sábado, 27 de janeiro de 2018

LIVRO DE CONTO - O SILÊNCIO DOS AMANTES



            Lembro-me de uma vez que estive em Fortaleza e fui a um restaurante. Avistei um casal que me chamou bastante atenção, pois fiquei observando o tempo em que eles não se comunicavam! Não existia diálogo entre eles; parece que estavam imersos, cada um no seu mundo. Fiquei a questionar: “o que os alimentava estarem juntos ou estarem ali?”
O livro – O silêncio dos amantes – nos faz refletir sobre a incomunicabilidade e o silêncio em todas as relações. Alguns contos me deixaram impactada, com o coração apertado.
A obra é composta de 20 contos curtos, de uma linguagem simples e objetiva. Destacarei aqui, alguns contos e falas que me chamaram atenção.
O conto A pedra da Bruxa, retrata o conflito entre pais e filho. A partir da ausência literal do filho, a mãe percebe que a cumplicidade dos dois só existe em sua imaginação e que a relação é pautada numa mentira. O filho já havia dado alguns sinais de pedido de socorro quanto a  essa relação, porém, os pais não notaram.
 Esta semana li uma matéria sobre Susan Klebold, a mãe de Dylan Klebold, o menino que se matou após ter tirado a vida de 13 pessoas  no Colorado (EUA). Susan publicou um livro chamado – Balanço de uma mãe: vivendo as seqüelas de uma tragédia.  Pelo que observei na entrevista, Dylan já havia dado todos os indícios de ser uma pessoa problemática. Veja abaixo um trecho da matéria:
 “De garoto tranquilo e feliz, o menino se transformou em um problemático adolescente. Em seu terceiro ano de colégio, ele e seu amigo Eric foram detidos por roubar materiais eletrônicos com uma caminhonete. Pouco depois, Dylan foi multado e suspenso temporariamente por riscar a porta de um armário do vestiário. Nem mesmo quando pediu aos seus pais uma escopeta de Natal – um ano antes do crime – ela ligou os pontos. ‘Surpresa, perguntei a ele porque a queria, e me disse que pensava que ir de vez em quando a um campo de tiro, poderia ser divertido (diz no livro). Dylan sabia que sou inimiga acérrima das armas, de modo que a proposta me deixou estupefata (...) E como jamais teria permitido uma arma sob nosso teto, seu pedido não me despertou nenhum alarme’. Como sua mãe se negou a comprar a escopeta, ele por sua conta e escondido amealhou, com seu amigo, um arsenal”.
São estes pequenos fatos que nos fazem refletir sobre até que ponto eu tenho culpa nas decisões alheias. Lya Luft faz com que repensemos todos esses questionamentos. Cada conto nos propõe uma grande e infinita análise do nosso papel como: mãe, pai, amiga, irmã, companheira...
Outro conto que destaco é: O que a gente não disse – narra a angústia de uma companheira que achava sua relação normal e perfeita devido ao tempo que se conheciam e deixava claro que o marido era a pessoa mais próxima e a mais comum para ela. Só que, ela havia notado uma tristeza, ombros caídos; em vez de indagar, varreu a inquietação que também já era sua, para debaixo do tapete. Até que um dia o encontra com uma seringa na mão, debaixo de uma árvore que tanto admirava.
“Sem que eu soubesse, as coisas não ditas haviam crescido como cogumelos venenosos nas paredes do silêncio, enquanto ele ficava acordado na cama, fitando o teto, com o branco dos olhos reluzindo na penumbra. Se eu interrogava, o que você tem, amor? Ele respondia que não era nada, estava pensando no trabalho. A gente sabia que era mentira, ele sabia que eu sabia, mas nenhum de nós rompeu aquele acordo sem palavras. Nunca imaginei o mal que o roia”.
Por último, destaco o conto Adria. Adria é uma jovem linda que conta sua história de amor. Ela tem um namorado que possuía valores e visão de mundo completamente diferente da dela, embora com todas essas diferenças, ele a amava e possuía uma grande sensibilidade apesar dela considerá-lo rude. Muitas vezes ela o ignorava e ironizava. Preferia uma vida superficial e sem muito sentido, mas estava sempre em busca de diversão sem emoção e abraço sem afeto. Um dia, ele disse: “você é bem melhor do que isso, mas precisa de descobrir”. Adria continuou buscando uma vida medíocre, e ao se separarem ele declara:  “Porque apesar de tudo, desse seu tipo de vida, suas maluquices e sua superficialidade, eu te amo. Amo a mulher que está escondida em você”. Ambos se relacionaram com outras pessoas, casaram, mas nunca deixaram de se amar.
Lya Luft faz com que analisemos o nosso cotidiano para estarmos sempre inteiros naquilo que optamos e também observarmos a nossa capacidade de viver e de se relacionar.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

DOCUMENTÁRIO JANELA DA ALMA

Janela da Alma é um documentário produzido em 2001 por João Jardim e Walter Carvalho, ambos míopes.  O documentário  teve o maior público  desde a década de 90, e ganhou o prêmio do júri e do público na Amostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Mas o que seria tal janela? Seria algo que nos remetesse ao olhar? Ou.. o olhar é uma percepção que transcende a visão?
Sobre o olhar, Clarice Lispector nos faz a seguinte colocação: “quem eu sou, você só vai perceber quando olhar nos meus olhos, ou melhor, além deles”
Acredito que o nosso olhar revela em alguns momentos flashes da nossa alma, sim! Eis o que faz a janela! Lembro-me de uma vez que cheguei em casa e havia me decepcionado com algo , mas não gostaria de compartilhar com ninguém, pois naquele momento estava querendo proteger  minha emoção e gerenciá-la. Minha mãe, assim que me viu,  perguntou: “E aí, tudo bem?” “-Sim, está tudo bem”, respondi. E ela chamou minha atenção: “Mas o seu olhar não está dizendo isto!” Fiquei naquele momento a refletir: 'Como pode ela saber que não estou bem? Como pode ela conhecer talvez mais a minha alma do que eu mesma através de um simples olhar?'
O filme nos incita a fazermos várias reflexões sobre a visão e o que tem por trás do ver, olhar, imaginar... Observamos logo nos primeiros minutos do documentário, apenas o barulho da água e após, a imagem do fogo. Dois elementos da natureza bastante simbólicos! Mas o que será que estes elementos têm a ver com a temática do filme?
O fogo representa a energia, a força, o que move o mundo; já a água representa a fluidez, a fonte da vida.
Nosso olhar representa tanto a  força como a fluidez, pois é uma linguagem  que tanto atrai como condena.
     
No documentário podemos estudar vários temas, como a visão, a falta dela, a imaginação e outras informações sobre ver o mundo e, assim, tirarmos nossas próprias conclusões a cerca de experiências vividas. Por exemplo, a visão não é apenas ver, mas dá um novo sentido àquilo que observamos; revela nossas emoções; é mais sensível que qualquer câmara e mais personificada do que as nossas próprias digitais. E não foi à toa que percebi a simbologia da água e do fogo, pois foram  estes primeiros sinais  no documentário que chamaram  a  atenção do meu olhar.
As dezenove pessoas entrevistadas de diferentes áreas, com problemas visuais ou não, falam sobre esse universo tão complexo de uma forma leve, porém não menos reflexiva.
Vemos no documentário, uma imagem ampliada da nossa pele e logo percebemos como nos causa um estranhamento, então entra a fala de Saramago compondo uma metáfora entre os olhos dos homens e o do falcão. Segundo ele, “se Romeu, da peça Romeu e Julieta, tivesse os olhos de um falcão, provavelmente não se apaixonaria por Julieta. Ela, seguramente, seria para ele uma figura nada agradável, pois a acuidade do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana como nós a vemos.”
Logo notamos que os olhos como costumamos falar que é a “janela da alma”, não é bem assim!  
 O poeta Antonio Cícero descreve bem este sentimento; “Se o olho é a janela da alma, então você tem de olhar para essa janela com o outro olho, também janela da alma. A janela não olha, quem olha é o olho através da janela. É uma metáfora complicada que leva a um tipo de coisa que não resolve o problema real de explicar o que é a visão, porque você vai ao infinito com essa história de janela da alma e nunca chega na verdade, a própria alma.”  
E como declara Manoel de Barros : “ eu não acredito que o olho vê, as coisas aparecem de dentro, vêm de dentro, não entrando pelo olho, é a imaginação que transforma o mundo”. Os dois depoimentos explicam muito bem o olhar de quem, por exemplo, não tem visão. Porque além de verem diferente, eles transformam o mundo através da sua imaginação, tornando muitas vezes menos pesado e mais colorido.
 Temos depoimentos riquíssimos de pessoas que perderam a visão, como Arnaldo Godoy e o filósofo-fotógrafo esloveno, Evgen Bavcar.
Arnaldo Godoy perdeu a visão aos 17 anos. É uma pessoa que faz toda diferença como político, pois está sempre cheio de projetos e pondo-os em prática. No filme tem um relato de sua filha, Madalena.  Ela, quando bebê, Godoy levou-a ao mar e de repente, veio uma onda que a arremessou de seus braços. Estes segundos se eternizaram em sua vida e tendo como ajuda à natureza, o sol poente, a água leitosa.., percebeu aquela coisa negra na água e quando bateu a mão sentiu o corpinho da filha. Será que às vezes não somos mais cegos do que ele? Será que teríamos essa sensibilidade? Para Saramago, nós estamos todos cegos! Cegos da razão, cegos da sensibilidade.
Já Evgen Bavcar, perdeu a visão quando adolescente, em consequência de dois acidentes de infância – o choque com um galho de árvore e a explosão de uma mina. Começou a fotografar aos 16 anos, já sem a visão. Você pode se perguntar, como pode alguém sem visão fotografar? Segundo ele, não perdemos a visão interior.  A máquina fotográfica, ele compara a uma televisão, pois assiste-a sem enxergar. E faz uma crítica à televisão por nos propor sempre imagens prontas e isto faz com que tenhamos uma cegueira generalizada. Logo percebemos o sentido do que ele quis dizer, pois ele fotografa sem precisar ver fisicamente mas   possa a  entender o que está sendo mostrado e o melhor, o que ele quer provar :  o  que deixamos se perder. Essas pessoas ganharam a visão interior e a aproximação com a janela da alma.
Que possamos desfrutar desse documentário, degustando cada palavra e aguçando o nosso olhar para que ele possa ao menos  expressar  o que  se passa  na alma.

EU, MYRIAM


       Meu nome é Myriam. Sou Pernambucana e estou aproveitando este espaço para expor um pouco as minhas impressões sobre tudo o que me AFETA na vida, através das obras literárias,  filmes, ou quaisquer outro tipo de linguagem.
         Adoro tudo o que vem da natureza e busco a felicidade através das coisas simples da vida: um bom papo com amigos, ver o por do sol, ler um livro, assistir a um filme que me faça rir ou refletir , afinal, a vida é uma grande obra de arte e está   sempre nos surpreendendo, por isso não tento levá-la tão a sério; tento  vivê-la da melhor forma, com responsabilidade e humor.
        Deus nos convida a todo momento para desempenharmos vários papéis,alguns momentos somos protagonistas, outros coadjuvantes e quando observamos, reacendemos todos os nossos eus, pois somos múltiplos, complexos e paradoxais...
      Fico muito triste  com tudo o que está acontecendo hoje no meu país, principalmente politicamente. Lembrei-me de uma entrevista de Bauman na qual o mesmo comentou sobre a sua obra:  Babel-entre a incerteza e a esperança,em que discorre sobre o seguinte pensamento:
       "Um primo próximo da incerteza é o sentimento da impotência. As ferramentas que, no passado, se mostraram eficazes para lidar com os desafios da vida individual e coletiva têm sido desacreditadas, tornaram-se infrutíferas e fúteis. Individualmente ou conjuntamente, nós estamos emergindo, de sucessivos testes, desarmados, infelizes, incapazes de lidar com os desafios. Os sábios na ribalta rivalizam uns com os outros. Sugerem soluções para os nossos problemas, como a guerra ao terror, as restrições à migração, incontáveis reformas trabalhistas e educacionais com o objetivo de preparar nossas crianças de forma a atender a suas demandas caprichosas e voláteis. Todas essas aparentes soluções, uma após a outra, falham em cumprir com suas promessas. Junte à incerteza esse desencorajador e humilhante senso de inaptidão e o sentimento é semelhante a gastar a vida num campo minado que nós sabemos estar cercado de explosivos, mas sem termos nenhum indício de onde ou quando essas explosões vão acontecer." 
        Segundo Viviane Mosé o  homem precisa de algum conhecimento pra sobreviver, mas pra viver precisa da ARTE.
Um primo próximo da incerteza é o sentimento da impotência. As ferramentas que, no passado, se mostraram eficazes para lidar com os desafios da vida individual e coletiva têm sido desacreditadas, tornaram-se infrutíferas e fúteis. Individualmente ou conjuntamente, nós estamos emergindo, de sucessivos testes, desarmados, infelizes, incapazes de lidar com os desafios. Os sábios na ribalta rivalizam uns com os outros. Sugerem soluções para os nossos problemas, como a guerra ao terror, as restrições à migração, incontáveis clique aqui reformas trabalhistas e educacionais com o objetivo de preparar nossas crianças de forma a atender a suas demandas caprichosas e voláteis. Todas essas aparentes soluções, uma após a outra, falham em cumprir com suas promessas. Junte à incerteza esse desencorajador e humilhante senso de inaptidão e o sentimento é semelhante a gastar a vida num campo minado que nós sabemos estar cercado de explosivos, mas sem termos nenhum indício de onde ou quando essas explosões vão acontecer.
Um primo próximo da incerteza é o sentimento da impotência. As ferramentas que, no passado, se mostraram eficazes para lidar com os desafios da vida individual e coletiva têm sido desacreditadas, tornaram-se infrutíferas e fúteis. Individualmente ou conjuntamente, nós estamos emergindo, de sucessivos testes, desarmados, infelizes, incapazes de lidar com os desafios. Os sábios na ribalta rivalizam uns com os outros. Sugerem soluções para os nossos problemas, como a guerra ao terror, as restrições à migração, incontáveis clique aqui reformas trabalhistas e educacionais com o objetivo de preparar nossas crianças de forma a atender a suas demandas caprichosas e voláteis. Todas essas aparentes soluções, uma após a outra, falham em cumprir com suas promessas. Junte à incerteza esse desencorajador e humilhante senso de inaptidão e o sentimento é semelhante a gastar a vida num campo minado que nós sabemos estar cercado de explosivos, mas sem termos nenhum indício de onde ou quando essas explosões vão acontecer.
          Eu questiono: como estar  num país em que muitos sobrevivem e apenas pouquíssimos têm o direito a VIVER?

POEMA: PROMESSAS DE UM MUNDO NOVO - THICH NHAT HANH

Prometa-me Prometa-me neste dia Prometa-me agora Enquanto o sol está sobre nossas cabeças Exatamente no zênite Prometa-me: Mesmo que eles Ac...