passado: que um momento que você fosse
capaz de viver com toda intensidade, com
consciência plena, ele daria tanta informação que é como se tudo o que você tem
para aprender na vida, tivesse contido em cada momento da sua vida. No Oriente
chamavam isto de iluminação. Às vezes, um mestre falava para um discípulo uma
frase, e a pessoa se iluminava, porque naquela frase, ele conseguia juntar
todas as peças de um quebra-cabeça da sua vida. Em cada momento existe uma
fresta para a eternidade.
Se em cada momento estivéssemos de corpo e alma
presente, ele teria detalhes para nos ensinar. A vida é toda pedagógica; ela que
que você reflita oque você está fazendo no mundo, quem é você e onde você tem
de chegar.
Em cada instante do tempo existe uma fresta para
eternidade, onde ali estaria contido tudo o que você veio fazer nesta vida.
Há uma história zen que diz que tinha um homem que
era excepcionalmente sábio, e um dia perguntaram: o que o Senhor faz para ser
tão sábio assim? Ele respondeu: Simples,
quando eu estou descascando uma laranja, eu estou descascando uma laranja.100%
da minha consciência está na casca da laranja e da faca. Eu compreendo que a
vida é inteiramente pedagógica. Se eu estou vivendo aquilo, é porque tem algo
para me ensinar. Cada momento da VIDA é um mistério. Se eu mergulho ali dentro,
eu saio com alguma coisa. Eu saio com algo que eu posso me transformar num ser
humano melhor. Em cada minuto, em cada instante, a vida está nos transmitindo
algo. A vida é inteiramente simbólica.
No livro tibetano dos mortos diz que, se houvesse um
momento em nossa vida que não tivesse nada para nos ensinar, ele já teria sido
tirado de nossa vida.
E aquilo que conta e medita em
vós
continua a morar dentro daquele
primeiro momento em que as estrelas
foram semeadas no espaço.
Sempre se diz que o
homem tem uma essência ( que é imortal) e uma aparência (que é transitória). E
o que é a morte? Você se identificar com aquilo que você temporariamente está.
E o que é a eternidade? Você
se identificar com aquilo que você realmente é.
Superar o tempo, seria se identificar com aquilo que dentro de
você não morre (que é realmente você). Inteligência vem disto: intelegere (escolher dentre). Dentre as
inúmeras sugestões que o mundo faz, o que realmente você pensa? Dentre as
inúmeras ideias que chegam até você, quem é realmente você?
Saber se achar
dentro de si mesmo. Quem sou eu? O que eu vim fazer no mundo? Qual é a minha
identidade.
Quanto mais
você se aproxima de encontrar a si mesmo, mas você supera aquilo que é
transitório. Àquilo que é realmente teu , não pode ser tirado de ti.
Todas às vezes que você vê algo que pode ser tirado
de você, isto ainda não é o que você é. Mergulhar dentro de si próprio e quando
encontrar algo que NADA nem NINGUÈM pode tirar de você, significa que está se
aproximando de sua identidade e está se aproximando também da eternidade. Isto
te coloca além do TEMPO. Isto é uma coisa que nós muito pouco praticamos e
muito pouco conhecemos., que é chamado de VIDA INTERIOR. Por isto que somos tão solitários! Solidão
não é falta dos outros e sim, falta de nós mesmos. Nós somos estranhos para nós
mesmos.
Há algo dentro de nós que sempre soube que o tempo é
ilusório, mas se nós encontramos este algo, nós ficamos serenos porque nos
colocamos acima do tempo.
Existia uma psiquiatra que trabalhava com doentes
terminais (tanatologista) e ela escreveu uma série de livros mostrando
entrevistas com os pacientes. Ela dizia o seguinte: Quanto mais a pessoa é
materialista, menos chance de confrontar a morte consciente( porque tudo o que
ela se identificou, necessariamente, ela vai perder) –a consciência fica sem
base. Quando ela tem algum grau de espiritualidade real, ela é serena, ela
confia em algo que nada nem ninguém pode tirar dela.
Na verdade, a morte é o resultado da maneira como
encaramos a vida. Só flutuamos na periferia de nós mesmos. Essa periferia não é
nossa. E quando ela se for, ficamos com o quê? Quem somos? O que vamos levar de
tudo isto? Qual a nossa contribuição para nós mesmos e para o mundo?
Quem, dentre vós, não sente
que
seu poder de amor é ilimitado?
O verdadeiro amor,
quanto mais você ama mais você sente que pode amar. O verdadeiro amor gera
expansão.
Cícero, pensador romano, dizia: “Se amas e te tornas mais
justo, mais nobre, mais honrado, mais fraterno e mais altruísta; realmente,
amas. Se amas e te tornas mais egoísta, mais isolado, mais mesquinho e mais voltado
para os teus interesses; não amas e não ama ninguém que assim o faça.”
Aquele que se
isola por causa de um amor, aquele que se torna mais egoísta por causa de um amor;
isto não é amor, é paixão. Característica do AMOR é EXPANSÃO.
Se eu amo um ser humano, através da expansão eu amo
mais a humanidade. Eu me torno melhor como ser humano. Me torno mais integrado
à natureza; tenho mais respeito, tenho mais paciência e tenho mais compaixão.
Através de um canal que o meu AMOR se expressa, ele se expande
em todas as direções, então o que Gibran quer dizer? Quando nós vivemos um
verdadeiro amor, sentimos que dentro de nós existe alguma coisa que é
infindável ( que eu posso amar cada vez mais, que é ilimitado); existe dentro
de nós uma sede de expansão do amor.
Como pode um ser limitado e mortal ter dentro de
si uma coisa ilimitada e imortal? Se
você tivesse um sentimento deste, você teria certeza da imortalidade.
Quando experimentamos os valores humanos, eles nos
provam que nós somos eternos. Se eles cabem dentro de nós, eles são eternos e
nós também. Ao experimentara natureza humana, experimentamos também a
eternidade.
E, contudo, quem não sente
esse amor, embora ilimitado,
circunscrito dentro de seu
próprio ser, e não se movendo
de um pensamento amoroso a
outro, e de uma ação amorosa
a outra?
Interessante, porque
você sente que tem dentro de você um potencial de amor à humanidade inteira, e você,
por opção, reduziu isto a um ser humano, dois...e meia dúzia de objetos...
Sabe o que quer dizer carência afetiva? A gente acha
que é falta de nos amarem, mas carência afetiva é a falta de libertarmos a
nossa própria capacidade de amar.
Vocês não vão encontrar uma pessoa carente, se ela
durante todo o seu dia, em tudo o que ela faz deposita o seu amor; transborda
amor por onde passa. Você percebe que esta expansão contínua do amor, ela acha
a si mesmo e a um monte de pessoas. Ela não necessita receber amor de fora,
pois ela tem uma fonte infinita de amor.
Imaginem Madre Tereza sofrendo de carência afetiva.
Ela não tinha nem tempo de pensar nisto. Quem jorra amor, não sente falta de
amor.
Nós nascemos, por definição, com uma capacidade de
expansão de amor de 360º, aí por egoísmo a gente pega este amor de 360º e
concentra num raio só e despeja em cima do marido, filho...Isto é um raio
laser. Fulmina qualquer pessoa. Ninguém suporta! É possessivo...além da gente
se tornar egoísta e frio pra tudo, sufocamos aquela pessoa com uma intensidade
de amor que é desproporcional.
Como conseguiremos dormir tranquilamente quando ouvimos
o barulho do caminhão de lixo e observamos aqueles homens pendurados muitas
vezes com apenas uma mão e sem máscaras. Respirando aquele cheiro infecto.
Poderia ser um filho nosso... é cruel isto não doer em nossos corações! Como
não dói?! Por que não dói? Por que aquele ser humano não tem direito ao teu
coração? Então o teu coração está muito limitado, está com defeito. O certo
seria que tudo o que fosse passado pela tua consciência, fosse recebido em teu
coração.
Isto é problema nosso! Helena Blavastki dizia: “Não
deixe que seque a lágrima que corre do teu rosto enquanto não secares a lágrima
que corre do último dos mortais”. Comprometa-se com a dor humana; considere que
é um problema teu; considere como tua família! Você pode dizer: “Ah... vai ser
desconfortável!” Desconforto não é a melhor coisa do mundo. Consciência, sim! É
a mais humana. Conforto acomoda nossa alma. Mata aquilo que temos de mais
nobre.
E não é o tempo,
exatamente como o amor,
indivisível
e insondável?
Temos uma caixinha,
como se fosse uma caixa de joias que colocamos dentro os momentos do tempo, onde
o tempo foi uma eternidade. Esses momentos preciosos, que você despertou, é
como se você tivesse rasgado o véu da ilusão e visse alguma coisa de Deus do
outro lado; alguma coisa de realidade. Os momentos que tocou profundamente o
teu coração e parece que você entendeu alguma coisa. Momentos muito simples
porque não acontecem coisas fantásticas na vida de pessoas como nós! Acontecem
coisas do nosso tamanho, mas suficientes para despertar a nossa consciência. Momentos
de beleza, momentos de honra, momentos de profundidade, momentos de compreensão...
às vezes coisas extremamente simples. Um
gesto bonito de uma pessoa; uma dor de um ser humano que conseguimos aplacar um
pouco; uma resposta que encontramos para perdoar alguém; uma conciliação de uma
angústia que você tinha e você já sabe compartilhar porque você já resolveu
aquilo, portanto, quem sofrer daquele mesmo mal você já tem uma resposta...
Quando a gente vê algo muito belo , ali está um momento de Deus. A beleza não
pode ser mortal. Ela é tão perfeita, tão completa. Essa característica de unidade
é uma característica divina: Nada sobra, nada falta. E você começa a ter a
certeza que há coisas dentro de você que o tempo não é capaz de devorar.
Pequenos momentos de honra, de consciência, de beleza...esses pequenos momentos
são cofres de ouro porque vai ser um passaporte para uma outra dimensão de tempo.
Se todavia,
deveis dividir o tempo em estações,
que cada estação envolva
todas as outras estações.
Numa fresta do
tempo, você pode ter todo tempo ali dentro.
Imaginem que você vai fazer um suco de laranja. Você
espreme a laranja e toma este suco. Suco
de laranja é muito rico em vitamina “C”. Vai aumentar tua resistência, vai
fazer com que você fique menos susceptível a gripe. Essas qualidades do suco de
laranja, vão com você mas as cascas você põe no lixo.
Como fazemos em relação à vida? A vida nos dá uma
experiência dura, dolorosa... Você espreme a experiência e tira só o que ela
tem para te alimentar e joga a casca fora? Ou você sai arrastando um saco de
cascas pela vida afora?
No livro tibetano dos mortos, nos diz: Se nós
acumulamos uma quantidade grande de mágoa, amargura, que já não nos permite dar
um passo em direção ao crescimento, nós escolhemos morrer. A natureza só
executa, porque não existe vida
possível se não há possibilidade de
crescimento.
Então, você passa por um inverno doloroso, um outono
difícil, uma primavera maravilhosa, e um verão de plenitude. Tudo isto são o
suco de laranja. O preço que você pagou, lixo.
Então, em qualquer momento a vitamina ”C” está dentro
de você, etá incorporada a tua resistência.
Em qualquer momento a essência da vida está em você e
está incorporada as suas respostas à vida.
Você extraiu àquilo que elas têm de mais profundo e
isto te permitiu caminhar. Tudo isto está embutido naquilo que você é. Você não
só sobreviveu. Você extraiu a essência da vida e isto está com você sempre.
Isto faz com que todo tempo seja eterno.
E que
vosso presente
abrace
o passado com nostalgia,
o
futuro, com ânsia e carinho.
Quando o ser humano
encontrar dentro de si algo que está além do tempo, ele passa a confiar na vida.
Ele perde a ansiedade, perde o medo... Ansiedade é mal do nosso tempo e é um
mal incurável! Por que nós consideramos que somos apenas matéria e a matéria
caminha para o abismo. Como um ser que só pensa na matéria não pode ficar
ansioso(a)? Se ele(a) imaginar que nada vai sobreviver àquilo que está caminhando
para o abismo...como irá viver tranquilo(a) e sereno(a) assim?
A partir do momento
que você encontra algo que está além do tempo, você aceita as experiências que
o tempo traz. Você aceita o passado, o
presente e o que o futuro trouxer...
No filme “ O
Gladiador” existe uma cena em que, quando o Gladiador (ele era general romano e
foi tornado Gladiador) se encontra com vários gladiadores no campo, no meio da
Arena e vem uns soldados romano saindo detrás da porta, então ele vira para os
homens que estão com ele e diz: “Seja o que for que vier detrás daquela porta,
se permanecermos unidos, sobreviveremos!”
Seja o que for que
vier detrás da porta do futuro, se eu permanecer coesa, íntegra, eu sobrevivo.
Então eu não terei MEDO. Eu tenho integridade, eu tenho algo que está acima do
tempo.
Se eu permanecer
fiel a mim mesma, eu me garanto diante de qualquer coisa que seja necessária
que a vida traga para mim.
Eu compreendo que a
vida é necessária, ela não é injusta. Ela traz as experiências que eu preciso
viver para que eu extraia o sumo desta experiência e eu caminhe melhor.
O prof. Michel
Echenique dizia: Existe algo em nós que
faz parte da geografia terrestre(cumes e vales). E existe algo em nós que é solar, luminoso (
que fica lá de cima estável observando a geografia terrestre, mas não oscila).
Se a tua consciência
se identifica só com aquilo que é da Terra, ela fica subindo e descendo...
Se identificar com
algo mais acima, você observa o relevo da Terra e não sobe e desce com ele; já
não é mais um joguete na mão das circunstâncias. Venha o que vier, sobreviverá.
Não tem mais amarguras com o passado nem medo do futuro. Aceitação é uma
virtude que exige identidade.
A identidade acima
das circunstâncias te dá aceitação das circunstâncias. Ela vem porque
necessitamos dela. Não temos amargura, revolta; aceito. Extraio da melhor
maneira possível a essência das circunstâncias para me tornar cada vez melhor
como ser humano.
Que nós possamos
fazer as pazes com o tempo, quando percebermos que ele não leva o que somos.
Ele leva as cascas e nós temos de ser capaz de espremer a laranja e não ficarmos apegados às cascas e
arrastando um saco de cascas pela vida.
Sermos capazes de
encontrar dentro de nós àquilo que o tempo não toca. Se ele não toca em nós,
então fica difícil! É necessário que a gente toque, que a gente encontre aquilo
dentro de nós que somos nós mesmos.
A nossa identidade
mais profunda, que paira acima do tempo.
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