terça-feira, 18 de maio de 2021

LIVRO: CÂNTICOS DE CECÍLIA MEIRELES


Comecei esta semana a reler o livro de Cecília Meireles- Cânticos. Observei com novos olhares a sensibilidade e as reflexões contidas nos versos em relação ao tempo, espaço e divisão das coisas.

Estes textos foram escritos em 1927, na época a autora tinha apenas 26 anos e só veio a ser publicado em 1981.

A obra fala-nos do AMOR como lei Universal (lei que une e intercala todas as coisas). Pede-nos para que ouçamos a VOZ DO SILÊNCIO, pois quando calamos a boca da Mente, do Corpo Físico e das nossas Emoções, podemos ouvi-las.

A nossa mente tagarela o tempo todo.

O nosso corpo físico, com seus instintos nos cobra o tempo topo...

E as emoções? Essa nos faz sair do prumo. Segundo pesquisa feita recentemente pela OMS, o Brasil é o país mais ansioso do Mundo e o quinto mais depressivo.

O livro fala-nos sobre a superação da DOR. A história de vida da própria autora foi de SUPERAÇÃO : Perdeu o pai aos  três meses antes de nascer. Perdeu a mãe aos três anos e passou a ser criada pela avó materna.

A professora e poeta da Universidade Federal de Sergipe, Maria Lúcia Dal Farra, conta que a grafia inicial do sobrenome de Cecília era com dois "l" e que a mudança teria vindo após a carta de um desconhecido que se identificou como médium e sugeriu a eliminação de uma letra para "tornar a vida mais leve". A mensagem chegou em um momento de fragilidade, após o suicídio do primeiro marido e a necessidade de trabalhar dobrado para criar as três filhas. Como podemos perceber, ela acatou a sugestão.

Sua passagem como educadora foi muito importante. Em 1934 cria com o marido, Fernando Dias o Centro de Cultura Infantil, uma biblioteca para crianças. Autora de inúmeros livros para o público infantil e ativa defensora de uma educação pública;  como uma forma de diminuir as desigualdades do país, Cecília foi uma das fundadoras do movimento Escola Nova junto com outros intelectuais da década de 1920 no Brasil. A crítica do presidente Getúlio Vargas, a quem chamava de "O Ditador", Cecília teve seu centro fechado em 1937 diante de denúncias de que ali haveria livros de conteúdo educacional duvidoso. O principal motivo da discussão foi a presença de um clássico do escritor americano Mark Twain, As aventuras de Tom Sawyer.

Voltando ao livro...somos levados pela autora a um Universo de sabedoria, de contemplação do Belo. A beleza é a via mais eficaz de chegar aos nossos corações. Podemos dizer verdades e elas serem duras, porém, podemos dizer verdades e elas serem BELAS. Revestir verdades com BELEZA é muito mais fácil de gravá-las em nossa alma. São como SUTRAS, com muita informação condensada, que não podemos entendê-los pela lógica do intelecto, do racional, pois são carregados de força espiritual. Assim são os CÂNTICOS de Cecília.

 O livro traz XXVI Cânticos. Colocarei apenas 2 .

Cânticos de Cecília Meireles – um chamado de paz à alma

I

Não queiras ter Pátria.

Não dividas a Terra.

Não dividas o Céu.

Não arranques pedaços ao mar.

Não queiras ter.

Nasce bem alto.

Que as coisas todas serão tuas.

Que alcançarás todos os horizontes.

Que o teu olhar, estando em toda parte

Te ponha em tudo,*

Como Deus.

*(Estarás em tudo)

 

VI

Tu tens um medo:

Acabar.

Não vês que acabas todo o dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que te renovas todo o dia.

No amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

 


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