“Fala-nos do Prazer”.
E ele respondeu, dizendo:
Lembrara que o ermitão é
uma pessoa que renunciou a todos os prazeres. Ele considera o prazer como algo
muito interessante, como se fosse um canto de liberdade da alma, querendo
vencer os seus limites. Só que, ele se
considera que o homem se satisfaz. É como se fosse a história da escada, com o
primeiro degrau e desiste de todos os demais; e o prazer tem vários níveis de
prazer. Muitas vezes, ao invés do prazer
expandir, limita; ao invés de libertar, escraviza.
O
prazer limitado e instintivo, não gera liberdade; muito pelo contrário, gera
escravidão.
Ele
vai explicar quais seriam as possibilidades do prazer. Quando você transita através
dele e vai crescendo; e não quando você
se detém.
O primeiro par de
sapatinhos que você calçou, não era ruim; era oque cabia no teu pé naquela
época; mas será ruim você estar querendo calçar aquilo até hoje.
O primeiro grau da escada não é ruim, mas é ruim você querer se deter nele.
Lembre-se de que, quem pergunta tem a ver com aquilo que é perguntado.
Quem pergunta é um ermitão
que visitava a cidade uma vez por ano.
Um
ermitão, no geral é uma pessoa que renunciou a todos os prazeres e vive uma
vida ascética dentro de uma caverna sem se permitir nada.
Muitas vezes em certas
ocasiões da história, não em todos os casos da história, onde o prazer foi
considerado um pecado: exemplo Idade Média.
Na
Idade Média, os monges, algumas vezes usavam um capuz para não pegarem a brisa
fresca, porque sentir prazer da brisa fresca era um pecado; então renunciavam a
tudo, considerando que isso em si tem algum valor; e ele coloca isso, lógico,
partindo propositalmente de um ermitãopra mostrar a nós que este tipo de radicalismo
vai gerar distorções e como se lida com prazer de uma maneira humana.
Então,
a renúncia ao prazer é sempre virtude?
Entregar-se
ao prazer é sempre liberdade?
Oque
é o prazer propriamente dito?
É
só isto que consideramos como agradável:
Ou
há outras possibilidades de prazeres mais agradáveis?
Ele
vai se dedicar a discutir isto.
Entâo, ele vai começar a responder:
O
prazer é uma canção de liberdade,
Mas
não é a liberdade.
É
o desabrochar de nossos desejos,
Mas
não o seu fruto.
Ou
seja, num determinado momento, quando nós começamos a considerar que a roupa
aperta o nosso corpo, começamos a nos considerar asfixiados na forma de vida que vivemos; o prazer é um canto de
liberdade. Eu quero espaço, então eu vou romper limites. Agora, se eu vou
romper limites e vou ser capaz de conquistar um espaço maior, é outra história.
O
fato de você arrombar uma porta, não significa dizer que você é digno do que tem do outro lado,
pode simplesmente se deter na violência do arrombamento e não ser digno do que
está no outro aposento. Não chegar lá. Não sair do Umbral. Ficar eternamente
vaidoso de ter conseguido abrir aquela porta. Então o prazer é querer expandir
limite. Querer quebrar amarras, mas isso é apenas o primeiro passo. O que vem
depois é o que vai determinar se isso foi um passo positivo ou não. Nós estamos
num mundo dual onde as coisas podem ser positivas ou negativas, dependendo do
que você vai fazer com elas.
Isso
é uma das máximas da filosofia. Uma faca muito afiada: é boa ou má? Depende.
Na
mão de uma boa cozinheira, é excelente. Na mão de um cidadão violento, é
terrível!
O
mundo manifestado, tudo é dual; logo, vamos ver o que iremos fazer com esse
canto de liberdade e a partir daí,
veremos se vai te ajudar a crescer ou não.
Para
Gibran as coisas são boas quando te ajudam a crescer como ser humano, caso
contrário, não.
É
um abismo olhando para o cume,
mas não é o abismo nem o cume.
É
o engaiolado ganhando o espaço,
Mas
não é o espaço que o envolve.
Lembre-se
daquela frase de Sócrates: “Só sei que nada sei.” Com certeza que você irá
perceber que a medida que vão ampliando os nossos horizontes de ver as
possibilidades no Universo, você vai comparar com aquele tanto que você tem e
vai perceber que é uma imensidade aquilo que você não tem, perto daquilo que
você tem.
Então,
existe uma máxima que diz : “ o intelectual, quanto mais intelectual, mais
vaidoso é; um sábio, quanto mais sábio fica, mais humilde é.”
Se
para você dizer “ só sei que nada sei”, você tem de ter vislumbrado o tamanho
do que não sabe. Isto é muito. Vislumbrar o tamanho do desconhecido é muita
sabedoria.
Uma
pessoa quando começa a perceber o Universo, ela está lá embaixo; lá no abismo e
ela olha para cima e percebe a imensidão de coisas que pode ampliar sua
consciência. Pode crescer, pode expandir, contanto que sua vida não precisa ser
aquele roteiro repetitivo, o tanto que ela pode crescer. Mas ela ainda não
cresceu. Ela simplesmente viu, então o prazer é um canto de liberdade. É um
canto de querer vencer limites, mas até agora você só viu os limites, não os
venceu de fato. È o engaiolado ganhando espaço, mas ainda não éo espaço que o
envolve, ou seja, ele se libertou das amarras, da gaiola mas espaço ainda está
todo por ser conquistado e nem levantou o primeiro voo. Na hora que ele levantar,
você vai ver o quão alto ele vai ser capaz de voar e aí nós vamos julgar se ele
é livre ou não. Porque se ele se liberta da gaiola e rasteja, conquistou alguma
coisa...mas não tanto. E muitas vezes pode esquecer que é um pássaro, se
começou a rastejar. Pode mais perder, do que ganhar.
Sim,
na verdade, o prazer é uma canção de liberdade.
E
de bom grado eu vos ouviria cantá-la de todo vosso coração;
Porém,
não gostaria que perdêsseis
Vosso
coração no canto.
Sabe
o que significa isto: Um canto de liberdade que anuncia muito e usa pouco.
Verdade quando você levanta voo e vai muito baixo, ou seja, ao invés de
conquistar a liberdade, conquista à escravidão dos instintos, àquilo que a
gente chama de libertinagem, que é a degeneração da liberdade. Onde eu saio de
uma gaiola e entro em outra. Me escravizo pela falta de limites, pelos
excessos, ou seja, o prazer se torna um vício.
Nós
não temos um gosto tão bem formado assim para dizermos: “Tudo o que eu gosto, é
bom. Tudo o que eu rejeito, é mau. Se eu ficar escravo do agradável,
provavelmente não vou crescer com isso, porque o que é agradável pra mim neste
momento, está longe de ser bom para um ser humano. Se eu não tiver capacidade
de construir em mim asas, me entregar ao prazer, aquilo que é prazerosos para
mim nesse momento, provavelmente vai me piorar, porque o meu gosto não é tão
bom.
Há
um filósofo indiano que dizia que a evolução nada mais é do que a depuração do
gosto: aprender a gostar de coisas cada vez mais nobres e boas. Isto é levantar
voos. Antes o meu prazer era só possuir coisas. Digamos que agora o prazer
passa a ser conquistar a condição de ser um fator de soma na vida das pessoas.
Antes o meu prazer era fazer aquilo que era agradável, agora, o meu prazer
consiste em minimizar a dor das pessoas. Isto é depuração do gosto e elevação do voo para níveis mais
altos.
Agora,
é um problema: porque nós consideramos que aquilo que gostamos nesse momento
faz parte da nossa personalidade. Faz parte do nosso ser, mas do que da nossa
personalidade. E não é verdade. É um condicionamento social.
Vocês
acham que tudo que gostamos, escolhemos gostar?
Se
estivesse nascido do outro lado do tempo, do outro lado do mundo, gostariam das
mesmas coisas?
Percebem
que a maior parte delas foram escolhidas por um condicionamento social: E tem
muito pouco a ver com a sua essência:
Para
você saber quem é você: mergulhar dentro de você e se encontrar, você teria que em cada
situação, cada pensamento, cada sentimento, cada coisa que você gosta;
desgosta, lembrar da reflexão que você gerou, porque escolheu isto e como
construiu este gosto.
Se
você tentar descobrir dentro de você, cada um dos pensamentos, se são seus,
você vai descobrir que não. Já temos uma clonagem social onde adotamos um
pacote vida, pois a maior parte das coisas nossas, não são nossas. Então, por que tanto apego à elas? Depurar o
gosto exige que você não se identifique tanto assim com aquilo que é agradável
para você, hoje. Considerando como se isso fosse parte do seu ser. Ser capaz de
levantar voo, significa deixar algumas coisas para baixo.
Pense
num passarinho quando ele levanta voo. Sai do seu ninho e levanta voos. Os
primeiros momentos deve ser um drama . Olha para baixo; aquele ninho tão
acolhedor, quentinho, tão fofinho e agradável! Isto é um drama. Mas se ele
continua levantando voo verticalmente, observa uma coisinha de nada lá embaixo
e o Universo à sua volta... e não vai aparecendo uma bobagem, ele ter se
apegado tanto à tão pouco, e quanto mais elevado, não vai aparecendo mais
insignificante?
Então,
a necessidade de qualificar o gosto e conquistar prazeres mais humanos, implica
em deixar algumas para trás. Lembra da lei da física: nenhum corpo pode ocupar
dois lugares no espaço. Veja, se você quer crescer como ser humano, significa
que você vai sair daqui e vai pra cá, então
esse lugar aqui você vai deixar pra trás. Você não pode ficar em dois lugares
ao mesmo tempo. Temos de ter a capacidade de superação do que somos hoje:
desindentificação.
Alguns
dos vossos jovens procuram o prazer
como
se fosse tudo na vida,
e
são condenados e repreendidos.
Eu
preferiria nem condená-los nem repreendê-los,
Mas
deixa-los procurar.
Como
assim? Não vamos condenar nem repreender um jovem que se entrega a prazeres
grosseiros, a vícios... A coisa mais educativa que podemos fazer é sermos
inspiração para aqueles que queremos influenciar qualquer pessoa que queira
empurrá-lo para o vício ou pra qualquer coisa desse tipo.
Os
pais sempre perguntam: o que eu faço para influenciar bem o meu filho? – Faça com que ele te
admire. Se você é uma pessoa que tem valores que ele admira, tua opinião vai
ter uma ponderação muito maior do que qualquer outra pessoa. Mas, mesmo assim, existe algo que você tem de
considerar, que é o livre arbítrio. Se o ser humano necessita de uma
experiência, esquece. Você pode ir ao limite das tuas experiência, esquece.
Você pode ir ao limite das tuas possibilidades para dar exemplo, para dar
referência, mas não pode impedir que ele a viva.
A
história é escrita pela necessidade dos homens evoluírem. Eu preciso passar por
ali para evoluir. A natureza vai te levar ali. Através da filosofia, o que a
humanidade inventou? A filosofia é um experimento que nasceu pouco depois dos
homens. É difícil você saber quando o homem começou a questionar o sentido da
vida?
Deve
ter sido muito pouco tempo depois que eles começaram a subir como homem. A
filosofia faz com que você possa aprender não através da vivência mas através
da vivência.
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