Janela da Alma é um documentário produzido em 2001 por João Jardim e Walter Carvalho, ambos míopes. O documentário teve o maior público desde a década de 90, e ganhou o prêmio do júri e do público na Amostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Mas o que seria tal janela? Seria algo que nos remetesse ao olhar? Ou.. o olhar é uma percepção que transcende a visão?
Sobre o olhar, Clarice Lispector nos faz a seguinte colocação: “quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles”
Acredito que o nosso olhar revela em alguns momentos flashes da nossa alma, sim! Eis o que faz a janela! Lembro-me de uma vez que cheguei em casa e havia me decepcionado com algo , mas não gostaria de compartilhar com ninguém, pois naquele momento estava querendo proteger minha emoção e gerenciá-la. Minha mãe, assim que me viu, perguntou: “E aí, tudo bem?” “-Sim, está tudo bem”, respondi. E ela chamou minha atenção: “Mas o seu olhar não está dizendo isto!” Fiquei naquele momento a refletir: 'Como pode ela saber que não estou bem? Como pode ela conhecer talvez mais a minha alma do que eu mesma através de um simples olhar?'
O filme nos incita a fazermos várias reflexões sobre a visão e o que tem por trás do ver, olhar, imaginar... Observamos logo nos primeiros minutos do documentário, apenas o barulho da água e após, a imagem do fogo. Dois elementos da natureza bastante simbólicos! Mas o que será que estes elementos têm a ver com a temática do filme?
O fogo representa a energia, a força, o que move o mundo; já a água representa a fluidez, a fonte da vida.
Nosso olhar representa tanto a força como a fluidez, pois é uma linguagem que tanto atrai como condena.
No documentário podemos estudar vários temas, como a visão, a falta dela, a imaginação e outras informações sobre ver o mundo e, assim, tirarmos nossas próprias conclusões a cerca de experiências vividas. Por exemplo, a visão não é apenas ver, mas dá um novo sentido àquilo que observamos; revela nossas emoções; é mais sensível que qualquer câmara e mais personificada do que as nossas próprias digitais. E não foi à toa que percebi a simbologia da água e do fogo, pois foram estes primeiros sinais no documentário que chamaram a atenção do meu olhar.
No documentário podemos estudar vários temas, como a visão, a falta dela, a imaginação e outras informações sobre ver o mundo e, assim, tirarmos nossas próprias conclusões a cerca de experiências vividas. Por exemplo, a visão não é apenas ver, mas dá um novo sentido àquilo que observamos; revela nossas emoções; é mais sensível que qualquer câmara e mais personificada do que as nossas próprias digitais. E não foi à toa que percebi a simbologia da água e do fogo, pois foram estes primeiros sinais no documentário que chamaram a atenção do meu olhar.
As dezenove pessoas entrevistadas de diferentes áreas, com problemas visuais ou não, falam sobre esse universo tão complexo de uma forma leve, porém não menos reflexiva.
Vemos no documentário, uma imagem ampliada da nossa pele e logo percebemos como nos causa um estranhamento, então entra a fala de Saramago compondo uma metáfora entre os olhos dos homens e o do falcão. Segundo ele, “se Romeu, da peça Romeu e Julieta, tivesse os olhos de um falcão, provavelmente não se apaixonaria por Julieta. Ela, seguramente, seria para ele uma figura nada agradável, pois a acuidade do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana como nós a vemos.”
Logo notamos que os olhos como costumamos falar que é a “janela da alma”, não é bem assim!
O poeta Antonio Cícero descreve bem este sentimento; “Se o olho é a janela da alma, então você tem de olhar para essa janela com o outro olho, também janela da alma. A janela não olha, quem olha é o olho através da janela. É uma metáfora complicada que leva a um tipo de coisa que não resolve o problema real de explicar o que é a visão, porque você vai ao infinito com essa história de janela da alma e nunca chega na verdade, a própria alma.”
E como declara Manoel de Barros : “ eu não acredito que o olho vê, as coisas aparecem de dentro, vêm de dentro, não entrando pelo olho, é a imaginação que transforma o mundo”. Os dois depoimentos explicam muito bem o olhar de quem, por exemplo, não tem visão. Porque além de verem diferente, eles transformam o mundo através da sua imaginação, tornando muitas vezes menos pesado e mais colorido.
Temos depoimentos riquíssimos de pessoas que perderam a visão, como Arnaldo Godoy e o filósofo-fotógrafo esloveno, Evgen Bavcar.
Arnaldo Godoy perdeu a visão aos 17 anos. É uma pessoa que faz toda diferença como político, pois está sempre cheio de projetos e pondo-os em prática. No filme tem um relato de sua filha, Madalena. Ela, quando bebê, Godoy levou-a ao mar e de repente, veio uma onda que a arremessou de seus braços. Estes segundos se eternizaram em sua vida e tendo como ajuda à natureza, o sol poente, a água leitosa.., percebeu aquela coisa negra na água e quando bateu a mão sentiu o corpinho da filha. Será que às vezes não somos mais cegos do que ele? Será que teríamos essa sensibilidade? Para Saramago, nós estamos todos cegos! Cegos da razão, cegos da sensibilidade.
Já Evgen Bavcar, perdeu a visão quando adolescente, em consequência de dois acidentes de infância – o choque com um galho de árvore e a explosão de uma mina. Começou a fotografar aos 16 anos, já sem a visão. Você pode se perguntar, como pode alguém sem visão fotografar? Segundo ele, não perdemos a visão interior. A máquina fotográfica, ele compara a uma televisão, pois assiste-a sem enxergar. E faz uma crítica à televisão por nos propor sempre imagens prontas e isto faz com que tenhamos uma cegueira generalizada. Logo percebemos o sentido do que ele quis dizer, pois ele fotografa sem precisar ver fisicamente mas possa a entender o que está sendo mostrado e o melhor, o que ele quer provar : o que deixamos se perder. Essas pessoas ganharam a visão interior e a aproximação com a janela da alma.
Que possamos desfrutar desse documentário, degustando cada palavra e aguçando o nosso olhar para que ele possa ao menos expressar o que se passa na alma.
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