Em sua letra, Geraldo constrói uma narrativa de incentivo à resistência e esperança para a derrubada do governo. Trechos como caminhando e cantando eram ecoados em inúmeras manifestações contra o governo. Geraldo Vandré foi perseguido pelos militares e foi forçado a exilar-se, após passar dias escondido na fazenda da família do escritor Guimarães Rosa.
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
O primeiro verso descreve nitidamente como ocorre uma manifestação pacífica: caminhando e cantando e seguindo a canção.
Observamos que o compositor se refere a todos como iguais, pois estão dentro de um mesmo contexto e lutando por algo em comum: o direito à liberdade.
Essa interpretação é reforçada a seguir, quando ele coloca as escolas, ruas, os campos, ou seja, todas as instituições e todos os cidadãos.
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Neste verso, a música ganha ainda mais um tom de chamado, como se fosse uma convocação para que todos saiam às ruas, pois não se pode mais esperar. Ao longo da música, o refrão é muito repetido, mais do que o normal, para dar essa ideia.
Era um momento que pedia união, por isso o compositor foi muito genial ao criar uma letra que parece conversar com um povo.
As duas frases finais expressam uma certa urgência; o Brasil e o seu povo não podem mais esperar, é preciso agir agora para que algo mude de verdade.
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Ao dizer indecisos cordões, Geraldo Vandré se refere às divergências de opiniões dos grupos que tentavam se articular para fazer alguma coisa. Alguns acreditavam que um posicionamento pacifista poderia resolver, porém, na visão do compositor, isso seria uma ilusão.
Esse conceito fica mais claro no trecho acreditam nas flores vencendo o canhão, em que o compositor se refere ao movimento de contracultura hippie da década de 60, marcado pela imagem de uma mulher segurando uma flor branca diante das tropas americanas.
A foto foi feita pelo fotógrafo Marc Ribound e repercutiu o mundo.
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Este trecho mostra o olhar sensível do compositor em relação aos soldados armados. Muitos poderiam encará-los como inimigos, até mesmo pelo contexto de luta, violência, perseguição, mas Vandré nota que eles também estão perdidos. Estão apenas cumprindo as ordens e as táticas ensinadas no quartel.
A música fecha o verso de forma poética ao mencionar que eles são ensinados a morrer pela prática e a viver sem razão. Ou seja, não conseguem se permitir qualquer reflexão sobre seus atos.
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores queria passar, principalmente, uma mensagem de urgência. É como se o compositor estivesse clamando, gritando para que todos entendessem que não seria possível fazer revolução munidos de flores.
Por isso a música foi tão marcada e perseguida durante o período ditatorial: ela fala nitidamente sobre se organizar, ela chama ao movimento e convoca a todos.
Todos estão no mesmo barco e é por isso que precisam lutar juntos. Porém, deixando as flores no chão e seguindo em frente.
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