Lembro-me de uma vez que estive em
Fortaleza e fui a um restaurante. Avistei um casal que me chamou bastante
atenção, pois fiquei observando o tempo em que eles não se comunicavam! Não
existia diálogo entre eles; parece que estavam imersos, cada um no seu mundo.
Fiquei a questionar: “o que os alimentava estarem juntos ou estarem ali?”
O livro – O
silêncio dos amantes – nos faz refletir sobre a incomunicabilidade e o
silêncio em todas as relações. Alguns contos me deixaram impactada, com o
coração apertado.
A obra é
composta de 20 contos curtos, de uma linguagem simples e objetiva.
Destacarei aqui, alguns contos e falas que me chamaram atenção.
O conto A
pedra da Bruxa, retrata o conflito entre pais e filho. A partir da ausência
literal do filho, a mãe percebe que a cumplicidade dos dois só existe em sua
imaginação e que a relação é pautada numa mentira. O filho já havia dado alguns
sinais de pedido de socorro quanto a essa relação, porém, os pais
não notaram.
Esta semana
li uma matéria sobre Susan Klebold, a mãe de Dylan Klebold, o menino que se
matou após ter tirado a vida de 13 pessoas no Colorado (EUA). Susan
publicou um livro chamado – Balanço de uma mãe: vivendo as seqüelas de
uma tragédia. Pelo que observei na entrevista, Dylan já havia
dado todos os indícios de ser uma pessoa problemática. Veja
abaixo um trecho da matéria:
“De garoto
tranquilo e feliz, o menino se transformou em um problemático adolescente. Em
seu terceiro ano de colégio, ele e seu amigo Eric foram detidos por roubar
materiais eletrônicos com uma caminhonete. Pouco depois, Dylan foi multado e
suspenso temporariamente por riscar a porta de um armário do vestiário. Nem
mesmo quando pediu aos seus pais uma escopeta de Natal – um ano antes do crime
– ela ligou os pontos. ‘Surpresa, perguntei a ele porque a queria, e me disse
que pensava que ir de vez em quando a um campo de tiro, poderia ser divertido
(diz no livro). Dylan sabia que sou inimiga acérrima das armas, de modo que a
proposta me deixou estupefata (...) E como jamais teria permitido uma arma sob
nosso teto, seu pedido não me despertou nenhum alarme’. Como sua mãe se negou a
comprar a escopeta, ele por sua conta e escondido amealhou, com seu amigo, um
arsenal”.
São estes pequenos
fatos que nos fazem refletir sobre até que ponto eu tenho culpa nas decisões
alheias. Lya Luft faz com que repensemos todos esses questionamentos. Cada
conto nos propõe uma grande e infinita análise do nosso papel como:
mãe, pai, amiga, irmã, companheira...
Outro conto que
destaco é: O que a gente não disse – narra a angústia de uma
companheira que achava sua relação normal e perfeita devido ao tempo que se
conheciam e deixava claro que o marido era a pessoa mais próxima e a mais comum
para ela. Só que, ela havia notado uma tristeza, ombros caídos; em vez de
indagar, varreu a inquietação que também já era sua, para debaixo do tapete.
Até que um dia o encontra com uma seringa na mão, debaixo de uma árvore que
tanto admirava.
“Sem que eu
soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas
paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, com
o branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu interrogava, o que você tem,
amor? Ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente
sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele
acordo sem palavras. Nunca imaginei o mal que o roia”.
Por último, destaco
o conto Adria. Adria é uma jovem linda que conta sua história
de amor. Ela tem um namorado que possuía valores e visão de mundo completamente
diferente da dela, embora com todas essas diferenças, ele a amava e possuía uma
grande sensibilidade apesar dela considerá-lo rude. Muitas vezes ela o ignorava
e ironizava. Preferia uma vida superficial e sem muito sentido, mas estava
sempre em busca de diversão sem emoção e abraço sem afeto. Um dia, ele disse:
“você é bem melhor do que isso, mas precisa de descobrir”. Adria continuou
buscando uma vida medíocre, e ao se separarem ele declara: “Porque
apesar de tudo, desse seu tipo de vida, suas maluquices e sua superficialidade,
eu te amo. Amo a mulher que está escondida em você”. Ambos se relacionaram com
outras pessoas, casaram, mas nunca deixaram de se amar.
Lya Luft faz com
que analisemos o nosso cotidiano para estarmos sempre inteiros naquilo que
optamos e também observarmos a nossa capacidade de viver e de se relacionar.