Comecei esta semana a reler o livro de Cecília Meireles- Cânticos. Observei com novos olhares a sensibilidade e as reflexões contidas nos versos em relação ao tempo, espaço e divisão das coisas.
Estes textos foram escritos em 1927, na
época a autora tinha apenas 26 anos e só veio a ser publicado em 1981.
A obra fala-nos do AMOR como lei
Universal (lei que une e intercala todas as coisas). Pede-nos para que ouçamos
a VOZ DO SILÊNCIO, pois quando calamos a boca da Mente, do Corpo Físico e das
nossas Emoções, podemos ouvi-las.
A nossa mente tagarela o tempo todo.
O nosso corpo físico, com seus instintos
nos cobra o tempo topo...
E as emoções? Essa nos faz sair do
prumo. Segundo pesquisa feita recentemente pela OMS, o Brasil é o país mais ansioso
do Mundo e o quinto mais depressivo.
O livro fala-nos sobre a superação da
DOR. A história de vida da própria autora foi de SUPERAÇÃO : Perdeu o pai aos três meses antes de nascer. Perdeu a mãe aos
três anos e passou a ser criada pela avó materna.
A
professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra,
conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l" e
que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou
como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais
leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o suicídio do
primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas.
Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.
Sua passagem como educadora foi muito
importante. Em 1934 cria com
o marido, Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para
crianças. Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora
de uma educação pública; como uma forma
de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do
movimento Escola Nova junto com outros intelectuais da década de 1920 no Brasil.
A crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O
Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de
que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da
discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark
Twain, As aventuras de Tom Sawyer.
Voltando ao livro...somos levados pela
autora a um Universo de sabedoria, de contemplação do Belo. A beleza é a via
mais eficaz de chegar aos nossos corações. Podemos dizer verdades e elas serem
duras, porém, podemos dizer verdades e elas serem BELAS. Revestir verdades com
BELEZA é muito mais fácil de gravá-las em nossa alma. São como SUTRAS, com
muita informação condensada, que não podemos entendê-los pela lógica do
intelecto, do racional, pois são carregados de força espiritual. Assim são os CÂNTICOS
de Cecília.
O
livro traz XXVI Cânticos. Colocarei apenas 2 .
Cânticos de Cecília Meireles – um chamado de paz à alma
I
Não queiras ter Pátria.
Não dividas a Terra.
Não dividas o Céu.
Não arranques pedaços ao mar.
Não queiras ter.
Nasce bem alto.
Que as coisas todas serão tuas.
Que alcançarás todos os horizontes.
Que o teu olhar, estando em toda parte
Te ponha em tudo,*
Como Deus.
*(Estarás em tudo)
VI
Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
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